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31.12.01

Movimento 1: Cantando para subir

Prefiro, metaforicamente, levar de 2001 aquele show maravilhoso no Canecão à notícia do último dia 29. Cássia Eller canta minha despedida para este ano tão louco...


Non, Je Ne Regrette Rien

Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait, ni le mal
Tout ça m'est bien égal
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié
Je me fous du passé
Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu
Mes chagrins, mes plaisirs
Je n'ai plus besoin d'eux
Balayés mes amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro

Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait, ni le mal
Tout ça m'est bien égal
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Car ma vie
Car mes joies
Aujourd'hui
Ça commence avec toi...



Movimento 2: Recepção

Para o novo ano, que, independente de religião, todo o mundo compreenda e viva o amor.


ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO

Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz;
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé;
Onde houver erros, que eu leve a verdade;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei com que eu procure mais consolar,
que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado;
Pois é dando que se recebe;
É perdoando, que se é perdoado;
E é morrendo que se vive para a vida eterna.



22.12.01

Não me peça o que não posso dar. Sou toda intuitiva e empírica. Deixei as certezas na casa dos vinte. As condições morrem uma a uma a cada dia. Vivo apenas o real. Idealizações não mais.

Apesar de tudo isso, algo é perene em mim: eu mesma. E algo aqui dentro me diz que nem tudo é relativo. É preciso acreditar e guiar-se por alguma coisa que se crê absoluta.

Sob pena de perder a razão. Mesmo que seja apenas em uma discussão.

Ninguém me conhece...

Sequer preciso de uma poção para me transformar em Mr. Hyde.

Quem dera este aparelho de ar condicionado liberasse oxigênio.

O calor está derretendo meu pobre e preguiçoso cérebro...


AA UU
(Sérgio Britto/Marcelo Fromer)



AA UU AA UU
AA UU AA UU
Estou ficando louco de tanto pensar
Estou ficando rouco de tanto gritar

AA UU AA UU
AA UU AA UU
Eu como, eu durmo, eu durmo, eu como
Eu como, eu durmo, eu durmo, eu como

Está na hora de acordar
Está na hora de deitar
Está na hora de almoçar
Está na hora de jantar

AA UU AA UU
AA UU AA UU
Estou ficando cego de tanto enxergar
Estou ficando surdo de tanto escutar

AA UU AA UU
AA UU AA UU
Não como, não durmo, não durmo, não como
Não como, não durmo, não durmo, não como

Está na hora de acordar
Está na hora de deitar
Está na hora de almoçar
Está na hora de jantar


O MUIRAQUITÃ




Muiraquitã é o nome que os índios davam a um pequeno objeto em forma de rã, que segundo eles trazia felicidade a quem o possuísse.

A lenda do Muiraquitã vem desde os tempos do descobrimento, mas só nos séculos XVIII e XIX os amuletos se tornaram mais procurados, sendo atribuídas a eles qualidades de amuleto ou talismã.

Encontrado principalmente na região do Baixo Amazonas - região na qual encontravam-se as índias Icamiabas ou "mulheres sem maridos", mulheres guerreiras que viviam em uma sociedade isolada, e que regiam suas próprias leis. As Icamiabas realizavam uma festa anual dedicada à lua, e durante a qual recebiam os índios Guacaris (tribo localizada próxima a das Icamiabas), com os quais se acasalavam. Depois do acasalamento, mergulhavam em um lago chamado Iaci-uaruá (Espelho da Lua) e iam buscar no fundo do rio a matéria-prima com que moldavam os Muiraquitãs, que ao saírem da água endureciam. Então presenteavam os companheiros com os quais tinham feito amor... Os que recebiam, usavam orgulhosamente pendurados no pescoço, como um troféu e como símbolo de fertilidade e felicidade.

De qualquer forma quando se pronuncia Amazonas, não se pode deixar de pensar em Muiraquitã. O Muiraquitã é o amuleto de fertilidade e da sorte da Amazônia.


*****

Retirando-se a referência sexual da lenda, nada mais adequado que o texto acima para descrever a beleza do que trago agora. Uma guerreira amazônica me recebeu. Recebi um Muiraquitã para jamais esquecer esse momento único (como se fosse necessário alguma prova material do que arranhou minha alma...). Não sou eu que mereço o troféu por uma vitória, mas fico muito feliz por ter participado dela.

Meg, você é uma anfitriã maravilhosa, além de todas as suas outras qualidades, que eu não canso de louvar.

Peço desculpas, mas é impossível não gostar da Selma :-). Mas fique tranqüila, meu coração é grande... Prova disso é que o espaço que tenho reservado para você inchou ainda mais...

Foi muito bom poder abraçar você, olhar dentro dos seus olhos... Obrigada por reunir este povo querido (Letti, Nana, Joyce, Giselle) para que pudéssemos compartilhar esta alegria que é a sua presença...

20.12.01

Mensagem codificada:

Por favor, repare no canto direito das fotos, naquelas letrinhas bem pequenas. Tem nenguinho triste por aqui achando que ninguém reparou que a família inteira participou :-)

19.12.01

Era uma daquelas propagandas-brindes que a gente não agüenta mais receber. Mas achei lindo um pedacinho, recortei e mantenho sempre por perto:

O fundo é verde. No respaldar de uma janela azul, um globo terrestre com os continentes desenhados em amarelo e laranja serve de vaso para um viçoso girassol. Sob tudo isso:

Sua vida pode ter mais cor.

Sempre pode, sim!


Aflora
A flor - Ah!

Gracejo
Gaguejo - Beijo!

Imploro
Um poro - Hum!

Vambora
Agora - Ora!

Espreme
É fome - Homi!

Defloro
A flor - Oh!


18.12.01

A palavra da semana é Anamnésia!
ai-ai!

O que será
(À flor da pele)

Chico Buarque
1976


O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores que vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo


O que será
(À flor da terra)


Chico Buarque
1976


O que será que será
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
Que gritam nos mercados, que com certeza
Está na natureza, será que será
O que não tem certeza, nem nunca terá
O que não tem conserto, nem nunca terá
O que não tem tamanho

O que será que será
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia-a-dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos
Em todos os sentidos, será que será
O que não tem decência, nem nunca terá
O que não tem censura, nem nunca terá
O que não faz sentido

O que será que será
Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão repicar
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E o mesmo Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno, vai abençoar
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem juízo


O que será
(Abertura)


Chico Buarque
1976


E todos os meu nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem ljuízo

O que será que lhe dá
O que será meu nego, será que lhe dá
Quando não lhe dá sossego, será que lhe dá
Será que o meu chamego quer me judiar
Será que isso são horas dele vadiar
Será que passa fora o resto da dia
Será que foi-se embora em má companhia
Será que essa criança quer me agoniar
Será que não se cansa de desafiar
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de um folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem juízo


17.12.01

Matéria de capa da Revista de Domingo de ontem:

Malu Mader, Cláudia Abreu e Carolina Ferraz: as musas de verdade. Elas têm em comum o fato de não terem posado nuas para a Playboy, não terem aplicado silicone nos seios (elas têm a fantasia, mas acham arriscado ou acabam concluindo que ainda dá para encarar do jeito que a natureza fez enquanto a gravidade não for muito severa), não gostarem do assédio dos paparazzi. Além disso, estão todas na casa dos trinta. Por todas estas razões são admiradas (e muitas vezes criticadas).

Gente! Eu sou musa e não sabia.

hahahahahahaha
Uma coisa que me dá imenso prazer é mostrar as coisas da minha cidade, do meu país para quem estiver interessado em conhecer. Não estou falando do pacotão clássico, que constam do catálogo de qualquer agência de turismo internacional, mas das coisas legítimas, que fazem parte do cotidiano dos locais.

O trabalho da amiga francesa que nos acompanhou ontem é relacionado com o candomblé e para isso ela está acostumada a ir onde o povo está. No final de semana anterior ela foi filmar um terreiro em Mauá. Conosco ela queria lazer, ir a um bar que tivesse samba de verdade. Estephanio´s nos pareceu a melhor opção.

Quando chegamos, reparamos que algo estava diferente. A mesa em torno da qual o grupo Roda de Saia faz o show estava do lado de fora do bar, ao contrário das outras vezes. A gente bonita que freqüenta o lugar não estava dando muita bola para a chuva insistente e tomava a rua. Quando nos aproximamos, reparamos que, além de tantã e cavaquinho geralmente usados no local, num canto havia surdão e outros instrumentos de bateria. Teríamos sambão!

No processo de aclimatação, ouvimos samba de raiz. Não consigo deixar de me emocionar com coisas como Folhas Secas e A Voz do Morro. De repente os grandes instrumentos tomaram o lugar dos demais. Ficamos sabendo que vai sair um bloco do bar. E que o enredo é Beth Carvalho.

Existe uma lenda que afirma que carioca não sai de casa quando chove. Talvez antes do Estephanio´s abrir suas portas...

Houve um tempo em que eu me sobressaia na multidão com 1,78m. Agora não mais. Pelo menos entre a juventude sarada e amante do samba na Zona Norte. Êta gente grande e forte!

E a chuva cai... E alguém anuncia que o enredo havia se materializado ali. E a ma-ra-vi-lhosa, po-de-ro-sa e vi-ta-mi-na-da Beth assume o microfone e é ovacionada. E dá uma canja de primeiríssima com seus maiores sucessos. E o povo canta junto... E a moçada samba... E a chuva cai lá fora, você vai se molhar, já lhe pedi não vá embora... E vou festejar... E é impossível ficar triste quando a gente se propõe a colocar o nariz fora de casa nesta cidade...

Botecos abrem e fecham... Alguns têm música... Outros têm bom chope... Alguns quitutes deliciosos... Pouquíssimos transcendem e têm espírito...
Fiquei tocada com os elogios que a Meg dirigiu a mim. E não sou boba de refutá-los. Guardo meu rubor e minhas dúvidas para mim.

