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6.5.04

Século XX - década de 40:

AI, QUE SAUDADES DA AMÉLIA
(Ataulfo Alves e Mário Lago)

Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz

Você sé pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai, meu Deus, que saudades da Amélia
Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: "Meu filho, o que se há de fazer!"

Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade


Século XX - década de 70:

MULHERES DE ATENAS
(Chico Buarque - Augusto Boal/1976
Para a peça Mulheres de Atenas de Augusto Boal)

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
Quandos eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obcenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas


Século XXI:

PAGÚ
(Rita Lee e Zélia Duncan)

Mexo e remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira sabe o que que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta
Não sou freira, nem sou puta

Porque nem
Toda feiticeira é corcunda
Nem
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem

Sou rainha do meu tanque
Sou Pagú indignada no palanque
Fama de porra louca...tudo bem
Minha mãe é Maria ninguém

Não sou atriz
Modelo ou dançarina
Meu buraco é mais em cima

Porque nem
Toda feiticeira é corcunda
Nem
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem



ELA É BAMBA
Ana Carolina

Ela é bamba
Ela é bamba essa preta do Pontal
Cinco filhos pequenos pra criar
Passa o dia no trampo pau e pau
Ainda arranja um tempinho pra sambar
Quando cai na avenida ela é demais
Todo mundo de olho ela nem aí
Fantasia bonita ela mesmo faz
Manda todas não erra a mira
Mãe passista atleta manicure diplomata
Dona da boutique enfermeira acrobata

Ela é bamba ela é bamba ela é bamba
Ela é bamba ela é bamba ela é bamba

Ela é bamba essa índia da Central
Vai no ombro um cestinho com neném
Oito quilos de roupa no varal
Ainda vende cocada nesse trem
Toda sexta ela fica mais feliz
Vai dançar numa boate do Jaú
Faz um jeito e já pensa que é atriz

Cada dia inventa um nome
Dora Isaura Emília Teresinha e Marina
Ana Rita Joana Iracema e Carolina

Ela é bamba

Ela é bala a mestiça é todo gás
Cada braço é uma viga do país
Abre o olho com ela meu rapaz
Ela é quase tudo que se diz
Quando compra briga ela é demais

Vai no groove e não deixa desandar
Ela é pop ela é rap ela é blues e jazz
E no samba é primeira linha
Laura Lígia Luma Lucineide Luciana
Quer seu nome escrito numa letra bem bacana

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