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1.11.02

Dona Vida, o negócio é o seguinte:

Tenho enfrentado com a cabeça erguida e, na medida do possível, bom humor tudo, tudo, todos os sapinhos e sapões que a senhora tem colocado no meu caminho para eu engolir. E eles não tem sido poucos nem pequenos nos últimos tempos. Finjo que não vejo que quem me chama de medrosa é justamente quem estava com a cabeça enfiada debaixo das cobertas quando o bicho pegou e eu tive que segurar as pontas. Sozinha! Tenho sido brava, corajosa, compreensiva, silenciando tudo o que a natureza me impele a gritar. Sou solidária e companheira. Já engoli lágrimas suficientes para afogar muita gente que faz pose de duro na queda. Cultivei amores natimortos e paguei caro por eles sem desanimar. Faço vista grossa à injustiça, à falta de reconhecimento, ao silêncio. Perdôo sem que o pedido de desculpas jamais venha. Disfarço as puxadas de tapete brincando de tapete voador.

Sabe o que é, Dona Vida? Cansei.

Agora é a hora da pomba-gira!

Essa eu peguei lá na Telinha:


Procurando a dor
Danuza Leão


Outro dia, na ginástica, ao começar uma nova série com halteres pesadíssimos (para mim, pelo menos), minha coluna deu um grito -ou teria dado, se coluna falasse. O lugar é sensível e muito meu conhecido: nunca me esqueci do dia em que um amigo, ao me abraçar afetuosamente, pressionou com tal força o ponto crucial -para mostrar seu carinho-, que passei seis meses fugindo dele.
Voltando à aula: disse a meu professor que não podia continuar, que aquele movimento não ia dar e partimos para outro; no fim da aula ele fez as recomendações de praxe, explicou que a dor é sempre um aviso e que quando ela surge é preciso ficar atenta, para que não volte. E mais: que quando eu chegasse em casa não procurasse a dor.
Como assim, procurar a dor? E alguém procura a dor? Ele explicou que o corpo tem tendência a se testar e procurar a dor, sim, para ter certeza de que ela está lá -ou de que não está mais. Nunca te aconteceu de estar com uma dorzinha (pequena) e provocá-la? Ou vai me dizer que você nunca passou a língua numa afta?
Curioso esse nosso corpo; comecei a pensar nos sentimentos e como nos comportamos em relação a eles. Sobretudo a comparar os males do corpo com os da alma, ou falando mais claramente, com os do coração.
É verdade; quantas vezes a gente procura a dor sem perceber, e quando encontra não imagina que a tendência dela é sempre aumentar. Se soubéssemos viver -e poucos sabem-, o primeiro sinal de dor emocional deveria soar como um alarme, e deveríamos cuidar para que ele não se repetisse. Só que muita gente faz exatamente o contrário.
Quando seu namorado te fez sofrer pela primeira vez -nada de muito grave, ele apenas sumiu por dois dias ou olhou de maneira pouco convencional para sua irmã-, em lugar de voltar para os braços do outro que é gentil, delicado, telefona na hora combinada e te trata como uma deusa, o que você fez? Se apaixonou, e pior: quanto mais ele aprontava mais a paixão aumentava. A cabeça e os sentimentos são bem parecidos com o corpo e costumam procurar uma complicação que vai -pode- nos levar a dores futuras. Qual a graça de uma existência com pessoas que só dizem coisas agradáveis e gentis, namorados que nos fazem felizes o tempo todo? Para muita gente, a graça é viver perigosamente, no limite.
Quem não cultiva um amigo bem maldito, que diz maldades vis mas sempre divertidas sobre nossos mais caros amigos? Quem nunca se apaixonou por um homem que nos fez passar por momentos atrozes, sempre em sobressalto, com o coração na boca, sofrendo mas morrendo de medo de que ele fosse embora?
É elementar saber que esse amigo tão divertido vai, assim que você virar as costas, fazer comentários maldosos -e sempre divertidos- sobre você, que quando souber não vai achar a menor graça. E que seu namorado, que faz com que você viva no fio da navalha -isso é que é vida, você acha- vai aprontar cada vez mais, muito mais do que você jamais sonhou, até te deixar arrasada -e sozinha. Quando se fazem escolhas erradas se está procurando a dor, e esta é uma procura inútil; supérflua, eu diria.
Não é preciso procurar por ela porque mesmo tentando viver da maneira mais certa ela nos encontra na hora em que quer e bem entende.
E com a maior facilidade.

