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19.12.03

A FESTA


Que maravilha, né? Ninguém está morrendo nas filas dos hospitais estaduais por falta de verba para a saúde, de medicamentos e de profissionias. O quê? Isso ainda está acontecendo?

Mas pelo menos as escolas do estado estão com os professores satisfeitos e em número adequado para todas as disciplinas, as turmas tem o número recomendado de alunos e a educação funciona em patamares elevados, pois não?
Como não? Não é assim?

Ah, eles mostraram a nova frota de carros da PM. Imagina se o povo vai se importar que as viaturas estacionadas irregularmente em torno do Maior do Mundo mais o afluxo das caravanas fretadas pelos políticos do interior e dos subúrbios mais distantes tenham dado um nó no trânsito já tumultuado de fim de tarde às véspera de Natal. Agora a polícia tem carros adequados para agir nos pontos mais violentos da cidade e... O que você quer dizer com "os carros não são blindados" e "aquele tipo de veículo não consegue trafegar nas vielas das favelas"?

Então o que foi aquela festa ontem no Maracanãzinho? Ah, prestação de contas de um ano de governo do casal campista. E as contas bateram, o orçamento fechou direitinho? Como não houve menção a nenhum número? Mas que prestação de contas é essa, gente?

Ainda bem que valeu a pena o dinheirão que a governadora gastou com publicidade em jornais, rádio e televisão para anunciar que paga o décimo terceiro dos funcionários estaduais. Todo mundo recebeu seu dinheirinho que todo empregador tem a obrigação de pagar e não é favor nenhum, né? Hein!? O que você está me dizendo? Os servidores estão recebendo cartas dos bancos em casa dizendo que este dinheiro é um adiantamento deles ao governo do estado e se D. Garotinha não tiver acertado com eles até o dia 5 de janeiro, os bancos vão debitar o valor das contas dos funcionários públicos sem reajustes desde Deus sabe quando?

Mas você falando assim desse jeito até parece que a festa ontem foi uma palhaçada, uma sem-vergonhice sem tamanho, uma canalhice comandada por um grupo de uma desfaçatez sem igual.

Que coisa!

12.12.03

Tendo a respeitar as coincidências num fervor quase religioso. Quando alguma coisa começa a repetir-se, um tema torna-se recorrente em minha vida, costumo pensar que algo quer me chamar a atenção para aquilo. Nunca perdi nada com isso, nem tive motivos para me arrepender. Portanto continuo seguindo faro e instintos.

Uma das minhas primeiras professoras costumava brincar com a minha mãe, que trabalhava na mesma escola onde eu estudava, dizendo que eu tinha sangue azul. Ela referia-se ao meu narizinho empinado, que, ao que tudo indica, pela precocidade do comentário da mestra, é inato. Foi mais ou menos nessa época que tive o primeiro problema por causa dele, o nariz.

Fui uma criança quieta, muito mais de prestar atenção do que de falar. Na escola, conseguia ser ainda mais silenciosa, respondendo apenas laconicamente o que me era perguntado. E um dia a professora perguntou qual era a profissão do meu pai e onde ele trabalhava. Eu respondi que ele era médico de bichos e que estava trabalhando fora do país. Naquele época, viagens ao exterior não eram comuns como hoje e eu estudava em escola pública, onde pouquíssimas crianças eram filhas de "doutor". E, aos 5 anos, ainda não tinham me ensinado o que significava a palavra inveja.

Um menino levantou de sua carteira gritando: "Mentira, sua mentirosa, mentira!"

Ele empunhava um lápis de ponta recém-afiada como Anthony Perkins empunhava a faca na cena do chuveiro em Psicose. Não me acudisse o reflexo e hoje talvez fosse cega de um olho. A ponta do lápis cravou-se na palma da minha mão e quebrou. Eu, que sempre fui fraca para cenas de sangue, fui carregada pelas escadas, gotejando até a secretaria.

Desde então, por mais discreta que seja, vez ou outra desperto este tipo de fúria. Pessoas bem-resolvidas, com a auto-estima, serotonina e a endorfina em dia costumam ser imunes a este meu talento para involuntariamente (e às vezes deliberadamente, como nesta frase) excitar vis instintos nos medíocres.

Uma amiga me disse ainda outro dia que eu deveria evitar fazer coisas que mexessem com a invídia. Respondi pra ela que era impossível, a não ser que eu deixasse de ser eu. Naquela sala de aula, não estava exultante, mas muito triste porque meu pai estava longe. Entretanto, o invejoso não vê as coisas como são. Ele enxerga as coisas pelas lentes das próprias comparações, que sempre dizem que ele está em desvantagem e que portanto houve uma injustiça cometida contra ele que precisa ser reparada. E a realidade não tem a mínima importância.

Alguns acham que inveja é o simples desejo de cópia. Não é. Isso seria cobiça. Inveja é querer que o outro não tenha, é o desejo de destruição. Mas como ele se acha inferior, raramente tem a coragem e a ausência de máscara do meu coleguinha. Sua arma não é um lápis. São indiretas, fofocas, maledicências, sabotagem, calúnia...

Todavia, apesar da cicatriz na minha mão direita, graças às suas viagens e pesquisas por toda América Latina, meu pai tornou-se um dos maiores especialistas brasileiros em febre aftosa e foi um dos responsáveis por sua erradicação no nosso país (com recentes e raros focos); cresci e sou eu, com todos os meus inúmeros defeitos e algumas qualidades apreciáveis, gosto de crer. Os cães ladram e a caravana passa. Ah, sim. Estou me gabando do meu pai agora. Sinto muito sua falta desde que ele passou para outro plano espiritual. E toda vez que sou obrigada a recordar de episódios como este, sei que não é coincidência: tenho uma missão e enquanto ela não for cumprida vou precisar ser lembrada dela.

Voltando à cópia, um amigo alerta para as diversas cópias de um texto que ele escreveu e que é republicado pela grande rede nem sempre com os devidos créditos. Como fazia muito tempo que não olhava o que anda rolando por aí de meu, fui brincar de Google. E eis que descubro, pesquisando meu nome e sobrenome, que uma antepassada casou-se com um barão.

Minha professora não estava tão errada em sua brincadeira, afinal.

(Gente sadia não vai ver sub-textos neste post e pode até achar divertida, como eu achei, esta história.)

9.12.03

UM DIA BEM SUCEDIDO


Barbara De Angelis, em seu livro
Secrets About Life Every Woman Should Know, diz que nosso dia-a-dia pode ser mais bem-sucedido e nós, mais felizes. Basta entendermos que o sucesso depende mais de nós do que das coisas que nos acontecem.

De acordo com ela, um dia bem-sucedido é aquele em que conseguimos pelo menos um adas conquistas abaixo:

Aprendemos pelo menos uma coisa nova a respeito de nós mesmos.

Conseguimos nos relacionar melhor com os outros.

Somos mais pacientes e temos mais compaixão sobre alguma coisa ou sobre outra pessoa.

Ganhamos um pouco mais de entendimento sobre alguma coisa ou sobre outra pessoa.

Resistimos reincidir em um padrão antigo e destrutivo de comportamento, ou de pensamento, e escolhemos um novo padrão.

Somos amáveis com os outros.

Conseguimos nos amar, mesmo não fazendo tudo com perfeição.

Somos gratos pelo dom da vida e pela oportunidade de aprender e crescer.

Vista desse ângulo, a vida passa a ser mais agradável e feliz. Não teremos mais dias bons ou dias ruins, mas sim, dias nos quais aprendemos mais ou menos, dias nos quais crescemos mais ou menos. Tudo passa a ser um aprendizado. Eu acredito que o verdadeiro gênio é aquela que consegue conquistar a felicidade, não importando o que a vida tenha lhe oferecido.

(Ômar Souki)

5.12.03

Ele não usa luvas, mas só se veste de branco e azul.
Não era negro e virou branco, mas estica o cabelo até não mais poder.
Não come criancinha, mas faz todas as refeições com um prato extra na mesa como se a falecida esposa ainda estivesse ali com ele.
Não é do pop, mas também é rei.
Por essas e muitas outras, pergunto: Roberto Carlos é ou não o Michael Jackson brasileiro?

E não sei se é essa proximidade com o universo dele, afinal os shows do final de semana serão nas minha barbas (se eu as tivesse), mas a verdade é que tenho estado atenta às doideiras que me cercam.

Gente que ao invés de agradecer presentes, passa uma descompostura. Tem aqueles que ligam depois do sujeito deixar um desejo de feliz aniversário na secretária eletrônica deles pedindo pra não lige no próximo ano, porque detestam aquele monte de mensagens. Os que laboriosamente construíram uma vida desastrosa só para depois tentar infernizar a vida dos outros com pitis, acusações e reclamações, mesmo esses outros nem estivessem lá quando eles enfiaram os pés pelas mãos. O povinho que diz sinceramente preocupado: "Se eu fosse você tomava cuidado. Sua vida anda muito estável e feliz, viu?" Tem de tudo.

Por isso, mesmo invocando vez ou outra aquela que o Rei se recusa a cantar hoje em dia - Quero que Vá Tudo pro Inferno - estou com Lenine, meu caro interlocutor, e não abro:

"Normal só tem você e eu."

3.12.03

Papagaio come milho, periquito leva a fama. Mas, em compensação, em rio que tem piranha, jacaré nada de costas. Isso porque gato escaldado sente medo de água fria.

Deixa estar, jacaré, que a lagoa vai secar.
DOE SANGUE!


Não pode doar:

* Gripe ou febre
* Tratamento dentário nas últimas 72 horas
* Cirurgia de grande porte nos últimos 6 meses
* Gravidez ou amamentação
* Parto ou aborto nos últimos 3 meses
* Hepatite após os 10 anos de idade
* Doença de Chagas ou Sífilis
* Malária nos últimos 3 anos
* Epilepsia e doenças neurológicas em geral
* Diabetes, Hipertireoidismo, Hanseníase, Doenças Cardíacas e outras doenças crônicas
* Exposição ao risco de AIDS
* Transfusão se sangue no último ano

Pode doar:

* Estar em boas condições de saúde
* Ter entre 18 e 65 anos
* Ter 50 Kg ou mais

No dia da coleta não fazer jejum e levar documento de identidade com foto válido em todo o território nacional.

Menstruação não é contra-indicação para doeção.

28.11.03

Recebido por e-mail:

Falando sobre conflitos de gerações, o médico inglês Ronald Gibson começou uma conferência citando quatro frases:

1) "Nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem a seus pais e são simplesmente maus."

2) "Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque essa juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível."

3) "Nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe."

4) "Essa juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Eles jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura."

Após ter lido as quatro citações, ficou muito satisfeito com a aprovação que os espectadores davam às frases. Então, revelou a origem delas:

A primeira é de Sócrates (470-399 a.C.)
A segunda é de Hesíodo (720 a.C.)
A terceira é de um sacerdote do ano 2000 a.C.
E a quarta estava escrita em um vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilônia e tem mais de 4000 anos de existência.

Embora estejam absolutamente adequadas aos jovens dos dias de hoje, vemos que nada mudou desde então.