Sabe, querida, não é à toa que a Janela de Johari está aqui no meu blog. É importante o feedback de quem nos quer bem. E não falo apenas de elogios, mas também das críticas bem intencionadas. (Por isso somos todos loucos pelos comentários. Será que o Falasério vai continuar me barrando na porta?) Talvez você tenha razão quando afirma que as pessoas questionam tantos os elogios quanto as críticas. No primeiro caso, embora todo mundo goste de ser enaltecido, há que se lutar contra os ensinamentos de que bonito é ser humilde. Alguém disse que a modéstia é para os medíocres. Portanto luto diariamente para fugir da mediocridade e aceitar com alegria os carinhos que recebo.

Sonho um dia me concentrar na questão da inveja. Para mim, ela nada tem a ver com a admiração que você expressou (e que é mútua). Tampouco é a mesma coisa que querer ter o que o outro tem (cobiça). O invejoso deseja destruir o outro, tomar o que é dele. Assim, como tantas vezes você sabiamente me alertou para o uso correto de certas palavras, peço licença para fazer o mesmo com você.

14.12.01

Houve festa.

Nenhuma novidade. Nesta época do ano abundam celebrações.

Faltava pouco tempo para a hora do encontro e lembrei que não tinha preparado o quitute que havíamos combinado que cada uma levaria. Esta é a vantagem de ser uma mestre-cuca de meia tigela. Todas as minhas receitas são práticas e rápidas. Em pouco tempo já tinha em mãos um bolo cheiroso e bonitão (gostoso também, disseram).

E foi na hora de arrumá-lo para o transporte que me dei conta da forma como o fazia. Coloca o pano assim, puxa essas pontas para cá e amarra com um nó específico, puxa as outras pontas e amarra só um pouquinho diferente. De onde tirei isso? Lá de trás fui puxando lentamente um fio comprido de memórias.

Como era mesmo o nome dela? Não sei. Mas me lembro do cheiro bom de lavanda que invadia o ambiente quando ela chegava. Seus cabelos crespos estavam sempre muito bem arrumados num coque e enfeitados com presilhas, pentes e grampos coloridos. Suas roupas nunca eram novas, mas estavam invariavelmente muito ajeitadas e combinadas com capricho. Seus filhos, um casalzinho, apresentavam também muito apuro no quesito cuidados com a aparência.

Essa senhora era viúva e para dar conta de criar os meninos lavava roupa para fora. Eu achava bonito sentar ao lado dela e ver as palavras surgirem desenhadas formando o rol. E era tão interessante a forma como ela amarrava a trouxa. Coloca o pano assim, puxa essas pontas para cá e amarra com um nó específico, puxa as outras pontas e amarra só um pouquinho diferente. Gostava muito de olhar para ela. Uma das minhas fixações de infância eram as peles. A dela era muito lisa e negra e, nos dias de calorão, criava-se um bigodinho de gotículas sobre suas palavras doces. Um dia minha mãe elogiou o requinte. “Não é porque sou pobre que devo ser desleixada”.

Também morria de amores por uma senhora talvez nem tão velha quanto a relatividade da minha pouca idade indicava. Toda vez que se falava em século, minha imaginação corria para a sua imagem. Ela era um encanto com as crianças. Tinha sempre balinhas e outras delícias no bolso do avental que não tirava nem para ir à rua. E histórias, muitas histórias. A maior beleza dela, eu achava, era a pele completamente enrugada, como os urbanos já quase não vêem. Ela viera do campo, trabalhara de sol a sol e a marca de cada raio estava ali cravada. Eu me deslumbrava com a maciez de seus braços flácidos, achava que para se ser assim tão leve era preciso ter algo de angelical. Criança maravilha-se até com encarquilhamento...

“Mãe, o que é desleixada?”

“Mãe, faz umas traças em mim como as da filha da D. Lavadeira?”

“Mãe, quando eu ficar velhinha vou ficar igual à Vovó Donana?”

“Mãe, olha só a trouxa que eu fiz para fazer de conta que vou fugir de casa!”

E assim, construímos o que somos...

13.12.01

Uma rosa desabrochando no mundo dos blogs...
O bom, quando a gente está começando a descobrir uma nova amiga, é ir encontrando pontos em comum.

Além de termos gosto musical parecido, ela também gosta de fazer crochet.

Cadê tempo para retomar este meu gosto?


A Janela de Johari




O INDIVÍDUO NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
Modelo elaborado pelos Drs. Joseph Luft e Harry Ingham. O termo "Johari" foi obtido a partir da junção dos dois nomes dos autores, Joseph e Harry.



Em suas relações interpessoais o indivíduo apresenta quatro facetas diferentes, como se vê na figura acima: o "eu aberto", o "eu fechado", o "eu cego" e, o "eu desconhecido".

As duas áreas da figura, o "eu aberto" e o "eu fechado", correspondem às partes conhecidos pela própria pessoa. As áreas, o "eu cego" e o "eu desconhecido", são por elas ignoradas.

A região 1, do "eu aberto", representa os aspectos da personalidade de que o indivíduo tem conhecimento e aceita compartilhar com os outros. Segundo pesquisas, a produtividade e a eficácia estão relacionadas à quantidade de informações possuídas mutuamente num relacionamento, ou seja, dependem de uma maior área aberta.

Quanto menor a área aberta no relacionamento interpessoal de um grupo ou organização, menor a sua eficácia.

A região 2, do "eu fechado", representa os aspectos que a pessoa conhece, mas consciente e deliberadamente esconde dos outros por motivos diversos, tais como: insegurança, status, medo da reação, medo do ridículo etc. Essa região constitui a chamada fachada em que o indivíduo se comporta de maneira defensiva. A defesa é inerente a toda pessoa. Mas a questão é saber qual a quantidade de defesa tolerável que não iniba o inter-relacionamento nem impeça seu crescimento.

A região 3, do "eu cego" refere-se àquilo que inconscientemente escondemos de nós mesmos, mas que faz parte de nossa personalidade e é comunicado aos outros através de nossas atitudes e desconhecidas por nós. As pessoas falam através de tudo e não apenas pelas palavras. Em suas atitudes e comportamentos muita coisa é transmitida, sem que o próprio indivíduo perceba.

A área cega é um fator limitante da região 1 e é inibidora da eficácia interpessoal.

Finalmente a região 4, do "eu desconhecido", é a área desconhecida pelo próprio e pelos outros. Nelas estão incluídas as potencialidade, talentos e habilidades ignoradas, os impulsos e sentimentos mais profundos e reprimidos, a criatividade bloqueada. Como exemplo da área desconhecida, pesquisadores em Criatividade afirmam que, em geral, utilizamos apenas cerca de 15 ou 20 por cento de nosso potencial criativo. A região 4 pode tornar-se conhecida à medida que aumenta a eficácia interpessoal dentro de um processo dinâmico.

Não obstante o quadro estático na representação gráfica, o modelo da Janela de Johari é bastante dinâmico e pode ser combinado diferente de acordo com o estilo de cada indivíduo.

As diversas áreas não são estáticas e podem variar de dimensão. O inter-relacionamento grupal pode aumentar a região do "eu aberto". Esse alargamento ocorre com a redução da fachada: aumenta a confiança grupal e o indivíduo se comporta de maneira menos defensiva e disposto a correr riscos. Esse processo é chamado pelos criadores da Janela de Johari, Luft e Ingham, de exposição. Ele implica numa abertura de sentimentos e de conhecimentos pertinentes, com diminuição progressiva do "eu oculto".

Igualmente, o "eu cego", dentro de um processo dinâmico, pode diminuir cada vez mais com a boa vontade estabelecida de lado a lado.

Do lado do indivíduo, a superação das barreiras defensivas facilita-lhe realizar o feedback aceitando as informações e avaliações grupais e vendo como é visto pelos outros.

Do lado do grupo, a maior cooperação e o clima de confiança possibilitam a maior transmissão de dados. Numa palavra, a superação do "eu cego" só é possível com a queda das defesas rígidas e com o estabelecimento da confiança grupal

O objetivo de uma dinâmica de grupo é o de aumentar o "eu aberto" dos indivíduos, diminuindo o "eu fechado e o "eu cego", e conseqüentemente, descobrindo e explorando mais o "eu desconhecido" de cada um.

(continua...)
Combinando as quatro regiões, é possível estabelecer quatro estilos diferentes de relacionamento.

TIPO A
É o estilo bastante impessoal de relacionamento, com o mínimo de exposição e o mínimo de feedback. A área do "eu aberto" é muito pequena e o "eu desconhecido" é a área dominante. As pessoas que usam este estilo são retraídas, distantes e fechadas.

Este tipo de pessoa é mais encontrado em organizações burocráticas. Pelo seu aspecto de relacionamento muito frio e impessoal, as pessoas que adotam esse estilo provocam muita hostilidade, pois põem barreiras às necessidades de comunicação dos outros.

TIPO B
Como no primeiro caso, é um estilo também avesso à exposição, sendo o "eu fechado" a área dominante por causa de uma desconfiança básica nos outros. A fachada é grande e nada de pessoal é comunicado.

Ao contrário do tipo A, este tipo utiliza excessivamente o feedback no desejo de estabelecer relacionamento. Sua falta de confiança provoca a desconfiança dos outros membros, gerando também sentimentos de desprezo e de hostilidade. Este estilo é adotado pelas pessoas inibidas que bloqueiam a sua comunicação pessoal, particularmente quando estão em grupo. Preferem falar pouco e ouvir muito. Estão muito atentas ao que passa, mas ninguém sabe o que elas pensam.

TIPO C
Ao contrário do tipo B, este estilo baseia-se no uso excessivo da exposição, em detrimento do feedback.

