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4.10.01


BIBLIOTECAS CRESCEM NOS QUINTAIS DO RIO

O pedreiro Evandro dos Santos fez da garagem de sua casa, na Vila da Penha, uma biblioteca comunitária. Segundo ele, “não existem analfabetos, apenas intelectos não-lapidados.” Por lá encontra-se Proust, Ken Foller, Monteiro Lobato, As minas de Rei Salomão de R. Haggar na tradução de Eça de Queiroz, Agatha Christie e um livro de culinária em japonês além de outros 19 mil volumes que compõem seu acervo. A biblioteca abre na hora em que o leitor chega e fecha quando o último vai embora. Não há burocracia para consultar ou emprestar as obras. É tudo de graça, até as feijoadas e saraus literários promovidos pelo sergipano. A biblioteca foi batizada com o nome do poeta conterrâneo do visionário: Tobias Barreto de Menezes.

Evandro veio semi-alfabetizado para o Rio aos 18 anos. Foi um pastor de uma congregação batista quem terminou o trabalho usando a bíblia como cartilha. “O livro é vida. Sem ler, a gente vira robô” – diz aquele que chegou a ter uma coleção com 300 livretos de cordel antes mesmo de conseguir decifrar o que estava escrito ali. Ele ainda cita o faraó Ramsés II: “A biblioteca é o remédio do espírito”.

Em 1998, foi fazer uma obra numa loja e deparou-se com cercade50 livros que iriam para o lixo. Entre eles, havia a História do Brasil de Pedro Calmon e a coleção completa de Euclydes da Cunha. Evandro levou tudo para a casa. “As bibliotecas são túmulos. Não se pode falar. É uma burocracia danada para pegar um livro: tem que ter cadastro, foto, dinheiro”, enumera.

Começou a pedir doações em tudo quanto era canto. Milhares de livros foram buscados de ônibus, atravessando a cidade, pelo incansável Evandro. Dificuldade zero = sucesso instantâneo. Para idosos, gestantes e até preguiçosos Evandro pega um ônibus e leva a obra solicitada.

Entre as obras há raridades: um compêndio de medicina editado em 1900, uma Bíblia em latim de 1852 e talvez a única edição conhecida da História dos Mártires Evangélicos, de 1817.

Evandro agora sonha em construir uma sede para a biblioteca ou comprar um carro para pegar mais livros. Tem também o projeto de criar ali um centro de alfabetização de adultos, uma escola de línguas, uma oficina literária...


Vamos colaborar?

Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Menezes
Rua Engenheiro Augusto Bernachi, 130
Largo do Bicão - Vila da Penha
Rio de Janeiro – RJ
CEP 21235-720
Tel.: (21) 2481-5336


(Baseado em artigo publicado em 3/10/2001 no JB)

OUTRAS INICIATIVAS

Uma rede de bibliotecas comunitárias, sem apoio da iniciativa privada, governos ou organizações não-governamentais, está crescendo nos subúrbios do Rio e na Baixada.

O professor Marcelo Sanuto inspirou-se no exemplo do pedreiro Evandro para abrir em 1999, uma biblioteca numa área de 50 metros quadrados nos fundos de sua casa, no centro de Duque de Caxias. O acervo conta hoje com 10 mil volumes. A biblioteca está aberta em horário alternativo, das 18 às 21 horas.

Biblioteca Comunitária Paulo Freire
Tel.: (21) 2771-2502


O pastor Nivaldino Bastos montou sua versão na Igreja Batista do Irajá. Ela funciona desde maio com duas salas com livros didáticos e uma de enciclopédias. São 9 mil exemplares.

Biblioteca Comunitária Lima Barreto
(21)2471-5289


O corretor Flávio Rezende quer tirar a garotada da rua e mostrar Monteiro Lobato para eles. No porão de sua casa já se acumulam 2 mil livros que estarão disponíveis quando for inaugurada em Neves, distrito de São Gonçalo a:

Biblioteca Comunitária Machado de Assis
(faltam as estantes para dispor os livros)
Tel.: (21) 3707-1485


Há mais uma destas bibliotecas em Caxias, outra em Belford Roxo, uma em São João de Meriti e em Valença, na região sul do estado.

(baseado em artigo de 4/10/2001 do JB)

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