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24.9.01



[De maniqueu + -ismo; fr. manichéisme.]
S. m.
1. Filos. Doutrina do persa Mani ou Manes (séc. III), sobre a qual se criou uma seita religiosa que teve adeptos na Índia, China, África, Itália e S. da Espanha, e segundo a qual o Universo foi criado e é dominado por dois princípios antagônicos e irredutíveis: Deus ou o bem absoluto, e o mal absoluto ou o Diabo.
2. P. ext. Doutrina que se funda em princípios opostos, bem e mal.

Num de seus primeiros discursos sobre os atentados e as possíveis reações norte-americanas, o presidente George W. Bush disse a seguinte frase: "Esta é uma GUERRA do BEM contra o MAL".

A partir daí o mundo inteiro percebeu que não haveria uma solução justa, com busca, apreensão, julgamento e condenação dos culpados. Ao invés disto teríamos guerra. Pouco importava que não houvesse então (e ainda agora) provas inquestionáveis sobre quem era o inimigo. Considera-se detalhe insignificante o fato de o FBI ter divulgado pelo menos dois nomes errados na lista dos terroristas que teriam sequestrado, pilotado e arremessado os aviões. Quem ousa colocar em dúvida todo o processo de investigação e chamá-lo de viciado? Quem ousa questionar a satisfação da indústria bélica norte-americana que ajudou a eleger (como foram mesmo as eleições?) este presidente?

Diante da afirmação de que os EUA eram o bem algumas pessoas começaram a pensar: será? Surgiram aí os primeiros textos que questionavam o fato de os yankees estarem quietinhos em seu canto e serem uma nação pacífica. Estavam mesmo? Eram mesmo? Então quem seriam aqueles que apoiavam Israel? Quem teria treinado e apoiado o talibã? Quem armou Sadam? Quem são os que estão matando árabes nas ruas de suas cidades em atitude revanchista? De onde vem o calamor pela guerra (desde que ela não aconteça em seu território)?

Então a coisa ficou assim:

primeiro momento: choque mundial com ínfimas manifestação de alegria
segundo momento: questionamento internacional
terceiro momento: estamos culpando as vítimas?

Creio que não. Só estamos exercitando a capacidade de fugir de maniqueísmos. Matar milhares de inocentes norte-americanos e de mais de 60 nacionalidades e deplorável, inaceitável, horrível e todos os outros nomes que conseguirmos imaginar para a nossa indignação. E matar milhares de inocentes afegãos ou de qualquer outro país árabe é aceitável? Por quê? Por que a vida ocidental vale mais que a dos filhos do Islã? Seu sangue não é vermelho? Não são também pais, filhos, cônjuges, amigos? Não querem apenas viver feliz e seguros?

Se o Islã produz Bin Laden, o ocidente produz McVeigh, Unabomber, Marcinho VP, Jader Barbalho, ACM e Fernandinho Beira-mar. Vamos bombardear o mundo inteiro? Não são todos norte-americanos que estão nas ruas espancando árabes, certo? Também não são todos os mulçumanos que querem o fim da civilização ocidental.

Onde está o maniqueísmo?


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