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5.10.01


Carinho é bom e eu gosto.

Obrigada, Violinha. Mas acerta aí na sua frase: ainda não conheço, ainda não sou amiga. Hoje é o marco zero da nossa amizade.

Um grande beijo para você.
Gostei da história que a Stella me contou:

Você me lembrou de uma história q aconteceu com minha irmã há uns 10 anos.

Certo dia, ela pediu às filhas Aninha, de 4 anos, e Clara, de 2, que juntassem os brinquedos que não gostavam mais, para serem doados. Aninha olhou bem nos olhos da mãe e disse: "Mãe, vamos dar Clara para os pobres"?

Não sei se era medo que a irmã mais nova (brinquedo vivo) fosse embora ou era o desejo de se livrar dela, mesmo...


hehehe Só os primogênitos sabem que sentimento é esse. O moleque aqui em casa passou um tempo insistindo para que eu e o pai déssemos um irmãozinho para ele. Quando viajamos, ele ficou na casa da minha mãe, que divide o quintal com minha irmã, meu cunhado e meu sobrinho. Na volta ele me confidenciou que havia desistido de ter um irmão: "Só com esse tempo com meu primo eu vi que criança pequena é muito chata." Fecha a fábrica e o pano.




4.10.01


Brincar faz parte do processo de desenvolvimento infantil.

Infelizmente, nem todas as crianças têm acesso aos brinquedos que temos oportunidade de prover aos nossos filhos. Já ouvi muita gente falando que não sabe o que fazer com brinquedos que lotam os quartos da classe média e com os quais nossas crianças não brincam mais, por isso resolvi divulgar uma iniciativa interessante.

Os laboratórios Bronstein (não, não tenho nenhum vínculo com eles), aqui do Rio, estão recebendo desde o dia 25 até o dia 6 de outubro brinquedos usados que serão distribuídos para crianças carentes. Eles podem ser depositados em qualquer das filiais abaixo. No dia 6/10 das 10:00 às 12:00 haverá uma recreação especial, comemorando o fim da Campanha Brinquedo Velho, Sorriso Novo.

Barra
Av. das Américas, 500 bl. 2/212
Av. Ayrton Senna 2150, bl. B/219

Bangu
Av. Cônego de Vasconcelos 523/lj. A

Bonsucesso
R. Cardoso de Morais 61/303

Botafogo (Matriz)
R. Marquês de Olinda 12

Cachambi
Rua Cachambi 337/Lj. A

Campo Grande
R. Augusto Vasconcelos, 177/lj. 105

Catete
Largo do Machado 54

Centro
Av. Rio Branco 257 sobreloja
R. do Ouvidor 161/505

Copacabana
Av. N. S. de Copacabana 1072/sobreloja
R. Barata Ribeiro 13 lj. B

Caxias
R. Pref. José Carlos Lacerda 1256/601

Icaraí
R. Cel. Moreira César 229/1015

Ilha
Estrada do Galeão 2751/lj. B

Ipanema
R. Garcia D’Avila 64/302

Leblon
R. Ataulfo de Paiva 566/204

Madureira
R. Carolina Machado 530/403

Méier
R. Dias da Cruz 215/sobreloja

Niterói
R. Dr. Borman 23/lj. 2

Penha
Av. Brás de Pina 688

Taquara
Av. Nelson Cardoso 1149/ sobrelojas 202 2 203

Teresópolis
Av. Lúcio Meira 670/506

Tijuca
R. Bom Pastor 295
Pç Saens Peña 45/320 e 326

Vila Isabel
R. Barão de São Francisco, 373/lj. J


BIBLIOTECAS CRESCEM NOS QUINTAIS DO RIO

O pedreiro Evandro dos Santos fez da garagem de sua casa, na Vila da Penha, uma biblioteca comunitária. Segundo ele, “não existem analfabetos, apenas intelectos não-lapidados.” Por lá encontra-se Proust, Ken Foller, Monteiro Lobato, As minas de Rei Salomão de R. Haggar na tradução de Eça de Queiroz, Agatha Christie e um livro de culinária em japonês além de outros 19 mil volumes que compõem seu acervo. A biblioteca abre na hora em que o leitor chega e fecha quando o último vai embora. Não há burocracia para consultar ou emprestar as obras. É tudo de graça, até as feijoadas e saraus literários promovidos pelo sergipano. A biblioteca foi batizada com o nome do poeta conterrâneo do visionário: Tobias Barreto de Menezes.