O "eu cego"é a área dominante por isso a pessoa não se dá conta do impacto negativo que transmite aos outros. Ela reflete muita necessidade de afirmação e pouca confiança na opinião alheia. As próprias opiniões são muito valorizadas. Este é o estilo característico dos autocratas.

As outras pessoas sentem-se desconsideradas pelo indivíduo que apresenta este estilo. Acham que ele não dá atenção às suas contribuições e não se preocupa com seus sentimentos. Por isso alimentam frequentemente em relação a ele sentimentos de hostilidade, insegurança e ressentimentos. Em contrapartida, aprendem a se comportar de forma a perpetuar o " eu cego " do indivíduo, privando-o de informações importantes ou fornecendo-lhe apenas um feedback seletivo.

TIPO D
Neste estilo, que é o ideal, os processos de exposição e de feedback são bastante usados e de maneira equilibrada. Procede-se com sinceridade e honestidade e ao mesmo tempo, com sensibilidade em relação aos outros. O "eu aberto" é a região dominante no relacionamento. Graças à sua atuação, a área do "eu desconhecido", própria e dos outros, pode ser progressivamente descoberta e aproveitada.

De início, este estilo pode provocar certa atitude defensiva dos outros, por não estarem acostumados a relacionamentos baseados em sinceridade e confiança. Mas a perseverança tende a promover uma norma de sinceridade recíproca com o passar do tempo, possibilitando a obtenção de confiança e o aproveitamento do potencial criativo.

(continua...)
Fatores que contribuem para a eficácia e a qualidade do feedback:


1 - CONSTRUTIVIDADE
É o fator número 1.Deve ficar bem claro, através de clima positivo criado, que ao dar o feedback a intenção é contribuir para o melhorar e desenvolver o outro e não usar o feedback como pretexto para atacar, diminuir ou derrubar ("fodeback").

2 - TRANSPARÊNCIA
Expressar realmente o que se pensa e sente. "Amigo é o que diz o que precisamos ouvir e não o que gostaríamos de ouvir."

3 - SENSIBILIDADE E TATO
É preciso dizer a verdade mas com sensibilidade e habilidade, de forma a não estimular e provocar atitudes defensivas. O ser humano é por natureza defensivo.

Necessário se torna saber expressar as verdades incômodas, de forma a ser de fato ouvido, conseguindo receptividade.

4 - CONFIANÇA
Tentar ganhar a confiança da outra parte de modo a que ela se desarme e se predisponha a ouvir. A melhor forma é dar exemplo, sabendo ouvir e expor-se.

5 - POSITIVIDADE
Dar feedback não é apontar somente os pontos negativos ou a melhorar.

Reconhecer os pontos fortes/positivos é fundamental do ponto de vista psicológico. É o reconhecimento do que a pessoa tem de bom que dá a ela a força e a segurança para ouvir sobre o que tem a melhorar.

6 - CLAREZA
Falar de forma clara, evitando obscuridades. Dar exemplos, ajudando a parte interessada à aprender melhor.

7 - OBJETIVIDADE
Saber ir aos pontos mais importante e prioritários, evitando prolixidade, detalhes sem importância ou excesso de feedback de uma só vez.

8 - SENSO NAS COLOCAÇÕES
Ter o senso exato do que se afirma, evitando julgamentos radicais e generalizados. Ao invés afirmar: "você é isto", dizer "Está se comportamento de tal forma" é diferente.

9 - INICIATIVA
Sempre que necessário, tomar a iniciativa para receber ou dar feedback. Não esperar que os outros venham primeiro. Demostrar que ele será sempre bem recebido. Igualmente, tomar a iniciativa para dar feedback sempre que necessário sem esperar que primeiro seja pedido.

10 - PERSISTÊNCIA E CONTINUIDADE
Repetir o feedback tantas vezes quanto for necessário. Apesar da boa intenção, as recaídas fazem parte do ser humano. A prática do feedback deve ser constante.

11-PLANO DE AÇÃO
É a chave de ouro.

Não adianta só ouvir, entender e aceitar. É preciso agir com determinação estabelecendo um plano de ação, começando por atacar o que for mais importante e prioritário: o que, como e quando. Buscar ajuda quando necessário.

(continua...)
Fatores que prejudicam o feedback:

A- DA PARTE DE QUEM DÁ O FEEDBACK

1 - CLIMA DE LUTA, ABERTA OU MASCARADA, E/OU COMPETIÇÃO EXCESSIVA:
Usar o feedback como arma para diminuir ou derrubar o opositor/competidor a quem se dá feedback.

2 - POSTURA NEGATIVA:
Apontar apenas os pontos negativos que deixam a desejar sem reconhecer os pontos positivos.

3 - COLOCAÇÕES AGRESSIVAS OU FRIAS:
Falta de tato e sensibilidade ao dar feedback sem preocupar-se com a forma de expressar-se e como a pessoa vai receber e entender.

4 - JULGAMENTOS MUITO RADICAIS:
Ao invés de dizer "você me passa tal impressão ou está agindo assim", fazer afirmações categóricas e generalizadas: "você é isto".

5-COLOCAÇÕES EXCESSIVAMENTE POLÍTICAS E SEM AUTENTICIDADE:
Por insegurança ou por interesse não expressar o que pensa ou sente, mas o que pega melhor ou o que a outra parte quer ouvir. É o que acontece em geral quando liderados dão feedback para líderes autoritários e temíveis.

B - DA PARTE DE QUEM RECEBE O FEEDBACK:

1-POSTURA EXCESSIVAMENTE DEFENSIVA / FALTA DE RECEPTIVIDADE:
Encarar o feedback como um ataque e não uma contribuição, fechando-se numa posição defensiva. Pessoas que têm fantasias persecutórias são as mais defensivas. Tudo é vivido como ataque ou perseguição.

2 - AUTO-SUFICIÊNCIA E COMPORTAR-SE COMO O DONO DO VERDADE:
Essas pessoas muito auto-suficientes mantêm-se muito fechadas e têm um "eu cego" grande, rejeitando qualquer feedback: "Não é nada disto" ou "não concordo." Aceitam apenas feedback positivos ainda que não verdadeiros.

3-INSEGURANÇA:
Medo de ouvir feedback de pontos não positivos ou a melhorar, achando que vai ficar arrasado e nada vai sobrar.

4-TEIMOSIA:
Teimar contra a evidência e contra todos." Não é, não é, não é."

5-COMPORTAMENTO POLÍTICO:
Representa. Fazer de conta que ouve e aceita para impressionar bem sem de fato aceitar internamente.

6-ESCUTAR SEM OUVIR E PROCESSAR:
Escutar superficialmente sem aprofundar nem processar, trabalhando o que foi ouvido. Tudo morre ali e nada muda.

7-NÃO PARTIR PARA A AÇÃO:
Pode-se até aceitar bem e ouvir, mas sem tomar atitudes concretas para mudar e melhorar. Não se estabelece um plano de ação: "O que precisa mudar e o que vou fazer para isto ". É a consciência sem a conscientização.

(imagem e texto retirados daqui)
Recebi uma notícia de morte. Não era alguém muito próximo, mas fazia parte de um grupo ao qual pertenço. Além disso, uma morte precoce sempre nos alerta, nos impele a avaliações.

Não faz muito alguém segurou na minha mão e perguntou se eu havia morrido. Temo dizer que sim e me escondo no escuro e no silêncio. Não sei se morri, mas com certeza estou mais etérea, quase diáfana. Essa transparência traz vantagens e também desvantagens. Posso ser eu à vontade em meu próprio mundo particular e oculto. Entretanto as pessoas passam através de mim sem saberem que depois tenho que repor tudo no devido lugar sozinha. E elas sequer se dão conta disso.

Tinha um sonho que quase se cumpriu uma vez antes de transformar em pesadelo. Hoje já o abandonei porque sei que ele só me traz sofrimento. Tenho outros que não sei se já passaram do tempo. Talvez sim. Não é confortante a idéia de que se passou da idade para certas coisas. Foco então no possível e tento, do meu jeito canhestro, torná-los reais, que não sou do tipo de gente que se farta com migalhas e restos. Revirar lixeiras? Estou fora! Nasci para brilhar. E gosto de ter a minha volta quem, como eu, saiba polir. A si mesmo e a mim. Gosto de quem também sonha bonito. Gosto de realizar sonhos, que sonhos não realizados são espinhos doloridos demais. Felizmente há ainda muito tempo para muita coisa. Dou as boas vindas a quem se dispuser a embarcar comigo. Para os demais, lenço branco.

Mixaria me cansa. Gosto da fartura de sorrisos, de carícias, de afeto, de troca, de amor. Comedimento é coisa para fracos. Sou franca e não gosto de jogos. Nem dos de guerra, nem dos afetivos, nem dos das regras sociais. Quero arrebatamento! Quero tesão! Quero amplos gramados onde possa soltar as feras da minha insanidade sem ferir ninguém... Fazer-me miúda para não incomodar me exaure e me adoece. Quero espaço para ser! Rir quando estiver com vontade e ter motivos para querer a toda hora.



A seta e o alvo
(Paulinho Moska / Nilo Romero)

Eu falo de amor à vida
Você, de medo da morte
Eu falo da força do acaso
E você, de azar ou sorte
Eu ando num labirinto
E você, numa estrada em linha reta
Te chamo pra festa
Mas você só quer atingir sua meta
sua meta

É a seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera

Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros
Eu digo: "Te amo"
E você só acredita quando eu juro

Eu lanço minha alma no espaço
Você pisa os pés na terra
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era
E o que era?

Era a seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera

Eu grito por liberdade
Você deixa a porta se fechar
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar

Eu corro todos os riscos
Você diz que não tem mais vontade
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com a metade

É a meta de uma seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada
Quando se parte rumo ao nada?

