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24.8.01

A SEMANA QUE NÃO EXISTIU

Deixa quieto.

Já são quatro e logo a noite chega. Vou dormir cedo e torcer para amanhecer um sábado daqueles que chutam a gente para fora da cama e de casa e vou cair nos braços de uma Lagoa ou uma Ipanema generosa e ensolarada que acena com cores e sorrisos.

Fui me deitar na noite do dia 17 e só vou acordar amanhã. Pronto! E mais: vou passar dois dias flutuando, espreguiçando, fazendo alongamento em calçadões e areias, molhando os pés em águas salgadas que lavarão qualquer resto do que quer que tenha sido esta última semana.

E A Maré Levou...

O garoto me olhou hoje com cara de cão que mijou no tapete. Tenho um instinto maternal atrapalhado com adolescentes do sexo masculino. Eles me parecem tão desprotegidos, querendo parecer machinhos e eficientes. Ele não tem culpa, claro. Ninguém tem culpa. Só senti vontade de abraçá-lo e dizer que tudo estava bem. Mas ele ia saber que eu estava mentindo. Sou uma péssima mentirosa. Então apenas sorri e as lágrimas que iam lavar suas sardas secaram. Ele entendeu, enfim.

Tudo porque eu estou no Moulin Rouge, lá no alto, num balanço coberto de flores. O mundo é vermelho e dourado e a música está alta demais, mas eu não ligo. Se alguém olhar para cima vai ver minha calcinha e minha boca escancarada. Estou com sede. Parar a brincadeira para beber alguma coisa não passa pela minha cabeça. Tenho vertigem. Aperto com força as cordas e tudo gira. Estou no carrossel. Vejo manchas onde devem estar as pessoas. O vulto dele, aquele outro, é inconfundível. Quando estou deitada aqui, sua silhueta fica ainda mais alta. E eu vou ficando cada vez mais leve. A balança confirma: eu posso voar.

É o nome de um anjo que me ronda a cabeça. Acabo falando em voz alta, mas ninguém ouve. Devem estar todos surdos. Eu piso na seda e ela vira algodão - algodão algodão, não algodão tecido. Você consegue imaginar infinitos degraus feitos de algodão bem branquinho? Então... A escada vai se apertando cada vez mais naquele espiral lá em cima e eu digo oi para o João. Ele está
voltando da casa do gigante todo carregado de ouro. Para que tanto ouro? Ouro não compra o que mais se quer.

Claro que esta ela também não ouviu. Há tempos não nos falamos. Seu telefone está sempre ocupado e eu ocupada demais para ir lá. Melhor assim. Não me lembro da última vez que nos entendemos. Falamos idiomas diferentes. Não, não é isso. Vivemos em eras diversas. Seria pior se eu ainda alimentasse ilusões.

Há um dirigível sobrevoando a costa e as ninfas aprisionaram pirilampos em caixinhas transparentes para iluminar a praia. Antes de sairmos, elas escovaram meus cabelos e aplicaram pequenas flores que não combinavam em nada comigo. Arrastei meu visual clown até as areias e lá encontrei o lord inglês. Ele me reconheceu de imediato. Nos abraçamos e choramos e rimos. Era tempo.

Só havia frutas para comer. Frutas de todos os tipos, tamanhos, cores e sabores. Frutas com gosto de infância, com cheiro doce, com nomes que não sei. Virgínia estava de pé ao meu lado e disse sim. Quando eu respondi que era cedo ainda, ela ficou triste e foi conversar com o mago, me olhando de vez em quando de soslaio. Ela gosta de jogar xadrez e eu quero brincar de pique. Um dia ela desfaz o bico e descobre que é sempre sem querer...

Manitoq fala sem parar de futebol. Agora sim tenho com quem trocar idéias interessantes. Só ele entende o que quero dizer quando passo batom na ponta do nariz. A sessão vai começar e eu perco muito tempo tentando me ajeitar na posição de lotus. Resolvo plantar bananeira e tudo começa a fazer sentido.

Amanhã...