Evandro veio semi-alfabetizado para o Rio aos 18 anos. Foi um pastor de uma congregação batista quem terminou o trabalho usando a bíblia como cartilha. “O livro é vida. Sem ler, a gente vira robô” – diz aquele que chegou a ter uma coleção com 300 livretos de cordel antes mesmo de conseguir decifrar o que estava escrito ali. Ele ainda cita o faraó Ramsés II: “A biblioteca é o remédio do espírito”.

Em 1998, foi fazer uma obra numa loja e deparou-se com cercade50 livros que iriam para o lixo. Entre eles, havia a História do Brasil de Pedro Calmon e a coleção completa de Euclydes da Cunha. Evandro levou tudo para a casa. “As bibliotecas são túmulos. Não se pode falar. É uma burocracia danada para pegar um livro: tem que ter cadastro, foto, dinheiro”, enumera.

Começou a pedir doações em tudo quanto era canto. Milhares de livros foram buscados de ônibus, atravessando a cidade, pelo incansável Evandro. Dificuldade zero = sucesso instantâneo. Para idosos, gestantes e até preguiçosos Evandro pega um ônibus e leva a obra solicitada.

Entre as obras há raridades: um compêndio de medicina editado em 1900, uma Bíblia em latim de 1852 e talvez a única edição conhecida da História dos Mártires Evangélicos, de 1817.

Evandro agora sonha em construir uma sede para a biblioteca ou comprar um carro para pegar mais livros. Tem também o projeto de criar ali um centro de alfabetização de adultos, uma escola de línguas, uma oficina literária...


Vamos colaborar?

Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Menezes
Rua Engenheiro Augusto Bernachi, 130
Largo do Bicão - Vila da Penha
Rio de Janeiro – RJ
CEP 21235-720
Tel.: (21) 2481-5336


(Baseado em artigo publicado em 3/10/2001 no JB)

OUTRAS INICIATIVAS

Uma rede de bibliotecas comunitárias, sem apoio da iniciativa privada, governos ou organizações não-governamentais, está crescendo nos subúrbios do Rio e na Baixada.

O professor Marcelo Sanuto inspirou-se no exemplo do pedreiro Evandro para abrir em 1999, uma biblioteca numa área de 50 metros quadrados nos fundos de sua casa, no centro de Duque de Caxias. O acervo conta hoje com 10 mil volumes. A biblioteca está aberta em horário alternativo, das 18 às 21 horas.

Biblioteca Comunitária Paulo Freire
Tel.: (21) 2771-2502


O pastor Nivaldino Bastos montou sua versão na Igreja Batista do Irajá. Ela funciona desde maio com duas salas com livros didáticos e uma de enciclopédias. São 9 mil exemplares.

Biblioteca Comunitária Lima Barreto
(21)2471-5289


O corretor Flávio Rezende quer tirar a garotada da rua e mostrar Monteiro Lobato para eles. No porão de sua casa já se acumulam 2 mil livros que estarão disponíveis quando for inaugurada em Neves, distrito de São Gonçalo a:

Biblioteca Comunitária Machado de Assis
(faltam as estantes para dispor os livros)
Tel.: (21) 3707-1485


Há mais uma destas bibliotecas em Caxias, outra em Belford Roxo, uma em São João de Meriti e em Valença, na região sul do estado.

(baseado em artigo de 4/10/2001 do JB)

3.10.01

Mais recados:

Para Meg: Já entrei em contato com o reblogger para verificar se exite limite para o tamanho do post. Assim que tiver uma resposta, falo com você.

