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23.11.02

Vi coisas estranhas hoje:

- Num salão de beleza, uma banca com diversos itens de maquiagem a R$5,00. Batom, blush, corretivo, base, gloss, tudo, qualquer coisa R$5,00. Achei tão estranho que resolvi olhar de perto. Todos, absolutamente todos com o prazo de validade vencido. Uma praga de cupim ia bem na cara daquele povo.

- Uma família estava sentada à nossa frente no restaurante. Depois da conta paga, todos se leventaram com exceção daquela que parecia ser a mãe das crianças. Ela ficou ali ajeitando, mexendo e quando achou que ninguém estava olhando jugou o resto da água que estava servido nos copos de volta para a garrafa de água mineral que levou com ela. Podem me chamar de perdulária, mas taí uma coisa que ninguém vai me ver fazendo.

- O público do show do Rush.

- Harry Potter e a Câmara Secreta.
É hora do Rush. A vizinhança está pegando fogo. Helicópteros ameaçam invadir minha janela.

22.11.02

Isso está aqui porque quando li lembrei da Paula:

"Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar."
(João Cabral de Melo Neto)
Ricardo, depois de se dar conta que era a única pessoa no país que jamais tinha ouvido a dita demoníaca canção, resolveu correr atrás do prejuízo e descobriu um site que conta tudo o que você sempre quis saber sobre a Ragatanga e nunca teve coragem de perguntar.

Por exemplo:

Aserejé é uma canção que fala sobre uma outra canção. Ela conta a história de Diego, um rastafariano negro-cigano que passa as noites dançando rap e hip-hop. Ele gosta de uma certa música de 1979 chamada "Rapper's Delight", do conjunto de rap Sugar Hill Gang, formado em 1977. Acontece que o Diego não conhece direito a letra da canção por não saber inglês, então pronuncia as palavras mais ou menos do jeito que as escuta. Assim, "Aserejé" é a pronúncia espanhola deturpada de "I said a hip", trecho tomado da canção original.

Esta história em detalhes (inclusive com letras comparadas), os passos da dança que ameaça ser a febre do verão que se avizinha e tudo o mais que se possa imaginar sobre o assunto, aqui.

Você está me julgando uma desocupada por ter um post destes, certo? Pois devo dizer em minha defesa que ele está engatilhado há dias. E depois de ver um cara criar um site dedicado a Ragatanga, conheci o verdadeiro sentido da palavra ócio e percebi que ele é algo inatingível para mim.
"M-MÚSICA DESAFINA A FOME"


A M-MÚSICA, um dos mais ativos grupos na Internet de discussão sobre música, sai do virtual e entra na campanha NATAL SEM FOME, organizada pela Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida:

Os shows serão realizados no Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza, Curitiba e Brasília, e contarão com as apresentações de artistas, produção e divulgação de integrantes do grupo e convidados.

Venha e traga um kilo de alimento não perecível.

Rio de Janeiro
Apresentando Arthur Verocai, Carlos Montes, Clarisse Grova, Cláudia Telles, Cláudio Jorge, Cristina Saraiva, Denise Pinaud, Eduardo Braga, Eliane Tassis, Irinéia Maria, Etel Frota, Felipe Radiccetti, Fernando Leporace,, Marcílio Figueiró, Moína Braga, Paula Santoro, Reynaldo Bessa, Sanny Alves, Suely Mesquita, Tânia Méliga, Tato Fischer.

Produção: Tânia Méliga
Sala Funarte Sidney Miller - Rua da Imprensa, 16, esquina com Araújo Porto Alegre.
Dia 05/12/2002, quinta-feira, às 18h30.

Direção Geral:
Nana Valente Soutinho
nana@m-musica.org

21.11.02

Hoje recebi uma notícia de morte.

Hoje recebi este presente lindo da Adriana. Estava em um metablog (que idéia genial!).



Muitos beijos a Adriana, a menina super-poderosa, porque graças a ela o dia foi salvo.

E para quem está em meu pensamento sempre com carinho e amizade, hoje mais que nunca, com preocupação e pesar, um beijo e minha prece silenciosa, que nessas horas as palavras só atrapalham.