27.11.03

Minha irmã caçula trabalha com este grupo distribuindo mantimentos, roupas e brinquedos para famílias cadastradas no Morro do Sarapuí (em Bangu, aqui mesmo no Rio) no dia de Natal. A gente sempre reclama porque ela se recolhe logo depois da ceia, mas fica muito feliz porque sabe que ela vai subir o morro cedinho no dia do aniversário dO Cara mais importante que já pisou neste mundo, levando alguma esperança para quem tem tão pouquinho.

Sou daquelas bobas que se enchem de uma luzinha boa dentro do peito nesta época da ano. Adoro ser bobona, sabe? Sinto saudade dos membros queridos da família que já se foram, mas isso não é motivo para que eu ignore o brilho nos olhos do meu filho e dos meus sobrinhos, todo o carinho que envolve meu clã, o tanto que temos para agradecer e o tão pouco que temos a pedir.

Além de boba, também não sou de me sentir culpada pelas desgraças do mundo. Tento fazer minha parte, ajudar como posso. Acabo de falar com minha irmã. Este ano, ela já conseguiu todos os padrinhos de que precisava para as crianças (cada padrinho envia para uma criança cadastrada um traje simples completo e um brinquedo adequado à sua idade), mas ainda estão recolhendo os alimentos não-perecíveis para as cestas básicas até 13 de dezembro.

É só uma idéia. Meu e-mail está à disposição. E você já tem o endereço deles.

25.11.03

Quando chega dia 15 de outubro, começo a me preocupar. É a contagem regressiva para o final do ano. Deste dia até o dia 15 de novembro, tento resolver e antecipar todas as tarefas que podem embolar naquele período tão lindo e tão estressante do final de ano. Raramente consigo.

O volume de trabalho costuma aumentar substancialmente (não estou reclamando não, viu, Papai do Céu?), tem as compras, muitas festas, zilhões de atividades imperativas que aparecem do nada.

Consegui resolver parcialmente o problema das compras. Já tem muita coisa ajeitada. Hoje devo montar a árvore de Natal com o pimpolho. Preciso definir como estar presente em 5 eventos praticamente simultâneos e importantíssimos pessoal e/ou profissionalmente. Até o final da semana, pretendo entregar um projeto.

Tic, tic, tic, vou fazendo em minha agenda. Só uso a de papel desde que o herdeiro ainda bebê derrubou a eletrônica e mandou para o quinto dos infernos todos os apontamentos: compromissos, dados de clientes e fornecedores, aniversários, tudo, tudo, tudinho... Por isso sou um ser do meu tempo que olha com certa desconfiança para as suas maravilhas. Como dizem (ou diziam) na vinheta dos Jetsons no Cartoon Network: "Tecnologia é ótimo. Quando funciona."

Estou cultivando a arruda que meu filho trouxe em sementes da escola. Oportuníssimo. O vasinho fica ao lado do de trevo de quatro folhas. Talvez tenha valido um papo com a Fer sobre plantas e ter relido este ano O Menino do Dedo Verde.

Este ano que vai acabando foi bem duro aparentemente não só pra mim. Eu o estou encarando com um período de árdua aração, adubagem e semeadura.

21.11.03

Esta eu ia colocar lá no Levanta Rio, mas o Blogger Brasil está esquisito desde ontem. Primeiro estava em manutenção, agora diz que está sobrecarregado. Bom, vou colocar por aqui mesmo e quando der levo pra lá:

"Ninguém jamais se tornou universal sem conhecer e amar a própria aldeia."
(Dostoiévski)

14.11.03

Tambores é o Jornal da minha amadinha, a Nana

Se você é leitor:

O que você gostaria de ler num jornal sobre música brasileira? Matérias opinativas sérias? Abordagem tanto de artistas fora da mídia, como de artistas novos, além de artistas populares? Espaço à música independente? Matérias falando não apenas dos célebres festivais dos anos 60, mas também dos festivais regionais contemporâneos?

Em outras palavras, se você está cheio das discussões sobre o lado "Caras" dos artistas, e quer saber mais sobre a música em si, o jornal que você gostaria de ler já existe.

É o TAMBORES. Para todos aqueles que gostam da boa música. Boa música que pode ser Tom Jobim, mas pode ser também Simone Guimarães. Que pode ser Edu Lobo, mas pode ser também Rafael Altério. Que pode ser Cássia Eller, mas pode ser também Sérgio Santos. Que pode ser Herbert Vianna, mas pode ser também Vander Lee.

Assine Tambores, e leia o que você quer ler.

Se você tem o que anunciar:

Sabe aquele veículo que você estava procurando para anunciar o seu produto? Ele já está no mercado, ainda novinho em folha...

O jornal TAMBORES tem como leitores gente da música, dos profissionais aos simpatizantes. Gente que compra CDs e DVDs, que vai aos shows. E gente que faz música, que produz, que canta, que toca ... gente, enfim, que potencialmente vai estar interessado no anúncio de projetos artísticos, de novas produções, de espetáculos.
Exatamente o que você tem para anunciar.

Criado e editado por gente com experiência na área, TAMBORES trará a cada edição matérias e entrevistas de interesse do meio musical. E com os melhores preços da praça.

Anuncie em Tambores

13.11.03

Ele está apaixonado por esta música. Preciso comprar um CD que tenha uma interpretação bem legal:

Ciranda da bailarina

Edu Lobo - Chico Buarque
1982

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem

Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem

Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem

O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem

Procurando bem
Todo mundo tem...

11.11.03

Quer pagar quanto?
Que tal um tapa nas fuças do chato?
Vocês viram a matéria de capa da IstoÉ desta semana? É sobre multiplicidade das vidas, entrevida, terapia de vidas passadas, estas coisinhas sobre as quais tenho muita curiosidade.

Parece que finalmente a ciência está chegando perto do que as religiões orientais e o Kardecismo já dizem há um tempão. Como fica o povinho agnóstico, hein?

Outra notícia interessante que li outro dia era sobre os infra-sons. Eles são inaudíveis para os ouvidos humanos e são, teoricamente, causadores do medo (será que quem tem síndrome de pânico Têm mais sensibilidade aos infra-sons?) e de outras sensações como melancolia, ansiedade e tristeza (os depressivos têm ouvidos especiais?). Os pesquisadores dizem que esses sons são comuns nas igrejas, em notas musicais muito baixas produzidas pelos órgãos e ativam a espiritualidade dos fiéis. Calafrios poderiam ser causados por um infra-som.

Mas, nós K nós, longe de terremotos, tempestades, ventos sazonais e do canto gregoriano, quem produziria os infra-sons?

6.11.03

Livin' la vida loca:

* Rei Charles Stuart na prancheta
* Influenza em ataque direto ao nariz e à garganta
* Chocolate europeu de presente na semana em que tento a última e definitiva dieta rumo ao verão
* Escreva rápido 30 vezes: "Morelenbaum"
* Coisas inadiáveis de mulherzinha e de Amélia deixadas para algum momento incerto no futuro
* Check in e check out
* Onde está a carteira de vacinação?
* Boletim, cadastro, relatório
* Terceira conta de e-mail
* Gente nova, gente velha
* Blog surdo-mudo

4.11.03

Você já foi à Bahia, nego? Não, então vá.

Eu fui.

De carona numa promoção, numa conspiração favorável dos deuses e na insistência dele para que eu apertasse aquele botãozinho do "F" por uns dias.

E voltei da cor do bronze, com algum excesso de bagagem na região subcutânea (eu disse cutânea) e a alma prontinha para o desespero de final de ano.

E por falar nisso, é hora de voltar ao batente, mesmo com a cabeça no acarajé da Cira do Rio Vermelho, na vista do quarto do hotel, na moqueca de siri mole, naquelas belezuras e gostosuras todas que a gente mal deixa e morre de saudade.

Mas antes, se não conhece (como eu não conhecia) aprenda mais uma, se já conhecia, desculpa o mico aê, viu?

Da boca de um representante local do tipo chato e insistente depois no enésimo não: "Calma! Baiano molesta, mas não seqüestra."
De cara nova.
No ritmo de Celebridade:

- Como é o nome do pai da Malu Mader?
- Malu Father.

- O do cachorro da Malu Mader?
- Malucão.

- E o gato?
- Malucat.

3.11.03

Recebido por e-mail:

A LENDA

Há muito tempo em certa tribo, era costume que os rapazes que atingiam idade própria e aspiravam a ser consagrados guerreiros se submetessem a uma dura prova. Próximo as aldeias haviam grandes montanhas, jamais transpostas. No dia designado para prova, partiam os candidatos e procuravam a íngreme escarpa. Ninguém conseguiria atingir os altos píncaros. Contudo, eram aprovados aqueles que demonstrassem haver subido tão alto quanto aos valentes dos anos anteriores. Para isso, deviam trazer, de volta, um ramo de certo arbusto que só crescia nas partes mais alta da montanha.

Certo ano, todos os jovens desceram trazendo orgulhosamente o ramo comprovante de sua façanha. Todos, exceto um que desceu por último. Seus camaradas estavam atônitos, pois sabiam ter ele subido mais alto que todos os demais. O chefe da tribo de fisionomia energética, fitou-o fortemente, perguntando se trazia alguma coisa que provasse ter alcançado a altura exigida.

O rapaz estendeu as mãos vazias. Mas havia um extasiante brilho em seus olhos quando serenamente explicou: "EU VI O OUTRO LADO !"


A grande lição a ser tirada dessas metafóricas palavras é que são muitas as posturas do homem diante dos desafios. Há os que buscam vencer, porque outros já venceram. São felizes apenas em cumprir as etapas, independente do que elas possam representar para suas vidas, além do valor material. Contribuem para a inércia coletiva, pois a normalidade limita o horizonte. São os escravos do ontem, do outro, do óbvio. Não criam, não ousam e não sonham.

Mas, felizmente, há os que buscam além dos padrões estabelecidos, as verdades que constituirão o amanhã. Para esses, vencer é, apenas, uma conseqüência, pois mais lhe importa vislumbrar o lado oculto das coisas e duvidar dos limites já pensados, que simplesmente repetir, para satisfazer a quem já sabe, o que cobrará amanhã como idéia própria. Deles dependerá o futuro. Criam, ousam, sonham. Que aquele JOVEM ÍNDIO GUERREIRO que existe dentro de cada um de nós, NÃO VENHA NUNCA A TRANFORMAR-SE EM MAIS UM ALGUÉM, limitando-se a buscar o ramo, sem ao menos saber o porque e para que o está fazendo!

QUE O EXTASIANTE BRILHO DOS OLHOS DO GUERREIRO da antiga lenda simbolize a
DETERMINAÇÃO de todos nós em ''EM VER O OUTRO LADO!'' Por derradeiro, o insigne George Washington, quando com tamanha lucidez, referiu: ''Alguns homens vêem as coisas como são e perguntam: por que? Eu sonho com as coisas que nunca existiram e digo: por que não?''

23.10.03

Você já ficou contrariada porque aquela loja que fechou era única que você realmente gostava naquela praça de alimentação horrorosa, daquele shopping sem qualquer tratamento acústico, cuja única grande vantagem é ficar praticamente na esquina da sua casa.

