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16.1.03

Na terça fui assistir ao elogiadíssimo Separações.

Gostei muitíssimo. Excelentes diálogos, tiradas engraçadas e inteligentes, comovente sem ser piegas, metalinguagem esperta e com o Rio de Janeiro como moldura.

Foi a primeira vez que fui ao Estação Ipanema. Também gostei de lá.

Depois, embalados pelo filme, fomos para o Baixo Leblon (vocês vão entender porque quando forem ver também).

Acho que todo mundo sai da sessão reconhecendo um quê de Woody Allen e já ouvi gente falando em Truffaut.

Eu quis porque quis o texto sobre o Homem Lúcido que o Domingos Oliveira lê na última cena, porque depois de tantos anos me achando louca, descobri que sou uma Mulher Lúcida. Trata-se de um texto descoberto em uma pesquisa arqueológica com uma tremenda atualidade. A expressão homem lúcido entra aqui, porque na língua original é simbolizada pela mesma palavra usada para designar os sacerdotes.

Hoje de manhã, ao abrir minha caixa postal, vejo que meu amigo Marcelo Batalha tinha conseguido o texto pra mim. Um daqueles pequenos milagres, advindos de coisas que nos chegam as mãos no momento em que mais precisamos delas da forma como menos esperamos, porque o motivo que me fez amar o texto na terça-feira é completamente diverso do de hoje.

Divido com vocês:

O Homem Lúcido

O homem lúcido sabe que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções que nunca se entusiasma com ela, assim como não teme a morte. O homem lúcido sabe que viver e morrer são o mesmo em matéria de valor, posto que a Vida contém tantos sofrimentos que a sua cessação não pode ser considerada um mal.

O homem lúcido sabe que é o equilibrista na corda bamba da existência. Sabe que, por opção ou acidente, é possível cair no abismo, a qualquer momento, interrompendo a sessão do circo.

Pode também o homem lúcido optar pela Vida. Aí então, ele esgotará todas as suas possibilidades. Passeará por seu campo aberto e por suas vielas floridas. Saberá ver a beleza em tudo. Terá amantes, amigos, ideais. Urdirá planos e os realizará. Resistirá aos infortúnios e até às doenças. E, se atingido por algum desses emissários, saberá
suportá-los com coragem e mansidão.

Morrerá o homem lúcido de causas naturais e em idade avançada, cercado por filhos e netos que seguirão sua magnífica aventura. Pairará então, sobre sua memória uma aura de bondade. Dir-se-á: aquele amou muito e fez bem às pessoas.

A justa lei máxima da natureza obriga que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem iguale-se sempre à quantidade de acontecimentos favoráveis. O homem lúcido que optou pela Vida, com o consentimento dos Deuses, tem o poder magno de alterar esta lei. Na sua vida, os acontecimentos favoráveis estarão sempre em maioria.

Esta é uma cortesia que a Natureza faz com os homens lúcidos.


texto Caldaico (pertencente ou relativo à Caldéia, antiga região da Ásia) do VI século a.C. citado no filme Separações de Domingos Oliveira

Dica: Todas as Mulheres do Mundo, um clássico brasileiro de 1967 escrito e dirigido por Domingos Oliveira e estrelado por Paulo José e Leila Diniz está de volta. A partir de amanhã (17) até o dia 23, no Odeon, sempre às 13h. Não é "digrátis", mas é quase: R$2,00!!!

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