20.11.02


Martinho da Vila
cantor e compositor

Minha bisavó era purinha, bem limpinha
De Angola
O meu bisavô também ourinho, bem limpinho
De Moçambique
Eu não sou branquinho, nem pretinho
A minha dona é moreninha
Eu tenho muitos mulatinhos
Salve! salve!
Salve a mulatada brasileira!
Salve a mulatada brasileira, salve! salve!
Salve a mulatada brasileira!

José do Patrocínio
Alejadinho
Machado de Assis que também era mulatinho
Salve a mulatada brasileira!
Salve a mulatada brasileira, salve! salve!
Salve a mulatada brasileira!


(trecho da música Salve a Mulatada Brasileira de Martinho da Vila)




Elisa Lucinda
poeta, professora, jornalista e atriz

Mulata exportação
Elisa Lucinda

Mas que nega linda
E de olho verde ainda
Olho de veneno e açúcar!
Vem nega, vem ser minha desculpa
Vem que aqui dento ainda te cabe
Vem ser meu álibi, minha bela conduta
Vem, nega exportação, vem meu pão de açúcar!
(Monto casa procê mas ninguém pode saber, entendeu meu dendê?)
Minha tonteira minha historia contundida
Minha memória confundida, meu futebol, entendeu meu gelol?
Rebola bem meu bem-querer, sou seu improviso, seu karaoquê;
Vem nega, sem eu ter que fazer nada. Vem sem ter que me mexer
Em mim tu esqueces tarefas, favelas, senzalas, nada mais vai doer.
Sinto cheiro docê, meu maculelê, vem negra, me ama, me colore
Vem, nega, vem me arrasar, depois te levo pra gente sambar.
Imaginem: Ouvi tudo isso sem calma e sem dor.
Já preso esse ex-feitor, eu disse: "Seu delegado..."
E o delegado piscou.
Falei com o juiz, o juiz se insinuou e decretou pequena pena
com cela especial por ser esse branco intelectual...
Eu disse: "Seu Juiz, não adianta! Opressão, Barbaridade, Genocídio
nada disso se cura trepando com uma escura"!
Ó minha máxima lei, deixai de asneira
Não vai ser um branco mal resolvido
Que vai libertar uma negra:
Esse branco ardido está fadado
porque não é com lábia de pseudo-oprimido
que vai aliviar seu passado.
Olha aqui meu senhor:
Eu me lembro da senzala
E tu te lembras da Casa-Grande
E vamos juntos escrever sinceramente outra história
Digo, repito e não minto:
Vamos passar essa verdade a limpo
Porque não é dançando samba
Que e te redimo ou te acredito:
Vê se te afasta, não invista, não insista!
Meu nojo!
Meu engodo cultural!
Minha lavagem de lata!
Porque deixar de ser racista, meu amor,
Não é comer uma mulata!


Da série Brasil, meu espartilho. Published in O semelhante.
Rio de Janeiro: Editora Record, 2000. 2nd Edition, pp. 184-85.

Joel Rufino dos Santos
historiador, romancista, professor da UFRJ e membro do Comitê Científico Internacional do Programa Rota do Escravo, da Unesco


"Não lhe batiam por maldade, embora isso também ocorresse. A finalidade era esvaziá-lo da parte propriamente humana que todos os homens possuem - e são homens propriamente porque a possuem. Assim coisificado, o negro africano estava pronto para ser escravo."

"Numa noite qualquer do ano de 1597, quarenta escravos fugiram de um engenho no sul de Pernambuco. Fato corriqueiro. Escravos fugiam o tempo todo de todos os engenhos. O número é que parecia excessivo: quarenta de uma vez. Fora também insólito o que fizeram antes de optar pela fuga coletiva: armados de foices, chuços e cacetes haviam massacrado a população livre da fazenda. Já não poderiam se esconder nos matos e brenhas da vizinhança - seriam caçados furiosamente até que, um por um, tivessem o destino dos amos e feitores que haviam justiçado.

De manhã, certamente, a notícia correria a Zona da Mata - essa formidável galeria verde que, salpicada de canaviais, a uns dez quilômetros do mar, o acompanha sem nunca perdê-lo de vista. Tinham a liberdade e uma noite para agir.