Recadinhos:

Para Jesse, que me pergunta se sou escritora: Acho que sou ainda escrevinhadora. Vivo cultivando o hábito de escrever, que me dá um prazer danado. De vez em quando alguém se interessa, gosta... Quem sabe um dia, né? :-)

Para Fer e Lettíssima: Valeu o toque!
1 - Metafísica idealista: A realidade suprema é de natureza mais espiritual do que física, mais mental do que material. “O que não pode ser pensado não pode ser real” (Parmênides). “O mundo é minha idéia” (Schopenhauer). O idealista não nega a existência do mundo à nossa volta, mas mesmo sendo essa coisas reais, elas não o são de forma derradeira. Para o idealista cristão, a realidade suprema é o Deus da Trindade. Platão considerou o espírito do homem uma “alma” que emana de um empíreo de “idéias” perfeitas e externas.Berkley assume a posição cristã ortodoxa de que a alma é imortal, tendo sido criada por Deus para desfrutar a vida eterna com Ele, após suas provações na Terra. Para Kant, o homem é livre (é um espírito) e determinado ( ser físico, sujeito à lei natural). O idealista hegeliano considera o homem uma parte vital do Absoluto (centelha do Espírito Eterno em que será reabsorvido na morte).

[O “EC”, nesse caso, preside ao nascimento de idéias, tratadas como possibilidades intrínsecas que necessitam ser desenvolvidas dentro do “encarcerado”. O conhecimento é mais “espremido” para fora do que “despejado”. É primordialmente a matéria aprovada aquela que deve ser “espremida” e não, usualmente, a que um estudante escolhe por si mesmo.]

2 – Metafísica realista: A matéria é a realidade suprema, não é simplesmente uma idéia na mente de indivíduos observadores ou mesmo na mente de um Observador Eterno. Ela existe em si e por si mesma, independente de nossas mentes.

2.1 – Realismo Racional: O mundo material é real e existe fora da mente daqueles que o observam.

2.1.1- Realismo Clássico: Aristóteles [O “EC” habilita o equilíbrio intelectual e não o ajuste ao ambiente físico e social. A espontaneidade e a criatividade são apreciadas]

2.1.2- Religioso ou Tomismo (Aristóteles visto pela lente de São Tomás de Aquino): Tanto a matéria como o espírito foram criados por Deus, que construiu um universo ordenado e racional a partir de Sua sabedoria e bondade supremas. Embora não seja exatamente mais real do que a matéria, o espírito é, contudo, mais importante. O homem é uma fusão do material com o espiritual, corpo e alma formando uma só natureza. Somos livres e responsáveis por nossas ações; mas também somos imortais, tendo sido colocados na Terra para amar e honrar nosso Criador, e assim merecermos a felicidade eterna. [ O “EC” deve levar à natureza como obra saída da mão de Deus, já que a ordem e a harmonia do universo são o fruto da criação divina]

2.2- Realismo Natural e Científico: Cético e experimental. Não há um domínio espiritual ou sua existência não pode ser provada. O homem é um organismo biológico dotado de um sistema nervoso altamente desenvolvido e uma disposição inerentemente social. Aquilo que chamamos “pensamento” consiste, realmente, numa função altamente complexa do organismo que o relaciona com seu meio ambiente, semelhante a outras funções orgânicas. Não há livre arbítrio. O indivíduo está determinado pelo impacto do meio físico e social sobre sua estrutura genética.

[Para a concepção realista, o “EC” deve então transmitir um núcleo central de matérias que familiarize o "cativo" com o mundo à sua volta]

3 – Metafísica Pragmática: Só podemos conhecer aquilo que nossos sentidos experimentam. Aborda a realidade da transformação, a natureza essencialmente social e biológica do homem, a relatividade dos valores e o uso da inteligência crítica. O mundo não é dependente nem independente da idéia que o homem faz dele. A realidade equivale à “interação” do ser humano com seu meio ambiente – é a soma total do que “experimentamos”. O mundo só é significativo na medida em que o homem lhe atribui significado. Se o universo possui alguma finalidade mais profunda, ela está oculta do homem; e o que o homem não pode experimentar não pode ser real para ele. A mudança é a essência da realidade e devemos estar sempre preparados para alterar o modo como fazemos as coisas. A realidade é criada pela interação de uma pessoa com seu meio ambiente. A natureza humana é fundamentalmente plástica e variável. O ser humano é um organismo vivo, continuamente empenhado em reconstruir e interpretar suas próprias experiências. [O “EC” é fim e meio, visando melhorar e aperfeiçoar o “prisioneiro” e é o método para fazer isso. Não deve geralmente opor-se aos interesses do “prisioneiro”, mas deve ser uma decorrência natural desses interesses. A função do “EC” é vida e não uma preparação para ela.]

