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21.3.02

CHUVA E OUTRAS EMOÇÕES MATINAIS


Finalmente a chuva!

E ela veio para levar embora o mal-estar que tomou conta de mim desde a madrugada do domingo. Alguns sintomas de dengue, mas não era. Nada de febre alta, nada de manchas na pele... Poupei os médicos do brilhante diagnóstico de virose. Assim como veio foi-se. Já não era sem tempo.

A chuva não foi a única emoção desta manhã carioca, pelo menos aqui em casa.

Educar filhos não é um processo linear. É lunar. Fases, fases e mais fases... A gente tem que se preparar para repetir a mesma coisa muitas vezes e de vez em quando deparar-se com a mesma situação que já pensávamos resolvida.

O garoto cismou que tem que dormir no nosso quarto. Um estorvo, sem dúvida. Muita conversa, muita justificativa e nada parece adiantar. Como meu horário para despertar é mais flexível, sou a voluntária para resolver este problema, que muitas vezes toma as madrugadas. Ponho o moleque para dormir no quarto dele, espero que pegue no sono e saio pé ante pé para a minha caminha. Daqui a pouco lá vem ele e começa tudo de novo. A paciência batendo pino. Nova estratégia. "Vou fazer isso que você me pediu amanhã bem cedinho, meu amor, claro, mas se a mamãe não consegui dormir não vai conseguir acordar e não vai poder fazer." Sucesso! Parcial, logicamente. A nova tática do terror noturno é esperar que eu adormeça para invadir meu quarto. Já aprendeu que se for para a minha cama eu acordo, então vem trazendo colchonete, travesseiro próprio, lençol e coberta. É óbvio que quando acordo de madrugada e vejo aquele ninho no chão, levo o pacoe todo de volta ao lugar de origem. Ele também já sabe disso.

Assim, mais um dia iluminou a vizinhança. Eu dormia pesado, como sempre faço nas primeiríssimas horas da manhã, portanto não vi meu marido levantar-se para trabalhar ou sua alegria ao ver que nosso filho não estava enroscado ao lado de nossa cama. Também não vi quando, depois de cumprir quase toda sua rotina matinal, foi encerrá-la dando um beijo no menino adormecido. Tampouco presenciei seu desespero ao constatar que o moleque não estava em sua cama, nem no sofá da sala, nem no banheiro ou qualquer outro cômodo da casa. Apenas posso imaginar a sofreguidão com que começou a abrir portas de armários, examinar vãos atrás de todos os móveis e eletrodomésticos e, finalmente, verificar absurdamente as gavetas, em pânico virginianamente contido para não me acordar e correr o risco de testemunhar o que é um real escândalo. Ficou tão alivido quando sua busca teve um final bem sucedido que esqueceu-se de consertar a situação ou me avisar sobre o que ocorrera, deixando-me a oportunidade fantástica de reviver sua comovente experiência.

Sou um ser praticamente acéfalo ao despertar. Abri os olhos sem pressa. Ouvi o barulho agradável da chuva. Sentei na cama. Que bom! Não fiquei tonta, penso que já devo estar boa. Com toda calma e preguiça do mundo me levanto e dou a volta no leito para desligar o aparelho de ar condicionado. Percebo um leve movimento no tapete sobre o qual estou pisando. Esfrego os olhos antes de procurar o que originou tal movimento sem ter certeza ainda de que estou acordada. Olho. Não faz sentido. Pisco. Não há dúvida: um pé número trinta sai de sob a cama empurrando o tapete.

Pedro descobriu uma forma de dormir no meu quarto sem ser conduzido de volta ao seu: embaixo da cama eu não iria encontrá-lo. Acabou conseguindo também uma fórmula para ficar sem TV e game boy por um tempo.

E depois dizem que a vida de casado é monótona. Por aqui, de tédio não se morre.

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