31.10.02

Porque hoje é um dia muito especial de comemorar centenários e porque hoje, talvez mais que nunca, estas palavras traduzam o que vai dentro de mim.

No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.


José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

(Carlos Drummond de Andrade, claro)


29.10.02

Only thin lines separate poetry, prophecy, and madness.
OFICINA EXPERIMENTAL DE INSTRUMENTOS INFORMAIS


Ementa: Proporcionar a vivência dos fenômenos e parâmetros do som, com ênfase na experimentação, improvisação e estruturação do sonoro, através de atividades práticas de aprendizagem e criação com instrumentos informais descobertos e resgatados pelos participantes.

A Oficina Experimental de Instrumentos Informais consiste na exploração dinâmica e participativa (ativa - manuseio e passiva - observação/escuta dos espécimes sonoros - instrumentos informais. É constituída em algumas etapas que consistem na descoberta dos sons, exploração do material sonoro-musical e processos de criação com a
elaboração de pequenas estruturas rítmica-sonoras, texturas diversas (simples, complexas, etc.).

Dentro deste contexto, a oficina se desenvolverá em torno dos seguintes temas:

1. A escuta consciente do som relacionada com o espaço e o movimento.

2. A experimentação perceptiva e a manipulação de espécimes sonoros. Trabalhos de geração de som utilizando objetos do seu cotidiano. Pequenas interferências, manipulação, criação e experimentação de diversos meios operantes, ex: baquetas, varetas, objetos metálicos, etc.

3. Os ruídofones. Um paralelo com o conceito de 'ready-made' de Marcel Duchamp e de 'objet trouvée' de Pierre Schaeffer. Experimentações em torno de materiais básicos como: papel, plástico, metal, material de sucata e ferro-velho.

4. Investigação de paisagens sonoras - observar, investigar, descrever, representar diversos ambientes sonoros no espaço externo. Praças, ruas movimentadas, parques, jardins, rua de pedestre, feiras, sons predominantes, características sonoras.

5. Sons pictóricos - grafismos sonoros - primeiras tentativas de grafismos, um paralelo com Kandinsky - Ponto e linha sobre o plano.

Ministrante: João Mendes (Compositor, Bacharel e Mestre em música)

Público alvo: Professores, educadores, compositores, intérpretes, instrumentistas, músicos e não-músicos.

A oficina compreende 8 workshops com uma apresentação final dos resultados.

Início: novembro de 17:00 às 19:00 horas
Preço: R$ 50,00/mês c/ direito a certificado
Informações e inscrições: Coordenação de Música da Funarte
Rua da Imprensa, n 16 - sala 1308 - Centro - Rio de Janeiro
Tels: (21) 2279.8105 / 2279.8106 / 2279.8107

Breve curriculum
João Mendes, violonista e compositor, nasceu no Rio de Janeiro [1958], é Bacharel em Violão [UFRJ] e Mestre em Musicologia [UNIRIO]. Teve como principais orientadores, Turíbio Santos, Edelton Gloeden (violão clássico), Michell Phillippot, Hans-Joachim Koellreutter, Jorge Peixinho, Aurélio de la Vega (composição), Conrado Silva, Rodolfo Caesar (técnicas eletroacústicas) e José Maria Neves (musicologia). Tem atuado como compositor e intérprete em diversos eventos nacionais e internacionais relacionados com a música nova, tais como: VIII ao XX Panorama da Música Brasileira Atual [RJ], VI, VII, XII
e XIV Bienal de Música Brasileira Contemporânea [RJ], Elektrokomplex em Viena - Áustria [1998], 2º Encontro de Música Eletroacústica em Sárvar - Hungria [1998], III Bienal Internacional de Música Eletroacústica de São Paulo [2000], Seoul International Computer Music Festival 2000 - Coréia do Sul, ICMC2002 - International Computer Music Conference 2002 em Gothemburg (Suécia).
Empanzinada!!!