(Resumo do primeiro capítulo do livro Introdução à Filosofia da Educação de George F. Kneller)
Uau! Que felicidade! Finalmente tenho a sensação de não estar falando sozinha. Como é bom sentir isso! Adorei ver comentários aqui mesmo, na minha casa, e saber que o que andei postando aqui gerou assunto na vizinhança.

A Letti colocou um link na página dela falando do Mito da Caverna. E através dele chegou por aqui o Tirupi, que comentou o fato em seu blog. A Juliana mandou por ali mesmo seu recado, comentado depois pela Zel. Não é o máximo para quem andava se queixando?

Eu não coloquei os meus comentários então, mas depois da avalanche de questionamentos da minha mais nova queridona deste mundo virtual, a Meg, achei que fiquei mesmo devendo uma justificativa para o texto ter parado ali.

Ela pergunta: “De qual fonte vc retirou a alegoria (e não mito, como infelizmente vários tradutores antigos chamam) da Caverna. Faça o devido estorno/desconto, em relação aos mitos já classificados por Barthes (esses são modernos, performáticos).”

Respondo: Tudo começou quando fui visitar o site da Helô. Encontrei por lá uma citação do Saramago que achei interessante e fui pesquisar para encontrar na íntegra. Descobri que ele estava falando de seu livro “A Caverna” que usa esta alegoria (não é chic ter uma amiga que ensina um monte de coisas interessantes para a gente?). Claro que este título já entrou na minha lista de aquisições inadiáveis. Então fui atrás da alegoria propriamente dita. E foi bonito porque quando li todo o texto lembrei exatamente da aula em que eu o estudei, lá na época do Curso de Formação de Professores. Sim, Meg querida, eu já fui normalista! A alegoria tal como se apresenta aqui foi retirada de um site sobre pedagogia, cujo endereço posso tentar recuperar para você.

Não chego à unha de seu menor dedo do pé quando o assunto é filosofia e realmente não tenho como saber, como falou a Juliana, se esta é a tradução correta, se esta abordagem carrega uma visão modernosa do discurso. Olho esta discussão mais acadêmica apenas da arquibancada, babando com a erudição de vocês. Ele está aqui porque me deu o que pensar. E eu acho que isso é bom.

Meg: “Vc tem um destinatário específico que re-presente os papéis de Platão (que é quem realmente fala, pela boca de Sócrates) e para nós representados pelos ouvintes/leitores do diálogo platônico?”

CC: Será que consegui responder a isto a seguir?

Meg: No post que você colocou, alguém entenderá como e por quê através de quem? Se dará o insight de que vivemos num mundo de sobras? De cópias, de projeções na parede da caverna? Como alguém que vive no mesmo mundo que nós, afeito (de afecção) a todas as mesmíssimas características da condição descrita por Platão/Sócrates, pode trazer-nos essa mensagem, de que há um mundo mais real (repare não real, mas mais real) que é o originado pela fogueira (má tradução para fogo) no domínio carcerário? Seria um soi-disant EC (extra-caverna) como ET (extra-terrestre)?

CC: O mundo não é de sombras. Também delas, mas não só. Estamos vendo apenas uma pequena parte do mundo (as sombras) e é disso que se trata. Foi assim que eu entendi, numa leitura inicial. Na verdade, essa alegoria me cativou porque pode ser lida através dos olhos da pedagogia, da comunicação social, da religião, da ufologia... Segundo o prisma educacional, a caverna seria a ignorância; para a comunicação social, a manipulação da mídia; para religião, talvez o ateísmo, a condição do espírito encarnado ou as ilusões; para a ufologia, o próprio planeta Terra. E, para cada uma das abordagens, a resposta para o através de quem é diferente. Para que o insight fosse a única solução, seria necessário que não houvesse outras pessoas fora do cárcere. O EC poderia ser o messias, o professor, a mídia independente, o ET... Minha resposta favorita seria: o EC mora em nós e ele sempre entoa, mesmo do fundo da caverna mais profunda e escura, as mesmas questões. E são estas questões humanas que dão força ao prisioneiro para arrebentar as próprias amarras e caminhar com os próprios pés para fora da caverna. Felizes são aqueles que encontram um guia no limiar da caverna. Mas soltar a primeira corrente e olhar em volta é um exercício solitário e muito doloroso, geralmente executado por quem já não suporta questões sem respostas.

