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16.9.03

"Nenhum pássaro voa alto demais se ele voa com as próprias asas."
(William Blake, artista plástico inglês)

Iniciei há algum tempo por aqui uma série que falava de pontos históricos polêmicos e que dão margem a várias interpretações. Hoje, depois de abandonada por algum tempo, a série é retomada.

SANTOS DUMONT X IRMÃOS WRIGHT


Quais são os argumentos dos que afirmam que Santos Dumont é o Pai da Aviação? Em que se baseiam os que dizem que a primazia foi dos irmãos Wright?

Irmãos Wright:

Em 1903, fizeram o aparelho Flyer 1 deslocar-se por quase um minuto no ar em dezembro de 1903.

Voaram sem decolagem, sem testemunhas qualificadas nem fotografias.

Desenvolveram a capacidade de manter suspenso e deslocar de forma controlada um veículo mais pesado que o ar.

Aos olhos da FAI, um avião como o dos irmãos Wright, que foi catapultado do alto de um morro, não teria feito um vôo muito diferente de um planador.

A única foto do vôo só foi divulgada em 1908.

Contribuições: Avanços que obtiveram no desenho de planadores. Eles trouxeram o leme da traseira para a frente do aparelho, reduzindo o estol (perda de sustentação que faz o avião cair de bico). Aperfeiçoaram a sustentação das asas e foram os primeiros a conseguir bons resultados com um motor a petróleo. A permanência cada vez mais longa no ar melhorou muito a dirigibilidade.

Perfil: Filhos de pastor protestante. Nunca aceitaram os parâmetros da FAI. Pioneiros no conceito de indústria aeronáutica e primeiros a ter um avião produzido em série.

Caráter: Evitavam a FAI porque não conseguiam decolar e porque temiam a espionagem industrial. Só apareciam em público com modelos patenteados. Não eram idealistas. Queriam construir uma máquina de voar para ganhar dinheiro. Foi somente em 1908, quando voaram em presença de testemunha idôneas, nos EUA e na Europa, que os irmãos Wright ousaram reivindicar seu pioneirismo, relatando suas experiências de 1903, 1904 e 1905. Elas teriam sido interrompidas desde então - quando chegaram a fechar seu hangar e desmontar o aparelho - até 1908 para, segundo suas alegações, evitar uma divulgação excessiva que os impedisse de salvaguardar seu invento, que não fora ainda patenteado. Durante três anos empregaram esforços para suscitar o interesse e a presença de jornalistas e de público para assistirem a suas tentativas - na única em que conseguiram atrair uns e outros seu intento malogrou e ainda assim entraram em pânico ante a possibilidade de que a divulgação de sua invenção permitisse que lhes tomassem a dianteira.

Em 1908, apresentaram em Paris o Modelo A, que voou mais de 120 quilômetros (os outros não passavam de 50 Km).

Seus aviões não saiam do chão por conta própria.


Santos Dumont:

Controlou o processo, decolando, deslocando-se no ar e pousando. Este era o critério vigente no início do século XX.

Registros oficiais da Federação Aeronáutica Internacional (FAI) atestam o pioneirismo de Santos Dumont.

Era critério importante, na época, a exigência de uma comissão idônea para avalizar os resultados de um invento. Como nos esportes olímpicos, só valem como recordes as performances oficiais.

Em 12 de novembro de 1906, o campo de Bagatelle, em Paris, estava lotado, e o desempenho do 14 Bis foi oficialmente considerado o primeiro vôo em um veículo mais pesado que o ar.

Contribuições: Conseguir um motor com potência suficiente para tirar do chão uma aparelho mais pesado que o ar, sem catapulta nem ajuda do vento. Melhorar a estabilidade lateral do avião, como aleirão (mecanismo que até hoje permite que o aparelho gire sobre seu próprio eixo, equilibrando as duas asas). Invenção do trem de pouso.

Perfil: Filho de família rica; herói na França depois de dar a volta na Torre Eiffel num dirigível; bem vestido, lançador de moda; grande anfitrião (entre os comensais que freqüentavam sua casa: Gustave Eiffel, Louis Cartier e a princesa Isabel). Submetia-se às regras da FAI.

Caráter: Abriu mão de um prêmio em favor dos mecânicos de sua oficina. Jamais patenteou um invento (publicava projetos em revistas).

Outras invenções: Relógio de pulso, hangar, protótipo do hidroavião, horizonte artificial (informa a inclinação do avião).

***


Curiosidade:

Trechos da carta de Wilbur Wright a ao Capitão Ferber (lobista da primazia dos Wright):

"Tomamos conhecimento, meu irmão Orville e eu, por meio de uma correspondência de Paris publicada no New York Herald, que o público francês demonstrou grande apreço por um vôo de 220 metros em linha reta do Sr. Santos Dumont sobre um aeroplano de sua construção. Gostaríamos de receber informes corretos sobre essas experiências de Bagatelle e desejamos muito que o senhor nos faça um relato das provas e uma descrição da máquina voadora, acompanhada de um esquema.
(...)
Nós já vimos, na reprodução do New York Herald, que o aeroplano pousa sobre três rodas, e deduzimos que é necessário ao Sr. Santos Dumont, para iniciar seu vôo, rolar sobre um campo grande e bem uniforme. Com o pilar de lançamento que nós empregamos, Orville e eu, nós saltamos direta e velozmente no ar de uma forma muito mais prática."

(Do livro de Aluizio Napoleão - Santos Dumont e a conquista do ar.)


(baseado em artigos de Hélio Bloch e Lucila Soares)

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