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29.8.02

Ela olha sua cara pela manhã. Chorou a noite inteira e agora está terrivelmente inchada. Aquele horror de imagem piora ainda mais sua percepção do mundo que já estava péssima.

É preciso fazer aquele telefonema hoje, apesar de tudo. Todos os seus temores se confirmam. Não demora para que a conversa que começou amistosa recaia sobre o mesmo tema infeliz. Não fosse a promessa feita a um moribundo ela já teria mandado a outra enfiar tudo no cu.

Sim, hoje ela fala palavrão. Ao menos pensa neles. Seus pensamentos hoje são violentos. Ela pensa em malas. Talvez precise simular um suicídio para que as pessoas parem de varrer suas declarações definitivas para debaixo de um tapete rubro-negro. Ou não. Talvez fosse suficiente parar de engolir sapos e palavras e tentar ser feliz bem longe dali.

Ela procura o botão do foda-se. É difícil encontrá-lo sob o dever de casa do filho, as providências para o jantar, aquele trabalho chato que já deveria estar pronto há uma semana.

Quanto será que custa a hospedagem num apart-hotel?

Não, ela não está gorda, nem é chata, nem é louca, ansiosa, histérica e burra. Ele apenas enjoou. Acontece, ué. Pronto! O jeito é deixar ele babando pela loirinha do escritório recém saída da adolescência e seguir com um dos outros que acham que ela é o máximo. Ou só.

Só resta torcer para que um dia o filho entenda.

Mas antes é preciso recorrer ao mesmo expediente que usou depois daquela tentativa de estupro, daquele aborto, daquela outra separação, daquela gravidez de solidão e tumulto, daquela descoberta de traição...

Cadê o batom?

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