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23.11.01


Verão


Minha alma azul-verde mar
Exala uma aura luminosa
Emprestada do sol
Que marca com sua cor
Fico mais escura
Fico mais brilhante
Assim, minha coluna
É uma estreita faixa de Atlântico
Entre minhas costas
Americana e africana
A areia quente dos olhos
Vai aprendendo no decorrer do dia
A queimar
Deixando que ondas de sedução
A amornem à noite
De acordo com a maré
Sob a lua
Guiada por ela
Meu coração de gaivota
Às vezes mergulha na praia
A procura de um peixe bom
Consegue ou não
Mas sempre sai livre
Para voar mais uma vez
Meu signo continua sendo o fogo
Regido pelo vermelho de Marte
O termômetro da rua
Denuncia uma febre de 40º

1987

Ô, DARCY!


O jogo terminou empatado. É uma notícia que normalmente me deixaria acabrunhada. Afinal, espera-se de uma rubro-negra que torça para que o Flamengo ganhe sempre. Entretanto, quando o jogo é no Maracanã em dia de semana e termina tarde, melhor mesmo que a saída do estádio seja morna e deixemos os buzinaços, gritos de comemoração e entoação de hinos para as alegres tardes de domingo.

Então estava já acomodada entre cobertas, travesseiros, braços e pernas. As janelas fechadas, a persiana e o aparelho de ar condicionado ajudavam a abafar o burburinho do êxodo. De repente, uma voz grita na noite um palavrão e seguro a vontade de rir para não acordar o colega de leito que já ensaiava as primeiras linhas de diálogo com Morfeu. Não que o palavrão fosse engraçado. Engraçada foi a entonação que me fez lembrar da minha mãe e seus, digamos, eufemismos.

É preciso explicar que minha mãe passou parte de sua infância em um internato com missionários europeu onde minha avó, já separada do meu avô, lecionava. Além da rigidez típica da instituição, ainda havia a responsabilidade de ser filha de uma das professora. (E disso eu entendo bem, porque ela também trabalhava nas escolas onde estudei.) Palavrão nem pensar. Desconfio até que ela só foi apresentada a eles bem depois disso. Contudo, um bom palavrão tem seu valor e empregado na hora de muita raiva ou, quem sabe, de muito amor deve ser devidamente degustado.

Mas não me lembro de Mamãe xingando durante minha infância. Criança caseira, também não posso dizer que fui introduzida a eles na rua. Meu grande mestre foi meu pai, tipo adoravelmente rude. Mamãe fazia caras para ele e ele nem ligava. Ela também não era enfática na repressão. Reconhecia a necessidade. Por isso usava de subterfúgios para driblar a polidez. Quando algo não lhe agradava bradava: Ô, Darcy! E enfatizava o ô exatamente como o torcedor fez sob minha janela neste início de madrugada. Diante da expressão de incredulidade do interlocutor, que ficava na dúvida se teria ouvido ou não um nome feio da boca da princesinha do subúrbio, ela dissimulava e dizia que não sabia porque tinha se lembrado da Darcy, amiga querida, de quem sentia muitas saudades, você conheceu?, tem notícias dela?... As reações eram sempre divertidas. E eu escorregava para longe porque, além de péssima mentirosa, que se entrega sempre, também deixo a desejar no quesito conter gargalhadas.

O repertório de minha progenitora era farto. Ela elaborava códigos para não dizer a palavra exata, mas, no contexto, suas intenções eram explícitas. "Lá vem aquela dezesseis que vive dando bola para seu pai". Tinha também os mais populares e conhecidos, como a ponte que partiu ou lerda.

Hoje ela já abandonou um pouco o posto de cria de missionários, professora e mãe de petizes. Diante de uma topada, por exemplo, é possível ouvi-la pronunciando um levezinho. Jamais será uma boca-suja completa, mas tem evoluído bastante neste sentido.

E bom mesmo é dormir ignorando o racionamento de energia, enroscada naquele exagero de homem e com este tipo de pensamento. O mundo? Ô, Darcy!

22.11.01

Recadinhos:

para Meg: o filme é Dirty Dancing.

para Joyce: também adorei te conhecer pessoalmente.

para Lu: obrigada pelo carinho de sempre

para Fer: agora que mudei a cor do fundo, você vai ler meu blog?

Hoje é dia do doador de sangue. Que tal não deixar o dia passar em branco, e, como sugere um colega de lista de doação, passar em "banco"?

20.11.01


Aproveitando o feriado do outro lado da poça








O Motivo do Feriado