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14.9.01



Minha tia-avó faleceu ontem. Viveu uma vida feliz e parte quando já chegava aos noventa. Construiu uma família sólida e unida. Viu filhos, netos e bisnetos seguirem seus caminhos em paz. Nossa saudade é tranqüila.

Entretanto, minha madrinha, sua filha, não poderá lhe prestar pessoalmente as últimas homenagens. Nem minha prima ou seus filhos. Nem meu primo e os bisnetos que gerou para aquela que era a mais velha de nossa família. Estão todos nos EUA, alguns a passeio, outros residentes, alguns bem perto de onde aconteceu parte da tragédia, outros mais distantes. Todos tomados como reféns do terror.

Tristeza...

Mas em meios aos telefonemas familiares que informam horários e locais, a notícia: minha irmã do meio está novamente grávida.

Alegria e esperança.

A vida segue. Cíclica.


13.9.01

LOUCURA NÃO SE CURA COM MAIS LOUCURA

Outro dia comentava num grupo de amigos sobre o desejo revanchista de alguns ao presenciarem um crime hediondo. Defendia-se a pena de morte. São os mesmos que hoje defendem uma declaração de guerra, antes mesmo de saberem quem são os inimigos. Creio que nada melhora ao nos igualarmos aos criminosos.

Quando falo isso não defendo a impunidade. Não mesmo! Os crimes devem ser punidos com justiça. E justiça não é olho por olho dente por dente. Hoje no jornal leio que se houver retaliação, haverá re-retaliação e em breve não haverá olhos suficientes. Assim vejo. Matar um assassino não trará a vida perdida de volta. Apenas aplacará uma necessidade de vingança.

Perdão também não significa impunidade. O caso há algumas semanas na revista Veja sobre pai que ajuda o presídio onde os seqüestradores e assassinos de seus filhos estão detidos é um bom exemplo. Ele não defende que estas criaturas sejam
postas em liberdade, apenas conseguiu, com muito trabalho e exercício racional e de amor, retirar o ódio de seu coração. Se assim não tivesse sido, como ele mesmo declarou, poderia ter atentado contra os criminosos e alavancaria outra série de desgraças, sendo ele mesmo preso, deixando desamparadas a mulher e as filhas.

O sentimento de vingança, além de não repor o que foi perdido, geralmente volta-se contra seu agente, corroendo e envenenando, não raro desencadeando ainda mais desastres.

Ontem vi fotos de ruas de Nova Iorque. Pixações diziam: Matem os árabes. Cartazes exigiam um ataque ao Afeganistão. Nada disso trará de volta as dezenas de milhares de vidas perdidas e ainda causará a morte de outros tantos. Os culpados devem ser descobertos e punidos exemplarmente. Mas devemos estar atentos para este sentimento generalizado de ódio que cresce
contra o Islã, que abriga em seu seio milhões de humanos que nada têm a ver com toda esta monstruosidade.

Não podemos deixar de lembrar da lei da causa e efeito. É preciso recordar que o Talibã foi posto no poder pelos EUA e que o Iraque armou-se até os dentes com ajuda norte-americana, o apoio incondicional a Israel... Talvez os que comemoram hoje os ataques terroristas encontrem respaldo para esta insanidade em injustiças acumuladas por décadas. Eles estão certos? Não, não e não. Assim como não seremos justos ao apoiarmos uma retaliação que até o momento nem alvo definido tem.

Para concluir e enfatizar minha linha de raciocínio, vamos fazer um exercício de imaginação e supor que, como no atentado de Oklahoma, os responsáveis sejam cidadãos americanos. Seria apoiado com tanto imediatismo e naturalidade o bombardeio ao estado em que eles nasceram e foram criados?

10.9.01



Vou te contar...

Ando sem paciência para certas coisas mínimas porque toda a (pouca) tolerância que eu arianamente tenho tem sido desviada para determinados aspectos da minha vida.

Frescura é uma destas pequenas coisas. Geralmente levo na brincadeira até porque sou um depósito de pequenas frescuras, mas tenho tido ímpetos de jogar na lata: meu filho, vai capinar um quintal ou virar um concreto.

Ando muito a fim de proferir frases não muito elegantes que começam com "vai prá..."

Tenho me sentido tentada a cuspir em cima de uns e outros os sapos que estas criaturas, sempre com as intenções mais nobres (como não poderia deixar de ser) andam querendo me fazer engolir.

Começo a desconfiar que o modelão que eu adotava antes, aquele de não levar desaforo para casa, precisa ser revisitado. Às favas o equilíbrio e a sobriedade da maturidade. Estou pelas tampas com este povo manipulador.

Já estou montada: saia rodada, tamancão e mãos nas cadeiras. O próximo a investir, leva a primeira.