Havia umas poucas mulheres, um que outro velho e diversas crianças, mas o grosso eram pretos fortes, canelas finas e magníficos dentes. Escolheram caminhar na direção do sol poente, um pouco para baixo. Com duas horas compreenderam que jamais qualquer deles havia ido tão longe naquela terra. Mesmo os crioulos, nascidos aqui, desconheciam o pio daquelas aves, nunca tinham visto aqueles cipós. Andaram toda a noite e a manhã seguinte; descansaram quando o sol chegava a pino; contornaram brejos e grotões, subiram penhascos e caminharam, um a um, na beirada de feios precipícios.

Se passou ainda uma noite. Eram observados, mas não tinham qualquer medo de índios. Então, na vigésima manhã se sentiram seguros. De onde estavam podiam ver perfeitamente quem viesse dos quatro cantos; com boa vista se podia mesmo vislumbrar o mar, além das lagoas. A terra, vermelho-escura, esboroava ao aperto da mão. Ouviam águas correndo sobre pedras. E havia palmeiras, muitas palmeiras.

Por que escravos fugiam?

A fuga era a única maneira de recuperarem a sua humanidade - esta é a melhor resposta que conheço."

Assim descreve Joel Rufino dos Santos, em seu livro Zumbi (ed. Moderna, 1985), o episódio que teria dado origem ao quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga (que tem esse nome "talvez por parecer grávida a quem vem de Maceió, pelo Vale do Mundaú"), em Alagoas, onde é hoje o município de União dos Palmares.

(retirado daqui)

***


Memórias do cárcere


Vivianne Cohen

O quarto do escritor e historiador Joel Rufino dos Santos ficava a três andares do chão. Não era decorado com quadros, embora a tinta preta se destacasse da parede de tijolos largos. As fotografias e os livros ficavam acondicionados num canto. Em 12 de agosto de 1973, Rufino escreveria a primeira das 32 cartas enviadas ao filho Nélson, na época com 8 anos. "Moramos em quartos. O meu é o número 31", dizia um dos trechos. O menino sorria com o que pensava ser o diário de viagem do pai, quando na realidade as palavras enviadas por Rufino eram escritas de uma cela do Presídio do Hipódromo, em São Paulo, onde o escritor estava, junto com outros sete presos políticos.

Quando descobriu a verdade, o garoto, com lágrimas nos olhos, escondeu-se embaixo da cama abraçado à gaiola de seu passarinho de estimação. "Ele sempre resistiu à idéia de conversar sobre o assunto", recorda Rufino. Em maio, com 35 anos, Nélson rendeu-se ao passado ao revirar as cartas no fundo do baú. Os velhos envelopes corroídos pelo tempo foram reunidos em Quando voltei, tive uma surpresa, que Rufino, autor de mais de 20 livros infantis, está lançando pela Editora Rocco. "Só agora tenho a noção exata do que aconteceu naquela época", afirma Nélson, funcionário da Prefeitura do Rio de Janeiro, e pai de Eduardo, 6, Rafael, 4, e Isabel 2.

A tragédia familiar começou no reveillón de 1973. Militante da Aliança Libertadora Nacional, grupo armado que fazia oposição ao regime militar, Rufino viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro para ver o filho e a mulher Teresa Garbayo dos Santos. Só não contava que fosse preso durante o trajeto e levado ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social), onde seria torturado antes de ser encarcerado no Presídio do Hipódromo. Nos primeiros seis meses, Rufino sustentou a versão de que estava viajando a trabalho. "Eu tinha medo de que ele me confundisse com um ladrão."

O menino passou a visitá-lo na cadeia acompanhado da avó Felícia e da tia Bena. A sala de espera era o pátio, onde outros filhos de presos políticos amontoavam-se em dias de visita. As duas horas passavam voando e Nélson pouco falava de si para o pai. Antes de despedir-se, porém, esticava o braço e levava para casa um presente feito pelo pai no cárcere, que geralmente era um cinto ou um brinquedo de cerâmica. Nesse cenário, o garoto chegou a comemorar seu aniversário de 9 anos. Ao voltar para casa, aumentava a espera por mais uma carta de Rufino. "Eu pedia para minha mulher ler antes dele dormir, como se estivesse narrando uma história", recorda o escritor.