Está certo que um dos motivos para a falência é que mesmo pessoas como você, que achavam que as roupas de lá eram realmente charmosas, consideram um absurdo pagar (e não pagavam) R$1. 750,00 numa batinha com trezentas mil e noventa e dez outras exatamente iguais esperando nas araras que a próxima otária, digo, consumidora levasse e que vocês duas e mais outras trezentas mil e noventa e dez parecessem par de jarros pelas ruas da Cidade Maravilhosa. Mas você gostava mesmo era do café que tinha lá dentro do espaço privilegiado da loja, longe da algazarra da turba que freqüenta Le MacDô e cia. O cardápio era uma ótima chance de você praticar seu francês (você até andou pensando em levar um dicionário, lembra?) e seu inglês de fast food metido a besta, digo, de cozinha cosmopolita globalizada. Tinha musiquinha modernosa e você quase aposta que aquele sujeito que ficava dentro de um aquário sem água, olhando você com cara de quem pisou em alguma coisa marrom pastosa, era um deejay. O lugar muito era - desculpem não consigo outra palavra que defina melhor - cool. E cobrando 30 paus num PF, mesmo com nome gaulês, faliu, claro.

Mas você é um ser que crê, que gosta de alimentar esperanças nobres e ficou imaginando coisas lindas para aquele lugar onde, por muito tempo, viu a placa: "Em breve uma nova atração pra você".

E hoje você passa por aquela ruidosa praça de alimentação, na busca desesperada por um caixa automático que aceitasse seu humilde rachado e rejeitado cartão e vê. Não quer acreditar, mas é verdade. Toda expectativa se desfaz num átimo. Lá, onde você sonhava ter um lugar para gastar com prazer seu suado dinheirinho, onde quem sabe até uma calça 42, vestisse alguém com corpo 42, ali, você enxerga a dura realidade.

A nova atração é uma churrascaria. Mas isso não é tudo.

Ela tem estampada em sua fachada a cara de pau de uma dupla sertaneja.
Recebido em mensagem especial:

We wish you all

A Very Happy And Prosperous Diwali the festival of light.

We Hope This Brings Peace Prosperity and Happiness in Your Life



Diwali guia até a Verdade e a Luz e é celebrado por toda a Índia no Amavasya - o 15º dia da escura quinzena do mês hindu de Ashwin (Aasho) (Outubro/Novembro) todo ano. Simboliza a cultura ancestral do país que ensina a subjulgar a ignorância que domina a humanidade e bane a escuridão que traga a luz da sabedoria. Diwali, o festival da luz projeta no mundo moderno de hoje o passado da Índia e ensina a preservar os verdadeiros valores da vida.

A palavra "Diwali" é uma corruptela da palavra "Deepavali" em sânscrito. Deepa significa luz e Avali, significa seqüência. De fato, a iluminação é uma de suas maiores atrações. Todas as casas, da mais humilde à mais rica é iluminada de forma típica para dar as boas vindas a Lakshmi, a deusa da riqueza e da prosperidade. Figuras Rangoli multicoloridas, decoração floral, fogos de artifício emprestam grandeza ao festival que anuncia alegria, júbilo e felicidade no ano que chega.

Este festival é celebrado em grande escala em quase todas as regiões da Índia e é visto por muitos como a chegada do Ano Novo. Tanto as bênçãos de Lakshmi, como as de seu consorte celestial Lord Vishnu são invocadas com preces.

Diwali ou mais precisamente Deepavali é celebrado entusiasticamente por cinco dias contínuos e cada dia tem seu significado com vários mitos, lendas e crenças.

16.10.03

Percebam, meus caros, o quanto sofre uma mulher no mundo moderno.

Ontem foi dia dos professores, portanto, as crianças não tiveram aula e você, minha amiga, que providencie um jeito pra uma criança sem aula em pleno dia útil. Para as mais sortudas, que dispõem de avós de boa vontade de plantão, não chega a ser uma grande transtorno, afinal, um diazinho cuidando do futuro genético sobre a terra, aquele ser que dizem amar tanto, não vai matar ninguém. Além disso aposentadoria ou a simples continuidade de uma vida dedicada à madamice foi feita pra isso mesmo: mimar os netos. Mas avós ou boa vontade nem sempre são artigos disponíveis. E a você, companheira, que numa hora que não sabe onde estava com a cabeça, decidiu que, para o bem de todos e felicidade geral da família, ia desenvolver sua vida profissional dentro dos limites do próprio lar, conciliando vida doméstica com ganha-pão, cabe o papel de sempre: vire-se.

E daí que o seu trabalho acumule? Você tem flexibilidade de horário. Vamos parar com essa bobagem de dormir 6 horas por noite. Amanhã você acorda às 6 e corre atrás dos atrasos. E nem adianta pensar em ir deitar antes das 2, viu? Hoje você dá um descanso para a regiamente paga escola do seu filho e faz você mesmo a função que era dela de ficar com ele no horário que você tem para ganhar o dinheiro para pagá-la.

O.K. Cinema, então, que a casa não agüenta uma criança quicando sobre todos os móveis durante um dia inteiro. É preciso liberar energia ou, pelo menos, distrair. É pouco ver um filme que não te interessa nadinha. Vamos completar a alegria do moleque que é o que interessa. Convidemos um amiguinho que, também filho único, passou igualmente a manhã chuvosa trancado num apartamento acumulando carga.

Vou poupá-los dos detalhes sórdidos que incluem "o que fazer se esta sessão está lotada e só tem ingresso pra próxima quando se está num shopping com dois meninos de oito anos?". Pulo para a parte em que encontrei uma colega de sina, acompanhada da filhota. Já na fila, com nossos ingressos e pipocas nas mãos damos as duas, atônitas, de cara com isso:



Que vem a ser a foto que ilustra o cartaz do filme Amar Custa Caro (Intolerable Cruelty), estrelado pela indubitavelmente bela Catherine Zeta-Jones e George "Olhos de Travesseiro" Clooney.

Mas espera lá. Lembra do Oscar 2003, em março? Ela estava gravidíssima. Corre lá e vê se este filme é produção deste ano. É. Mas como que uma criatura consegue esta cintura num vestido justo vermelho se há pouco mais de seis meses (nem vamos contar tempo de produção, divulgação, delay para chegar ao Brasil, etc.) ela estava assim:



Então você começa a se questionar se existe mesmo um Deus e se Ele realmente ama todas as suas filhas da mesma forma. Porque se alguém em menos de seis meses consegue parir e retornar a uma cintura dessas, você, pobre mortal excluída do Olimpo hollywoodiano, deve ser uma ímpia que não merece nada.

Mas há a luz. E ela vem através de raios catódicos. Você dá um pulinho na Internet e olhando fotos do tal filme, descobre que:



Ela é linda, talentosa, rica, usa os melhores vestidos e as melhores jóias, freqüenta os melhores lugares, tem o mundo aos seus pés e um Oscar na estante, mas, recém-parida, ao contrário do que querem impigir a nós como verdade, padrão e régua, só arruma cintura de vespa e abdômen reto com muita cinta e photoshop.

15.10.03

Enquanto não consiguia reestabelecer a conexão, fui anotando os posts:


Bode expiatório


The history of "scapegoat" is based on a linguistic misunderstanding. On Yom Kippur, the ancient Hebrews would sacrifice one goat for the Lord and lead another one into the wilderness bearing the sins of the people. The ceremony is described in Leviticus, where it is said that one lot shall be cast for the Lord and one for "Azazel." Modern scholars usually interpret "Azazel" as being the name of a demon living in the desert. But ancient biblical translators thought "Azazel" referred to the goat itself, apparently confusing it with the Hebrew phrase "‘ez ’ozel," meaning "goat that departs." The mistranslation was carried through Greek and Latin into a 16th-century English translation, where the goat was rendered as "scapegoat"; that is, "goat that escapes."


***


"Conhecendo o Rio a pé: Aspectos Arquitetônicos e Urbanos da Cidade"
a partir do dia 11 de novembro próximo pela Universidade Veiga de Almeida
(campus Barra da Tijuca)


Curso de extensão universitária: "Conhecendo o Rio a pé: Aspectos Arquitetônicos e Urbanos da Cidade"
Professor: Antônio Agenor de Melo Barbosa - Arquiteto / Urbanista e Prof. de Evolução Urbana do Rio
Público-alvo: Qualquer pessoa interessada em conhecer a história urbana e arquitetônica da Cidade.
Carga horária: 25 horas/aula (15 horas em sala de aula e 10 horas em visita de campo no centro do Rio)
Investimento: R$ 140,00 (com certificado de participação emitido pela UVA)
Início do curso: dia 11 / 11 / 2003 (terça-feira) às 13:30 horas.
Local das aulas teóricas: Campus da Universidade Veiga de Almeida na Av. Felicíssimo Cardoso n. 500 em frente ao Barra Shopping na Barra da Tijuca.
Aulas externas: aos sábados, no Centro do Rio, a partir das 9:00 horas da manhã.
Inscrições: 3325 2333 / r. 113 (coordenação de extensão da UVA) com Viviane ou Rogério das 9:00 h às 21:00 horas.
Informações: extensaobarra@uva.br


13.10.03

Recebido por e-mail:

Pleasing Others

Most importantly you understood that you are the creator of your experience and that pleasing others is not what is at the heart of being the creator of your own experience. In other words, pleasing others compromises your vibrational pattern....

..You come forth with this very powerful decision that you are going to be independently aware of how you feel that you are going to line up the energy within YOU. You see, the people who have the hardest time being deliberate creators, are the people who have the most people in their lives to please.

Abraham 8/16/03 W. Los Angeles
Ele pergunta, balançando uma barra de chocolate diante do meu rosto:
- O que você faz para ganhar um Chokito?
- Te dou um beijo estalado na bochecha.
- Não... (resposta completa no final do post).





Aos 80 anos de Fernando Sabino, dia das crianças, dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, com o Teatro João Caetano completando 190 anos, o Rio de Janeiro estava sob chuva.

Uma criança, você sabe, já foi uma delas, espera ansiosamente por esse dia. E chovia. Tudo o que tínhamos planejado de antemão, literalmente por água abaixo. Mas houve um iluminado que inventou revistas e cadernos culturais nos jornais que salvam pais e mães desesperados. A palavra grátis parecia piscar para nós em neon.

Meio como convidados, meio como penetras assistimos a uma peça/espetáculo promovida pela FIA (Fundação da Infância e Adolescência), cheia de todas aquelas coisas que criança gosta: música, dança, circo, brincadeiras, umas carinhas conhecidas da TV e no final um sacão de doces. E já que tínhamos passado a manhã inteira no teatro nada melhor para um programa mais para a tarde/noite chuvosa que... mais algum tempo no teatro.

Com a palavra Fernando Bicudo:

"Terra Brasilis luta por um resgate de nossas riquíssimas raízes culturais - as mais valiosas e diversas do planeta.

Terra Brasilis é um casamento de extremos, de opostos que se unem, de clássico com moderno, de erudito com popular, de real com virtual, de passdo com futuro, que se unem no todo da imensidão da cultura de nossa gente.

