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4.7.01

EU E O OUTRO

Sempre me incomodou aquela frase do Pequeno Príncipe: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Não me acho responsável pela resposta que as pessoas tenham em relação a minha forma de ser e agir, da mesma maneira que ninguém tem que cuidar do amor ou repulsa que causa em mim. O sentimento é íntimo, pessoal e intransferível. Se eu amo, o problema (ou solução) é meu. E é maravilhoso quando sabemos que alguém nos ama, mas é ingênuo pensar que uma atitude deliberada e calculada pode conquistar ou manter simplesmente porque assim o queremos.

Entretanto, não me canso de me surpreender com o impacto que somos capazes de provocar nas pessoas. Não estou falando apenas de primeiras impressões. Sou péssima nisso. A esmagadora maioria dos meus amigos mais queridos em algum momento me confessam que me acharam insuportável num primeiro contato. Imagino que muitos outros não fizeram qualquer esforço para ir além desta primeira leitura e jamais poderão descobrir que o diabo não é tão feio quanto se pinta. Quando alguém me interessa especialmente sou eu quem faço o movimento e geralmente sou bem sucedida, porque sei que apesar dos meus muitos defeitos tenho também muita coisa boa a oferecer. E se não consigo, bem, paciência, porque também não posso ser outra pessoa só para agradar quem não está muito a fim de ser agradado.

Eu falava do impacto... Uma vez uma amiga me disse que eu fizera a diferença para alguém com algo que eu dissera. Ela jamais me contou que comentário foi este ou para quem eu fiz este bem. O interessante é que não houve apenas isto. Já se passaram quase vinte anos e eu jamais esqueci que em algum momento eu fui importante para alguém. Foi a vez dela de fazer a diferença para mim.

Por outro lado, às vezes a gente faz uma simples observação, segue adiante e esquece o assunto, porque ele é realmente de menor importância na nossa história. No entanto, quem ouve, coloca um enorme rótulo no caso e, mesmo quando já estamos a anos-luz do ocorrido, vemos a criatura se debatendo, remoendo, querendo digerir algo que ficou entalado, tentando retomar do ponto em que foi abandonado. Pouca gente é capaz de introjetar a desimportância que pode representar para o outro, a indiferença e desinteresse que pode suscitar. O que é uma pena, porque, como eu dizia lá no início, ninguém é responsável ou capaz de modificar - se não houver resposta do outro lado - o afeto, a apatia ou o desamor que provoca.


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