Pesquisar este blog

6.7.01

Eu quero uma cadeira de vime daquelas de pendurar no teto da varanda, cheia de almofadas. Um bom livro. Um copão de suco de uma fruta exótica. Um pôr-do-sol para daqui a pouco. Ana Carolina, Marisa Monte ou Zizi Possi pré-italiana cantando para mim. Ed Motta também ia bem. Alguém manda desligar todas as sirenes do mundo, por favor. Dá para aumentar a intensidade e diminuir um pouquinho o calor da brisa? Quem está mais perto para ir verificar se o bolo já está pronto no fogão a lenha? Incenso de rosas? Tudo bem. Não tem um com o cheiro que tinha o colo da minha mãe de quando eu era bem pequena? Será que já estamos na época de mangas? Nunca mais comi cajá e nem ouvi aquela piada infame da menina que quer cajá com homi. Será que alguma criança ainda come jabuticaba do pé? Cerveja, champanhe e café, só com companhia: UJ, RP e CL, respectivamente. Vício é o que se faz sozinho. Como há tempos ninguém me escreve por aqui, acho que estou viciada em blog.
Sou um bicho estranho. Ao mesmo tempo em que a mesmice e a falta de paixão me deixam desanimada, a pressão me tira completamente a disposição.

Parece esquisito e é. Tenho zilhões de pequenas coisas para realizar hoje e cá estou escrevendo para não dormir. Sim, pressão me dá um sono e simultaneamente me causa insônia. Fico meio paralisada, com vontade de largar tudo de mão e tão tensa que não páro de lembrar de mais detalhes e mais tarefas e mais pequenas questões para resolver.

Outro dia, eu comentava sobre a falta de tempo e as escolhas que a gente tem que fazer continuamente, diante de tantas ofertas e possibilidades do mundo atual e uma amiga me presenteou com uma poesia da Cecília Meireles que falava de alternativas mutuamente excludentes. Isso me lembra que hoje no final da tarde meu filhote participa uma apresentação para comemorar o centenário da poetisa e de que amigos merecem apenas o melhor de mim sempre.

Se eu ganhasse um real a cada vez que determinada pessoa me liga, eu já teria amealhado somente hoje uma pequena fortuna. Que tipo de serviço anda-se prestando hoje em dia, quando o porteiro abre a porta para que alguém estranho ao prédio toque direto a campainha sem se identificar ao interfone e que esse alguém à porta responde apenas que é a entrega, sem informar o que está entregando nem qual empresa representa? O interrogatório através do olho mágico, recebendo respostas lacônicas, me tomou um tempo de que definitivamente não disponho. Hoje quero ter a opção de desperdiçar meu tempo apenas fazendo coisas absolutamente úteis. Como escrever aqui.

Será que apenas eu me atrapalho distribuindo tópicos na agenda e encaixando ginástica, médico, aquele filme imperdível, a peça super elogiada, o show histórico, as visitas, as festas, o chopp, o nada fazer, as compras, o salão, aquele documentário, os livros e familiares entre as atividades profissionais e a rotina doméstica? Será que estou naquela fase ansiosa querendo tudo ao mesmo tempo agora que só passa quando chegamos aos quarenta? Quantas horas seriam suficientes para que tudo fluísse sem correria? Do que eu seria capaz de abrir mão para ter uma vida mais tranqüila e menos rica? Será que eu seria mais feliz se deixasse que outras pessoas tomassem a direção e apenas curtisse a paisagem?


4.7.01

EU E O OUTRO

Sempre me incomodou aquela frase do Pequeno Príncipe: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Não me acho responsável pela resposta que as pessoas tenham em relação a minha forma de ser e agir, da mesma maneira que ninguém tem que cuidar do amor ou repulsa que causa em mim. O sentimento é íntimo, pessoal e intransferível. Se eu amo, o problema (ou solução) é meu. E é maravilhoso quando sabemos que alguém nos ama, mas é ingênuo pensar que uma atitude deliberada e calculada pode conquistar ou manter simplesmente porque assim o queremos.

