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19.11.02

Mesmo sendo fã de Luis Bruñel e Salvador Dalí, achei um pouco forte a imagem de mulher em frente ao meu portão pescando. Ela tinha um vidrinho de maionese em uma das mãos e com a outra, incentivada pelos dois filhos pequenos, coletava peixes que depositava no tal recipiente.

Pouco mais de meio-dia. A manhã já foi embora, e as donas de casa, porteiros e faxineiros dedicados já terminaram sua tarefa de limpeza, mas algumas marcas da tempestade apavorante da madrugada e da conseqüente enchente ainda estão por todo lado. Em alguns cantos de rua a lama acumulada é exposta ao mormaço, transformando-se em poeirão. Defronte aos estabelecimentos comerciais fadados ao fracasso, sacos plásticos e galhos sinalizam, agarrados a postes e orelhões, a altura que a água alcançou. Uma mocinha que parece ter recebido o carro de presente do pai por ter passado no vestibular faz cara de nojo para o lixo aglomerado às rodas de seu carro e resolve que a própria rolagem vai tratar de limpá-las, poupando assim suas mãos manicuradas de tão repugnante trabalho e garantindo emprego para os garis que terão que ir limpando o rastro de seu veículo. O barulho do carro quando arranca é horripilante - parece que há um gato se afogando - e a água ainda acumulada nas entranhas do carro transforma-se em vapor e sai por todos os cantos.

Cheiros, muitos cheiros.

Meu filho de sete anos me explica que tudo isto aqui era um charco antigamente e que Tijuca quer dizer pântano em tupi-guarani. Acho que eu mesma contei isso a ele em outra ocasião ou talvez tenha lido em algum trabalho que ele trouxe da escola.

E enquanto não há um plano para resolver este problema centenário, uma mulher recolhe o fruto de sua pescaria de asfalto em um pote de Hellmann's.

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