Meg: “E daí que a compreensão do real a partir das sombras pode ser também da mesma qualidade das sombras. O que você acha?

CC: Deixa eu ver se entendi a sua pergunta. Você está me perguntando se a luz e toda a realidade que ela mostra seriam uma não sombra e uma não caverna? Se estaríamos definindo o real pelo metro do já conhecido? E que isto não seria uma verdadeira revelação mas apenas um jogo de positivo e negativo? E que ainda haveria algo além? É isso? Se for isso, vou te contar que estou usando as linhas filosóficas que vou colocar no próximo post para brincar com várias possibilidades. Repito: o número e qualidade das respostas é proporcional à quantidade de abordagens escolhidas.

2.10.01


O que você pensaria de uma mulher que largou um emprego no McDonald's para se inscrever num concurso de miss onde foi consagrada a mais bonita de seu estado naquele ano? E que foi nesta época que ela disse a amigos que seria Marilyn Monroe? E se eu dissesse que esta mulher foi contratada como modelo da Ford e que este foi o trampolim para sua carreira de atriz? E se eu falasse que ela já foi eleita a mulher mais linda e/ou mais sexy por várias publicações mundo afora e que deixou muito marmanjo babando com um gesto que durou no máximo dois segundos? O que você diria de uma beleza que a idade só realça?

E se eu contasse que ela estreou nas telas num filme de Woody Allen e que o emprego na lanchonete era para judar com as despesas da faculdade onde ela ingressou com 16 anos? E se eu dissesse que ela tem um QI tão alto que permitiu seu ingresso num clube de gênios e que por cada trabalho leva para casa 12 milhões de dólares? E que tal um envolvimento em diversas causas humanitárias?

Esta história de linda, rica, inteligente e famosa, mas - coitada - vítima de uma tragédia é um prato cheio. Eu ainda me lembro do alvoroço que foi quando Lady Di morreu. Causa tanta comoção porque tem gente raciocina assim (ainda que não reconheça nem para seu travesseiro): eu não tenho nada do que esta criatura tem, mas pelo menos a) estou viva; b) não estou num leito de hospital. Desgraça envolvendo celebridade sempre rende.

Eu fico torcendo para que Sharon Stone se recupere logo desta hemorragia cerebral e volte a emprestar sua beleza e talento de sempre às nossas telas e aos nosso vídeos.

Pode parecer maluquice, mas eu realmente gosto de andar de ônibus. Lógico que fora da obrigação cotidiana, dos horários em que é impossível caber mais uma mosca e sem grandes obrigações de horários. Gosto de estar perto de gente, de gente de verdade, daquelas que fazem números largos em estatísticas.

No meio da tarde, é possível sentar-se e, no conforto relativo que este tipo de transporte pode proporcionar, observar as mudanças na paisagem e da fauna humana que entra e sai à medida que o carro avança pelos bairros. Vejo em cada pedacinho da cidade um caráter próprio, expresso também na alma e na cultura peculiar de seus habitantes. Observo o homem caladão sentado ao meu lado. Perdido em seus pensamentos durante a viagem e sem me dirigir palavra, ele me conta sua história.

Ele é aposentado. Usa um chinelo estilo franciscano, uma calça que a sua senhora transformou em bermuda e uma camisa social com estampa antiga. A patroa também imprimiu sua marca ali, virando a gola puída para aumentar sua vida útil.

Não se queixa. O dinheiro da aposentadoria é pouco, mas pelo menos conseguiu, ao longo da vida comprar um terreninho e lá construir sua casa. Muitos de seus ex-colegas estão em maus lençóis. Aqueles que escolheram morar em apartamentos ainda penam com prestações intermináveis e taxas de condomínios extorsivas. É uma pena que aquele seu bairro, que antes era apenas simples e distante, agora tenha sido cercado por favelas onde traficantes impõem sua rotina de terror. A mulher já pensa em mudar de lá, mas a casa é boa e se fossem vender iam conseguir um preço muito baixo e ter se conformar em viver em um cubículo qualquer ou em morar com um dos filhos. Isso ele não quer de jeito nenhum. Não consegue se imaginar morando num lugar onde é preciso dirigir até para comprar pão. Ele sabe das suas manias. Em pouco tempo ele e a mulher se iam se transformar num estorvo. E o que seria dos dois sem os cachorros, o quintal, as coisas arrumadas do jeito deles e as amizades que cultivaram durante décadas com a vizinhança?