Entretanto, não me canso de me surpreender com o impacto que somos capazes de provocar nas pessoas. Não estou falando apenas de primeiras impressões. Sou péssima nisso. A esmagadora maioria dos meus amigos mais queridos em algum momento me confessam que me acharam insuportável num primeiro contato. Imagino que muitos outros não fizeram qualquer esforço para ir além desta primeira leitura e jamais poderão descobrir que o diabo não é tão feio quanto se pinta. Quando alguém me interessa especialmente sou eu quem faço o movimento e geralmente sou bem sucedida, porque sei que apesar dos meus muitos defeitos tenho também muita coisa boa a oferecer. E se não consigo, bem, paciência, porque também não posso ser outra pessoa só para agradar quem não está muito a fim de ser agradado.

Eu falava do impacto... Uma vez uma amiga me disse que eu fizera a diferença para alguém com algo que eu dissera. Ela jamais me contou que comentário foi este ou para quem eu fiz este bem. O interessante é que não houve apenas isto. Já se passaram quase vinte anos e eu jamais esqueci que em algum momento eu fui importante para alguém. Foi a vez dela de fazer a diferença para mim.

Por outro lado, às vezes a gente faz uma simples observação, segue adiante e esquece o assunto, porque ele é realmente de menor importância na nossa história. No entanto, quem ouve, coloca um enorme rótulo no caso e, mesmo quando já estamos a anos-luz do ocorrido, vemos a criatura se debatendo, remoendo, querendo digerir algo que ficou entalado, tentando retomar do ponto em que foi abandonado. Pouca gente é capaz de introjetar a desimportância que pode representar para o outro, a indiferença e desinteresse que pode suscitar. O que é uma pena, porque, como eu dizia lá no início, ninguém é responsável ou capaz de modificar - se não houver resposta do outro lado - o afeto, a apatia ou o desamor que provoca.


3.7.01

Voltamos da lua-de-mel trazendo na bagagem uma mandala cujo nome é Casamento. No verso do quadro tem uma descrição. Ela diz:

"O Casamento

Círculos de lótus expandem-se paralelos a outros, rítmicos, inspiração de etnias e ciclos da Natureza em exuberante colorido.

Ao Centro, na profundeza negra rodeada por pétalas puramente brancas gravita harmoniosa uma esfera incandescente cujo brilho ilumina e faz dançar alegremente as composições que a cercam.

Nos cantos, sagazes e irreverentes primitivas máscaras sorrindo na sabedoria maior que não leva tão a sério as turbulências externas porque "sabe" que no Centro paira infalivelmente a verdadeira luz.

Suavizar rígidos padrões
Fazer fluir alegria de viver e sentimento de paz
Estimular iniciativa e criatividade
Assimilar qualidade mutante de cada experiência"

Não sei se entendi direito, mas achei muito bonito.

Aliás, acho que a gente perde muito tempo tentando entender coisas que são feitas apenas para sentir. Se esmiuçarmos muito, buscarmos explicações, justificativas, porquês, o encanto se quebra. Que triste é pensar na Lua como um árido satélite da Terra cheio de buracos. Gosto mais do envolvimento do luar, de contemplar e imaginar que ela brilha em homenagem ao que vai no coração humano, que não deve ser lembrado como um órgão que bombeia sangue para o corpo.

Observo a análise profunda que as pessoas fazem das coisas mais simples e vejo o quanto elas perdem por não deixarem fluir.

Não defendo a ignorância, mal odioso. Apenas gostaria de mais leveza, naturalidade, desafetação para observar as coisas.

Lembro que quando engravidei, sentia um poder enorme, por gerar uma vida. Nada demais. A maioria das mulheres é capaz de ser mãe. Mas eu me sentia especial, vivendo o meu pequeno milagre. E me sentia abençoada ao amamentar e ver meu corpo se transformando em alimento.

Então, estava numa varanda de chalé, pendurada sobre um vale deslumbrante, ladeada por um verde inacreditável, a natureza vibrando, o frio do ar da montanha entrando pela pele como que querendo dar uma prova de vida, um cheiro que misturava clorofila, lenha queimando e boa comida, o ouro reluzindo no anular esquerdo, o homem que amo à distância de um gesto e vivi mais um dos meus pequenos milagres.

Vou tentar explicar o quê?