Sempre a meta de uma seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada
Quando se parte rumo ao nada?




12.12.01

Sou duas.

Mas não é um bom dia para falar sobre isso. Não é um bom dia para coisa alguma.

Comecei o dia apelando para o humor cáustico e cítrico, mas não me valeu. Melhor reunir todas as almofadas da casa sob meu corpo e esperar a dor de cabeça passar, o enjôo dar trégua, a luz e o som pararem de machucar e as águas se acalamarem.

Um dia à deriva. Só por hoje parei de remar. Só por hoje não vou sorrir. Só por hoje vou calar. Só por hoje a imobilidade. Só por hoje um flerte com o lado negro. Só por hoje nem música nem luz. Só por hoje solidão. Só por hoje...

Amanhã a enxaqueca passa e retomo meu vício de felicidade.

10.12.01

Bacana no Rio em dezembro:

- a árvore da Lagoa
- praia nos dias de semana
- a nova iluminação do Pão de Açúcar
- ensaio de escola de samba (ainda não tão cheios)
- boteco ao ar livre com música de raiz (mas tem que ter qualidade, como no Stephanio´s)

Pegadinhas para haules (programa de índio)

- praia no fim de semana
- Feira da Providência
- piscinão de Ramos
- shopping sábado à tarde, principalmente o último antes do Natal, em especial o Rio Sul
- La Mole (as filas são intermináveis, muito acima da média do resto do ano)



É comum ouvir de mães que seria bom se os filhos viessem com manual de instruções.

Não é má idéia. Principalmente quando o moleque, descobrindo o mundo das letras aos 6 anos, lendo tudo o que passa diante de seus olhos, pergunta o que é metáfora.

Então tá...

Mas e se...

Olha, tenho aqui comigo uma fita gravada com depoimentos de Eduardo Moscovis, Fábio Assunção, Norton Nascimento, Marcos Palmeira e Alexandre Borges declarando que sou a mulher mais linda e gostosa que já conheceram. Também fazem parte desta gravação as declarações de Brad Pitt e Will Smith com o mesmo teor de louvação.

A fita foi submetida a um perito cujo nome não vou divulgar que atesta sua veracidade.

O irmão da prima do cunhado do vizinho do meu porteiro leu a transcrição e ficou impressionado.

Ninguém sabe informar ao certo em que circunstâncias a fita foi gravada.

Sei que o mundo inteiro está interessado em ver tal coisa, mas, sabe?, hoje acordei com uma tremenda vontade de fazer doce.

Yes, Bush, I believe in Santa Claus!

7.12.01

Será que sou eu que fico propensa nesta época do ano?
Será que funciona mesmo se abrir às riquezas do universo?

Porque, de repente, nem sei de onde, veio a idéia de fazer uma lista. Não para o novo ano, mas para coisas que quero fazer ou concluir antes das doze badaladas noturnas do dia 31. E veio um gás... Os dias espicharam e o inesperado deu uma mãozinha. Parece que vai dar...

E mais: boas notícias chegam.

Uma irmã, daquelas que por mero acaso nasceram de pai e mãe diferentes dos meus, acabou de dar à luz um lindo e saudável bebê. Terá o mesmo nome que meu filho. Visita aos dois com prioridade máxima na agenda, claro.

Aos 44 do segundo tempo, aquilo que estava já virando novela, tantos eram os capítulos desde o início de 2001, teve um desfecho que vai render um "2002, a missão". Muito bom!

A toda hora alguém me traz uma alegria: uma data de casamento marcada, um prêmio recebido, confirmação de presença em um evento, amigos chegando, os que partem estão indo atrás da felicidade, a atuação do moleque foi um sucesso, vamos esquecer as frescuras e ficar só com o que realmente importa, talvez aqueles tão sonhados dias de papo para o ar...

E, dormindo, tive um sonho que não ouso contar nem para mim mesma.

4.12.01


Auto-retratos








2.12.01

Minha lindinha está de cara nova e com ânimo renovado para escrever. É bom saber que vou poder ler sobre ela com freqüência. Assim a distância dói menos.
Sabe aqueles ciclistas atrevidos que aparecem na frente do carro e você nem sabe de onde vieram? Lá na terra de Tio Sam tem até placa para indicar o que fazer:





A Fer fez a gentileza de me mandar esta foto tirada na esquina de sua casa assim que ela leu o texto sobre as placas aí embaixo. Essa mulher é o máximo, né?

30.11.01

Quando rola
Rala e rola,
Quando a rola é boa,
Boca rota
É bancarrota:
Tem rolha.



29.11.01

Eu via a bendita placa sempre numa hora em que o assunto estava quente e ia em outra direção. Então eu ficava esperando a chance de perguntar e antes que ela chegasse, eu me envolvia na conversa e acabava esquecendo da dúvida.

Mas antes que a questão fosse para o limbo para o qual a memória envia as coisas que ocupam a área volátil do cérebro eu me divertia com os tais sinais de No Xing espalhados pelas ruas de Los Angeles. Aqui é proibido xingar, eu pensava.

Custei a entender porque, para mim, x é xis e não + (cruz, cross, cruzamento). Foi em ritmo de anti-clímax que descobri que era apenas um aviso para áreas onde não se podia atravessar a rua.

Taí mais uma prova de que aprender outros idiomas ajuda a aumentar nossa capacidade de percepção.

E de que é ilimitada a minha capacidade de gerar bobagens.



28.11.01

Porque no próximo dia 10 o texto abaixo completará 53 anos. mas parece que tem gente que ainda não entendeu.


Declaração Universal dos Direitos Humanos



Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultam em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,

Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,

Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,

A Assembléia Geral proclama:

A presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Não será tampouco feita qualquer distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo III - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V - Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo VI - Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.

Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo VIII - Toda pessoa tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo IX - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X - Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo XI

Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo XII - Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo XIII

Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.
Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo XIV

Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.
Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XV

Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.
Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo XVI - Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

O casamento não será válido senão como o livre e pleno consentimento dos nubentes.
A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Artigo XVII

Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

Artigo XIX - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo XX

Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.
Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI

Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.
Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo XXII - Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo XXIII

Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.
Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para a proteção de seus interesses.

Artigo XXIV - Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias periódicas remuneradas.

Artigo XXV

Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
A maternidade e a infância tem direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora de matrimônio, gozarão da mesmo proteção social.

Artigo XXVI

Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigratória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.
A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo XXVII

Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.
Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.

Artigo XXVIII - Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente
Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo XXIX

Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.
No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas por lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX - Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

Já repararam que muitas pessoas tentam justificar sua ignobilidade distribuindo-a sobre os ombros de passantes desavisados?

É o tipo de comportamento do “esperto” que diz que se ele não fizer alguém fará no seu lugar porque todo mundo só quer se dar bem e os outros que se danem, daquele que tem problemas de honestidade e diz que político tem mais é que roubar mesmo, dos que sonegam impostos e afirmam que é comportamento geral, de quem não sabe mais o que fazer com tanta inveja e jura que se todo mundo fosse sincero confessaria também a sua, dos selvagens criminosos que bradam: “acorda, a gente vive numa selva”...

Não visto nenhuma destas carapuças. Não vivo no mesmo mundo que estas pessoas, creio. Meus defeitos são muitos, são mais ou menos graves, mas são outros e não fico tentando empurrá-los para cima de ninguém.

Acho todo mundo muito legal e para me fazer mudar de idéia precisa se esforçar muito. Às vezes, demoro anos para enxergar o óbvio: que determinada pessoa tem problemas sérios de caráter. E levo tombos enormes do alto da consideração que tenho por alguém que definitivamente não merece.

Entretanto, escolho continuar acreditando que as pessoas são boas, de uma forma geral, e que os pérfidos, vis e torpes são a exceção.

E que até para eles há esperança, senão nesta, em outra passagem por esta terra.


27.11.01

Acho que o jantar de hoje vai ser substituído por uma bela volta pela Lagoa. O dia está tão bonito e quente (e pelo a noite também estará) que é um desperdício ficar dentro de casa, gastando energia elétrica.

Agora tenho um anjo. A Lu me apresenta solução para os problemas antes que eu peça ajuda. Não é máximo anjo com antecipação?

26.11.01

Socooooooooooorro!

O blogger está louco...

Vou cuspir no chão e me jogar para morrer afogada.

PAULA E BEBETO
Caetano Veloso e Milton Nascimento

Ê vida, vida que amor brincadeira à vera
Eles se amaram de qualquer maneira à vera
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor vale amar

Eles partiram por outros assuntos, muitos
Mas no meu canto estarão sempre juntos, muito
Qualquer maneira que eu cante este canto
Qualquer maneira me vale cantar

Pena, que pena, que coisa bonita
Diga qual a palavra que nunca foi dita
Qualquer maneira de amor vale um canto
Qualquer maneira me vale a pena
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá

Eles se amaram de qualquer maneira à vera
Eles se amaram é pra vida inteira à vera
Qualquer maneira de amor vale um canto
Qualquer maneira me vale cantar
Qualquer maneria de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá

Que raiva!

O reblogger apagou todos os comentários mais antigos. Este era um dos motivos que levava a minha preguiça/otimismo a manter o uso deste serviço. O outro motivo era a esperança de que a debandada fizesse com que os serviços melhorassem... Que nada! Agora mudei e espero que tudo fique bem. Vou testar...

Queria contar com a ajuda de todos que puderem. Porque agora quero ver isso aqui cheinho de comentários para espantar a tristeza que foi perder meus tesouros.

Agradecimento especial à Lu, por sua campanha e à Meg, bem, por tudo.

Não importa de onde venha o tema para debate. Se o assunto levantado é interessante, vamos a ele.

“Fico imaginando minha filha casada com um negro e meus netos sararazinhos, eu passando henê neles.”

