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6.6.03

Fato 1: Há alguns anos, meu digníssimo esposo apresentou um projeto que acabou não se concretizando a um conhecido e recentemente morto produtor musical.

Fato 2: Precisamente, ontem, ligaram para meu amo e senhor para tratar, depois de muitas ida e vindas, de assuntos referentes ao tal projeto.

Fato 3: Hoje vi um pequeno vulto branco passeando pelo chão da casa. Acudi. Era um envelope com carimbo de postagem de 1995, endereçado ao meu amado, idolatrado, salve-salve. Perguntei a mim mesma de onde teria saído envelope tão sujo, velho e amassado para ficar flanando pela casa. Ainda mais vazio. Verifico o remetente: Almir Chediak.

Ui!

5.6.03



LOKUA KANZA EM CONCERTO
Participação especial:
VANESSA DA MATA
Hoje - 05 de junho
às 21 horas
SESC Vila Mariana
Rua Pelotas, 141
Informações: (11)50 80 30 00



Poderemos rever a voz magnífica que soube seduzir tanto o público brasileiro quanto vários de nossos artistas nas suas precedentes passagens por aqui.

Nascido na República Democrática do Congo ( ex Zaire ) aprendeu a cantar em coros de igreja e tocando guitarra nos conjuntos de rumba do Zaire, mora atualmente na França onde produz seus discos.

Cantando em francês ou em lingala, com um tom confidencial, discreto e natural, cheio de sensibilidade, o trabalho de LOKUA KANZA constitui uma profunda reformulação da canção africana.


TURNÊ PELO BRASIL:

4 e 5 São Paulo - SESC Vila Mariana
7 Vitória (Teatro UFES)
9 Rio de Janeiro (Teatro Gloria)
13 João Pessoa
14 Salvador (Teatro da Aliança Francesa)
16 e 17 Brasília (Teatro da Caixa Econômica)

3.6.03

E para não pensarem mal de mim, conto outra história:

X DO PROBLEMA
(Noel Rosa)

Nasci no Estácio
Eu fui educada na roda de bamba
Eu fui diplomada na escola de samba
Sou independente, conforme se vê

Nasci no Estácio
O samba é a corda, e eu sou a caçamba
E não acredito que haja muamba que possa fazer
Eu gostar de você

Eu sou diretora da Escola de Estácio de Sá
E felicidade maior nesse mundo não há
Já fui convidada para ser estrela do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é
O X do problema

Você tem vontade
Que eu abandone o Largo do Estácio
Para ser a rainha de um grande palácio
E dar um banquete um vez por semana

Nasci no Estácio
Não posso mudar minha massa de sangue
Você crer que palmeira do mangue
Não vive na areia de Copacabana

Eu sou diretora ...

Porque acho que pra tudo - ou quase - há hora:

Volta
(Lupiscínio Rodrigues)

Quantas vezes não durmo
A rolar-me na cama
A sentir tantas coisas
Que a gente não pode explicar
Quando ama

O calor das cobertas
Não me aquece direito
Não há nada no mundo
Que possa afastar
Esse frio do meu peito

Volta
Vem viver outra vez ao meu lado
Não consigo dormir sem teu braço
Pois meu corpo está acostumado.


Tú Me Acostumbraste

Tú me acostumbraste
a todas esas cosas,
y tú me enseñaste
que son maravillosas.

Sutil llegaste a mi como una tentación
llenando de ansiedad mi corazón.

Yo no comprendía cómo se quería
en tu mundo raro y por ti aprendí.
Por eso me pregunto al ver que me olvidaste
porque no me enseñaste como se vive sin ti.

Por eso me pregunto al ver que me olvidaste
porque no me enseñaste como se vive sin ti
porque no me enseñaste como se vive sin ti
porque no me enseñaste como se vive sin ti.

Tu me acostumbraste

Tú me acostumbraste
a todas esas cosas,
y tú me enseñaste
que son maravillosas.

Sutil llegaste a mi como una tentación
llenando de ansiedad mi corazón.

Yo no comprendía cómo se quería
en tu mundo raro y por ti aprendí.
Por eso me pregunto al ver que me olvidaste
porque no me enseñaste como se vive sin ti.

Por eso me pregunto al ver que me olvidaste
porque no me enseñaste como se vive sin ti
porque no me enseñaste como se vive sin ti
porque no me enseñaste como se vive sin ti


Eu ainda era muito pequena. Só lembro que, sim, tínhamos Ben (ainda sem jor) em casa, mas o outro era visto com certo desprezo. O outro era deixado para o pessoal sem opção de lazer nos finais de semana, para os bailes de subúrbio, para a plebe. E nunca ouvi o outro com atenção. Tenho agora, burra velha, uma música dele numa coletânea e uma dúvida:

Bebeto estava para Benjor assim como Vercilo está para Djavan?
Eu quero, preciso, não posso viver sem:


Toda saída é entrada para outra coisa.
(Tom Stoppard)

2.6.03

O RIO DO MEU TEMPO
(Heloisa Seixas)

O Rio do meu tempo tinha cor e luz e cheiros, como em lugar algum. Tinha manhãs de outono em que o sol vencia o ar frio e tocava a pele devagar, numa carícia. Tinha também tardes de primavera, em que floriam os espinheiros das praças, espalhando na atmosfera um cheiro de jasmim. Tinha buganvílias, flamboyants e amendoeiras. E coqueiros enfileirados junto à orla, cujas palmas delicadas, mexidas pela brisa, se recortavam diante do horizonte lilás, como um cenário de filme. O Rio do meu tempo tinha montanhas, cadeias e mais cadeias de montanhas esbatendo-se em degradê pela paisagem afora e ainda um pôr do sol que no verão deixava um rastro de cobre na areia molhada, transformando em silhuetas os retardatários das praias, que se deixavam ficar junto às ondas até a última réstia de luz. Ah, e tinha mar, um mar enorme no Rio do meu tempo.

