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16.5.03

São mil coisas acontecendo, milhares de fatores interferindo, o mundo inteiro de informações te abordando, todas as pessoas com quem você se relaciona, do carregador de sacolas do super-mercado ao cliente mais importante que vai te ajudar a sair daquele sufoco financeiro pelo qual você anda passando, o padre que celebrou o casamento daquela sua prima e todas as pessoas que são realmente importantes porque trazem até você o néctar, a ambrosia, o verdadeiro sentido, o sol, o eclipse, o cinema que não deu pra pegar, a comida que queimou no fogão, o mar que continua batendo impassível nas areias da cidade mais linda do mundo, tudo o que você pensa para providenciar o jantar ou para o fim da miséria no país, o aparelho ortodôntico, a lição de casa, a roupa sempre limpa na gaveta, o papel de chata reguladora a que você se obriga a encarnar às vezes no exercício de formação de um ser humano digno, o perfume discretamente aplicado naquele lugar onde o homem da sua vida gosta de afundar o nariz quando te abraça, as marcas do tempo que vão se acumulando em todo o seu corpo, as saudades dos que já foram para outro plano, a manicure, a expressão exata que traduza aquela palavra de outro idioma, os frascos atraentes onde a beleza está guardada, aquela música do Chico que te inunda de êxtase no meio da tarde, o filme que você queria tanto ver e que descobre que vai começar na hora em que você ligou a TV, o maiô novo da hidroginástica que é preciso comprar, aquele parente para o qual você precisa ligar para que ele saiba que aquele abraço no velório não foi um gesto vazio e social apenas, as brigas, os sapos a engolir, o mamãe-eu-te-amo, o remédio, Deus, o buquê de flores para enfeitar o caos, as lágrimas, o sorriso, o trânsito barulhento lá embaixo, o livro lido sob a árvore onde os papagaios ruidosamente planejam se recolher para passar a noite, as palavras que se unem e gritam por papel ou tela enquanto tento dormir, as duas pulseiras perdidas, os desenhos do menino e as obras do grande gênio, os mistérios, a luz forte que cega, os incômodos animados e inanimados, alecrim, massagem nos pés, muitos beijos, a água que escorre pelos dedos, os cantos e momentos que são ou deveriam ser só seus, os grandes segredos e a conversa displicente, aquilo, eu.
Não seria ótimo se tivéssemos um raio X assim para ver todas as pessoas com quem interagimos?

Para o demônio que aparece neste caso, nem é necessário. Só os idiotas caem no seu lero.

15.5.03

Ele me ligou minutos antes de chegar em casa só pra me avisar que estava despontando no horizonte uma lua deslumbrante e pra me lembrar de parar um pouco com a labuta e roubar alguns instantes da dureza daqui da Terra para olhar o céu.

Não exatamente com essas palavras.

Porque às vezes as pessoas nem sabem da música que ouvimos nas palavras delas.

E hoje tem eclipse a partir das 23h. (Solfejou esta?)

14.5.03

Imagina dois gigantescos discos voadores pousados com um monte de seres humanos vestidos ridiculamente correndo em trono deles, parando vez ou outra em movimentos onde parecem querer arrancar a cabeça e os próprios membros?
Imaginou?
É esta visão surreal que tenho todos os dias ao abrir a janela.
Dá pra ser normalzinha, dá?
Por onde andará minha amiga Irene?

In Greek mythology, Eirene was one of the Horae, the goddesses of the seasons and natural order; in the Iliad they are the custodians of the gates of Olympus. According to Hesiod, the Horae were the daughters of Zeus and a Titaness named Themis, and their names indicate their function and relation to human life. Eirene was the goddess of peace. Her name is also the Greek word for "peace," and it gave rise to "irenic" and other peaceable terms including "irenics" (a theological term for advocacy of Christian unity), "Irena" (the genus name of two species of fairy bluebirds found in southern Asia and the Philippines), and the name "Irene."

(Word of the Day)


Irene
(Caetano Veloso)
(clique para ouvir versão com Gil)

Eu quero ir, minha gente, eu não sou daqui
Eu não tenho nada, quero ver Irene rir
Quero ver Irene dar sua risada
Irene ri, Irene ri, Irene
Irene ri, Irene ri, Irene
Quero ver Irene dar sua risada

13.5.03

Recebido por e-mail:
(nada pessoal, viu, amor)

Deus,
Eu lhe peço...
Sabedoria para entender meu homem,
Amor para perdoá-lo,
Paciência pelos seus atos;
Porque Deus, se eu pedir força,
Eu bato nele até matá-lo.
Hoje seria aniversário da minha avó materna, se ela fosse viva.
Hoje é dia de comemorar a Abolição da Escravatura, diz a tia Cotinha.
Hoje, dizem, é dia de Preto Velho.