Os filhos ajudam muito e por isso as coisas não são mais difíceis ainda. O mais velho faz questão de cuidar de todas as receitas médicas. Ele e a patroa tem todos os medicamentos ao tempo e à hora. O outro contribui quando alguma coisa grande e urgente aparece. Foi ele quem pagou todo o material e mão-de-obra quando foi preciso consertar aquele vazamento no banheiro. A filha caçula está sempre por ali, ajudando a mãe, fazendo as vezes de motorista quando precisa.

Ele já teve carro. Um corcel, alguns fuscas e até um chevette. Hoje em dia não pode mais manter este luxo. Andar de carro só com os filhos. No resto do tempo, ele vai mesmo de ônibus. Aos poucos vai descobrindo as vantagens por ter vivido tanto. Não são muitas, mas não pagar passagem é uma delas.

As crianças – não adianta, ele continua chamando os filhos de “as crianças” – são de ouro. Aproveitaram bem o sacrifício que ele e a mãe fizeram para que tivessem uma boa educação. Colhem hoje os frutos de uma juventude mergulhada em livros, sem muita diversão, que o dinheiro era contado. Não gosta que eles todos tenham decidido ir morar lá para as bandas da Barra. Preferia ter a turma mais perto dele, ver os netos com mais freqüência, mas tudo bem. Ele tem muito orgulho dos meninos.

A única que deu algum trabalho foi a garota. Sempre foi agitada, meio rebelde. Dos três é a única que não tem um diploma. Mas agora que o filho está maiorzinho, está pensando em voltar a estudar. O neto é uma alegria na vida dele, mas ela podia ter tido um pouco mais de juízo e deixado que ele viesse quando a vida dela estivesse mais organizada. A gente não escolhe o caminho dos filhos. Depois de determinado ponto, só o que se pode fazer é torcer para que eles escolham a retidão. A gente também vai aprendendo que a vida devagar vai entrando nos trilhos, mesmo depois dos maiores sustos. Ele ainda lembra da cara da mulher e da decepção que ele mesmo sentiu quando a filha contou que estava de barriga. Ora, sim senhor! Foi um soco no estômago. O pai do menino fez tudo como manda o figurino e só não se casaram no papel porque queriam que quando acontecesse, fosse como nos sonhos dela, na igreja, com vestido... E ele estava começando a vida, andava desprevenido e ainda tinha toda a despesa com a vinda do bebê. A filha largou os estudos e só pôde começar a trabalhar depois que o bebê desmamou. Foi dureza. A família toda colaborou para construir uma casinha num cantinho que estava esquecido lá no quintal (os terrenos de antigamente é que eram terrenos de verdade), onde eles moraram até firmarem as pernas. Depois que eles mudaram para Jacarepaguá, o aluguel desta casinha passou a ajudar bastante.

No ano passado conseguiram fazer a cerimônia com tudo o que tinham direito. A alegria do pai que conduz a filha até o altar apaga qualquer coisa tristeza. Dona Encrenca chorou que nem bebê com o neto no colo. Êta mulher danada! Ele sabe que jamais vai conseguir dizer a ela o quanto ela estava bonita naquele dia e como ele ainda é apaixonado pela mãe de seus filhos. As roupas dos dois foram compradas pela filha, que queria todo mundo nos trinques. Ela vive insistindo para ele ir com ela numa destas lojas de shopping para escolher umas coisinhas novas para vestir. Pra quê? Ele não gosta de gastar dinheiro com bobagens.

Neste momento, ele está indo visitar uma irmã doente no Hospital do Andaraí. Olha o ponto chegando!

Despeço-me e agradeço em silêncio sua companhia muda.

No lugar que ele deixou vago, senta-se uma negra gorda...

1.10.01


Não esquecer de falar sobre:

- ônibus
- chinelo franciscano
- material de construção

Deixa eu ir, que estána hora do moleque voltar da escola.