Terra Brasilis é, sobretudo, um grito de amor ao Brasil, um grito de amor ao que faz a nossa grandeza: o povo brasileiro.

O brasileiro é a síntese do melhor de todas as raças, e isso se espelha nas nossas manifestações populares, de norte a sul.

Apesar de nosso passado de injustiças sociais, somos o povo mais feliz do mundo, o que melhor sabe viver, o que mais cultua seu amor à vida. Somos o povo do perdão e da esperança. Somos o país do belo.

Somos o país da música, da dança, das festas, das celebrações, da excelência da cultura.

O objetivo maior de Terra Brasilis é promover um mutirão pela cidadania brasileira e pela busca de nossas verdades.

Viva o Brasil!"


O espetáculo é belíssimo e conta do Brasil de antes do Big Bang até o futuro. Com ótima música, figurinos caprichadíssimos, coreografias algumas vezes beirando o fantástico e principalmente um amor e uma alegria que fizeram esquecer que lá fora o Rio de Janeiro não se reconhecia, apresentam lundu, maculelê, caboclinho, maracatu, coco, ciranda, xaxado, capoeira, chula, samba de roda, valsa, maxixe, chorinho, gafieira, partido-alto, mangue beat e dança de rua, entre muitos outros.



- Não. Para ganhar um chokito, você enfia a mãozita na tomadita.

10.10.03

quandoéqueseabreumaportaaberta?
(resposta no final do post)



Living de pegnoir

Quando eu era pequena, no bairro onde eu morava, o sinal da Rede Globo não chegava com nitidez. Só no final dos 70 é que colocaram uma super-antena lá no alto do que dizem ser um vulcão extinto e eu finalmente me vi livre de chuviscos e fantasmas. Antes, preferíamos a Tupi, não pela programação, mas porque conseguíamos ver o que se passava. Crianças, vocês estão diante de uma balzaquina testemunha ocular da história. Sim, eu assisti a TV Tupi.

E eu acho que foi na extinta emissora que eu vi uma cena de novela que jamais me esqueci, embora, como muitas outras memórias remotas minhas, ela viva adormecida e só desperte à força de algum estímulo do mundo presente. Não me lembro qual eram os atores, nem qual era o folhetim televisivo, mas recordo que ele era um mordomo daqueles bem caricatamente pernósticos e ela uma moça simples que acabara de casar-se com um ricaço. Os dois fizeram um trato de que ele ensinaria a ela como portar-se no novo ambiente social.

Na tal cena ela vinha esbaforida da parte íntima da casa, porque tinham avisado que havia uma visita a sua espera. O mordomo a olha com total reprovação. Ela o puxa para o canto e pergunta o que estava errado. Ele empina o nariz e responde:

- Madame, uma dama jamais vai ao living de peignoir.

Eu, que queria crescer e ser uma dama, corri para Mamãe para saber onde é que ficava aquele lugar onde nunca deveria ir. Será que era perto de casa ou na Europa, o tal Lívin Dipenhoá?


Resposta: Quando Berta bate à porta.

9.10.03

Será que a Marina Lima não tem um amigo sincero que sente com ela e diga:

- Escuta, querida, sua voz acabou, já era, babau, kaput. Pega toda essa sua musicalidade e gosto musical estupendo e concentre-se em composição, ou invista na carreira de instrumentista, ou vai produzir o trabalho de alguém. Cantar não dá mais, nega.

8.10.03

Prenhe de idéias.
Tricotando projetos.
Aguarde convite para o batizado.

1.10.03

Cara feia
Gabriel O Pensador/Liminha

Cara feia... pra mim é fome
E cara alegre é a cara de quem come
Cara feia... pra mim é fome
E cara alegre é a cara de quem come

É, não me distraí, não me distraí
Me deixa aproveitar a sensação um pouco mais
A sensação de esperança que invadiu o meu peito
Não me envergonha com esse velho preconceito
Não me atrapalha agora não, por favor
Não me apavora com as notícias do terror
O seu terror psicológico e as previsões sinistras dos seus mapas astrológicos
Não vão fazer o papai aqui fazer pipi na cama
Não sou do tipo que tem medo de sair da lama
Nós não somos covardes
E nunca é tarde pra cuidar de quem a gente ama
A gente sabe se amar, a gente sabe se amar, a gente sabe da vida

A gente sabe somar, e quer saborear a soma dividida
A gente sabe se amar, a gente sabe se amar, a gente sabe da vida
A gente sabe sonhar, e desse sonho a gente não duvida
Cara feia... pra mim é fome
E cara alegre é a cara de quem come
Cara feia... pra mim é fome
E cara alegre é a cara de quem come

E quem não mata a fome, a fome mata
Quem não mata a fome some; quem não mata a fome, a fome come
(A fome não é só um nome)
E tem também a outra fome, fora do abdômen
Cara feia... eu vi na cara de um cara que matou um homem, por causa dessa outra fome
Fome de vingança, vingança do destino
E essa cara eu já vi na cara de um menino
E os meninos assassinos vão se renovando
E vão nascendo, vão morrendo e vão matando
É que eles pensam que o crime é o único caminho
Pra chegar em qualquer tipo de comando
Mas se os meninos forem mais malandros
Vão saber que ser trabalhador não é ser otário
Um bom exemplo vem da nossa presidência
Porque lá quem tá mandando é um operário

Refrões

Não faça cara feia de barriga cheia
Não faça cara feia de barriga cheia
Não faça cara feia de barriga cheia
Nem meta a colher em cumbuca alheia
Quem deixa um pé atrás
Nunca chega na frente
Quem tem medo do futuro
Vira escravo do presente
Não me enche com essa fome de derrota
Nem me bota nesse time que defende o pessimismo
Agora eu sei, cansei da linha burra que separa, desune
E empurra todo mundo pro abismo
O caminho é mais pro alto
No mar e no sertão, na favela e no asfalto
Todo mundo sente fome, fome de futuro
Pra que pichar, se eu posso derrubar o muro?
Não é com tanque, nem com trator
Não é com ódio, nem com rancor
Não é com medo, nem com terror
Minha campanha também é paz e amor.

29.9.03

"Paulinho da Viola - Meu tempo é hoje", documentário de Izabel Jaguaribe sobre o sambista que eu só consegui ir conferir no último final de semana é simplesmente o máximo. Mais uma prova de que o Brasil faz documentários de gente grande. Além de divertido, é informativo, bonito, inteligente e comovente sem ser piegas. Tem a melhor música do mundo e a Cidade Maravilhosa no que ela tem de melhor: sua gente e seu espírito. Tem Paulinho da Viola lindo, transbordando sua dignidade, sua nobre musicalidade, sua vida entre familiares, amigos e parceiros, suas idiossincrasias... Tem Monarco, Nelson Sargento, Zeca Pagodinho, Walter Alfaiate, Cristina Buarque, Teresa Cristina e mais um monte de gente boa. Tem mais ou menos 30 músicas amarrando as saborosas histórias e depoimentos. Tem expectador aplaudindo no final da exibição porque ficou se segurando para não fazer isso durante o filme.

Se você já viu, deve estar se perguntando como é que eu ainda não sabia disso tudo. Pois é, eu estava querendo ver este filme há um tempão, mas a chance ainda não tinha aparecido. Se você ainda não viu, corre que ainda está levando lá no Museu da República. E em volta tem os jardins, tem o café, tem o teatro, tem a livraria, tem as exposições ao ar livre, tem os saraus, tem o Museu do Folclore...

28.9.03

Imperdível!
E é de graça!

O artista plástico brasileiro Vik Muniz, radicado há 20 anos em Nova York, apresenta uma série inédita de fotografias. Intitulada Retratos de revista, a série traz imagens que são reconstituição do retrato de personalidades e personagens, que ele admira e/ou convive, com pequenas pastilhas feitas de papel recortado de revistas.

O ponto de partida do artista foi a observação de retratos publicados em revista que mostram a intimidade das celebridades, ao mesmo tempo em que são essas publicações que tornam famosos quase anônimos. Vik se colocou a pergunta: como fragmentar e reconstruir a fisionomia das pessoas com pedaços de outras imagens e ainda assim mantê-las reconhecíveis? Partiu então para fotografar cada um dos seus 'heróis'. De posse dos retratos, submeteu-os, em estúdio, a um processo de ampliação com lentes que ele próprio construiu e que produzem cromos de 20 x 25 cm, com definição extraordinária. A partir daí, remontou os retratos, a mão livre, com pastilhas de páginas de revista, feitas com furador de papel. A última etapa é a foto da remontagem, enfim o formato final, em ampliações de até 230 x 180 cm, que dá a impressão de um desenho pontilhista.

(trechos retirados daqui)

Em exposição no Paço Imperial até 12 de outubro.
Deliciosa e gay em todos os sentidos, especialmente o original:

27.9.03

Para Carolzinha:

"...E agora meus ombros se retesavam não pelo que eu via, mas no afã de captar ao menos uma palavra. Palavra? Sem a mínima noção do aspecto, da estrutura, do corpo mesmo das palavras, eu não tinha como saber onde cada palavra começava ou até onde ia. Era impossível destacar uma palavra da outra, seria como pretender cortar um rio a faca. Aos meus ouvidos o húngaro poderia ser mesmo uma língua sem emendas, não constituída de palavras, mas que se desse a conhecer só por inteiro. E o avião reapareceu na pista, numa imagem distante, escura, estática, que salientava mais ainda a voz masculina da locução em off. A notícia do avião já pouco me importava, o mistério do avião era ofuscado pelo mistério do idioma que dava a notícia".

“única língua do mundo que, segundo as más línguas, o diabo respeita”.
Dizem que Cosme e Damião eram árabes e viveram na Sicília, às margens do Mediterrâneo, por volta do ano 283. Praticavam a medicina e curavam pessoas e animais, sem nunca cobrar nada.

O culto aos dois irmãos é muito antigo, registrado a partir do século 5. Contam que, em certas igrejas havia um óleo santo de São Cosme e Damião, que tinha o poder de curar doenças e dar filhos às mulheres estéreis.

Aqui no Brasil, a devoção trazida pelos portugueses misturou-se com o culto aos orixás-meninos da tradição africana. Isso gerou uma festa brasileira, que tem nas crianças os personagens principais.

Os santos mabaças são tão populares quanto Santo Antônio e São João em todo o Brasil. No dia 27 de setembro, crianças saem às ruas para pedir doces e esmolas em nome deles e, depois, as famílias aproveitam para fazer um grande almoço, servindo comida típica da data: caruru dos meninos.

No Candomblé, Cosme e Damião são conhecidos como Ibejis e são os protetores das crianças e muitas vezes aparecem com um irmão ainda menorzinho, o Idowu (Doum), que cuida das criancinhas pequenas. Além de crianças saindo às ruas pedindo doces, no candomblé elas ganham uma festa na qual são chamadas a desempenhar o papel principal. E são as primeiras a se servirem de caruru, em potes pequenos.

