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17.9.02

A gente estava ouvindo muito o CD do Carlos Malta. Foi assim que Ricardo começou a cantarolar Upa Neguinho. E eu, a quintessência do mimetismo, logo logo estava fazendo o mesmo. Logicamente uma mente humana de sete anos de idade, submetida a um som em estéreo advindo das duas figuras mais importantes de sua vida (Deus conserve por ainda alguns anos assim), encheu-se de curiosidade.

Poucas coisas são mais excitantes para meu amo e senhor do que a oportunidade de mostrar e colocar para tocar os seus discos, do que falar sobre música. E ele foi mostrando ao moleque todas as gravações de Upa Neguinho que tínhamos em casa, da tradicional, com Elis, até aquela com um grupo chamado U.F.O. (United Future Organization).

Eu quis ouvir um pouco mais deste último e descobri que gostava do trabalho deles. É assim mesmo. Ricardo ouve muita coisa estranha e eu geralmente torço o nariz. Ele diz que é preciso atenção, que não são coisas para se ouvir enquanto se dedica a outras atividades. É preciso parar e ouvir. Acho que foi isso. Era final de semana, eu estava disposta a ouvir e gostei do U.F.O.

Lá pelo meio do disco tem uma faixa chamada Poetry and All That Jazz. O grupo musicou um texto do Jack Kerouac.

Fiquei me lembrando de viagem a São Francisco e Ricardo me apontando lugares importantes para a geração beatnik e como eu senti que aquilo não tinha nada a ver comigo. Li On the Road quando comecei a namorar Ricardo. Eu estava naquela fase da paixão em que se quer saber tudo sobre a vítima do nosso afeto. Nem assim eu consegui gostar.

É que eu não sei gostar com a cabeça, só consigo gostar com o coração. Não adianta saber que este movimento foi o início de uma série de eventos que permitiram que hoje eu viva como eu vivo, via hippies, revolução sexual, etc. O que eu sei fica em mim num departamento diferente do que o que eu sinto. Para que eu goste de alguma coisa é preciso haver um elo, um ponto de contato com o emocional.

E foi assim que cheguei à conclusão de que talvez tenha chegado a hora de (re)conhecer Jack Kerouac, através de U.F.O., de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri e Carlos Malta.


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