Homenagem aos Pretos Velhos


Os pretos velhos são espíritos de origem africana, que vieram dar mensagens aos seus seguidores quer sejam da Umbanda ou do Candomblé. Cultuados por alguns segmentos da nação de Angola, essas entidades são consideradas como ancestrais, como eguns dos Orixás.
A Umbanda considera o Preto Velho como entidade de luz, trazendo conhecimento e visão da cultura africana. Os Pretos Velhos são homenageados no dia da Abolição da Escravatura, pois, com a vinda dos negros para o Brasil, houve muita discriminação de suas tribos para que perdessem sua força religiosa. Dissolviam as tribos, misturando os negros da Guiné com a Angola, Nigéria com Moçambique, enfraquecendo assim, a cultura e a história dos negros. Como esses negros falavam dialetos diferentes, tinham dificuldade em se comunicar e só se entendiam através do culto aos seus orixás, além de terem sido submetidos a maus tratos e subjugados em seu culto, onde os reis e chefes das tribos eram os mais humilhados e escravizados; os colonizadores e padres obrigavam-no a seguir a cultura cristã. Para manter acesa a chama de sua fé e numa tentativa de cultuar os seus Orixás, os negros tiveram que aceitar os santos da Igreja Católica com a sua crença, formando, assim, o sincretismo religioso. Hoje, são os Pretos Velhos, as entidades mais luminosas que nos ensina com sabedoria, os valores de humildade, resignação, paciência e amor ao próximo.

(fonte)

PRETOS VELHOS, FILHOS BRANCOS:
um breve devaneio

Simone Carneiro Maldonado
Antropóloga
GRUPO DE PESQUISA RELIGARE
UFPB - João Pessoa


"É rei, é rei
É rei no seu congá,
É rei!..."

Assim diz um dos inúmeros pontos de chamada de Pretos Velhos na Umbanda, que é a forma religiosa mais representativa dos cultos afro no Brasil, contexto cultural em que se expressa com grande força, coberto de prestígio e de carinho este personagem tutelar aos ritos nacionais, reverenciado nas mais variadas formas, o Preto Velho.
Religiosidade, sincretismo, etnicidade, subalternidade, seriam alguns dos conceitos que seriam necessários para se construir à altura o tema deste devaneio. Mas justamente porque o devanear não tem um compromisso com teorias ou análises estritamente orientadas (sendo justamente o seu contrário...), permito-me escrever esta peça tal como ela está. Sugiro no entanto que ela seja lida diante da intenção com que está sendo escrita, como algo que remete à prática umbandista "brasileira" e "afro" e sobre a construção que aí ocorre de um dos arquétipos brasileiros, o do Preto Velho.
Para tal, passo a contextualizar este personagem que a Umbanda situa entre as entidades de luz, ou espíritos superiores em mérito, junto com outros tipos igualmente idealizados, como os "caboclos", os "mestres", os "orientais", as "crianças". São grupos de espíritos, de vibrações, de sintonias, de diferentes formas de relacionamento com o mundo dos vivos, por assim chamar o mundo dos "encarnados", que estão "na carne", que têm corpo, nós.
Ao classificar a espiritualidade, o mundo dos espíritos em "linhas" ou "falanges", Falange dos Caboclos, Linha de Preto Velho, Linha do Oriente (também muito conhecida por "linha dos Ciganos"), a Umbanda expressa a sua ordenação do universo tendo como referencial os domínios da natureza e da civilização, num mundo marginal. A natureza é o reino dos Caboclos, representação idealizada do índio brasileiro, que por sua vez se subdivide em "falanges" (Caboclos de Pena, Caboclos Flecheiros, Caboclos, do Mel) todas elas comprometidas com a mata, com a água doce, com o mel silvestre, com a cura, a "ajuda" e sobretudo com a justiça feita com a proteção do Pai Oxóssi (senhor das matas que preside a Falange dos Caboclos) e suas flechas.
No âmbito da civilização, juntamente com outras entidades como os "mestres", está a figura do Preto-Velho, o espírito nacionalmente reconhecido do ex-escravo africano como o tem construído o imaginário religioso brasileiro nos anos de escravatura e sobretudo após a abolição.
Na verdade, a afetividade de que se recobre a relação dos Pretos Velhos com seus "filhos brancos" expressa nos rituais sincréticos, remete às relações semi-familiares que se estabeleciam nas casas-grandes e os seus escravos domésticos. Se não, vejamos, no ideário nacional (e na prática "real?,concreta naquele passado), a Mãe Preta se situa mansamente como um terceiro elemento na díade mãe-filho, surgindo aí relações muito fortes de carinho e solidariedade das três partes: da Sinhá, da escrava e do menino branco, que não raro na literatura romântica aparecem aliados em confronto com a vontade férrea e patriarcal do homem branco, senhor de terras, dono de mulheres, de escravos e de meninos.
Eu diria ser este um substrato fundamental à re-criação e à reabsorção do escravo africano pela sociedade brasileira na Umbanda, mediante a construção do personagem do Preto Velho. Mesmo liberto, esse espírito continua vivendo no imaginário religioso de muitos brasileiros. Um desses modos de presença é a representação do ex-escravo negro que retoma a sua relação com a sociedade nacional, com os "filhos brancos" a cada sessão de Umbanda.