Quando eu era bem pequena lá nos cafundós do subúrbio, uma vizinha invejosa apontou para a nossa casa: “Ali tá dando! Ali tá dando!” Era a senha para a molecada formar uma fila diante do portão que se desmanchava em tumulto assim que alguém aparecia à porta com uma bolsa onde deveriam estar os saquinhos recheados de doces.

Mas lá em casa não havia doces a serem distribuídos. Nossa família não oferecia confeitos nem brindes no dia de São Cosme e Damião. E o número de crianças ia crescendo. Alguns garotos, já ansiosos com a espera, temendo perder outras oportunidades, iam subindo no muro, ameaçando pular para o quintal. A situação começava a ficar periclitante. A vizinha gargalhava: “Ali tá dando! Ali tá dando!”

Minha mãe pegou então um grande pote que ficava estrategicamente colocado em casa e decidiu que aquela seria a saída. De avanço, ela jogou moedas para a multidão de meninos que ocupavam nossa calçada. Eu, que naquele tempo, já sabia que dinheiro para nosso clã era sinônimo de trabalho, chorei: “Meu paizinho deu um duro danado pra ganhar esse dinheiro. Quando ele chegar, vou contar tudo.” Na hora ela apenas sorriu, mas depois Mamãe me explicou que parte daquele dinheiro ela também ajudara a ganhar e que ela estava fazendo isso para nos proteger e que ela tinha certeza de que quando eu falasse com Papai ele iria ficar satisfeito porque os moleques ficaram felizes, nós estávamos todos bem e que aquelas moedas não iam nos fazer falta, porque eles iam trabalhar mais e ganhar mais. Ela estava certa.

Hoje faz seis anos que meu pai desencarnou.

(Ilustração: "Cosme e Damião" de Hélio Siqueira)
Recebido por e-mail

Passarinho quer dançar

O Gugu quis enganar
Reportagem quis forjar
E ferrou o SBT
Tchu-tchu-tchu-tchu

Agora vai apanhar
Quem mandou ele brincar
Com o pessoal do PCC
Tchu-tchu-tchu-tchu

Audiência vai cair
Emissora vai falir
E o Gugu empobrecer
Tchu-tchu-tchu-tchu

Não adianta nem chorar
Nem a Hebe se meter
Saiu do ar

A farsa deu merda
Vão te processar
E não vai sobrar, Gugu
Nem carnê do Baú
Pra apresentar

O Gugu quis enganar
Reportagem quis forjar
E ferrou o SBT
Tchu-tchu-tchu-tchu...

21.9.03

CRISE

Domingo. Passa pouco de uma da tarde. Numa grande avenida da Zona Norte carioca separada naquele trecho em duas pistas por um rio que leva o mesmo nome, há duas poderosas churrascarias encarando-se. Diante de uma delas, uma fila colossal torna a calçada intransitável. Com satisfação e paciência, aquelas gentes esperam vagar uma mesa. Por trás do vidro fumê, a vizinha oposta exibe seu enorme salão granítico absolutamente deserto e seus funcionários importados de terras gaúchas tentam parecer ocupados e, graves, atendem a clientes inexistentes.

Quando você pensa em almoçar numa churrascaria, em que você pensa?

Tá bem, tá bem. Certo. Deixe agora de lado o mau humor. Pare de pensar em crianças correndo e berrando, em velhinhos com cara de contrariados porque foram arrastado a lugar tão inóspito por parentes sádicos, em garçons desajeitados pingando sangue de picanha malpassada em sua calça nova, em gerações que se reúnem em torno da mesa para mostrar o orgulho que sentem de sua má educação, em altíssimos decibéis e na desculpa que você vai ter que arranjar pro seu endocrinologista, pro seu personal trainer, pro seu nutricionista e pro seu analista. Pronto. Parou?

Vamos tentar de novo? Você pensa em churrascaria e pensa em carne preparada na brasa. Confere? Picanha, maminha, alcatra, lingüicinha, coraçãozinho... Pra acompanhar uma farofa, de preferência incrementada, batatinha frita, bananinha... Dizem até que alguns pervertidos aceitam quando o garçom de castigo oferece o cupim.

Acho estranho que alguém vá a este tipo de restaurante querendo um sushi. Imagina: “Mô, tô morrendo de vontade de comer um sushizinho. Vamu ali na Vaca Amarela?”

Não rola. Ou rola?

Na cabeça dos empresários do setor sim. Parece que a idéia é atender também a quem vai a churrascaria como acompanhante e não quer saber de churrasco. O problema é que todo simples mortal louco para entregar-se aos - de acordo com a moral vigente - mais vis pecados da carne, paga pela comida japonesa, pelos camarões extra grandes, pelos javalis e avestruzes em que não estava nem um pouco interessado quando combinou com a patroa de se empanturrar antes de passar o resto do dia vendo futebol na TV até fazer bico.

Então o pulo do gato da churrascaria lotada é este. Ela é uma churrascaria que vende – adivinhe! – churrasco e acompanhamentos de churrasco. Por isso cobra preço de churrascaria e não de restaurante metido a besta. Porque quem gosta de restaurante metido a besta – ou sofisticado, como prefiram meus diletos, raríssimos e preciosos leitores – simplesmente não vai a churrascarias.

O responsável pela linda, requintada e abandonada churrascaria do outro lado da rua provavelmente caiu no conto dos manuais que falam em agregar valor e que recomendam que se ofereça mais que o concorrente. Parece que muitas delas caíram nessa história que as empurrou numa espiral que as jogou para bem longe do povão que freqüenta churrascaria. Pode ser o problema da tradução. Ou pode ser que as pesquisas tenham sido feitas com pessoas de outros países. Quem sabe de outras cidades por aqui mesmo. Outro dia li uma entrevista com um desses gênios do mal. Ele inventou o conceito de que um boa pesquisa em São Paulo é representativa do Brasil. É respeitadíssimo. Ganhou uma fortuna durante um tempão só para ficar com a boca fechada.

Mas os restaurantes não são os únicos a reclamar de crise quando tem um monte de gente disposta a pagar por coisas mais com a sua cara por um preço justo.

Atenção empreendedores do setor de vestuário! Sou uma balzaquiana que ganha seu próprio dinheiro e gosta de separar (grande) parte dele para comprar roupas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o IMC (Índice de Massa Corpórea) normal está entre 18,6 e 24,9 (veja como calcular abaixo). Meu IMC é 22. E eu não encontro roupas do meu tamanho nas lojas! Tem GG – e ergo as mãos para o céu quando tem G e ele é grande mesmo – que não me cabe! Eu tenho dinheiro para comprar roupa, as lojas não querem vender nem pra mim nem pras minha amigas e ainda reclamam de crise. Ora, façam-me o favor! Vocês acham que as adolescentes tem o mesmo poder aquisitivo (e os mesmos problemas a serem resolvidos num shopping) que uma mulher madura e bem sucedida profissionalmente? Alô-ôu! Queridos que estão a um passo da bancarrota, revejam suas estratégias de marketing e o perfil de consumidor que pretendem atingir.

Será que crise não é preguiça de pensar?

***



IMC= Peso corpóreo (em kg) /o quadrado da altura (em Cm)

Por exemplo, para uma mulher de 1,60 m de altura e 54 kg, IMC= 54/ 1,60X 1,60= 21,09
Imparcialidade não é eufemismo destinado a camuflar a ausência de emoções. Trata-se da compulsiva inclinação para a busca da verdade. Seja qual for o fato, tema ou versão, exige contemplação crítica, que não se deve confundir com olhar ressentido.

Ser independente não significa ser contra todo mundo. Proliferam na fauna brasileira espécimes como o arauto da denúncia, o caçador de bandalheira, o correio de má notícia. Mas necessariamente existirão, em qualquer país e qualquer tempo, episódios animadores, homens decentes e boas novas. Até no Brasil. Mesmo nos momentos complicados.


Parece que estou me repetindo?

Mas dessa vez as palavras não são minhas. São do Augusto Nunes, na edição de hoje do JB.

19.9.03

A primeira vez que ouvi sobre Santa Maria Egipcíaca foi num livro de António Alçada Baptista chamado Os Nós e os Laços. Depois descobri que também Manuel Bandeira já havia encantado-se com sua história, literalmente incrível.

Para resumir a história, Maria Egipcíaca, natural do Egito, abandonou a casa paterna aos 12 anos de idade e se tornou pecadora escandalosa. Tinha 29 anos quando, tocada pela graça, converteu-se e fugiu para um local isolado, na Palestina, onde passou 47 anos sem ver nenhuma criatura humana e fazendo as mais austeras penitências.

Ela vivia nua no deserto, porque suas roupas rasgaram-se com o tempo e alimentava-se (por 47 anos!) de três pães que levara para lá quando de seu exílio.

A história fica ainda mais fascinante quando a gente a lê como publicada em Legenda Áurea (Vidas de Santos), de Jacopo de Varazze. Para se ter uma idéia, esse livro, uma reunião de biografias de santos, foi escrita no século XIII "com a intenção de difundir valores morais edificantes e arregimentar um maior número de fiéis para a Igreja Católica". Com a moda de as editoras distribuirem capítulos de cortesia nos balcões das livrarias, a biografia de Maria Egipcíaca acabou caindo de bandeja no meu colo. O mais interessantes são as descrições detalhadas dos pecados da santa que é freqüentemente confundida com sua colega Maria Madalena (as duas foram prostitutas e fugiram do pecado no deserto).

"Entreguei-me publicamente à libertinagem."
"Nunca me recusei a quem quer que fosse."
"Não tenho dinheiro, irmãos, mas posso entregar meu corpo como pagamento."
"Durante os primeiros dezessete anos passados neste deserto fui atormentada pelas tentações da carne."

(Legenda Áurea, Jacopo de Varazze, Companhia das Letras)



Balada de Santa Maria Egipcíaca
(Manuel Bandeira)

Santa Maria Egipcíaca seguia
Em peregrinação à terra do Senhor.

Caía o crepúsculo, e era como um triste sorriso de mártir.

Santa Maria Egipcíaca chegou
À beira de um grande rio.
Era tão longe a outra margem!
E estava junto à ribanceira,
Num barco,
Um homem de olhar duro.

Santa Maria Egipcíaca rogou:
- Leva-me ao outro lado.
Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.

O homem duro fitou-a sem dó.

Caía o crepúsculo, e era como um triste sorriso de mártir.

- Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.
Leva-me ao outro lado.

O homem duro escarneceu: - Não tens dinheiro,
Mulher, mas tens o teu corpo. Dá-me o teu corpo, e vou levar-te.

E fez um gesto. E a santa sorriu,
Na graça divina, ao gesto que ele fez.

Santa Maria Egipcíaca despiu
O manto, e entregou ao barqueiro
A santidade da sua nudez.

