Mariene de Castro
Muito prazer em conhecê-la
Fiquei admirada com o show da Mariene de Castro ontem no
Imperator. Finalmente fui conferir sua performance ao vivo, depois de tantos
links recebidos, de tantos elogios rasgados, de tanta admiração que causa em
alguns dos meus amigos.
Velha conhecida de outros tempos, foi o primeiro show a que
fui assistir naquela casa do Méier depois de sua reinauguração. Já me
surpreendi quando me dei conta, ao comprar os ingressos no final de semana, que
o espaço estava praticamente lotado. E ontem foi o que vi: casa cheia!
Mariene tem um público que canta as músicas de seu
repertório a plenos pulmões. E não estou falando apenas dos clássicos que ela
regravou, mas também de suas novas canções. As arquibancadas montadas pareceram
inadequadas para um público que não se continha sentado, dançando como dava,
com os braços levantados, batendo palmas, gingando nas cadeiras fazendo a
estrutura balançar. Muitos se espremeram pelos cantos onde era possível ficar
de pé para mexer o esqueleto mais livremente.
Ela não tem pudores de brilhar no palco, que domina e ocupa
lindamente. Sua voz é poderosa e sua presença em cena é impressionante. Ela
gesticula, gira, levanta a saia, balança a cabeleira, se lambuza de
purpurina... Voltei pra casa com uma enorme vontade de também encher de pequenos
pontos dourados meu pixaim.
A baiana é soberana quando canta a música de sua terra.
Talvez o clima de adoração da platéia seja um tantinho exagerado, passando dos
limites ao disparar os tradicionais elogios a cada pausa, gritando ao pé do
palco para tocar a diva ao fim do espetáculo, admirando e emocionando a
intérprete com aplausos de pé no meio do show. Mas é inegável seu carisma.
A questão é que vivemos uma época de remakes, de releituras.
Tem sempre alguém que traz na manga a ideia de preencher um trono vazio com um
novo nome. Assim, vemos Maria Rita regravando o repertório de Elis. Da mesma
forma, Mariene canta Clara Nunes. Como ela mesma diz, sempre foi comparada com
a mineira, mas sua influência na carreira da baiana é perceptivelmente menor do
que podem fazer crer os elementos da religiões afro-brasileiras, o orgulho da
carapinha e o charme que enverga. Embora entoe com dignidade o que a Guerreira
cantou, percebe-se que não foi ali que seu talento foi forjado e se percebe uma
leve insegurança. Já nos momentos em que abraça Caymmi, Edson Aluísio e Geraldo
Pereira, sua estrela eclode.
Com participações de Diogo Nogueira e Arlindo Cruz, o
público teve todas as oportunidades de se esparramar. Seja embalando os versos
de “Meu Lugar” com Arlindo em pleno subúrbio, seja sacando centenas de câmeras
para fotografar e filmar freneticamente a presença de Diogo. Foi enquanto esses
astros estavam em cena que Mariene mostrou que possui uma qualidade rara nos
dias que correm: a humildade. Foi uma beleza observá-la tocando prato à moda do
Recôncavo, ali sentadinha e calada, para seus convidados sobressaírem-se.
Ainda faltar certa cancha à artista, especialmente para
lidar com os excessos da platéia. Mas foi uma saída digna cantar o Hino do
Nosso Senhor do Bonfim quando uma senhora perdeu a linha e começou a dar piti.
E ficou mais bonito quando Toninho Gerais se levantou para prestar
solidariedade a ela, na beira do palco onde se agachou para beijar a mão dele e
abraçá-lo, cantando juntos.
Além da alegria de reencontrar o Imperator tinindo, uma nova
estrela e alguns amigos e conhecidos, talvez o que melhor resuma a noite seja o
comentário de meu acompanhante, Mr. R: “Acabamos de assistir a um show gospel,
só que invés de evangélicos, quem veio foi o povo de santo.”