A correspondência era uma maneira do pai aliviar o sofrimento do menino. As histórias desviavam a imaginação do garoto da dura realidade dos porões da ditadura militar. Eram coloridas e cheias de desenhos. Em uma delas, Rufino agradecia pelas canetas hidrocores que ganhara do filho no último encontro entre os dois. E ainda destacava que era o único preso da cadeia a contar com tamanho privilégio. O futebol também era um canal de contato. Em 21 de julho, ele queria saber se o menino havia visto o gol do ponta Jairzinho na partida da Seleção Brasileira contra a União Soviética. E chegava a comparar o juiz que o condenara aos árbitros de futebol. "Na hora de respondê-las, o Nélson ditava suas cartas para mim", lembra a mãe Teresa.

Na vida real, o menino conhecia pouco da militância do pai. Em 1964, Rufino soube do nascimento de Nélson por um telegrama. Membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ele vivia exilado na Bolívia e só veio a conhecer o garoto um mês depois no Chile, já em seu segundo exílio. "O Nélson já foi uma barriga sem pai", brinca Teresa. De volta ao Brasil, Rufino foi preso e ficou três meses longe de casa. Em 1970, trocou o PCB pela ALN e adotou o codinome Pedro Ivo. "Joel Rufino era um professor, que nos dava aulas de história", diz o deputado federal José Genoíno. Durante dois meses, ele foi companheiro de cela do escritor no Presídio do Hipódromo e chegou a ler correspondências que o garoto enviou ao pai e que ficaram retidas na prisão. "Foram as únicas coisas que eu quis levar quando saí", afirma Rufino.

Na volta para casa, em 1974, o escritor encontrou uma realidade diferente da idealizada durante os anos de cárcere. Havia perdido de uma só vez a mulher e o filho. "Não conseguimos nos reaproximar", diz. Separado, casou-se com uma adolescente, mas, em 1977, voltou para Teresa, com quem teve mais uma filha, Juliana, de 21 anos. No primeiro governo de Leonel Brizola no Rio, foi nomeado diretor do Museu Histórico Nacional. Hoje, Rufino é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ocupa um cargo na Unesco. "Meu pai é um grande herói", diz Nélson.

(retirado daqui)


Ricardo Pessanha
escritor, jornalista, fotógrafo, tradutor e profissional de marketing

"Quilombos, colonies formed by runaway slaves in the interior of Brazil, also helped perpetuate African culture. The largest and the most famous of these was Palmares, established in the rugged interior of northeastern Alagoas state in the seventeenth century. The inhabitants of Palmares made an effort to organize a society based in African traditions. It lasted for several decades and had a population in the thousands (some say as high as twenty thousand). To the Portuguese, Palmares was a threat to the established order, not to mention the institution of slavery. Numerous armed expeditions were mounted against it by the Portuguese crown, beginning in 1654. All were unsuccessful until the last major campaign, waged in 1694, which overwhelmed and destroyed Palmares. Zumbi, the quilombo's famed war commander, was captured and killed the following year. The legendary warrior is still celebrated in Brazilian music today, and his birthday (November 20) has been a holiday since 1995."

"Racial issues have often been addressed in popular music. Since the 1980s, Afro-Brazilian pride has been more frequently asserted _ and racial injustices protested _ in lyrics by artists like Gilberto Gil, Bezerra da Silva, and Batacotô, and in Carnaval songs written for Rio's escolas de samba and Bahia's blocos afro. This is a significant change from previous decades, when racial commentary in music usually consited of jokes at the expense of black and mulattos."


(trecho de The Brazilian Sound de Ricardo Pessanha e Chris McGowan -Temple University Press - 1998)

19.11.02

Fato ocorrido recentemente me deixou boquiaberta, pensativa e muitíssimo preocupada. Determinado assunto tendo tomado conta dos noticiários foi comentado numa roda de conhecidos. Três pessoas presentes no local onde a ação desenrolava-se, em pontos diferentes, testemunharam que havia outros fatos além do que a grande imprensa estava noticiando. Seus depoimentos foram rechaçados com veemência e um toque de ultraje. O que não aparecia no jornal não poderia ser real. Pouco importa se seus amigos são testemunhas oculares e defendem versão ligeiramente diferente da que está na primeira página para vender jornal. Se a Fátima Bernardes e o William Bonner não anunciam, não existe.

Fiquei incomodada não apenas por ter, de certa forma, sido chamada de mentirosa, mas por perceber o que acontece com a mente de algumas pessoas que já não conseguem aceitar qualquer verdade a não ser aquela regurgitada pelas agências de notícias.