“Não tenho preconceito. Agora vou ser bem sincera. Acho que ele entrou nessa de ingênuo. Ela seduziu o menino. Que chance ele teria de isso acontecer em outra situação? Quando é que uma menina bonita, loira, classe média, com uma bela casa com piscina na Barra da Tijuca ia se jogar em cima de um rapaz como ele? Em troca de quê?”

Para quem não sabe, ou porque mora fora do Brasil, ou porque não abriu qualquer jornal ou revista na última semana, essas declarações são de uma participante do programa No Limite, reality show apresentado na Rede Globo aos domingos.

Não vou discutir o programa, nem a fabricação de personagens bons e maus, nem porque outras declarações envolvendo judeus não causaram o mesmo alvoroço. Quero me deter única e exclusivamente nas declarações desta senhora e parte do que está envolvido aí.

Diversas instituições de defesa contra o preconceito estão se mobilizando para abrir processo. Vejo as duas declarações de formas distintas. A primeira denota somente ignorância, raciocínio raso, simplicidade de uma mente sem questionamento, que apenas reproduz o que lhe foi ensinado. Aí não existe a figura do Adulto, apenas do Pai, como diriam os aficionados por análise transacional. E seria muito fácil embarcar na onda dos conceitos pré-concebidos e afirmar que de uma dona de casa cuja atividade principal é exercitar-se numa academia não se poderia esperar algo mais elaborado. Contudo, não conheço esta pessoa e não vou cair na armadilha das facilidades simplistas.

A declaração que realmente preocupa, ou deveria, é a segunda, porque nela está implícita a idéia de que um negro não tem nada a oferecer num relacionamento. É idéia corrente que afro-descendentes devem pertencer sempre às classes menos favorecidas e já ouvi inúmeras vezes comentários relacionados à surpresa causada ao se conhecer um negro bem-sucedido financeiramente. Entretanto o comentário vai além. Não é apenas uma questão de assumir que talvez haja problemas financeiros. Não ter nada a oferecer num relacionamento implica em ausência de humanidade. Isso me faz lembrar das grandes reuniões de época remotíssimas quando se discutia se os índios teriam ou não alma.

A situação se agrava. A princípio, a participante se ressente de um suporto esquema escuso criado pela outra competidora, seduzindo um rapaz para conseguir manter seu lugar no programa. Seus argumentos para denunciar tal artimanha, todavia, não são direcionados ao fato de uma mulher seduzir um homem, mas de uma loira seduzir um negro. Seu inconformismo com a situação chega às raias do desespero. Ela sofre. E muito.

Está aí, penso eu, o problema da rapidez com que incorporamos idéias repetidas sem processamento. Compreendo que existam cabeças modestas, para as quais um conceito geral deva ser aplicado sem restrições a toda situação. Se assim não fosse, não encontraríamos médicos que diagnosticam apenas considerando os livros, não o paciente que está à sua frente; mães que pretendem educar todos os filhos da mesma forma, sem considerar suas personalidades; engenheiros que utilizam projetos aprovados no exterior sem considerar o calor tropical brasileiro... No entanto, há uma hora em que se chega ao inadmissível. É quando deixa-se de ser apenas estúpido para tornar-se execrável.


23.11.01


Verão


Minha alma azul-verde mar
Exala uma aura luminosa
Emprestada do sol
Que marca com sua cor
Fico mais escura
Fico mais brilhante
Assim, minha coluna
É uma estreita faixa de Atlântico
Entre minhas costas
Americana e africana
A areia quente dos olhos
Vai aprendendo no decorrer do dia
A queimar
Deixando que ondas de sedução
A amornem à noite
De acordo com a maré
Sob a lua
Guiada por ela
Meu coração de gaivota
Às vezes mergulha na praia
A procura de um peixe bom
Consegue ou não
Mas sempre sai livre
Para voar mais uma vez
Meu signo continua sendo o fogo
Regido pelo vermelho de Marte
O termômetro da rua
Denuncia uma febre de 40º

1987

Ô, DARCY!


O jogo terminou empatado. É uma notícia que normalmente me deixaria acabrunhada. Afinal, espera-se de uma rubro-negra que torça para que o Flamengo ganhe sempre. Entretanto, quando o jogo é no Maracanã em dia de semana e termina tarde, melhor mesmo que a saída do estádio seja morna e deixemos os buzinaços, gritos de comemoração e entoação de hinos para as alegres tardes de domingo.

Então estava já acomodada entre cobertas, travesseiros, braços e pernas. As janelas fechadas, a persiana e o aparelho de ar condicionado ajudavam a abafar o burburinho do êxodo. De repente, uma voz grita na noite um palavrão e seguro a vontade de rir para não acordar o colega de leito que já ensaiava as primeiras linhas de diálogo com Morfeu. Não que o palavrão fosse engraçado. Engraçada foi a entonação que me fez lembrar da minha mãe e seus, digamos, eufemismos.

É preciso explicar que minha mãe passou parte de sua infância em um internato com missionários europeu onde minha avó, já separada do meu avô, lecionava. Além da rigidez típica da instituição, ainda havia a responsabilidade de ser filha de uma das professora. (E disso eu entendo bem, porque ela também trabalhava nas escolas onde estudei.) Palavrão nem pensar. Desconfio até que ela só foi apresentada a eles bem depois disso. Contudo, um bom palavrão tem seu valor e empregado na hora de muita raiva ou, quem sabe, de muito amor deve ser devidamente degustado.

Mas não me lembro de Mamãe xingando durante minha infância. Criança caseira, também não posso dizer que fui introduzida a eles na rua. Meu grande mestre foi meu pai, tipo adoravelmente rude. Mamãe fazia caras para ele e ele nem ligava. Ela também não era enfática na repressão. Reconhecia a necessidade. Por isso usava de subterfúgios para driblar a polidez. Quando algo não lhe agradava bradava: Ô, Darcy! E enfatizava o ô exatamente como o torcedor fez sob minha janela neste início de madrugada. Diante da expressão de incredulidade do interlocutor, que ficava na dúvida se teria ouvido ou não um nome feio da boca da princesinha do subúrbio, ela dissimulava e dizia que não sabia porque tinha se lembrado da Darcy, amiga querida, de quem sentia muitas saudades, você conheceu?, tem notícias dela?... As reações eram sempre divertidas. E eu escorregava para longe porque, além de péssima mentirosa, que se entrega sempre, também deixo a desejar no quesito conter gargalhadas.

O repertório de minha progenitora era farto. Ela elaborava códigos para não dizer a palavra exata, mas, no contexto, suas intenções eram explícitas. "Lá vem aquela dezesseis que vive dando bola para seu pai". Tinha também os mais populares e conhecidos, como a ponte que partiu ou lerda.

Hoje ela já abandonou um pouco o posto de cria de missionários, professora e mãe de petizes. Diante de uma topada, por exemplo, é possível ouvi-la pronunciando um levezinho. Jamais será uma boca-suja completa, mas tem evoluído bastante neste sentido.

E bom mesmo é dormir ignorando o racionamento de energia, enroscada naquele exagero de homem e com este tipo de pensamento. O mundo? Ô, Darcy!

22.11.01

Recadinhos:

para Meg: o filme é Dirty Dancing.

para Joyce: também adorei te conhecer pessoalmente.

para Lu: obrigada pelo carinho de sempre

para Fer: agora que mudei a cor do fundo, você vai ler meu blog?

Hoje é dia do doador de sangue. Que tal não deixar o dia passar em branco, e, como sugere um colega de lista de doação, passar em "banco"?

20.11.01


Aproveitando o feriado do outro lado da poça








O Motivo do Feriado












16.11.01

É uma bobagem...

Assim como é bobagem tudo o que vai montando o quebra-cabeça de nossa história, formada de fragmentos...

Um dia de trabalho meio espremido entre feriado e final de semana com filho em casa, que quer atenção e não deixa os compromissos profissionais fluírem. Desisto e ligo a televisão já no final da tarde, a tempo de ver as últimas cenas daquele filme de que eu tanto gostava na adolescência. Não me deixo levar pelas perguntas racionais do tipo “Como eu já pude gostar disso?”. Prefiro me recostar no sofá e deixar as boas recordações virem.

A música romântica da trilha sonora embalava alguns de meus sonhos mais pueris. Queria aprender a dançar como eles. Na minha realidade virginal, achava aquela dança a coisa mais sexy do mundo. O apoteótico final ficou meio embaçado, já que não fiz nenhum esforço para conter as lágrimas, recordando do tempo em que o dia só valia a pena se à noite houvesse dança.

E descobri que, embora não seja mais aquela pessoa de quase vinte anos atrás, em algum cantinho, lá no fundo, ela ainda habita em mim.

12.11.01

Recado para quem gosta de mim através das palavras de um dos maiores da nossa música: Gonzaguinha.

Eu Apenas Queria que Você Soubesse

Eu apenas queria
que você soubesse
Que aquela alegria
ainda está comigo
E que a minha ternura
não ficou na estrada
não ficou no tempo
presa na poeira


Eu apenas queria
que você soubesse
Que esta menina
hoje é uma mulher
E que esta mulher
é uma menina
que colheu seu fruto
flor do seu carinho


Eu apenas queria dizer
a todo mundo que me gosta
que hoje eu me gosto muito mais
porque me entendo
muito mais também
E que a atitude
de recomeçar
É todo dia, toda hora
É se respeitar
na sua força e fé
Se olhar bem fundo
até o dedão do pé


Eu apenas queria
que você soubesse
Que essa criança
brinca nessa roda
E não tendo cortes
de novas feridas
pois tem a saúde
que aprendeu com a vida


Acho que todo mundo já sabe que corremos o risco de ver não apenas em liberdade, mas novamente com ficha limpa o bárbaro assassino Guilherme de Pádua que junto com sua então esposa pôs fim a vida da atriz Daniella Perez.