(Ritmo Dissoluto, Manuel Bandeira)



"No texto acima, mais do que à relação opositiva santa/prostituta, segundo a interpretação de Affonso Romano de Sant'Anna, é preciso ater-se ao sentido mais profundo da própria negação do pecado carnal. Com efeito, mesmo considerando a notícia biográfica de que Santa Maria Egipcíaca fora uma prostituta durante sua mocidade, no texto ela aparece como santa, e o corpo que ela entrega ao barqueiro não é o de uma mulher fácil, mas de uma jovem virtuosa. O verso final, a santidade da sua nudez, contém o sentido colocado no poema todo: nudez e santidade não são elementos opostos, antagônicos. Se a nudez é natural e a natureza é criação de Deus, logo a nudez é divina, santa. O pecado não está no corpo, mas na mente; não no ato, mas na intenção. A protagonista do poema, ao entregar-se sexualmente ao barqueiro, não está cometendo um pecado, mas uma obra de caridade, satisfazendo o desejo de um homem triste e abrutalhado pela solidão em que vivia. O amor verdadeiro consiste em fazer a felicidade do outro, não de si; reside em atender com um sorriso (note-se, no poema, a relação entre o sorriso do mártir e o sorriso da santa) às necessidades de quem nos solicita. Acima da doxa, a opinião comum ditada pelas injunções morais, eleva-se o paradoxo poético, revelador de uma verdade não-aparente, convencional, mas profunda, porque atinge a própria essência da natureza humana."
(Teoria do Texto 2 - teoria da lírica e do drama, Salvatore D'ONOFRIO, Ática, 1995)




Ilustrações:

1 - La Juventud de Santa Maria Egipciaca, Emil Hansen Nolde
2 - Relevo da fachada do Colegio de Franciscanos Capuchinos de Santa María Egipciaca (fundado em 1612 em Alcalá de Henares, Espanha), que representa São Zózimo dando a comunhão a Santa Maria Egipciaca
Keith Haring


18.9.03

Ah, sim! Como inveja é um assunto que me fascina, porque eu sou pop fã de primeira hora e uma tia ploc enrustida, já tenho o meu exemplar.
Sem tempo, entre trabalho e agulhas invadindo minhas veias e tubos invadindo meu canal digestivo, só para não deixar isso aqui tão abandonado, algumas coisinhas recebidas por e-mail:

Façam esse teste:
É muito Estranho...
Tire a prova você mesmo, para ver se você tem controle de seu pé direito.
Vale a pena tentar!
Quando você estiver sentado em sua mesa, faça círculos com o seu pé direito no sentido dos ponteiros de um relógio.
Enquanto estiver fazendo isso, desenhe no ar o número "6" com a sua mão direita.
O movimento do seu pé vai mudar de direção... Vai circular em sentido anti-horário...


***


De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol bçguana que vcoê pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.

16.9.03

"Nenhum pássaro voa alto demais se ele voa com as próprias asas."
(William Blake, artista plástico inglês)

Iniciei há algum tempo por aqui uma série que falava de pontos históricos polêmicos e que dão margem a várias interpretações. Hoje, depois de abandonada por algum tempo, a série é retomada.

SANTOS DUMONT X IRMÃOS WRIGHT


Quais são os argumentos dos que afirmam que Santos Dumont é o Pai da Aviação? Em que se baseiam os que dizem que a primazia foi dos irmãos Wright?

Irmãos Wright:

Em 1903, fizeram o aparelho Flyer 1 deslocar-se por quase um minuto no ar em dezembro de 1903.

Voaram sem decolagem, sem testemunhas qualificadas nem fotografias.

Desenvolveram a capacidade de manter suspenso e deslocar de forma controlada um veículo mais pesado que o ar.

Aos olhos da FAI, um avião como o dos irmãos Wright, que foi catapultado do alto de um morro, não teria feito um vôo muito diferente de um planador.

A única foto do vôo só foi divulgada em 1908.

Contribuições: Avanços que obtiveram no desenho de planadores. Eles trouxeram o leme da traseira para a frente do aparelho, reduzindo o estol (perda de sustentação que faz o avião cair de bico). Aperfeiçoaram a sustentação das asas e foram os primeiros a conseguir bons resultados com um motor a petróleo. A permanência cada vez mais longa no ar melhorou muito a dirigibilidade.

Perfil: Filhos de pastor protestante. Nunca aceitaram os parâmetros da FAI. Pioneiros no conceito de indústria aeronáutica e primeiros a ter um avião produzido em série.

Caráter: Evitavam a FAI porque não conseguiam decolar e porque temiam a espionagem industrial. Só apareciam em público com modelos patenteados. Não eram idealistas. Queriam construir uma máquina de voar para ganhar dinheiro. Foi somente em 1908, quando voaram em presença de testemunha idôneas, nos EUA e na Europa, que os irmãos Wright ousaram reivindicar seu pioneirismo, relatando suas experiências de 1903, 1904 e 1905. Elas teriam sido interrompidas desde então - quando chegaram a fechar seu hangar e desmontar o aparelho - até 1908 para, segundo suas alegações, evitar uma divulgação excessiva que os impedisse de salvaguardar seu invento, que não fora ainda patenteado. Durante três anos empregaram esforços para suscitar o interesse e a presença de jornalistas e de público para assistirem a suas tentativas - na única em que conseguiram atrair uns e outros seu intento malogrou e ainda assim entraram em pânico ante a possibilidade de que a divulgação de sua invenção permitisse que lhes tomassem a dianteira.

Em 1908, apresentaram em Paris o Modelo A, que voou mais de 120 quilômetros (os outros não passavam de 50 Km).

Seus aviões não saiam do chão por conta própria.


Santos Dumont:

Controlou o processo, decolando, deslocando-se no ar e pousando. Este era o critério vigente no início do século XX.

Registros oficiais da Federação Aeronáutica Internacional (FAI) atestam o pioneirismo de Santos Dumont.

Era critério importante, na época, a exigência de uma comissão idônea para avalizar os resultados de um invento. Como nos esportes olímpicos, só valem como recordes as performances oficiais.

Em 12 de novembro de 1906, o campo de Bagatelle, em Paris, estava lotado, e o desempenho do 14 Bis foi oficialmente considerado o primeiro vôo em um veículo mais pesado que o ar.

Contribuições: Conseguir um motor com potência suficiente para tirar do chão uma aparelho mais pesado que o ar, sem catapulta nem ajuda do vento. Melhorar a estabilidade lateral do avião, como aleirão (mecanismo que até hoje permite que o aparelho gire sobre seu próprio eixo, equilibrando as duas asas). Invenção do trem de pouso.

Perfil: Filho de família rica; herói na França depois de dar a volta na Torre Eiffel num dirigível; bem vestido, lançador de moda; grande anfitrião (entre os comensais que freqüentavam sua casa: Gustave Eiffel, Louis Cartier e a princesa Isabel). Submetia-se às regras da FAI.

Caráter: Abriu mão de um prêmio em favor dos mecânicos de sua oficina. Jamais patenteou um invento (publicava projetos em revistas).

Outras invenções: Relógio de pulso, hangar, protótipo do hidroavião, horizonte artificial (informa a inclinação do avião).

***


Curiosidade:

Trechos da carta de Wilbur Wright a ao Capitão Ferber (lobista da primazia dos Wright):

"Tomamos conhecimento, meu irmão Orville e eu, por meio de uma correspondência de Paris publicada no New York Herald, que o público francês demonstrou grande apreço por um vôo de 220 metros em linha reta do Sr. Santos Dumont sobre um aeroplano de sua construção. Gostaríamos de receber informes corretos sobre essas experiências de Bagatelle e desejamos muito que o senhor nos faça um relato das provas e uma descrição da máquina voadora, acompanhada de um esquema.
(...)
Nós já vimos, na reprodução do New York Herald, que o aeroplano pousa sobre três rodas, e deduzimos que é necessário ao Sr. Santos Dumont, para iniciar seu vôo, rolar sobre um campo grande e bem uniforme. Com o pilar de lançamento que nós empregamos, Orville e eu, nós saltamos direta e velozmente no ar de uma forma muito mais prática."

(Do livro de Aluizio Napoleão - Santos Dumont e a conquista do ar.)


(baseado em artigos de Hélio Bloch e Lucila Soares)

11.9.03

A crow was sitting on a tree, doing nothing all day. A small rabbit saw the crow, and asked him, "Can I also sit like you and do nothing all day long?" The crow answered: "Sure, why not." So, the rabbit sat on the ground below the crow, and rested. All of a sudden, a fox appeared, jumped on the rabbit and ate it.

Lesson?

To be sitting and doing nothing, you must be very, very high up.
Todos vivemos sob o mesmo céu, mas ninguém tem o mesmo horizonte!

Konrad Adenauer

10.9.03


Recebidos:

- Bombons de cupuaçu acomodados em mini-canoa talhada em madeira e enrolados com fita de sisal tingida de verde.

Porque comer é um verbo que se conjuga com todos os sentidos.

9.9.03

Costumo dizer que não sou siamesa de ninguém. Isso inclui familiares de sangue, marido e amigos. Pessoas que eu amo podem e devem ter opiniões diversas sobre os mais diversos assuntos, de religião a criação dos filhos, de política a gosto artístico.

Tem muito tempo que me liberei também das comparações. E isso pode ser bem complicado para quem, como eu, vem de uma família onde as filhas, todas mulheres, têm idades muito próximas. Deixei o mundo saber da minha dispensa em relação ao metro alheio quando um belo dia minha mãe veio mais uma vez com a ladainha:

- Puxa! Sua irmã não faria assim. Você é tão diferente dela.

Ao que respondi com um retumbante “Graças a Deus!” que calou este tipo de chantagem para todo o sempre. Amém!

Entretanto ser unique e manter opinião própria não exime a necessidade de pontos de contato com aquelas pessoas que tocam nosso sentimento. Em seu livro Decifrar Pessoas, Jo-ellan Dimitrius afirma que duas coisas são fundamentais para saber muito sobre determinado espécime humano. A primeira delas é conhecer a visão que o objeto de observação tem do mundo e seu próprio papel nele. Ele é uma pessoa satisfeita (ou amarga), otimista (ou só vê sombras), feliz com os resultados das decisões que tomou vida afora? A segunda diz respeito à compaixão, sua generosidade em compreender os limites alheios, sua disposição em ajudar, sua capacidade de perdoar. Assim, sabendo dessas duas coisas sobre uma pessoas pode-se dizer quem ela é e possivelmente prever como reagirá diante de determinada situação.

Claro que existem muitas outras pistas. Algumas pessoas conhecem intuitivamente, outras estudam para aprender mais sobre o assunto. Tem gente que usa conhecimento e dom para o bem. Muitos arúspices tentam fazer um gordo pé de meia apenas usando o que para alguém com alguma sensibilidade é transparente nos transtornados pela dor e tristeza. Ou será que alguém procura vidente/curandeiro quando está pleno? Com algum treino em observação, a margem de acerto pode ser altíssima.

Pois deixando de lado as entranhas, já notei que rapidamente posso dizer se determinada pessoa pode vir a ser um chegado. Trata-se da visão desse ente em relação a dois assuntos. Não que esses pontos sejam pré-requisitos para alguém tornar-se meu amigo. Simplesmente são questões emblemáticas, que contam muito sobre a forma como se observa o mundo e a humanidade.

Empiricamente afirmo que quem vê na cidade do Rio de Janeiro, além de mazelas, uma Cidade Maravilhosa e todo aquele que entende a pena de morte como uma abominação vai ter muitas outras coisas em comum comigo e tem grandes chances de vir a ser uma pessoa muito querida.
I defenestrated a clock to see if time flies!
--Lane Smith

8.9.03

Sim, eu engulo. É verdade. Às vezes. Por amor ou amizade.

