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18.6.02

Já devo ter comentado por aqui porque é uma característica brasileira que me chama a atenção. As pessoas adoram falar mal do nosso país. Fazem campanha contra mesmo. Outro dia ouvi alguém dizendo (acho que foi o Jabor) que brasileiro gosta de torcer contra para se surpreender positivamente depois. Pode ser, mas algumas vezes me dá agonia ver o povo metendo o pau no Brasil mesmo quando não tem a mínima noção do que está dizendo.

Também já devo ter dito que acho que isso é um ranço da ditadura, em que torcia-se contra o país porque o alvo era o governo militar. Questionável, mas plenamente justificável. E agora? O que acontece? O Brasil jogava, neguinho torcia contra porque o Médici receberia louros. Se agora a CBF planeja evitar a visita ao presidente no retorno caso o Seleção brasileira seja campeã, em que a vitória ajudaria FHC para legitimar (ainda que remotamente) a postura espírito de porco?

Os absurdos abundam porque muita gente se acha inteligente e questionadora por simplesmente pichar e ser do contra.

Quanto discurso bem-intencionado e inflamado eu já tive que interromper para esclarecer que o fato de o livro escrito por meu marido ainda não ter sido publicado no Brasil nada tem a ver com vergonha nacional, mercantilismo e falta de qualidade editorial.

Ainda há pouco alguém reclamou - juro! - porque as crianças de hoje em dia não teriam acesso às músicas compostas para os personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo. Claro que ninguém é obrigado a saber o que se passa na maior emissora de TV aberta do país no final da manhã, nem que índices de audiência este programa tem, nem qual os números de venda do CD com a trilha sonora, nem acompanhar a cobertura da imprensa a respeito, nem conhecer o belíssimo artigo da Ana Maria Machado. Mas seria prudente fazer o dever de casa antes de iniciar a ladainha da preocupação com a ignorância que assola nossa pobre terra, que apenas visa a simpatia do coro dos descontentes ao engrossá-lo.

Sérgio Rodrigues, que é um cara que eu admiro grandemente, no último domingo em sua coluna Mascando Clichê da Revista de Domingo comenta que "é um equívoco o viés pacifista que até hoje tem presidido a mobilização da sociedade contra esse inferno [a violência na cidade]" e ainda que "quando estamos lidando com assassinos, psicopatas e fascínoras, falar em paz seja o supra-sumo da covardia", para concluir que "sacudir lenços brancos para eles ao som de Imagine é simplesmente ridículo". E eu fico pensando se ele realmente acha que é para os criminosos e assasinos que essas pessoas acenam ou se quer apenas conquistar os leitores céticos e desiludidos. Porque para mim é difícil acreditar que alguém com Q.I. acima de 70 considere a possibilidade das manifestações terem outro alvo além de legisladores, juízes, candidatos em ano eleitoral ou cidadãos comuns que querem e podem fazer a sua parte.

Geralmente tenho paciência para explicar porque é que não ver as coisas boas não significa que elas não existam. Num dia mais inspirado posso até apontar onde elas estão. Mas dá um cansaço às vezes.

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