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E ainda tem gente que não quer ver:

8 de setembro, 2002
Às 1:57 PM hora de Brasília (1657 GMT)

BAGDAD (CNN) -- O ex-inspetor-chefe de armas das Nações Unidas Scott Ritter, em discurso proferido neste domingo na Assembléia Nacional do Iraque, disse que seu país, os Estados Unidos, "parecem estar à beira de cometer um erro histórico" em seus apelos para derrubar o presidente iraquiano Saddam Hussein.

Ritter, um ex-funcionário do serviço de informações do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, está em Bagdad em visita particular para manifestar suas críticas à ameaça norte-americana de ação militar contra o Iraque.

O ex-inspetor investigou a possível existência de armas de destruição em massa no Iraque entre 1991 e 1998, quando foi chamado de volta pelos Estados Unidos, dois dias antes de um bombardeio aéreo anglo-norte-americano a instalações iraquianas.

Ritter disse que o Iraque não é uma ameaça para os Estados Unidos.

"O Iraque não é patrocinador do tipo de terror perpetrado contra os Estados Unidos em 11 de setembro (do ano passado), e é, de fato, ativo na supressão do tipo de extremismo fundamentalista que caracteriza aqueles que atacaram os Estados Unidos naquele dia horrível", declarou Ritter.

O presidente George W. Bush está tentando reunir apoio internacional para uma ação militar contra Saddam Hussein, a quem acusa de estocar armas de destruição em massa e de pretender usá-las.

Bush deve divulgar um ultimato ao presidente iraquiano - ou permita acesso incondicional de inspetores de armas ou enfrente conseqüências não especificadas - quando discursar, na próxima quinta-feira, na Assembléia Geral da ONU, em Nova York.

Em seu pronunciamento deste domingo, Ritter negou que o Iraque possuísse quaisquer armas de destruição em massa, mas admitiu que existem preocupações em relação aos programas iraquianos de armas.

"Essas preocupações são quase exclusivamente de natureza técnica e não supera a realidade de que o Iraque, durante quase sete anos de contínua atividade de inspeção pelas Nações Unidas, foi certificado de ter sido desarmado em 90 a 95 por cento", acrescentou.

O ex-inspetor disse ainda que os Estados Unidos, se lançaram unilateralmente qualquer ação militar contra o Iraque, "mudariam para sempre a dinâmica política que governou o mundo desde o fim da Segunda Guerra Mundial, principalmente a fundação do direito internacional como estabelecido na carta das Nações Unidas, que pede a resolução pacífica de problemas entre nações".

Ritter renunciou como inspetor-chefe em agosto de 1998, alegando que tanto o Conselho de Segurança da ONU como o governo norte-americano minaram fatalmente as tentativas de sua equipe de localizar e eliminar armas iraquianas de destruição em massa.

Ele alegou que agentes secretos dos EUA usaram a missão da ONU como uma cobertura para espionar, destruindo a credibilidade da equipe de inspeção.

Antes do discurso, Ritter disse à CNN que o Governo Bush estaria "usando as inspeções de armas como uma desculpa" para travar uma guerra contra o Iraque.

Um dos problemas de o presidente Bush divulgar esse tipo de ultimato é que ele não tem credibilidade", acrescentou. "Membros de seu governo já disseram que as inspeções não importam; membros de seu governo já disseram que, mesmo se os inspetores conseguirem voltar ao Iraque e obtiverem sucesso no desarmamento do Iraque, ainda assim vão continuar buscando a remoção do regime".

"Pílula de suicídio"
Em uma entrevista exclusiva, depois do discurso, Ritter negou as alegações de que os iraquianos interferiram no processo de inspeções até 1998.

"Isso é absolutamente falso", respondeu. "Os inspetores foram capazes de executar sua tarefa de desarmar o Iraque sem qualquer obstrução do Iraque".

Ritter disse ainda à CNN que Saddam Hussein não estaria buscando munir o Iraque de armas de destruição em massa porque ele "está muito interessado na continuada sobrevivência de Saddam Hussein".

"Eu acredito que ele reconhece que qualquer esforço, dele ou de seu governo, para readquirir qualquer aspecto de armas de destruição em massa, para não falar em armas nucleares, seria o equivalente a tomar uma pílula de suicídio", acrescentou. "Isso convidaria a imediata e dura resposta da comunidade internacional e resultaria no seu fim".

Um ataque preventivo contra o Iraque seria "o caos" e mudaria a forma como o mundo responderia "a situações desse tipo".

"O que impediria a Índia de ir para a guerra com o Paquistão, ou a China de intervir em Taiwan?", disse. "Isso é uma realidade. Uma arma nuclear iraquiana, a essa altura, é mera especulação".

Respondendo às críticas de que seus comentários - e sua visita ao Iraque - seriam desleais, Ritter disse que estava agindo como "um patriota fervoroso que ama seu país".

"Como um cidadão norte-americano, eu tenho uma obrigação de criticar quando sinto que meu governo está agindo de uma maneira que é inconsistente com os princípios dos nossos pais fundadores", completou. "É a coisa mais patriótica que eu posso fazer".

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