(...)

"Arruda tem luz
Tem poder e tem valor
Arruda tem força
Do pai superior

É rei ,é rei
É rei no seu congá
É rei, é rei
E vem para ajudar!"

Com fórmulas assim se invocam Pai João d'Angola, Pai Arruda, Pai Benedito, o Preto Velho do Menino Jesus e tantos outros "pais" e "avós" que são a representação dos ex-escravos nesta sua forma de permanência entre nós. É bastante comum que as entidades masculinas sejam chamadas de "pai" enquanto as Pretas Velhas são geralmente "vovós" que distribuem proteção, conforto moral, conselhos e receitas a quem os procura. Curiosamente nunca tomei conhecimento de que "vovós" fossem chamadas na abertura dos rituais, tendo elas no entanto também grande mérito e poder, em nada ficando a dever aos Pretos na hierarquia dos rituais e na procura das pessoas:

"É bonito e tem que ver
Pau sêco florar
É bonito e tem que ver
As pretas velhas trabalhar!"

É grande a quantidade de "pontos" de que estes são representativos enquanto associação dos espíritos dos africanos às flores, à idade avançada, a humildade, generosidede e doçura no trato com os "filhos brancos" com quem interagem em termos de parentesco simbólico. Geralmente idosos, cegos, mutilados ou trêmulos, os espíritos incorporados nos médiuns ouvem queixas e pedidos dos "filhos brancos", dão conselhos, prometem a ajuda, força e preces, pedem paciência, fé e receitam chás de entrecascas, de perfume, arroz, arruda, cominho, cravo branco, comunicando-se num modo de falar também sujeito a variações mas fundamentalmente manso e o mesmo em todos os ambientes, repetindo-se sempre a frase "i zi gaci di Deus" ou simplesmente "gaci di Deus (graças a Deus):

"I zi fi zabancado i zi gaci di Deus picisá dus abanhado i ni xopana di fi"

para dizer que

"O filho branco na graça de Deus vai precisar de uns banhos na casa do filho".

Ou ainda, no mesmo tom meigo e paternal,

?Gaci di Deus, o fi tuma us banho dos cravo e arruda machucadim, mai é picisi rezá pa saúde di i dá tomém us banho no galiba di fi, i zi gaci di Deus

que significa

?Na graça de Deus o filho toma os banhos de cravo com arruda machucadinhos mas é preciso rezar para a saúde e também dar banhos na criança do filho, nas graças de Deus?

Vale ressaltar um detalhe significativo na relação do Preto Velho com os seus filhos (i zi fi) que poderia instigar a mais um estudo dos fenomenos simbólicos e relações que ocorrem no âmbito dos rituais de Umbanda. Mesmo que se trate de mestiços, morenos, mulatos, "pardos" e até mesmo de negros, uma vez em consulta com um Preto Velho todos são "filhos brancos" (i zi fi zabancado), não parecendo ser a expressão "branco" neste caso um referencial étnico mas antes outros construto que é o da nomeação pelas "linhas de Congo" dos seus "filhos brancos".
No processo de ajuda, aconselhamento e consolo propiciado pelo contato com os Pretos Velhos, estes se apresentam (e são apresentados nos "pontos") cheios de mérito junto ao Pai Superior, a Jesus e à Virgem Maria, em grande medida pelos tormentos da sua vida de escravo na terra, uma espécie de resgate dos sofrimentos, mutilações, castigos e humilhações cujas marcas guardam na espiritualidade e que lhes foram inflingidos pela mesma sociedade a quem eles hoje vêm cuidar e consolar. São indicativos disso os "pontos de chamada" e de "despedida":