Então, escolhendo textos de Joel Rufino dos Santos para amanhã, encontrei este aqui e essa história que estava adormecida, mas não esquecida dentro de mim, acordou.


RELAÇÕES PERIGOSAS
Joel Rufino


"Lançamentos redimensionam a relação entre os jornais brasileiros e a censura", copyright Jornal do Brasil, 21/10/00

"Por que os jornais quase nunca dizem a verdade?

A pergunta só tem cabimento se nos pusermos de acordo sobre o que são jornais e o que é verdade. Periódicos escritos para comunicar existem pelo menos desde Roma. Já verdade, em nosso tempo, é o que você convenceu alguém de que é verdade.

Acabam de sair dois livros sobre regime militar e imprensa que repõem em discussão esse velho tema. Têm méritos diferentes. O de João Batista de Abreu (Manobras da informação) é exibir, por dentro, como se fazia jornal nos anos de chumbo; o de Anne-Marie Smith (Um acordo forçado) é retirar o foco da censura prévia, visível, instalada nas redações, e pô-lo sobre a autocensura, invisível, instalada nas mentes. Falo dos méritos principais. Ambos são duros com os grandes jornais, produzindo análises complementares do mesmo fenômeno.

Os presos políticos da ditadura não conseguíamos nos explicar aos colegas ?comuns?, com quem repartíamos alojamento. Os diretores de presídio tinham ordem para nos chamar de terroristas: ?carta para o terrorista?, ?tira o terrorista para ir à Auditoria?... Expliquei ao Pelezinho (um ?colega?) que nosso nome correto era revolucionários. ?Tomar de rico pra dar a pobre? Então o que vocês são é bunda-mole?, ele concluiu. Havia uma guerra dos nomes e, analisando o vocabulário da imprensa sob a ditadura, João Batista nos mostra que a imprensa nos ajudou a perdê-la. Aceitando nomear o opositor armado (e logo também os outros) de terrorista, os jornais designavam um sujeito sem história, sem significado, irracional e, portanto, disponível para qualquer violência.

Vinte anos depois, alguns ex-diretores de jornal (escrito e televisivo) se vangloriam de terem resistido à ditadura. Inocência ou cinismo? O regime militar não fechou diretamente nenhum jornal, embora, por exemplo, O Correio da Manhã e, mais tarde, o Opinião e o Movimento tenham sido levados a nocaute econômico. ?As pessoas que bancam hoje o papel do censurado, que agem como se tivessem sofrido muito, são ridículas?, escreveu Mino Carta (diretor de Veja, entre 1968 e 76). A censura, de fato, foi seletiva. O Globo, por exemplo, jamais foi censurado, nem a Folha de S. Paulo ? e, sintomaticamente, os dois são, hoje, sólidas empresas. Censurados foram O Estado de S. Paulo, Veja, O São Paulo (da Arquidiocese de São Paulo, leia-se D. Evaristo Arns), a Tribuna da Imprensa, Opinião e toda a imprensa alternativa.

Ficam em melhor situação moral - pela sinceridade - os diretores que aderiram à ditadura, aceitando sua violência sem, necessariamente, apoiar a censura. Como Boris Casoy, o âncora do impeachment de Collor: ?O que eu quero dizer é que havia pontos de contato [entre as maneiras de ver da imprensa e do regime]. Os jornais são empresas vinculadas ao capitalismo, ao anticomunismo, e nunca estiveram do lado dos guerrilheiros, até aprovavam a repressão contra eles. O resto nós não aprovávamos mas aceitávamos. Do fundo do meu coração, eu os apoiava, apoiava!? Ou como Walter Fontoura que, quando do retorno dos exilados, insistiu em que as acusações da ditadura contra eles eram um fato jornalístico em si: ?Para mim, tanto fazia se a acusação fora obtida à custa de tortura. A acusação ainda existia. Agora, se fosse verdade que ela fora obtida sob tortura ? bem cabia ao acusado prová-la, vir defender-se.?