Coisas como esta nos deixam indignados, mas, mais do que simplesmente reclamar e abanar a cabeça, devemos mostrar nossa indignação e tentar, como cidadãos, reverter este quadro de impunidade e penas brandas para crimes hediondos.

Uma lista de discussão na Internet criou um abaixo-assinado contra o absurdo que representa o indulto a este homicida. A idéia é reunir assinaturas para pedir ao juiz mineiro Cássio Salomé de Souza que não conceda o indulto a Guilherme. Eles também planejam, quando a na lista houver um milhão de nomes, pedir no Congresso Nacional a proibição de indulto para autores de assassinato.

O neste site você pode deixar a sua assinatura.


A hipótese que está sendo considerada é que a queda do avião com mais de 200 pessoas a bordo no Queens tenha sido um acidente. Tomara...

Ontem o biógrafo oficial de Bin Laden apareceu no Fantástico e entre tudo o que ele falou uma coisa me chamou a atenção. Para entrevistar a besta, ele foi revistado, claro. Impressionante foi a exigência para que ele fosse submetido a uma ultrassonografia que garantisse que ele não havia engolido uma bomba.

Talvez a cada vez mais rigorosa revista em aeroportos seja inútil diante desta "criatividade" toda.

8.11.01

O projeto Paixão de Ler está acontecendo em diversos pontos da cidade. A escola do meu filho está participando no Shopping Tijuca.



BABY GARDEN NA PAIXÃO DE LER 2001
(no Shopping Tijuca - Praça de Eventos - 1º andar - das 12 às 19 h)

Programação diária

* mesas de leitura
* histórias em computador
* histórias em CDs

APRESENTAÇÕES

6ª feira - 09/11

13:00 Rodas de Leitura
15:00 Homenagem a Cecília
* Apresentação da vida e obra de Cecília Meireles
Alunos Baby Garden
17:30 Teatro de Bonecos "Joãozinho Cabeça de Piolho"
Com Fátima Café

Sábado - 10/11

14:00 Teatro: "A Bruxinha que era Boa" de Maria Clara Machado
com alunos do Baby Garden
15:00 Fazendo Teatro (oficina)
com o professor Paulo Serpa
17:30 Contadores de História
Daniela Chindler e Joaquim de Paula

Domingo - 11/11

14:00 Pianíssimo, a História de um Piano Encantado de Tim Rescala
uma história em CD
16:00 Ballet: Paz no Mundo
Apresentação de alunos do Baby Garden
17:30 Teatro: "Ou Isto ou Aquilo"
100 anos de Cecília Meireles
Grupo Hombu
Outro dia, Violinha falava sobre o piloto Alessandro Zanardi e seu comportamento na entrevista coletiva à saída do hospital. Um acidente levou suas duas pernas e ele aparentava tranqüilidade. Ela falava de felicidade e sua presença nas pessoas, independente das circunstâncias.

Pois nos dias em que tenho hidroginástica passo sempre por um acampamento de moradores de rua. Uma delas me lascou já da primeira vez que passei por ali um sonoro boa tarde que me desconcertou. Fiquei esperando um pedido que não veio e isso me valeu um sorriso. Todas as vezes ela sorri para mim, fala alguma coisa amável... Parece tão feliz na sua miséria. Venho observando de longe, enquanto me aproximo. Ela prepara a comida do grupo, anima os outros... Na semana passada encontrei com ela em outro canto do quarteirão. Era uma visita a outra turma. Veio saltitante e sorrindo conhecer o novo cachorrinho da "vizinha". Ontem ela estava especialmente radiante, de namorado. Olhava apaixonadamente para ele, enroscava seu pescoço, deixava os dedos brincarem entre as mãos dele.

Não é comovente encontrar alegria onde só se imagina tristeza? Que mágica produz isso?

Neste quase mês de contatos imediatos, só uma vez ela fez um pedido. Queria alho para temperar a carne que preparava. Quando contei para o meu marido, ele disse que ela era uma especialista intuitiva em marketing de relacionamento. Que seja! A verdade é que ela me despertou o desejo de ajudar, não por piedade ou apenas solidariedade humana, mas por carinho...

7.11.01

Idéia/pedido de Subrosa é ordem

A Viagem

Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa
Não sou alegre nem sou triste
Sou poeta

Irmão das coisas fugidias
Não sinto gozo nem tormento
Atravesso noites e dias
No vento

Se desmorono ou se edifico
Se permaneço ou me desfaço
não sei, não sei. Não sei se fico
Ou passo

Sei que canto. E a canção é tudo
Tem sangue eterno a asa ritmada
E um dia sei que estarei mudo
mais nada

Cecília Meireles

Retirado daqui

arre!
Para abolir o uso de lupas, viu, Lu, aumentei o tamanho da letra. :-)

6.11.01

cansei!...
Aconteceu!

Meu filho e eu estávamos na portaria do prédio esperando o transporte escolar quando ele me deu um abraço bem apertado e um beijo estaladão.

- Pronto!
- Pronto o quê?
- Este é o beijo de despedida para quando o transporte chegar.
- ????
- É que eu tenho vergonha de ser beijado e abraçado na frente dos meus colegas.

A fase em que os beijos e abraços maternos viram mico não era para ser bem depois dos seis anos? Ai-ai! O tempo está voando...

3.11.01

Como se não fosse suficiente um presidente brasileiro ser aclamado em Paris ao dar uma puxada de orelha nos norte-americanos em função do comprometimento dos direitos individuais, estou passando frio em pleno novembro no bairro onde têm sido registradas as temperaturas máximas nos últimos verões cariocas.

Bizarro...

1.11.01



Eu no Bruxa de Blair


31.10.01


Nem fazia tanto tempo assim, mas retomar o ritmo de alguma atividade física regular me deixa moída nos primeiros dias. É assim que estou. Contudo é um cansaço bom.

Tenho tido preguiça de escrever muito. Deixo os assuntos passarem por mim e não estou morrendo por isso. Exercitando alguma flexibilidade em pontos estratégicos. Ainda preciso aprender que perco muito com a minha lógica. Por outro lado, tenho que deixar de ser coração mole. Vamos trabalhar o equilíbrio...

Deixar algumas coisas apenas em repouso na água morna. Mais tarde eu vejo como fica. Não dá para ser tudo para hoje, me lembra a Andréa. Vamos boiar um pouquinho para resguardar as forças para nadar até a praia.

Junta, estica, abre, fechar, em cima, embaixo, direita, esquerda, relaxa, contrai...

Às vezes a vida cansa. Na maior parte do tempo é só diversão.

30.10.01





Os seres de outros planetas têm os membros avantajados (estou falando de braços e pernas, hein!). Isto faz com que sejam bastante estabanados, vitimados constantemente por acidentes estúpidos. São comuns cortes nos dedos causados por normalmente inofensivas folhas de papel. É praticamente impensável uma passagem pela cozinha sem pelo menos uma pequena queimadura.

Outro dia, estava dando a preparação do almoço como encerrada. Estava contente, porque, excepcionalmente não havia me ferido. Neste instante o interfone tocou e o primeiro convidado chegava. Corri para o banho. ETs são vaidosos, não gostam de receber visitas com a aparência de quem passou a manhã inteira pilotando panelas.

Já em pleno processo de higienização, esta alien que vos fala percebeu que o frasco de shampoo estava no final. O banheiro estava tão arrumadinho que não quis molhar tudo para pegar outro no armário. Então, esquecida de que na Terra seus poderes mágicos não funcionam plenamente, espremi bastante o recipiente esperando que milagrosamente algum líquido saísse de lá. A mão ensaboada executado esta manobra fez com que o frasco escorregasse descrevendo um círculo perfeito no ar e caindo com a ponta de plástico duro naquele lugarzinho sensível entre a base do nariz e o olho. ETs sangram como terráqueos e recebem os visitantes com olho roxo.

Eletrodomésticos também podem representar grande risco potencial. Hoje prendi a unha sem perceber num vão da porta da máquina de lavar depois de, abaixada, colocar roupas em seu interior. Com a falta de jeito que me é peculiar, deixei-a ali enquanto me levantava de supetão e descobri da forma menos teórica possível porque a tortura de arrancar as unhas é uma prática abominável.






ET e ainda por cima míope e/ou analfabeta, que lê Gonçalves e entende Gonzales. Deve ser a vontade de que todos os meus queridos entrem no mundo blogueiro. :-) Valeu me-ni-nas!

29.10.01

Mais uma prova de que sou mesmo um ET.

Só mesmo uma estadia longa em outro planeta para não ter ainda percebido e aportado antes no blog da minha doce AninhaGon.

Dea me fez perceber que lá da galáxia de onde venho o dia tem mais de 24 horas.

27.10.01


PÉROLAS


Vocês são do tipo que lêem bulas ou qualquer outra coisa? Eu sou! De vez em quando a gente se depara com algumas pérolas como estas.

1 - Na contracapa de um DVD alugado na Blockbuster:

"Favor rebobinar após assistir."

2 - Na contracapa do LP de The Beach Boys (Surfin´U.S.A.)

"This monophonic microgroove recording is playable on monophonic and stereo phonographs. It cannot become obsolete. It will continue to be a source of outstanding sound reproduction, providing the finest monophonic performance from any phonograph."


26.10.01

Dando início aos trabalhos de mudanças por aqui...

25.10.01


Dor de cabeça...
Sem saco...
Não tô podendo...
E ainda tem festa infantil à noite...
SOCORRO!

24.10.01


Num curto passeio, alguns motivos para sorrir:

* O médico disse que minha saúde está perfeita. Prescreveu um remédio para o pequeno incômodo e me deu os parabéns.
* A estátua no meio da praça presta homenagem ao pioneiro da ginástica pelo rádio!
* A rua das flores.
* Encontrei aquele papel raro que estava procurando há tempos e ainda me diverti olhando as novidades da papelaria.
* Fiz matrícula na hidroginástica, agora em outra academia que tem mais a minha cara.
* A moradora de rua me desejou boa tarde e não pediu nada em troca.