Pai Arruda vai baixar
Pros seus filhos ajudar
Com a força de Jesus
Ele vem pra trabalhar"

E no momento da despedida,

"Lá vai os Preto Velho
Subindo pro céu
E Nossa Senhora
Cobrindo com o véu"

Nos "pontos de Preto Velho" há também referências à negritude e ao trabalho, como se pode ver a seguir:

Quem arreia na linha de Congo
É de Congo, é de Congo, aruê!
Quem arreia na linha de Congo
Agora é que eu quero ver.

Preto com preto, Calunga,
Eu também sou preto, Calunga,
Na terra dos preto, Calunga,
Todo mundo é preto, Calunga!"

E no "ponto de Preta Velha",

Vovó não quer
Casca de côco no terreiro
Vovó não quer,
Casca de côco no terreiro
Que é pra não lembrar
Dos tempo dos cativeiro
Que é pra não lembrar
Os tempo dos cativeiro"

A inversão simbólica dos valores da hierarquia prevalecente na ordem social brasileira é um dos fenômenos que mais caracterizam os cultos afro-brasileiros. Nestes contextos, o "menos" passa a ser "mais", os últimos são os primeiros e o subalterno adquire um poder que pode chamar-se mágico. No caso do Preto Velho, a via para essa "ascensão" que se realiza durante os rituais foi o sofrimento a ele imposto pela mesma sociedade que a ele hoje se filia e se ajoelha aos seus pés por proteção e ajuda. (...)

Também aqui cabe lembrar o caráter de comentário reflexivo deste pequeno texto para poder permitir-me citar o filósofo Martin Heidegger ao dizer que a continuidade de um fenômeno significa muito mais do que a permanência do que o constitui.Muitas vezes a história conduz a modificações estruturais nas relações sociais e na produção da sobrevivência sem que no entanto certas vozes silenciem necessariamente de maneira radical.

(texto completo aqui)
Recebido por e-mail:
(veja mais sobre este assunto na Jaula do Cordeiro)

Demarcando território
Ricardo Calil


09.Mai.2003 | Cacá Diegues é a Maria da Conceição Tavares do cinema nacional. Assim como a economista no episódio da focalização dos gastos públicos, o cineasta despertou uma espécie de histeria coletiva em sua classe com a polêmica do "dirigismo cultural".

Da mesma forma que Conceição, Cacá deu dimensão gigantesca a um problema irrisório, deixou de lado questões mais importantes e transformou um coadjuvante em vilão da história. Ao contrário da economista, porém, o
cineasta conseguiu o que queria.

Mas exatamente o que desejavam essas duas figuras históricas? Fora o bem do país, claro... No caso de Conceição, a resposta é difícil. Afinal, ela não ganha nada para atacar a focalização dos gastos públicos.

Mas sua atitude deve ter algo a ver com o fato de que o PT está obtendo êxito econômico fazendo o contrário do que ela sempre defendeu. Sentindo-se contrariada, mas sem argumentos, ela decidiu inventar que Marcos Lisboa,
secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, queria acabar com a universalização dos serviços essenciais.

No caso de Diegues, a equação é mais simples: ele é um cineasta que depende de dinheiro público para fazer seu trabalho, o novo governo acenou com a possibilidade de controlar os gastos com cinema...

O fato estranho é que Diegues não veio a público para defender a manutenção do sistema de financiamento estatal. Ele preferiu supor que o governo queria acabar com a liberdade de expressão com um suposto "dirigismo cultural".

Para Diegues, esse golpe na cultura estaria sendo tramado maquiavelicamente pelo secretário de Comunicação Luís Gushiken e pelo consultor privado Yacoff Sarkovas (aliás, nome perfeito para vilão de cinema).

A acusação de Diegues foi motivada por duas iniciativas do governo: a transferência do poder de decisão sobre as verbas estatais do Ministério da Cultura para a Secretaria de Comunicação e a definição de novos critérios para a concessão de patrocínios.

Segundo os critérios divulgados na semana passada nos editais da Eletrobrás e Furnas, conceitos como "contrapartida social", "valorização da cultura popular" e alinhamento a programas sociais como o Fome Zero deveriam ser levados em conta na definição dos projetos a serem patrocinados.

