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9.7.02

Para começar, um escracho: eu vejo novela. Às vezes a TV só fica ali, ligada enquanto termino de ler o jornal, brinco com meu filho ou simplesmente relaxo um pouco, pensando no nada. Na época em que andava muito triste assistia àquelas séries norte-americanas que passam na Sony e na Warner. Ô Cride, fala prá mãe...

Foi assim que comecei a pensar num recurso comum da teledramaturgia que algumas vezes já vi acontecer diante de mim sem a intermediação dos raios catódicos (a arte imita a vida ou vice versa?). É comum a mocinha ter por perto uma confidente. Para ela conta tudo e ela sempre está por perto para auxiliar a protagonista. Assim ficamos sabendo o que se passa na cabeça e no coração da personagem principal sem que se precise recorrer às fantasmagóricas vozes em off. Geralmente pouco sabemos dessa segunda personagem, já que ela só está ali como escada. Ela não interessa. E parece que algumas pessoas pensam assim: que só sua existência importa.

São como a personagem da (argh, puf, puf!) Regina Duarte em Desejos de Mulher. Ela perde tudo, carreira, marido, dinheiro, casa, tudo, tudo, tudo. Alguns de seus antigos empregados permanecem com ela. Acho que são uma secretária, o motorista e a copeira. Todos são extremamente dedicados a ela. Todos se propõem a trabalhar de graça para ajudá-la a reerger-se. Todos oferecem seus ombros para seus soluços. Claro que todos também ficaram desempregados, mas isso é detalhe. De repente, a ex-copeira trai a ama, digo, amiga. Ela se justifica dizendo que precisava de dinheiro para cuidar do filho doente. Claro que é justamente execrada.

Eu disse justamente? Pois a grande amiga sequer sabia a outra tinha um filho, muito menos que estava doente. Que piorara e estava à beira da morte? Nem pensar!

É só um exemplo da lógica televisiva, absurda e parcial como deve ser ali. Mas e quando acontece bem aqui? O fulano cobra, cobra e cobra dos amigos. E onde está a amizade dele? Em que situação ele perguntou ao outro como se sentia, o que se passava com ele? Quando foi que deixou claro que se podia contar com ele? (Lá de onde vim, diria-se "só venha a nós, do vosso reino nada".) Talvez a personagem de La Duarte respondesse que sempre deu seus sapatos usados para moça, que no Natal oferecia uma cesta com arroz quebradinho e vinho sangue de boi. Faz parte da maneira particular de raciocinar das heroínas dos folhetins.

Agora se nem em novelinha das sete eu tenho paciência para complexo de diva...

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