Para que servem os jornais? Em nosso país, eles funcionam como aparelhos ideológicos do Estado. Isso não diminui o prazer matinal, ao café, que proporcionam, quase uma Bíblia; nem significa que jornalistas não se esforcem todo o tempo para lhes dar outra função. O jornal de denúncia, de defesa classista, étnica, baluarte dos direitos humanos sempre existiu no Brasil, mesmo sob as ditaduras. A grande e média imprensa, porém, é um diálogo exclusivo entre as elites instruídas, visando a manter a ordem social que as beneficia. Em 1972, o Brasil tinha 37 jornais por mil habitantes, a Argentina 154. Apesar disso, seu alcance político é grande. Por exemplo: essa pequena imprensa de um país que não lê jornais pauta os veículos de massa, decidindo, em última instância, o que se vai e não se vai ficar sabendo. É ela que cria essa outra natureza social, essa prótese do real, expressa na fórmula: ?deu no jornal?. Se deu, existe. (Um acordo forçado: o consentimento da imprensa à censura no Brasil, Anne-Marie Smith, 264, páginas, R$ 29 e Manobras da informação, João Batista de Freitas, Mauad/Eduff, 270 páginas, R$ 29)"


(Texto retirado daqui)

Mesmo sendo fã de Luis Bruñel e Salvador Dalí, achei um pouco forte a imagem de mulher em frente ao meu portão pescando. Ela tinha um vidrinho de maionese em uma das mãos e com a outra, incentivada pelos dois filhos pequenos, coletava peixes que depositava no tal recipiente.

Pouco mais de meio-dia. A manhã já foi embora, e as donas de casa, porteiros e faxineiros dedicados já terminaram sua tarefa de limpeza, mas algumas marcas da tempestade apavorante da madrugada e da conseqüente enchente ainda estão por todo lado. Em alguns cantos de rua a lama acumulada é exposta ao mormaço, transformando-se em poeirão. Defronte aos estabelecimentos comerciais fadados ao fracasso, sacos plásticos e galhos sinalizam, agarrados a postes e orelhões, a altura que a água alcançou. Uma mocinha que parece ter recebido o carro de presente do pai por ter passado no vestibular faz cara de nojo para o lixo aglomerado às rodas de seu carro e resolve que a própria rolagem vai tratar de limpá-las, poupando assim suas mãos manicuradas de tão repugnante trabalho e garantindo emprego para os garis que terão que ir limpando o rastro de seu veículo. O barulho do carro quando arranca é horripilante - parece que há um gato se afogando - e a água ainda acumulada nas entranhas do carro transforma-se em vapor e sai por todos os cantos.

Cheiros, muitos cheiros.

Meu filho de sete anos me explica que tudo isto aqui era um charco antigamente e que Tijuca quer dizer pântano em tupi-guarani. Acho que eu mesma contei isso a ele em outra ocasião ou talvez tenha lido em algum trabalho que ele trouxe da escola.

E enquanto não há um plano para resolver este problema centenário, uma mulher recolhe o fruto de sua pescaria de asfalto em um pote de Hellmann's.

18.11.02

Jards Macalé apresenta-se amanhã (terça) num dos meus espaços favoritos na cidade, o Sesc Copacabana. O show faz parte do Projeto Novo Canto e junto com ele estarão Roberto Lara e Patrícia Ahmaral.
Entre as duas músicas mais tocadas, semana passada, na principal FM de jazz de Nova Iorque, a WBGO, estava um samba de Dorival Caymmi, Lá vem a Baiana, do novo CD de João Gilberto.

Fonte: Coluna de Márcia Peltier, que achou isso é a prova de que "o jazz se universalizou em excesso ou o mundo pirou". Boba, né?
Depois que vi o filme desse garoto, Karim Aïnouz , fiquei na dúvida. Qual é o Madame Satã mais fictício? O dele ou o que inventei ao longo desses anos todos? Depois da famosa entrevista no Pasquim, Satã e eu ficamos amigos e foi aí que, garante o Millôr, minha mente doentia criou um personagem que não tinha nada a ver com aquele porteiro de randevu da Lapa, malandro pé-de-chinelo, analfabeto e boiola. Nessa época eu morava na Rua Taylor, num balança-mas-não-cai que tinha uns duzentos conjugados.

