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3.10.01

Uau! Que felicidade! Finalmente tenho a sensação de não estar falando sozinha. Como é bom sentir isso! Adorei ver comentários aqui mesmo, na minha casa, e saber que o que andei postando aqui gerou assunto na vizinhança.

A Letti colocou um link na página dela falando do Mito da Caverna. E através dele chegou por aqui o Tirupi, que comentou o fato em seu blog. A Juliana mandou por ali mesmo seu recado, comentado depois pela Zel. Não é o máximo para quem andava se queixando?

Eu não coloquei os meus comentários então, mas depois da avalanche de questionamentos da minha mais nova queridona deste mundo virtual, a Meg, achei que fiquei mesmo devendo uma justificativa para o texto ter parado ali.

Ela pergunta: “De qual fonte vc retirou a alegoria (e não mito, como infelizmente vários tradutores antigos chamam) da Caverna. Faça o devido estorno/desconto, em relação aos mitos já classificados por Barthes (esses são modernos, performáticos).”

Respondo: Tudo começou quando fui visitar o site da Helô. Encontrei por lá uma citação do Saramago que achei interessante e fui pesquisar para encontrar na íntegra. Descobri que ele estava falando de seu livro “A Caverna” que usa esta alegoria (não é chic ter uma amiga que ensina um monte de coisas interessantes para a gente?). Claro que este título já entrou na minha lista de aquisições inadiáveis. Então fui atrás da alegoria propriamente dita. E foi bonito porque quando li todo o texto lembrei exatamente da aula em que eu o estudei, lá na época do Curso de Formação de Professores. Sim, Meg querida, eu já fui normalista! A alegoria tal como se apresenta aqui foi retirada de um site sobre pedagogia, cujo endereço posso tentar recuperar para você.

Não chego à unha de seu menor dedo do pé quando o assunto é filosofia e realmente não tenho como saber, como falou a Juliana, se esta é a tradução correta, se esta abordagem carrega uma visão modernosa do discurso. Olho esta discussão mais acadêmica apenas da arquibancada, babando com a erudição de vocês. Ele está aqui porque me deu o que pensar. E eu acho que isso é bom.

Meg: “Vc tem um destinatário específico que re-presente os papéis de Platão (que é quem realmente fala, pela boca de Sócrates) e para nós representados pelos ouvintes/leitores do diálogo platônico?”

CC: Será que consegui responder a isto a seguir?

Meg: No post que você colocou, alguém entenderá como e por quê através de quem? Se dará o insight de que vivemos num mundo de sobras? De cópias, de projeções na parede da caverna? Como alguém que vive no mesmo mundo que nós, afeito (de afecção) a todas as mesmíssimas características da condição descrita por Platão/Sócrates, pode trazer-nos essa mensagem, de que há um mundo mais real (repare não real, mas mais real) que é o originado pela fogueira (má tradução para fogo) no domínio carcerário? Seria um soi-disant EC (extra-caverna) como ET (extra-terrestre)?

CC: O mundo não é de sombras. Também delas, mas não só. Estamos vendo apenas uma pequena parte do mundo (as sombras) e é disso que se trata. Foi assim que eu entendi, numa leitura inicial. Na verdade, essa alegoria me cativou porque pode ser lida através dos olhos da pedagogia, da comunicação social, da religião, da ufologia... Segundo o prisma educacional, a caverna seria a ignorância; para a comunicação social, a manipulação da mídia; para religião, talvez o ateísmo, a condição do espírito encarnado ou as ilusões; para a ufologia, o próprio planeta Terra. E, para cada uma das abordagens, a resposta para o através de quem é diferente. Para que o insight fosse a única solução, seria necessário que não houvesse outras pessoas fora do cárcere. O EC poderia ser o messias, o professor, a mídia independente, o ET... Minha resposta favorita seria: o EC mora em nós e ele sempre entoa, mesmo do fundo da caverna mais profunda e escura, as mesmas questões. E são estas questões humanas que dão força ao prisioneiro para arrebentar as próprias amarras e caminhar com os próprios pés para fora da caverna. Felizes são aqueles que encontram um guia no limiar da caverna. Mas soltar a primeira corrente e olhar em volta é um exercício solitário e muito doloroso, geralmente executado por quem já não suporta questões sem respostas.

Meg: “E daí que a compreensão do real a partir das sombras pode ser também da mesma qualidade das sombras. O que você acha?

CC: Deixa eu ver se entendi a sua pergunta. Você está me perguntando se a luz e toda a realidade que ela mostra seriam uma não sombra e uma não caverna? Se estaríamos definindo o real pelo metro do já conhecido? E que isto não seria uma verdadeira revelação mas apenas um jogo de positivo e negativo? E que ainda haveria algo além? É isso? Se for isso, vou te contar que estou usando as linhas filosóficas que vou colocar no próximo post para brincar com várias possibilidades. Repito: o número e qualidade das respostas é proporcional à quantidade de abordagens escolhidas.

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