Conversando com amigas, lembramos de um episódio já ocorrido há algum tempo. Recordávamos que alguém se comportou de maneira bastante inconveniente e que eu “engoli” a situação. Todos tinham memória do fato. Todos perceberam que a situação era desconfortável. E quando eu disse que este era um dos motivos pelos quais eu não apreciava especialmente esta pessoa, responderam:

- Engraçado... Pensamos que você tivesse gostado. Você não reagiu.

É verdade. Em parte. Ao contrário do meu hábito, fui sutil. Tentei me esgueirar para fora da situação, mas a criatura em questão insistia. A partir da minha terceira tentativa de dar fim ao caso, só voltando ao meu normal e sendo direta e nem sempre polida.

Quando amigos falam, eu ouço. Geralmente têm algo a ensinar sobre nós mesmos. E porque eram amigos falando, fiquei pensando sobre o caso. Diante de tamanho desconforto para mim, porque não reagi?

Era um dia muito especial. Era além de especial, eu diria que único. Eu estava cercada de pessoas queridas, e o momento era de congraçamento. Já havia sido apresentada à pessoa em questão anteriormente e meu santo não cruzou com o dela, mas ali ela foi introduzida como amiga de amigas. A todo instante, a anfitriã referia-se a ela com enorme carinho.

Sim, eu poderia ter sido áspera com ela e tê-la feito parar de me importunar. Mas seu comportamento era perturbador, mas não insuportável. Ela não valia uma deselegância com a dona da casa, o estremecimento naquele clima alegre, a ruína da tarde.

Sim, eu engoli. Por amizade.

E engulo todos os dias, por amor a terceiros e por pena do agente do meu desconforto.

2.9.03

Quem acompanha este blog desde os primórdios, já viu Platão e a Alegoria da Caverna por aqui.

Agora achei esta versão prá lá de bacaninha.

1.9.03


Pedro conheceu Miró
e prestou uma homenagem


Miró by Pedro

O Espaço Sideral, 2002


Beatriz Milhazes

A Lenda

A Lenda, 2002
Discutindo cinema com um moleque de 8 anos:

- Mamãe, Papai, por que o Leléu deixou tudo pra trás e seguiu o Zeppelin? Ele foi atrás da beleza, né?
- É. E da liberdade e do intangível.
- O que é intangível?
- É o que não se pode tocar.
- Ah! Agora eu entendi.
- Cadê a ferramenta de comentário que estava aqui?
- O gato comeu.
- Cadê o gato?
- Foi pro mato.
- Cadê o mato?
- O fogo queimou.
- Cadê o fogo?
- A água apagou.
- Cadê a água?
- O boi bebeu.
- Cadê o boi?
- 'Tá amassando trigo.
- Cadê o trigo?
- A galinha espalhou.
- Cadê a galinha?
- 'Tá botando ovo.
- Cadê o ovo?
- O frade bebeu.
- Cadê o frade?
- 'Tá rezando missa.
- Cadê a missa?
- 'Tá no altar.
- Cadê o altar?
- 'Tá no seu lugar. Foi por aqui, aqui, aqui, tic, tic, tic...

***


Os sem-noção:

- quem instala software de sacanagem no seu (não no dele, no seu) computador de trabalho;
- quem entra numas de competição (meu pai é mais forte que o seu, minha mãe é mais bonita que a sua, meu vestido é mais enfeitado que o seu).

***


Esperava o quê, Carlinha Cintinha depois de acarajé, pato, ovo de codorna com molho, pastinhas mis, lombo com feijão (e todos os "avec"), chocolates, sorvete, fruta em calda e tudo o mais que a amnésia pela dignidade retirou da sua lembrança?

Vida longa aos grandes propósitos das segundas-feiras!

***


Procura-se um dia de sol desesperadamente.

31.8.03

Minha diarista contou que foi à noite, sem carro, debaixo de chuva à Rodoviária Novo Rio para pegar uma pessoa que ela não conhecia, que ia ficar hospedada na casa da vizinha, que também não conhecia a própria hóspede.

Achei a história esquisita e fui perguntando.

A moça veio para a Meia Maratona.

Pobre, pobre, pobre, apenas sua paixão a patrocinava. Deu sorte. Numa outra corrida, chegou em terceiro lugar, chorou de emoção, pôs a cara na Rede Globo. O prefeito da pequena cidade mineira onde mora resolveu capitalizar em, quem sabe, futuros votos a projeção de sua concidadã. Como a prefeitura não dispõe de verba para investir em esportes e esportistas, toda vez que há um evento de porte, ele mobiliza a comunidade para angariar fundos e fazer com que a moça chegue até lá. Desta vez o dinheiro só deu para a passagem de ônibus. Ela não tinha onde ficar.

Mas uma amiga da prima da cunhada ou algo assim conhecia a vizinha da minha diarista e estabeleceu-se a corrente para garantir que a heroína do esporte não ficaria ao relento em seu destino.

Ela chegou por aqui feliz da vida, com suas muitas tranças decoradas de verde e amarelo como identificação. Talvez ela não soubesse então que o lugar que a iria receber na Baixada Fluminense não faz parte da Cidade Maravilhosa. Mas isso não tem a mínima importância. Como também não tem a mínima importância ela não ter sabido da minha torcida.

29.8.03

"É preciso pensar para acertar, calar para resistir e agir para vencer!"

27.8.03

De Sacilotto eu gosto.
"Se chiar ajudasse, sal de frutas não morria afogado."
(frase de caminhão)

"Se alguém varre as ruas para viver, deve varrê-las como Michelângelo pintava, como Beetoven compunha, como Shakespeare escrevia."
(Martin Luther King)

"O chato nunca acha que o chato é chato."

(provérbio chinês)

"Por que me odeias tanto se eu nunca te dei a mão?"
(provérbio chinês)

"O problema de mentir é que isso vai depender de o mentiroso ter uma clara noção da verdade a ser escondida. Nesse sentido, a verdade, mesmo aquela que não aparece em público, tem uma primazia sobre toda a falsidade."
(Hannah Arendt, filósofa alemã naturalizada americana)

"Quando alguém está com medo da verdade, então é sempre uma meia verdade que o está ameaçando."
(Ludwig Wittgenstein, filósofo austríaco)

"O que é necessário não é a vontade de acreditar, mas o desejo de descobrir, que é justamente o oposto."
(Bertrand Russell)

"O caos freqüentemente alimenta a vida, enquanto a ordem alimenta o hábito."
(Henry Adams, historiador americano)

"É parte da cura o desejo de ser curado."
(Sêneca, o jovem - filósofo romano)

"Os sábios aprendem com os erros dos outros, os tolos com os próprios erros e os idiotas não aprendem nunca."
(Provérbio chinês)

"Conhece-se o coração de um homem pelo que ele faz, e a sua sabedoria pelo que ele diz."
(Provérbio persa)

"É preciso grande sabedoria só para perceber a extensão da própria ignorância."
(Thomas Sowell)
Madeira Urbana

26.8.03



Ofélia (1894)
Paul Albert STECK



Para Freud, Hamlet era um histérico que aparentava ter, como demonstram suas atitudes para com Ofélia, repulsa ao sexo.

Encontra-se um comportamento misógino na violência com que Hamlet trata Ofélia "Ha, ha, are you honest?" (ato III, cena 1) e adiante ele diz a ela: "Or, if thou wilt needs marry, marry a fool; for wise men know will enough what monsters you make of them". Na segunda passagem, o "you" refere-se a todas as mulheres e o tratamento dado a Ofélia, qua aparece como vítima da tragédia, é causado pela raiva contra sua mãe e um ódio histérico das mulheres produzido por sua loucura. Alguns defendem Hamlet dizendo que ele trata Ofélia dessa forma porque está afetivamente desiludido e desconfia que ela tenha ajudado sues inimigos: quando ele diz "where’s your father?" (ato III, cena 1) ele havia percebido que Polônio o estava espionando.

De acordo dos diálogos da tragédia, Hamlet alerta seus amigos de que ele possívelmente vai fingir-se de louco. Se Hamlet realmente era louco, fingia-se de louco ou era considerado louco, é um assunto que tem suscitado discussão dos críticos por muito tempo.

Ofélia aceita encontra-se com Hamlet porque quer ajudá-lo; depois de um animador começo, Ofélia desperdiça suas chances com a tola estratégia feminina de acusar Hamlet de rejeitá-la. Então ele lança um ataque ainda mais feroz contra ela, mandando-a para um convento: "Get thee to a nunnery. Why wouldst thou be a breeder of sinners?" (ato III, cena 1).

Embora não haja nenhuma evidência textual que sustente que Ofélia cometeu suicídio, já que a peça mantém a hipótese de que ela afogou-se, realmente parece que ela não pôde ver nenhum bom destino para sua vida futura. Sua vida futura só poderia ser a morte. A Rainha descreve o afogamento de Ofélia que, tendo perdido a razão depois da morte do pai, supostamente caiu em um riacho e foi afundando lentamente, à medida que suas roupas se encharcavam.

A morte de Ofélia

Ernest Legouvé

Perto de um riacho, Ofélia
Colhia, seguindo a margem,
Na sua doce e terna loucura,
Pervincas, botões de ouro,
Lírios cor de opala,
E flores de um rosa pálido
A que se chama dedos de morto.

Depois, elevando nas suas brancas mãos
Os ridentes tesouros da manhã,
Ela os suspendia aos ramos,
Aos ramos de um salgueiro vizinho.
Mas demasiado fraco o ramo se dobra,
Quebra, e a pobre Ofélia
Cai, com a grinalda na mão.

Alguns instantes o seu vestido avolumado
A suporta ainda sobre a corrente
E, como uma vela desfraldada,
Ela flutuava sempre cantando,
Cantando alguma velha balada,
Cantando como uma náiade
Nascida no meio desta torrente.

Mas esta estranha melodia
Passou rápida como um som.
O vestido pesado pela água
Depressa no abismo profundo
A pobre insensata arrastou,
Deixando apenas começada
A sua melodiosa canção.


"How can I actually blame women for waiting for the man? The man does not want anything else, either. There is no man who would not be flattered if a woman reacted to his sexuality. Hatred towards women is nothing else but hatred towards one's own still unconquered sexuality."
Weininger
Meninos, eu vi (e ouvi):

Na estação final do metrô em Copacabana, um pitboy, daqueles que a gente reconhece logo pela orelha de repolho, perguntava se aquela era a plataforma correta para quem queria ir em direção à Zona Norte.

Atrás dele uma cartaz anunciava que o Cemitério Memorial do Carmo era o único com qualidade de vida.

25.8.03

KEITH HARING



Costumo dizer que sou uma ilha ariana cercada de virginianos por todos os lados. Nem sou tão zodiacal assim, mas preciso reconhecer que estas listas de características são bem divertidas. Claro que quem leva Astrologia a sério considera este tipo de coisa como generalidade, que o que importa mesmo é o mapa astral.