Este é apenas o primeiro parágrafo. Mais motivos para amar o Jaguar e atiçar a vontade de ver Madame Satã (que ganhou no sábado o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema Ibero-Americano de Huelva, na Espanha), aqui.
No blood for oil
Boicote aos discos com proteção anti-cópia


Na lista negra:

* Longo Caminho do Paralamas do Sucesso;
* Exaltasamba ao Vivo;
* Qu4tro do Natiruts;
* e Tribalistas de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown

Saiba todos os detalhes de porque você não deve comprar estes CDs lendo o este artigo.




Mais uma solicitação que chega através da lista Doadores de Vida. Só esta aqui porque sei que é verdadeira, viu?

Cristiana Graça Couto é praticante de vôo livre. Mãe de dois filhos, com uma família linda , se deparou com uma leucemia que tem consumido as suas forças, e necessita de doação de sangue, que pode salvar-lhe a vida.

Ela está internada na Clinica Bambina assistida pelo Dr. Daniel Taback e precisa urgentemente de:

Hemácias: Sangue tipo A - ou O-
Plaquetas: Sangue tipo A+ ou A- ou O+ ou O-

Ao procurar qualquer um destes bancos de sangue, não se esqueçam de avisar que se trata de uma doação personalizada.

Ela tem 33 anos, precisando de pessoas como você, boas de saúde e de coração

Local para Doação de Plaquetas : Rua Riachuelo 43 - 3.º andar
Telefone 21 2509-2727 - Falar com Wilma

Local para Doação Hemácias: CERUM , Rua Conde de Irajá 429
Telefone 21 2266-5098
Beatriz Gorentsin escreveu para o Daniel Estill, que é o administrador da lista Doadores de Vida da qual participo, contando sobre o surgimento de uma nova ONG.

Bia é filha de uma portadora de Hepatite C que está na fila do transplante de fígado. A previsão é de 1 ano a 1 ano e meio de espera. Ao entrar em contato com a equipe do Hospital do Fundão que coordena o programa, percebeu o quanto a equipe é engajada e compentente, no entanto as condições do sistema de saúde não são ideais. Cabe ressaltar que o Hospital do Fundão é o único do Brasil que realiza todos os tipos de transplante, não se restringindo a um ou outro órgão.

Em um ato de solidariedade aos pacientes e reconhecimento ao esforço da equipe, a esposa de um paciente transplantado (ambos dentistas que também trabalham no Fundão, além de atividades particulares) acaba de fundar uma ONG, a Amigos do Transplante. Os papéis já estão assinados, mas os trâmites ainda vão demorar um pouco. É uma luta que se inicia, mas com um porvir promissor. A Amigos do Transplante conta com apoio da Viva Rio, que já treinou 50 voluntários para a Amigos do Transplante e tem estado disponível, no sentido de passar sua experiência de sucesso para que a Amigos do Transplante possa crescer.

A Amigos do Transplante tem muitas idéias e objetivos, mas por enquanto as
prioridades são:
- conscientizar e educar a população quanto à doação de órgãos e tecidos;
- treinar os médicos dos hospitais quanto à forma de preservação adequada de órgãos e tecidos, para que as escassas doações não se percam;
- prover os pacientes de medicação para os primeiros 4 meses após o transplante (períodos em que o custo para muitos é por demais elevado e acaba conduzindo a muito sofrimento e eventual rejeição do órgão e fracasso do tratamento).

Assim que a ONG estiver com a tramitação concluída, começará a fase de busca
de ajuda junto a empresas e entidades que desejem apoiar esta iniciativa. Por enquanto, o que a Amigos do Transplante está fazendo é vender camisetas, cujo logo foi criado pelo Ziraldo, por inciativa da própria ONG, para começar a arrecadar fundos para viabilizar os projetos. As camisetas vêm em 3 cores (branca, preta e cinza), em vários tamanhos para adultos (P/M/G/GG) e crianças(2 a 16 anos), a um custo de R$ 15,00 e R$ 10,00, respectivamente. Nesta época de fim de ano, costumam acontecer vários bazares, feiras e eventos esportivos, apresentações etc. e talvez você conheça alguém que organiza um deles, ou até mesmo participe de algum que você ache que há alguma chance de colocarmos as camisetas à venda pela equipe de voluntários.

