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9.3.04

Fui visitar o Centro Cultural da Justiça Federal que eu ainda não conhecia. Entre algumas exposições bem interessante, uma sobre os direitos civis e sua história no Brasil. Uma das coisas que me chamaram mais atenção foi o acompanhamento da história da dinâmica familiar (amparada pela lei). A mulher não poderia, por exemplo, trabalhar sem ordem expressa do marido ou de um juiz. E para ilustrar situações como essa, alguns textos.

Um deles, contava a história de uma família que não tinha farinha para acompanhar o almoço. Como a mulher sabia que o marido tinha o hábito de comer farinha em todas as refeições, tratou de providenciar a dita cuja para o jantar. Ao ver o alimento na mesa à noite o marido pergunta onde a mulher tinha conseguido dinheiro para aquilo. Ela responde que tinha lavado uma trouxa de roupas. O marido dá-lhe uns catiripapos pra ela aprender a não trabalhar nem sair de casa sem o consentimento dele.

Em outro texto, uma espécie de 10 mandamentos para a esposa e mãe ideal de 1929. Seria para rir, se não fosse trágico.

Mas depois de acompanhar a fartura de ontem, dia internacional da mulher, por todos os cantos, descrevendo o “ser mulher”, cheguei a algumas explicações possíveis:

- Os textos são muito antigos e refletem uma realidade feminina que não existe mais.
- Mesmo em grupos geográficos e sociais que você acha que isso é impensável, tudo o que aconteceu nas últimas décadas parece ter passado ao largo e algumas mulheres continuam em 1929. Elas esperam os maridos em casa com os chinelos em uma mão e o jornal em outra. Estão perfumadíssimas, apavoradas com a idéia de que alguma aventureira lance mão deles. Elas abrem as pernas quando eles querem, porque faz parte de seus deveres de esposa amantíssima, mas sexo para elas é apenas algo que tem que ser tolerado. Elas são as únicas responsáveis pela criação dos filhos e pelo bom andamento dos assuntos domésticos. Seus maridos são provedores e tudo o que possa aborrecê-los deve ser evitado ou sumariamente descartado. Por isso elas sempre os aceitam de volta e nem perguntam porque eles demoraram três meses para comprar um maço de cigarros ali na esquina. Afinal, têm muita sorte por tê-los de volta.
- Eu não sou uma mulher.

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