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16.5.04

O Arauto entra e anuncia o rei. (...)

Entram o Grão-duque, a Grã-duquesa, o Ministro e o Funcionário Honesto.

Tecelão - Excelência, quanta honra! (uma reverência) Aproximem-se, Excelências. Apreciem nossa obra.

Eles aumentam a luz. Tiram o pano que cobre o tear. O Grão-duque e a Grã-duquesa arregalam os olhos.

Tecelão - Vejo que estão admirados, Excelências, com nosso tecido...

Tecelã - Espantados com o nosso trabalho. Foi difícil e demorado. Passamos noites trabalhando.

Tecelão - Noites e noites...

O Alfaiate dá pulinhos atrás do Grão-duque.

Funcionário Honesto e Ministro - Oh! Oh! Oh!

O Grão-duque (para o público) - Oh, Jesus, sou um idiota! Um incompetente! Um burro! Que será de mim quando meus súditos souberem disto? Finjo tudo. Vou fingir que estou vendo.

Grão-duque - Senhores tecelões de ouro, estou realmente admirado! Tanta formosura, tanta beleza num tecido! Que maravilha. Veja, Alfaiate, pegue, admire! (o Grão-duque faz a mímica de pegar o tecido no tear vazio)

Grão-duque - E você, querida esposa... já viu tecido mais rico? Não é divino?

Grã-duquesa - Sim, querido!

Tecelão - Vejam os rococós.

Todos - Magníficos.

Grã-duquesa - Sim, querido.

Tecelã - Apreciem os bizurados!

Todos - Fantásticos!

Tecelão - Notem as quizumbas!

Todos - Fenomenais!

Grã-duquesa - Sim querido! (mais alto)

Tecelã - Observem os fricotes!

Todos - Chocantes!

Grã-duquesa - Sim, querido! (mais alto)

Grão-duque - Estou estupefato! Es-tu-pe-fa-to! Nunca vi tamanha obra de arte! Mal posso esperar pra ver o tecido transformado em trajes que usarei triunfalmente para que o povo me admire. Será minha milionésima qüinquagésima roupa. Tecelões, confio a tarefa a vocês. Comecem agora a fazer o mais lindo traje do mundo com o mais maravilhoso, misterioso dos tecidos!

Tecelã - Sim, meu senhor (ajoelha-se). Sob as ordens de Vossa Excelência e a bênção de Deus o faremos!

Tecelão - Cumpriremos a nossa missão!

Grão-duque - Então, mãos à obra.

Saem todos. Os dois vigaristas ficam a sós, dão gargalhadas, rodam o corrupio.

Tecelão e tecelã (para o público) - O que é a humanidade...


(Trecho da peça O Alfaiate do Rei, de Maria Clara Machado, baseada no conto de Hans Christian Andersen A Roupa Nova do Rei)

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