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5.8.02

LENINE


Existe um enorme abismo entre o que a crítica admira e o que o público gosta e raramente ambos encontram-se nesse Vale da Expectativa.

Mimada pelo Teatro Rival BR, já reservo uma certa má vontade para com shows no Canecão com sua difícil visibilidade do palco (o mínimo que você espera de um lugar chamado de balcão nobre a R$35,00 por cabeça é conseguir ver algum trecho do palco ao invés de ser obrigada a acompanhar o show pelo telão, certo?). Mas não foi isso que fez com que o show no Lenine não caísse no meu gosto.

A crítica ulula surpreendida por um Lenine roqueiro e eletrônico. Muita gente que já vai para o show com o texto pronto (falando mal sempre, é claro) teve trabalho para refazer tudo. O público, boquiaberto e um tanto apático não pode usar as letras de música que trouxe na ponta da língua e sente-se traído e meio ludibriado. A maioria pagou ingresso para ver e ouvir o Lenine que conhecem das trilhas sonoras da Rede Globo. Estes voltaram para casa de ouvidos abanando, sem alguns de seus hits.

Eu só achei chato. Não gosto de wah, wah nem de microfonia metida a moderna. Lenine é um tremendo talento, compositor estupendo, mas quer desvencilhar-se a todo custo do rótulo de nordestino. Ele quer ser visto como cosmopolita e universal. Mesmo que para isso tenha que extrapolar para o outro lado.

Os críticos foram realmente pegos de assalto? Talvez se a imprensa brasileira não fosse tão focada na desgraça e no negativo, no ano de 2000 tivesse sido dado destaque, além dos escândalos da exposição em Hannover, a um enorme festival de cultura brasileira que aconteceu em Paris na mesma ocasião. Teriam sabido que no Festival de Latitudes Villettte/Brésil o galego pernambucano aprontou coisa parecida.

Na primeira apresentação no festival, numa sala de ótima acústica (Cité de la Musique), com público sentado e bem comportado, ele apresentou-se com Carlos Malta e Pife Muderno e participações muito mais que especiais. Foi um show com forte acento regional. No dia seguinte, os jornais de Paris, onde arrisco dizer que Lenine é muito mais reconhecido que aqui, o apresentavam como o herdeiro e novo representante do nordeste brasileiro. Mas havia outro show por vir.

A Grande Halle, também no Parc de la Villette é um galpão onde foi montado um grande palco. Espaço para um público de umas 5 mil pessoas. E foi lá, no dia seguinte, que o parceiro de Bráulio Tavares, Lula Queiroga e Paulo César Pinheiro mostrou que podia apresentar ainda mais e mostrou praticamente o mesmo repertório do show anterior em leitura roqueira, com direito a cabeleira balançando à heavy metal.

Este tipo de coisa faz a genialidade de homem que foi batizado ao gosto do pai comunista. E ele é muito bom assim ou assado.

Só que eu prefiro MPB ao rock.


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