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6.6.04

A mulher me fitou com um olhar desenxabido e perguntou, porque tinha ouvido a conversa dos meninos, que comentavam o filme sem parar, se eu tinha comprado os ingressos para assistir ao novo filme do Harry Potter com muita antecedência. Estou pensando em começar a cobrar comissão do Ingresso.com

- Mas não tem que dar o número do cartão de crédito?
- Tem.
- É disso que eu tenho medo (síndrome de Regina Duarte).
- É seguro. Mais seguro que entregar seu cartão na mão de um garçom no restaurante blá-blá-blá...


Ainda tem muita gente que só consegue enxergar a Internet como lugar de criminosos, tarados e loucos. Mas digo que lugar de mais gente perturbada por metro quadrado é o (para muitos, não pra mim) insuspeito supermercado.

Tem as velhas donas-de-casa que vão passear entre as gôndolas pra espantar a solidão e ligam pras filhas, no meio de uma reunião de trabalho pra contar que hoje o açúcar está mais barato no Extra que na Sendas. Já comentei também sobre aquele pessoal que fica descascando alho para pagar milésimos de centavos a menos e provavelmente depois tem que gastar fortunas com sabonete pra tirar o cheiro das mãos. No entanto nada se compara com o homem que parou atrás de nós na fila do caixa hoje.

Antes de contar, claro que devo aqui fazer uma pausa para admitir que também estou incluída no rol dos doidecos de plantão. Que ser em juízo perfeito iria resolver fazer compras de mês num domingo, principalmente quando este é o primeiro dia de sol e céu de brigadeiro depois de muitos e muitos dias. Bem, talvez nem tantos dias assim, mas sou carioca. Vocês entendem, né?

Voltando ao homem, reparei que Ricardo estava conversando com ele enquanto tirava as compras do carrinho e colocava na esteira. Eu não conseguia ouvir o que eles diziam, porque estava ocupada empacotando e do outro lado do caixa. Contudo, reparei que o homem suava muito, mesmo que quente não pudesse de forma alguma descrever o dia de hoje, especialmente em ambiente refrigerado. E ele estava agitado, nervoso, aparentando estar muito preocupado.

Assim que pôde, Ricardo veio me contar que o homem estava muito angustiado, porque já se passava do meio-dia e ele teria que ir ainda a outro supermercado para comprar feijão. E tinha que ser aquele feijão daquele supermercado. Não adiantava ser da mesma marca. Tinha que ser comprado naquele supermercado específico que fechava pontualmente à uma hora. E por isso estava tão afobado. Eles eram muito rigorosos no supermercado do feijão maravilhoso. Se ele chegasse um minuto depois da primeira badalada vespertina, nada feito. E o homem suava. O mais interessante que ele não estava irritado, como geralmente ficam os ansiosos de plantão. Ele olhava pras pessoas com um olhar de quase súplica: será que vai dar tempo?

A mocinha do caixa contou que teríamos direito a raspadinhas e ganhei uma colher de cortar bolo. Enquanto Ricardo foi trocar a cartela pelo magnífico prêmio, fiquei ali parada ainda observando o cavalheiro, cada vez mais nervoso, cada vez mais suado, cada vez mais atrapalhado em colocar suas compras dentro das sacolas. Será que vai dar tempo de sair de um supermercado e ir pra outro para comprar o feijão da mesma marca que tem aqui?

Certas doidices são comoventes. Ricardo, que é mais expansivo que eu quando se enternece com a sandice alheia desejou sorte ao homem ao sairmos com nosso carrinho de compras de mês e pá de bolo em punho rumo ao domingo ensolarado e 40 Km em direção oeste na Avenida Brasil.

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