Mas achei ótimo quando outro dia encontrei uma outra abordagem. Não tinha nada de "os nascidos sob este signo são sensíveis" ou "os nativos são líderes natos". Nananinanão! Eram os supostos defeitos de cada signo, exatamente aquilo que não se está procurando quando se lê este tipo de coisa. Aquilo que os inimigos comentam pelas costas sobre pessoas como você.

Olhem o que, segundo eles, andam tricotando sobre mim:

Áries

Mandão você, hein? Mas qual o problema se você é tão honesto, integro, independente e poderoso? Nenhum! Nenhum mesmo? Claro que tem problema! Você é o tipo que gosta de tudo do seu jeito, caso contrário parte para a pancadaria. Mas, no fim das contas, não consegue influenciar ninguém. No trabalho, por exemplo, quando cobram muito de você, pode se irritar, ou até se vingar praticando alguma fraude. Raramente permanece muito tempo em um emprego. Carreiras adequadas para você são as de ator ou projetista, caixeiro viajante, arquiteto, escritor autônomo. Também pode brilhar muito como sogra, pai ciumento ou lutador de sumô.


Achei bem a minha cara mesmo. Mas fraude é intriga da oposição. E lutador de sumô é a p...

Bom, agora, em homenagem ao período que se incia, vejam o mar que me cerca:

Virgem

Sério, trabalhador, analítico e odeia desordem. Assim é você. Pode ser considerado reservado e até falso de sentimento, mas isto é porque vive tentando ocultar sua natureza nervosa e contraditória por trás de uma aparência banal. Detesta ouvir um não como resposta e sua natureza inquisitiva o torna bastante inescrupuloso e mais apto para o trabalho em escritórios ou bibliotecas do que em oficinas. Vacilão e desconfiado, não consegue tomar decisões. Muitas vezes foge à responsabilidade e prefere trabalhar como empregado. Detalhista e sabe-tudo chega a virar tema de piadinhas feitas por seus amigos e colegas de trabalho. Em suma, você é despido de emoções e tem um coração gélido. Alguns dizem que você é até capaz de dormir enquanto faz amor. Aposte em profissões como cobrador de ônibus, costureiro ou jardineiro. Também podem ser excelentes guarda-livros e estatísticos, editores e químicos analistas.


(defeitos de outros signos aqui)

Achou cruel? Você ainda não viu nada.
Olhem só o que eu achei no nº 29 (agosto de 2001) do Almanaque Brasil que é (ou era) distribuído pela TAM:

Virgem

Astréa, admitida entre as constelações; Diana, para uns, Ceres para outros, preside o pudor. _ Êste signo Zodiacal revela tendências para a castidade, celibato. Faz tardios os casamentos. O homem nascido é bem conformado, generoso, espiritual, discreto e benfazejo. Procurará àvidamente alcançar honras, sobretudo na vida eclesiástica. Será muitas vêzes ludibriado e roubado por causa de sua ignorância nas várias espécies de ardis. Relativamente abastado, sua fortuna será imobilizada. _ As mulheres, egoístas, estéreis, enganadoras, pérfidas, garridas, cobiçosas e inconseqüentes, pensam mal e riem do pensar alheio; no entanto, um bom aspecto de vênus atenua êstes maus presságios. Corações frios, secos, nada inclinados à bondade, apesar de suas maneiras adocicadas, que nunca abandonam. A idade torná-las-á melancólicas e más, folgando íntimamente com os males do próximo.

"O MÊS HOROSCÓPICO", condensado do Almanaque Eu Sei Tudo, 1955, 35º ano. Mantivemos a grafia da época.


Como eu disse, vivo cercada de virginianos, e pelo bem da convivência pacífica, não posso dizer precisamente se e quais pontos estão certos e quais mereceriam algum reparo.
O Fel também é Coisa de Crioulo

22.8.03

O Zamorim falou tudo o que eu sempre quis dizer sobre a "máfia das multas" aqui.
Idiotice mundial:
Grã-Bretanha barra brasileiros que erraram questões sobre Beatles

Viva o turismo interno!

Quem manda esse povo suar pra ganhar dinheiro aqui e querer gastar lá fora?

Bem feito!

E a lei da reciprocidade?

Para assistir aos desfiles de escola de samba, os gringos agora vão ter que responder questões sobre Tia Ciata?

21.8.03

Existe forte possibilidade de que tenha havido um caso de pedofilia no governo carioca.

Parece que engravidaram a Garotinha.

20.8.03

Estou para descobrir coisa mais pentelha que o anti-spam do UOL...
"Tomado emprestado" do Mosaico Cultural:

Analfabeto Político

"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil, que de sua ignorância política, nasce a tristeza, a prostituição, o menor abandonado, o assaltante, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais."


Bertold Brecht
Conheci a Danny numa festa de uma amiga em comum, que depois descobri que era festa de aniversário de outras pessoas também inclusive a própria Danny. Ela falou que já conhecia o Fel. Fui lá conhecer o espaço dela também.

O legal de conhecer gente nova é que você vai descobrindo afinidades. Ela faz uma divulgação cultura bem interessante, mostrando um monte de dicas bacanas. Vai ver.
Manifesto


Tenho muito medo de gente estúpida.

Também fico ressabiada com quem vai pintando o cabelo de uma cor cada vez mais clara e acha que ninguém vai perceber. E também de homens de peruca ou que tingem os cabelos para esconder os brancos.

Tenho verdadeiro pavor de sararás que evitam apresentar-se com a família, daqueles que investem em blondor para pêlos que não ficam à mostra, esquecendo que a cor escura de certos pontos anatômicos não pode ser disfarçada.

Olho com suspeita quem se veste sempre de cor-de-rosa. São as portadoras da síndrome de Barbie. Ou de quem está sempre de preto, seja por morbidez genuína ou por fashionite crônica.

Fujo como o diabo da cruz do povo que diz que prefere os animais aos humanos. Diante do espelho devem continuar zurrando para cultivar a auto-estima.

Evito a todo custo quem já passou dos vinte e cinco e insiste no tatibitate para demonstrar ou simular afeição.

Em noites sem lua procuro ficar longe de eco-chatos, artistas em eterna busca de verba para o projeto que só eles acham genial, o pessoal que termina frases de reclamação com a expressão “só no Brasil“, o denuncista, quem tem contatos quentíssimos que explicam só pra ele tudo o que está por trás de qualquer assunto, gente que abusa de expressões em latim e qualquer outro intelectualóide fajuto.

Nunca tenho roupa para festas onde sei que vou encontrar quatrocentões legítimos ou falsificados e wannabes porque detesto Halloween.

E ainda sou capaz de fazer xixi na calça se num beco escuro à meia-noite cruzar com um hipócrita.

18.8.03

Ingredientes

Nove crianças de oito anos da turma da escola do seu filho (incluindo o próprio);
Uma professora;
Uma estagiária normalista;
Uma mãe que não sabe se vai se arrepender por ter oferecido a própria cozinha;
Uma avó;
Uma diarista;
Uma pai que aproveita a folga entre o almoço e o médico para vir dar uma olhada nessa loucura.
Dois quilos de banana;
700 g de açúcar;
cravo e canela a gosto;
Um copo d'água para cozinhar o doce;
Muitos copos d'água para as gargantinhas secas de tanto falar e para rebater o doce.

Modo de fazer

Misture tudo na cozinha da sua casa e torça para que dê certo.

Rendimento

Muitas gargalhadas.

15.8.03

Ontem fiquei refletindo sobre a mania que os brasileiros têm de reclamar. E pensei mais ainda em outro hábito pior - pelo qual nutro especial implicância - de terminar as frases em que comenta algo que acha negativo com "só mesmo no Brasil".

Pensei muito sobre isso enquanto via as reportagens sobre o apagão noe EUA e no Canadá ontem/hoje. Lembro que quando teve um blecaute aqui no Brasil, há um ano e meio mais ou menos, eu estava de férias em Recife e só fiquei sabendo, comprometida que estava de me manter afastada dos noticiários catastróficos, por causa dos transtornos causados por todo o país, com atraso de vôos, dificuldade de completar ligações telefônicas, etc. Caramba, como eu ouvi por aqueles dias "só mesmo no Brasil". Pois é, só mesmo no Brasil que tem blecaute e ninguém pensa que é um mega atentado terrorista nem a Terceira Guerra Mundial.

Aí hoje achei um recorte (estou arrumando coisinhas por aqui) com uma das listas publicadas na revista Domingo. Là no finzinho da lista estava:

10 - Complexo de vira-lata. Termo de Nelson Rodrigues. O dramaturgo dizia que era assim, com trauma, que o brasileiro se enxergava no mundo.
O show é só no sábado, mas posso afirmar com todo o coração que mais que ontem e menos que amanhã EU DETESTO A XUXA!

Vejo que estou fazendo um bom trabalho como mãe quando percebo que, mesmo sem externar diante dele sentimentos tão pouco nobres, o pimpolho também nutre a mesma antipatia.

Quem manda a loura lambida berrar cacofonias no pobre ouvidinho dele (de todos nós) até de madrugada? E em playback para piorar!

Deixa eu falar de novo? EU ODEIO A XUXA!

14.8.03

Uma vez a Carol contou que na França tinha um esquema de hospedagem em que as pessoas abriam as portas das próprias casas para receber turistas. Logo depois, descobri que aqui no Rio tinha algo parecido. Separei a matéria, mas foi numa daquelas épocas em que eu estava lotada de serviço e só agora reencontrei o recorte de revista.

Trata-se da hospedagem estilo bed and breakfast. Uma família anfitriã abre sua casa para receber turistas, oferecendo quarto com banheiro, café-da-manhã caprichado e recepção calorosa. Fica mais em conta que uma temporada num hotel e permite uma aproximação maior com os moradores e com os costumes da cidade.

Em Santa Teresa já há sessenta opções de quarto em casas confortáveis. A diária varia entre 65 e 200 reais, dependendo do conforto: ar-condicionado, tamanho do quarto, tipo de casa e troca de roupa de cama.

Cada turista é alocado de acordo com seu perfil, porque os organizadores cruzam as fichas dos hóspedes com a dos anfitriões, juntando pessoas com o gosto parecido. Há opções para todos os perfis.

Os responsáveis pelo programa são o designer João Vergara, o engenheiro Leonardo Rangel, o guia de turismo Carlos Cerqueira e a produtora cultural Roberta Alencastro.

Na lista de imóveis tem sobrados históricos, lofts com pé-direito altíssimo, quartos com jardim-de-inverno ou com vista estonteante da cidade.

Mais do que oferecer um novo serviço no ramo de turismo, o objetivo dos organizadores do bed and breakfast de Santa Teresa é incrementar o desenvolvimento do bairro. O grupo tem projetos para promover a melhoria do comércio, dos serviços e das atrações de Santa Teresa.

Segundo o subsecretário municipal de Turismo, Paulo Bastos Cezar, esse projeto atrai um novo tipo de turista, mais jovem e interessado em cultura.

Aqui alguns endereços de B&B's em Santa Teresa

(Resumido e adaptado a partir de matéria publicada na Veja Rio em 16 de abril de 2003)