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2.1.03

O dia 31 foi estranho. Depois de recusar convites para Guaratiba e Magaratiba esperando a confirmação de uma festa que eu tinha combinado em outubro, mas não sabia onde era, recebi o aguardado telefonema. Infelizmente, por uma série de reviravoltas, acabei não me encontrando com quem eu esperava. Assim, mesmo com tantas possibilidades de festas, às 19:00 concluímos que seríamos mesmo só nós três.

Fomos para a Lagoa. Confesso que não estava especialmente animada. Mas algo aconteceu, algo sempre acontece à zero hora do dia primeiro de janeiro. Foi o espelho d'água, foi a linda árvore, foram os fogos, foi a animação infantil e o beijo do meu filho, foi o esforço sobrehumano para me agradar e beijo do meu marido, fui eu, sei lá... Mas no primeiro minuto do novo ano já havia feito as pazes com o sorriso. E ele veio por entre uma enxurrada de lágrimas. Elas sempre aparecem no réveillon, para lavar os males do ano que se encerra ou para lubrificar as engrenagens do que se inicia.

Havia uma festa acontecendo e eu dancei muito com meus dois pares.

O dia acordou preguiçoso. Finalmente encontrei meus amigos que vinham do outro lado do mundo sabe-se lá com quantas escalas. A gente ri, se abraça, se beija e retoma o papo como se ele tivesse sido interrompido no dia anterior. Com eles, vi Copacabana de uma perspectiva que ainda não conhecia. Ali, daquela varanda junto a piscina de um hotel fiquei tentando me imaginar na pele de um turista que chega a minha cidade e tem aquela visão. Deus, obrigada por eu ser aqui.

O almoço foi interrompido pela comoção. No restaurante muitos se levantaram em respeito ao Hino Nacional durante a posse do novo presidente. Eu não. Com as pernas bambas de emoção, não consegui me erguer. Pela televisão e no rosto de cada anônimo vizinho de mesa, vi o futuro chegando através de uma cortina de lágrimas. Que muitas bênçãos se derramem sobre o Brasil, o país do presente.

Depois de uma rápida sesta, era hora de deixar de vez qualquer ranço de 2002 e não há melhor forma de fazer isso do que entregando-se aos cuidados das águas do mar. À margem da Lagoa Rodigo de Freitas, ainda na noite anterior, conheci uma sergipana que vem todos os anos passar a virada do ano no Rio. Segundo ela, a experiência faz com que, diante de qualquer dificuldade, ela saiba que sempre haverá um 31/12-01/01 e siga em frente com força e esperança. Um pôr-do-sol no Arpoador também é beleza para alimentar qualquer um por um ano inteiro. Mas, felizmente, posso repetir o programa com maior freqüência, esteja ou não precisando de uma dose extra de energia.

Na praia estava FR, aquele que não se importou em sacrificar algumas vidas humanas, a cultura da pesca de subsistência, alguns ecossistemas pelo país afora em homenagem ao todo-poderoso deus lucro. Estava inconformado porque seu tempo acabou. Ele faleceu para os holofotes um pouco antes da era FHC e por isso afundava (como uma plataforma de petróleo), ali na areia, em puro despeito. A princípio fiquei irritada, depois me lembrei que a ele - coitado - não restava outra coisa a fazer. Não há mal que dure para sempre.

Nasce um novo ano, um novo país, uma nova disposição nos espíritos. E alguma coisa aqui dentro sinaliza que é muito mais que esperança.

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