23.10.01


Meu silêncio não significa aquiescência.
Chamando a atenção

Não sei se é uma questão de deslocamento espacial ou temporal. A verdade é que certas expressões comuns na minha infância raramente chegam aos meus ouvidos nos dias de hoje.

Vagando pela calçada, acompanhei a conversa de uma mulher que levava o filho pela mão e dirigia-se ao marido. Ela mesma parecia ter saído de um canto recôndito da minha memória. Usava um vestido colorido barato, tinha um pano amarrado à cabeça que merecia um tratado de cultura afro-brasileira, o corpo rijo das jovens lavadeiras, uma fala de veludo e a pele negra era homogênea e brilhante. Tudo nela exalava elegância popular. Era destas mulheres que quase já não vejo, criada com feijão, verduras e legumes da horta da mãe, ovos e galinha do quintal e frutas roubadas dos galhos que escapam pela cerca do vizinho.

Ela contava que havia chamado a atenção da filha. Onde ainda se chama a atenção de alguém? Hoje briga-se, dá-se esporro, no máximo uma chamada. Os metidos a intelectuais desancam. O malandro dá uma idéia, um toque... Minha avó chamava a atenção.

E este ato revela uma relação hierarquizada. Quem faz isto deve ter forte influência moral sobre o chamado. E carece de classe, não deve humilhar, precisa apontar seus argumentos e razões sem tornar-se agressivo. É necessário também deixar claro que ao chamar a atenção não há chance para questionamento ou debate. Fica implícito que tudo deve ser acatado ou passa-se então para a fase de punição.

Talvez exatamente por tudo isto a expressão tenha caído em desuso. Os que chamavam a atenção geralmente eram aqueles a quem pedíamos a bênção.

22.10.01


Eu sei, eu sei, a gente vive em gueto, cercada de pessoas que em algum ponto tocam nossa própria realidade.

Mas não posso deixar de observar que num encontro em que estavam presentes quatro casais, três (e nós éramos a exceção) formaram-se a partir da Internet.

Da série As Mais Terríveis Pervesões:

Continuar amando o mesmo homem depois de dez anos.


Galeria do amor


femmes
Femmes de Tahiti (Sur la Plage)
Gaugin


A primeira vez que meu amo e senhor foi a Paris, não pude acompanhá-lo. Ele trouxe para mim, de uma loja do Louvre um sarongue vermelho que reproduz o que aparece nesta pintura. Só uso em ocasiões especialíssimas.


beijo
O Beijo
Klint


Quando oficializamos nossa união, recebemos alguns amigos mais íntimos para comemorar. Os convites que seguiram por e-mail tinham esta ilustração, não apenas por refletir nosso gosto artístico, mas também porque eu, atacada de um romantismo exacerbado, achei o casal parecido com nós dois.
A chuva cai afastando a ameaça de um verão sem ar condicionado.

As gotas de chuva formam um pequeno rio nas canaletas que formam os trilhos por onde correm os portões de ferro da garagem do prédio. Há uma certa poesia nisto e demoro a identificar o que é. São memórias remotíssimas da casa da minha infância onde a criança quieta e tímida que fui passava muito tempo obrservando as brincadeiras da água que vinha do céu nas vidraças e depois nas esquadrias, passeando em trenzinhos líquidos.

Estas percepções minúsculas de coisas absurdas foi parte da minha vida íntima por muito tempo. Durante as viagens eu me entregava ao zumbido do carro em movimento, à massa verde que a vegetação ao lado da estrada criava com o movimento acelerado, as listras contínuas que apareciam no asfalto quando sua heterogeneidade era submetida à nossa velocidade. Este era meu mundo particular. Só eu via estas coisas, eu pensava então.

O filme foi muito comentado na época, mas o que mais me encantou foi perceber que alguém compartilhava desta minha visão um tanto alucinada. Rain man tem umas cenas vistas pelo olho do autista que reproduzem meu pequeno universo. Foi assim que descobri que não sou tão original quanto pensava. A vulgaridade assusta, mas é bom não se sentir tão só.

Foi mais ou menos a mesma sensação que tive ao descobrir que a drag queen que vive em mim tem a sua turma. Sou uma ploc enrustida [o JB online está com problemas, por isso não tem link para a revista de Domingo com matéria de capa sobre esta nova tribo urbana]. Um dia vou deixar de lado os escrúpulos e sair por aí com uma mochila com a cara de uma das Meninas Superpoderosas estampada. Ou, quando a poeira assentar e eu for de novo a Nova Iorque, gasto uma pequena fortuna na Ricky´s da Brodway, comprando fiapos de cabelos coloridos e outros apetrechos exóticos para usar quando for ao supermercado.

Minha sogra diz que velhos são os outros. Pois então. A turma da minha auto-imagem, que ainda está na casa dos vinte e pouquíssimos, é esta. Esta jovem senhora séria e respeitável não sou eu. O espelho está mentindo! Vou ignorar o que ele diz e apenas observar a chuva reinando no meu universo diminuto.


20.10.01


Da série As Mais Terríveis Perversões:

Sadomasô

- Bate!
- Não!

19.10.01

O Marcelo, me incluindo lá nas suas sinas, e a Andréa, estreando no mundo blogueiro, me deixaram com vontade não só de atualizar minha listinha dos mais mais como também de dar uma arejada por aqui. Vamos ver se vontade é coisa que dá e passa ou se no final de semana consigo fazer alguma coisinha.

Só agora sosseguei. Fiquei um tempão com minha irmã ao telefone tirando tooooooooodas as dúvidas sobre o antraz. Uma meleca isso de a gente achar que neguinho está escondendo informação. Porque ando com uma coisa rondando minha cabecinha. Ou o governo norte-americano está dando idéia para os terroristas ou estão sabendo das coisas com antecedência e não estão contando a história toda.

Sinceramente espero que a Letti esteja certa e que isso seja problema lá deles. Mas tenho a impressão de que um surto de varíola, por exemplo, chegaria facilmente por aqui. Esse é apenas um dos meus receios. E também não sei se é inadequado ocupar tantas páginas de jornal com o assunto (ainda).

18.10.01


Assinando embaixo III


Ensinando integridade
(Tania Zagury, O Globo, 02.07.2001)


Contou-me uma amiga que, outro dia, seu filho chegou em casa exultante.... Afinal, não é sempre que se tira dez em física. Ela percebeu, no entanto, que o professor havia se enganado na correção.

Qual não foi sua surpresa quando o menino lhe disse que não poderia, de forma alguma, apresentar o erro para revisão, porque "ninguém devolve nota". Foi preciso muita paciência para convencê-lo. Tinha medo das gozações dos colegas.

Às vezes é um fato corriqueiro que nos faz perceber quantos difíceis dilemas as crianças têm que resolver até que se tornem adultos
íntegros.

Não faz muito tempo, ser um bom menino significava, como dizia o palhaço Carequinha, não fazer pipi na cama nem fazer malcriação, concluir o trabalho de casa com capricho, deixar o quarto mais ou menos arrumado, não falar palavrão, dirigir-se respeitosamente aos mais velhos; tarefas, enfim, razoavelmente simples de serem aprendidas. Isso porque valores como
honestidade e integridade não estavam ainda em discussão.

Ser um "bom menino", hoje, significa não apenas saber o que é certo ou errado, mas também conseguir se opor a atitudes (bem freqüentes) que contrariam os princípios norteadores da sociedade - o que não é nada fácil nem para adultos, quanto mais para crianças e jovens.

Opor-se ao grupo e fazer escolhas adequadas demanda forte grau de segurança. Mais ainda: significa que nossos filhos têm que estar certos, em primeiro lugar, de que solidariedade, justiça e honestidade, por exemplo, não estão "fora de moda". Precisam, acima de tudo, acreditar que, mesmo quando parte dos homens não respeita esses princípios, não há a mínima condição de vivermos com segurança sem eles.

Como convencê-los, no entanto, se a TV, as novelas, as atitudes de muitos adultos, os jornais, alguns programas humorísticos e até certas músicas os bombardeiam com mensagens antiéticas? Como convencê-los, se parte dos colegas, com os quais convivem, quebra vidraças, desrespeita os mais velhos, picha muros, destrói o mobiliário das escolas, dirige sem carteira aos 16
anos ou falsifica documentos para poder entrar nas boates antes da idade permitida em lei, por vezes com a anuência dos responsáveis?

Criar adultos dignos depende basicamente de duas coisas: da maneira pela qual nós, pais, vivemos o dia-a-dia e da confiança que temos nos valores que guiam nossas ações. Ou seja, é necessário não só sermos íntegros, mas também não duvidarmos da força dos nossos princípios.

Quando crianças e jovens percebem nos seus mais fortes modelos (nós, seus pais!), segurança inabalável na retidão, na cooperação, na honra - independente do que estejam fazendo os vizinhos, parentes e amigos - eles muito provavelmente também acreditarão. Se, ao contrário, já que há tanta corrupção e impunidade, os próprios pais começam a afrouxar seus conceitos ou a repetir diariamente que "o Brasil não tem jeito", em que irão seus filhos acreditar? Por que e para que irão lutar?

O perigo maior para um jovem não são as drogas: é não crer no futuro e na sociedade em que vive. A falta de esperança, essa sim, é que pode levar à depressão, ao individualismo, ao consumismo exacerbado, ao suicídio, à marginalidade e às drogas. Em contrapartida, a convicção de um caminho produtivo a ser trilhado e o desejo de contribuir fazem com que os jovens progridam, criem, estudem e realizem. E para ter essa confiança, eles precisam conviver com pessoas que não apenas vivam de acordo com esse modelo, mas também que não se deixem abalar pelas notícias negativas que saem diariamente na mídia.