O Rio do meu tempo tinha também sons, murmúrios, batuques. Choros e sambas em velhos casarões, burburinhos sem fim nas madrugadas sob os Arcos, risadas nas portas dos botequins, onde os embates sobre futebol tinham sabor de cerveja, de fritura e churrasquinho. O Rio do meu tempo tinha a nova Bossa, que era mais que Nova e reinava em templos com nome de maestro, de sons modernos ou finas misturas. Música, música, muita música - é o que tinha o Rio do meu tempo. Sem falar no carnaval, porque aí já é covardia. O Rio do meu tempo sabia ser espalhafatoso, quando fazia de sua ópera popular um milagre gigantesco, com dezenas de milhares de atores em ação. Ou ainda quando deixava escoar pelas ruas uns rios brancos, feitos não de água mas de gente, para saudar na praia o novo ano. Mas a cidade sabia também ser acolhedora e mansa, envolvendo quem a amasse em pequenos refúgios, em seus cafés, em suas livrarias. Eram coloridas e animadas as livrarias do Rio, e nelas nos deixávamos ficar por horas e horas, folheando os livros sem pressa, conversando nas mesas de seus cafés, encontrando amigos.

Ah, como era bom o Rio do meu tempo.

É claro que havia, também, problemas. Corrupção, drogas, violência. Muita violência. Mas ainda assim o Rio do meu tempo era maravilhoso. E nós não podíamos deixar que as notícias ruins tomassem todo o espaço, não podíamos deixar que o pânico crescesse e gerasse mais pânico, numa escalada sem fim. Sabíamos bem que éramos uma caixa de ressonância, tudo o que acontecia em nossa cidade repercutia mais. Precisávamos fazer alguma coisa, mostrar a nós mesmos nossos encantos, para nunca esquecê-los. Dizê-los em voz alta como a recitar um mantra, com o qual ganharíamos força para vencer o medo. E porque era tempo - sempre seria - de salvar aquela cidade feita de beleza e pavor.

Era assim, no Rio do meu tempo - esse tempo chamado agora.

A moça que trabalha como diarista aqui em casa está para ter bebê ainda este mês. Para garantir que eu não fique ao deus-dará e que sua vaga vai estar aqui quando ela estiver pronta para voltar ao batente, sua irmã será sua substituta. Hoje vieram as duas para que eu conhecesse e conversasse com a doméstica reserva, uma ensinasse o serviço a outra e para que a transição fosse tranqüila.

Passava pouco das nove da manhã. Com exceção do moleque, que teve um final de semana de arromba para comemorar o aniversário e ainda dormia, a casa seguia em ritmo acelerado. De repente, ele aparece na porta do meu quarto, pijama e cara amassados e meio tortos ainda. Estava lívido, olhos arregalados, expressão de total desespero:

- Mamãe, me ajude, por favor. Estou ficando louco. Estou vendo coisas.
- O que foi que você viu, meu filho?
- Vi duas jussaras limpando a sala.
A cenografia da violência na capital que é internacionalmente símbolo do País tem mais visibilidade, ressalta ele [coronel José Vicente da Silva Filho]. "Mesmo um crime que não tem a ver com o tráfico é tratado de um jeito que acaba dando a impressão de que a cidade está contaminada, dominada. O conjunto se torna até meio teatral devido às ações executadas pelos traficantes, que acabam reforçando esta situação", analisa Vicente.

Para o ex-secretário, a quantidade de assaltos e mortes não difere de centros urbanos como São Paulo e Vitória. "A cobertura é injusta para
o Rio na proporção do que acontece em outras capitais. Está havendo uma espécie de demonização. A situação no Rio é grave, como é grave em São Paulo e em outras cidades."


***


A juíza aposentada e deputada federal Denise Frossard (PSDB-RJ) acredita que o crime organizado tem tudo a ver com a violência do cotidiano. "Ao contrário do que se diz, não é um poder paralelo, antes fosse. É um poder transversal. Há um momento em que essa criminalidade cruza com o Estado constitucional pela corrupção. Esse mau exemplo passa para toda a sociedade", acredita Denise. "Com esse desarranjo no andar de cima, a base agrega o valor da impunidade", diz. O juiz Wálter Maierovitch, ex-secretário Nacional Antidrogas e presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais, aponta que a chave do enigma passa por abrir a "caixa preta" das polícias. Os níveis de violência no Brasil são comparáveis aos de zonas de guerra ou à situação em Israel e nos territórios palestinos. É o que diz o último relatório da Anistia Internacional, espécie de guardiã dos direitos humanos no planeta. De acordo com o relatório, entre janeiro e outubro de 2002, 703 pessoas foram mortas pela polícia em São Paulo.


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