Por favor entre em contato. A ONG tem também material impresso explicativo e elucidativo sobre a doença e seus objetivos, banner etc. que serão levados também. É claro que oportunidades de divulgação e venda para as camisetas depois do final do ano continuarão sendo bem vindas!!!!!!!!
Aliás, a Amigos do Transplante estará na Feira da Providência e quem for
terá oportunidade de ver as camisetas e saber mais sobre ela. Se você quiser se tornar um voluntário, ou conhecer alguém que tenha interesse em participar, entre em contato. Temos um futuro a conquistar!
Recebido por e-mail:

ÁGUIAS E GALINHAS
(Leonardo Boff )


Um camponês criou um filhotinho de águia junto com suas galinhas.

Tratava-a da mesma maneira que tratava as galinhas, de modo que ela pensasse que também era uma galinha. Dava a mesma comida jogada no chão, a mesma água num bebedouro rente ao solo, e fazia-a ciscar para complementar a alimentação, como se fosse uma galinha. E a águia passou a se portar como se galinha fosse.

Certo dia, passou por sua casa um naturalista que, vendo a águia ciscando no chão, foi falar com o camponês: "Isto não é uma galinha, é uma águia!"

O camponês retrucou:

"Agora ela não é mais uma águia, agora ela é uma galinha!"

O naturalista disse:

"Não, uma águia é sempre uma águia, vamos ver uma coisa..."

Pegou a águia, e suspendeu-a acima da cabeça e falou:

"Vamos, águia, voe!"

Mas a águia caiu pesadamente no chão.

O camponês disse:

"Viu só? Ela é galinha!"

No dia seguinte, o naturalista voltou à casa do camponês.

Inconformado, levou a águia para cima da casa e elevou-a nos braços dizendo:

"Voa, você é uma águia, assuma sua natureza!"

A águia contemplou a imensidão do espaço desconhecido, e viu lá embaixo as galinhas ciscando e comendo. Ao invés de voar para o alto como esperava o naturalista, foi disputar os grãos jogados no chão, junto com as galinhas.

Então o camponês disse:

"Não adianta. Eu não lhe falei que ela agora era uma galinha?!"

O naturalista disse:

"Amanhã, veremos..."

No dia seguinte, logo cedinho, eles subiram até o alto de uma montanha. O naturalista levantou a águia e disse:

"Águia, veja este horizonte, veja o sol lá em cima e os campos verdes lá em baixo, veja, todas estas nuvens podem ser suas. Desperte para sua natureza, e voe como águia que é..."

Quando a luz do sol penetrou nas retinas da águia, ela começou a ver tudo aquilo e foi ficando maravilhada com a beleza das coisas que nunca tinha visto. De início, ficou um pouco confusa, sem entender o porquê de ter ficado tanto tempo alienada. Mas a luz do sol e o espaço infinito fizeram com que ela sentisse seu sangue de águia correr nas veias. Então, perfilou devagar suas asas e partiu num vôo lindo, até que desapareceu no horizonte azul.


Muitas vezes, criam as pessoas como se fossem galinhas; porém, elas são águias.

Por isso, todos podemos voar, se quisermos. Voe cada vez mais alto, não se contente com os grãos que lhe jogam para ciscar. Nós somos águias, não temos que agir como galinhas, como querem que a gente seja. Pois, com uma mentalidade de galinha, fica mais fácil controlar as pessoas, elas abaixam a cabeça para tudo, com medo.

Conduza sua vida de cabeça erguida, respeitando os outros, sim, mas com MEDO, nunca!

17.11.02

Sou uma menina mimada. Se me contrariar, eu fico doente. Aí, é só me dar uma caixa de bombons que eu volto a sorrir e fazer tudinho que você quer.

Não, esta não sou eu. Mesmo depois de muito tempo sob a batuta de um encantador de cavalos, você pode puxar as rédeas o quanto quiser que vou continuar dando coices.

É melhor ser um dragão cuspidor de fogo do que uma pobre heroína romântica vítima e agonizante.

Sou uma mulher que gosta de Almodóvar, de David Lynch, de Woddy Allen. A garotinha que gosta de idiotices púberes e adocicadas só existe dentro da sua cabeça, na sua fantasia. Se você ainda não reparou, só tenho a lamentar.

Além disso, é bom prestar atenção no tic-tac da bomba relógio. Sei que é difícil ouvir com a música tocando tão alto. Principalemnet quando é só isso que interessa ouvir. Entretanto, aconselho que fique atento às pausas. Nelas, a verdade se encontra.