Existe, sim, gente desonesta, o que não significa que muitos outros - muitos mais - não sejam dignos, trabalhadores e corretos. Precisamos lutar vigorosamente para que nossos filhos percebam que quem leva o Brasil adiante é "a maioria silenciosa", aquela que é formada por pessoas honestas e trabalhadoras, e que, por isso mesmo, não constituem notícia, nem, portanto, aparecem nos jornais e na TV.

Os pais têm papel primordial na estruturação do caráter dos filhos. Resgatar a ética é hoje questão de sobrevivência. Que jovem poderá resistir às pressões negativas de uma sociedade em crise, se não aquele que tenha internalizado o respeito por si próprio e pelo outro?

Para isso é preciso, em primeiro lugar, que se reconheçam num modelo - isto é, que saibam quem são, que façam identificações adequadas. E para tanto precisam de modelos fortes e seguros, que não duvidem nem desanimem a cada notícia negativa nos jornais, ou a cada mau exemplo nas vizinhanças.

Muita gente acha que ensinar integridade é impossível nos tempos modernos. Talvez ignorem que isso se faz basicamente através de exemplos concretos de vida. Se os pais, "sem muito discurso", vivem de acordo com princípios, estarão encorajando os filhos a seguirem seus passos, mesmo sem perceber.

Quer dizer, não mentindo, não aceitando uma conta errada no restaurante, chegando à hora combinada aos encontros, respeitando a lei, não mudando ou querendo mudar as regras do jogo de acordo com as conveniências do momento, e, especialmente, não disseminando amargura e descrença, simplesmente porque nem todos agem de maneira honesta. Na grande maioria dos casos, essa forma de viver será suficiente para que seus filhos acreditem nos valores.

Afinal, não podem contestar - estão vendo! - que vocês vivem de acordo com o que defendem.

Por fim, é bom lembrar que, especialmente quando nossos filhos chegam à adolescência, quase com certeza irão opor alguma (ou bastante) resistência ao que defendemos. Não nos deixemos iludir pelas aparências - especialmente não desanimemos! Eles estão lutando para se independentizar, e isso pode significar ficar contra tudo (literalmente tudo, para nosso desespero) que
nós, pais, postulamos.

Ainda que seja difícil acreditar, nossas lições nunca são inúteis. Enquanto nossas atitudes forem coerentes com nosso discurso, estaremos provendo a base para a qual eles retornarão, quando a época da rebeldia terminar. E, mesmo na fase mais aguda de auto-afirmação, raramente se afastarão dos conceitos essenciais. Poderão até fazer algumas bobagens, mas nada que fira de forma irremediável a ética e os valores que aprenderam, por toda sua curta vida, a respeitar.

Mesmo quando parece que não nos ouvem nem vêem, é a nossa integridade que serve de fundamento para nossos filhos, hoje e sempre.

(Tânia Zagury é filósofa e mestre em educação)


Arsenal americano para bombardear o Afeganistão:


B1 e B2
B1 & B2
Em solidariedade à Andréa contra a ditadura da balança:


no body
I ain´t got no body

17.10.01

Assinando embaixo II


As Carícias e o Iluminado

Chega de viver entre o Medo e a Raiva. Se não aprendermos a viver de outro modo, poderemos acabar com nossa espécie. É preciso começar a trocar carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro, todas as coisas boas que a gente tem vontade de fazer e não faz, porque "não fica bem" mostrar bons sentimentos! No nosso mundo negociante competitivo, mostrar amor é ... um mal negócio. O outro vai se aproveitar,explorar , cobrar... Chega de negociar com sentimentos e sensações. Negócio é de coisas e de dinheiro - e pronto! Bendito Skinner - apesar de tudo! Ele mostrou por A mais B que só são estáveis os condicionamentos
recompensados; aqueles baseados na dor precisam ser reforçados sempre, senão desaparecem. Vamos nos reforçar positivamente. É o jeito - o único jeito - de começar um novo tipo de convívio social, uma nova estrutura, um mundo melhor.

Freud ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim; mas é fácil ver que nós escondemos também tudo o que é bom em nós, a ternura, o encantamento, o agrado em ver, em acariciar, em cooperar, a gentileza, a alegria, o romantismo, a poesia, sobretudo o brincar - com o outro. Tudo tem que ser sério, respeitável, comedido - fúnebre, chato, restritivo, contido ...

Há mais pontos sensíveis em nosso corpo do que estrelas num céu invernal.

"Desejo", do latim de-sid-erio , provém da raiz "sid" , da língua Zenda, significando ESTRELA, como se vê em sideral - relativo às estrelas.

Seguir o desejo é seguir a estrela - estar orientado, saber para onde se vai, conhecer a direção...

"Gente é para brilhar", diz mestre Caetano.

Gente é demonstravelmente, a maior maravilha, o maior playground e a mais completa máquina neuromecânica do Universo conhecido. Diz o Psicanalista que todos nós sofremos de mania de grandeza, de onipotência.

A mim parece que sofremos de mania de pequenez.

Qual o homem que assume em toda a sua grandeza natural? "Quem sou eu, primo..." Em vez de admirar, nós invejamos - por não termos coragem de fazer o que nossa estrela determina.

O Medo - eis o inimigo.

O medo, principalmente do outro, que observa atentamente tudo o que fazemos - sempre pronto a criticar, a condenar, a pôr restrições - porque fazemos diferente deles.

Só por isso. Nossa diferença diz para ele que sua mesmice não é necessária. Que ele também pode tentar ser livre - seguindo sua estrela. Que sua prisão não tem paredes de pedra, nem correntes de ferro. Como a de Branca de Neve, sua prisão é de cristal - invisível. Só existe na sua cabeça. Mas sua cabeça contém - é preciso que se diga - todos os outros que, de dentro dele, o observam, criticam, comentam - às vezes até elogiam!

Por que vivemos fazendo isso uns com os outros vigiando-nos e obrigando-nos - todos contra todos - a ficar bonzinhos dentro das regrinhas do bem-comportado - pequenos, pequenos. Sofremos de megalomania porque no palco social obrigamo-nos a ser, todos, anões. Ai de quem se sobressai, fazendo de repente o que lhe deu na cabeça. Fogueira para ele! Ou você pensa que a fogueira só existiu na Idade Média?

Nós nos obrigamos a ser - todos - pequenos, insignificantes inaparentes, "normais" - normopatas diz melhor; oligopatas - apesar do grego - melhor ainda. Oligotímicos - sentimentos pequenos - é o ideal...

Quem é o iluminado?

No seu tempo, é sempre um louco delirante que faz tudo diferente de todos. Ele sofre, principalmente, de um alto senso de dignidade humana - o que o torna insuportável para todos os próximos, que são indignos.

Ele sofre, depois, de uma completa cegueira em relação à "realidade" (convencional), que ele não respeita nem um pouco. Ama desbragadamente - o sem vergonha. Comporta-se como se as pessoas merecessem confiança, como se todos fossem bons, como se toda criatura fosse amável, linda, admirável.

Assim ele vai deixando um rastro de luz por onde quer que passe.

Porque se encanta, porque se apaixona, porque abraça com calor e com amor, porque sorri e é feliz.

Como pode, esse louco?

Como pode estar - e viver! - sempre tão fora da realidade - que é sombria, ameaçadora; como ignorar que os outros - sempre os outros - são desconfiados, desonestos, mesquinhos, exploradores, prepotentes, fingidos, traiçoeiros, hipócritas...

Ah! Os outros...

( Fossem todos como eu, tão bem comportados, tão educados, tão finos de sentimentos...) O que não se compreende é que há tanta maldade num mundo feito somente de gente que se considera tão boa. Deveras, não se compreende.

Menos ainda se compreende que tantas famílias perfeitas - a família de cada um é sempre ótima - acabe acontecendo um mundo tão infernalmente péssimo.

Ah! Os outros... Se eles não fossem tão maus - como seria bom... Proponho um tema para meditação profunda; é a lição mais fundamental de toda a Psicologia Dinâmica:

Só sabemos fazer o que foi feito conosco.
Só conseguimos tratar bem os demais se fomos bem tratados.
Só sabemos nos tratar bem se fomos bem tratados.
Se só fomos ignorados, só sabemos ignorar.
Se fomos odiados, só sabemos odiar.
Se fomos maltratados, só sabemos maltratar.
Não há como fugir desta engrenagem de aço: ninguém é feliz sozinho.
Ou o mundo melhora para todos ou ele acaba.

Amar o próximo não é mais idealismo "místico" de alguns.
Ou aprendemos a nos acariciar ou liquidaremos com nossa espécie.
Ou aprendemos a nos tratar bem - a nos acariciar - ou nos destruiremos.
Carícias - a própria palavra é bonita.
Carícias - Mãos deslizando lentas e leves sobre a superfície macia e sensível da pele.
Carícias... Olhar de encantamento descobrindo a divindade do outro - meu espelho!
Carícias ... Envolvência ( quem não se envolve não se desenvolve), ondulações, admiração, felicidade, alegria em nós - eu-e-ele, eu-e-outros.
Energia poderosa na ação comum, na co-operação. Na co-munhão. Na co-moção.
Só a União faz a força - sinto muito, mas as verdades banais de todos os tempos são verdadeiras - e seria bom se a gente tentasse FAZER o que elas sugerem, em vez de, críticos e céticos e pessimistas, encolhermos os ombros e deixarmos que a espécie continue, cega, caminhando em velocidade uniformemente acelerada para o Buraco Negro da aniquilação.

Nunca se pôde dizer, como hoje: ou nos salvamos - todos juntos - ou nos danamos - todos juntos.

(J. A. Gaiarsa)