É, meu camarada...

Tô vendo que o negócio é mesmo como dizia o filósofo: "quem não chora não mama".

Depois de chiar que ninguém me dava bola, três almas caridosas resolveram dar um alô por aqui: BellaTrix, Vicky e Violinha. Valeu, meninas!

Como em time que está ganhando não se mexe, talvez eu consiga pelo menos um comentário para cada post continuando minha trip de chantagem emocional.

30.9.01


Kitty
Domingo de sol no Rio de Janeiro!? Se algum membro da família tem alguma coisa para fazer na rua, mesmo que seja buscar uma papelada na casa de um colega de trabalho, todo mundo entra correndo no carro, porque sabe que no caminho vai cruzar com festa para todo lado.

Antes de dobrarmos a primeira esquina, já fomos cercado pelo fervilhar do Maracanã, numa manhã ordinariamente dominical em que os pais esperam filhos que foram prestar um exame qualquer. Feliz coincidência: no rádio os Novos Baianos cantam “Besta É Tu” falando do estádio num destes dia da semana.

Passamos na esquina da Rua Radialista Waldir Amaral, cruzamos o Espaço Jamelão na avenida do samba. O Cristo estava lá em cima, com seus braços eternamente abertos. O que há demais em um túnel? Uma linda imagem de Santa Bárbara que ficou escondida durante muito tempo e finalmente está em lugar de destaque.

As pessoas e os carros tomam as ruas. A frente da igreja está cheia de fiéis. A praça repleta de manifestantes de branco orando e discursando. Na frente da maternidade colorida de flores, pessoas celebram a chegada de novos membros às suas famílias. O prédio me traz uma história triste à lembrança e ela derrete ao sol. Ali ao lado mora uma amiga que não vejo há tempos. Saudades de seu sorriso largo...

Largo do Boticário. Piso em suas pedras elegantes. Espio o rio que emprestou seu nome aos nascidos ou simplesmente apaixonados pela cidade. Em suas águas os tamoios acreditavam conferir beleza às mulheres e virilidade aos homens. Por ali morou um grande artista que apaixonou-se pelo rosto de uma amiga minha. As casas parecem mais velhas do que realmente são, usando material retirado das demolições das edificações que ficavam onde hoje está a Avenida Presidente Vargas.

É hora do almoço? Petisco da Vila, claro! O garçom parece a Lúcia Helena daquela propaganda do Unibanco, mimando o guri que ele conhece desde o tempo em que ainda morava dentro da minha barriga.

Definitivamente deveria haver alguma lei que proibisse que os dias do final de semana fossem cinzentos como ontem. Sábado carrancudo no Rio é um absurdo! Passei o dia todo madorrenta. Os meus meninos foram ver a exposição surrealista, mas museu lotado não é realmente um antídoto anti-tédio para mim. O dia só não foi totalmente perdido porque na volta para casa meu amo e senhor teve a brilhante idéia de passar na videolocadora.

Um filme para mim e outro para ele, teoricamente. Eu gostei dos dois, de formas diferentes. Eternamente Lulu é divertido, mesmo tratando de uma situação dramática, afinal saias justas são geralmente assim: pateticamente engraçadas. O diálogo no avião, o lobby, o corredor e os quartos do hotel, a visita à família de um filho que a vida extraviou... Cenas que poderiam acontecer com quase todo mundo... Roteiro tão bom que a gente consegue abstrair os intérpretes dos protagonistas: Senhora Banderas e Patrick Swayze.

Vivendo no Limite é um filme estranho que eu deliberadamente evitei quando passou nos cinemas. Mas é um bom filme, embora eu tenha saído da sala numa cena mais brava. Como naquela mensagem que roda pela Internet exortando todos a agradecerem por não trabalharem numa fábrica de supositórios que garante que seus produtos são previamente testados, depois de assistir a este filme também nos sentimos compelidos a dar graças por nosso próprio trabalho. Já pensou trabalhar como paramédico de madrugada num bairro marginal de uma grande cidade? E Nicolas Cage é simplesmente o máximo! É angustiante. É um filmaço.

E ainda faltam meia tarde, uma noite e uma madrugada para acabar o final de semana.