Na já célebre entrevista que deu ao "Globo", Diegues declarou ter visto nesses critérios "um golpe que pode provocar um desaparecimento do cinema brasileiro", "uma audácia autoritária que nem a ditadura militar foi capaz
de ousar", "uma intervenção de choque (...), um Bope ideológico", "uma vitória jdanovista (referência ao comissário stalinista da cultura)".

O conceito da "contrapartida social" é mesmo um tipo de aberração, mas ninguém o levava muito a sério até a entrevista de Diegues. Mesmo porque os editais não davam a entender que haveria interferência no conteúdo das obras ou que projetos sem contrapartida social seriam rejeitados.

Acreditar que essa idéia levaria a uma reedição do realismo socialista, como afirmou Luiz Carlos Barreto, é o mesmo que crer que o Brasil produziria a bomba atômica, só porque o ministro Roberto Amaral disse que o país não
renunciaria a nenhuma tecnologia nuclear.

No episódio todo, o fato mais revelador não foi o conteúdo dos editais, mas o exagero da reação de Diegues - seguido depois pelo establishment da classe artística. Foi menos uma defesa da liberdade do que uma demarcação de
território.

Nesse sentido, foi uma atitude muito bem-sucedida. Diegues conseguiu que os novos critérios fossem abandonados antes que eles se estendessem à BR Distribuidora e à Petrobras, os principais financiadores do cinema brasileiro. A rapidez com que Gushiken voltou atrás na questão mostra que nem mesmo o governo fazia tanta questão da "contrapartida social".

Mais importante, Diegues conseguiu que o poder de decisão sobre as verbas das estatais para a cultura (cerca de R$ 200 milhões por ano) voltasse para seu amigo Gilberto Gil, que fingiu lavar as mãos no episódio. Nunca é demais
lembrar que o secretário do Audiovisual, Orlando Senna, foi sugerido a Gil por Diegues.

Agora, o ministério de Gil poderá escolher quais projetos serão patrocinados e ainda fiscalizar a aplicação das verbas. A Ancine, agência que controla os gastos com cinema, foi incorporada pelo MinC no mês passado. Com sua pouca experiência política, Gil já ganhou mais poder em quatro meses de mandato que muito ministro rodado.

É importante destacar que Diegues não está sozinho nessa luta. Ele foi apoiado pela classe artística nacional. Embora, a julgar pelas fotos da reunião com os ministros, toda a classe seja oriunda da zona sul carioca.

O dado mais curioso nessa história é que a maioria absoluta dos artistas apoiou Lula na eleição. E, como lembrou o cineasta Jorge Furtado (talvez o único a escrever algo sensato sobre o episódio), o item 40 do programa de governo do PT dizia praticamente a mesma coisa que os editais da Eletrobrás e da Furnas:

"Nosso governo adotará políticas públicas de valorização da cultura nacional, em sua diversidade regional, como resgate da identidade do país.

Para realizar esses objetivos, será necessário encontrar novos mecanismos de financiamento da cultura e de suas políticas, que não podem continuar, como hoje, exclusivamente submetidos ao mercado" .

Os artistas apoiaram Lula porque eles queriam mudanças. Agora, porém, eles parecem seguir a idéia de Lampedusa de que tudo precisa mudar apenas para ficar como está. De qualquer forma, é bonito ver a classe artística tão
mobilizada. Não se via tamanha união desde o linchamento moral de Regina Duarte na campanha eleitoral.

12.5.03

Isso é brincadeira, não é?

Gisele Bündchen pode ter decepcionado o amigo Caetano Veloso, que conheceu no Carnaval passado em Salvador. Segundo o colunista César Giobbi, do jornal O Estado de S.Paulo, a top pediu ao cantor que compusesse uma música sobre ela e, em seguida, perguntou ao músico se ele conhecia Londres. Caetano respondeu que já morou na cidade quando se exilou na época da ditadura militar (lá, inclusive, ele compôs a música London London). Gisele prosseguiu: "Ditadura?". A pergunta levou ao fim da conversa.

Acróstico

Meu bijouzinho fez pra mim:

Carente
Adorável
Re-pensadora
Leal
Astuta

Agradeci e cobri de beijinhos orgulhosos.

Depois, com jeito, perguntei como quem não quer nada:

- Por que carente?

- Ué! Você não vive dizendo que a gente tem que dar os brinquedos que não usa mais, que tem sempre que ajudar as pessoas? Não conheço ninguém mais carente que você.