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7.1.02


TRIBUTO A RITA LEE




Lu (obrigada pela idéia e pelo convite, querida!), Ricardo e eu fomos ao show da Rita Lee ontem no Canecão,.

Nossa mesa lateral não era em local nobre, mas creio que era uma das melhores daquele setor. O Canecão está mudando. As arquibancadas foram retiradas e tudo indica que surgirão mais mesas onde elas estavam. Ontem este “nada” foi ocupado pelos sem-assento.

Rita, já avançada nos cinqüenta, está ainda vitaminada. Apesar da tristeza pela morte de Cássia Eller, que homenageou diversas vezes, e pelas guerras que insistem em aflorar em pleno século vinte e um, o show foi alegre. Ela é muito divertida sempre. Adoro suas músicas, mas gosto ainda mais quando ela fala, faz caretas, adota a quintessência da postura pop-rock, inclusive canibalizando alguns trejeitos de Jagger.

O repertório passeou pelas músicas do novo disco com canções dos Beatles e por aqueles sucessos que todo mundo sabe (ou deveria saber) de cor. Começou com A Hard Day´s Night, no original, emendada com Nem Luxo Nem Lixo. Pausa para agradecimentos pelo comparecimento do público, descrição do humor, piadinhas, saudades de Cássia Eller e de alguma forma este simpático discurso ficou redondinho com With a Little Help from My Friend. Ao cantar Alô Alô Marciano, citou Elis de leve, imitando as evoluções de braço que valeram à Pimentinha um outro apelido: Hélice. A seguir, a versão dos Beatles estouradaça nas rádios: Prá Você Eu Digo Sim. Depois de cantar Agora Só Falta Você, Rita se retirou do palco, deixando apenas os músicos. É hora de falar deles.

A banda é nova e não poderia ter um nome mais provocativo: Talebanda. Coisa de fera. Barone, Dadi, Ary Dias, William Magalhães e Roberto Carvalho. Mais tarde Rita apresentaria os músicos como seus filhos. Dadi seria resultado de seu casamento com Caetano; Ary da ligação com Gil; Wiliam de um caso com Tim Mais; de Barone ela não sabia bem quem era o pai, porque na época andava com Herbert e Bi...

Rita voltou travestida de Gal Costa para cantar Baby. É um dos momentos mais engraçados do espetáculo, quando a eterna mutante enverga uma peruca negra cacheada e uma echarpe de plumas e desce até a audiência para conversar, distribuir beijinhos e abraços e sentar em alguns colos afortunados.

Nada como um narizinho de palhaço para, no que ela descreveu como momento Tropicalismo, cantar Panis et Circensis. No meio da apresentação de Todas As Mulheres do Mundo surge no palco uma mulher vestindo a burqa. Ao final do número, a odiosa vestimenta é arrancada e surge uma bela mulher grávida de bikini. Acho que todas aplaudiram Leila Diniz.

Sim, estou pulando algumas músicas. O show foi deliciosamente longo, desses que você sente o prazer do artista por estar lá... Emoção que não conseguiria reproduzir aqui contando tudo nos mínimos detalhes. Você se cansaria...

Bom, como ameaçado, Rita apresentou uma das versões para músicas do quarteto de Liverpool que foram barradas pelas editoras por serem consideradas exóticas demais. Realmente A Cabra e o Bode (sobre I Wanna Hold Your Hand) não pode ser considerada ortodoxa. Exatamente por isso é hilariante.

Ótimo arranjo bossa nova para Lucy in the Sky with Diamonds, com refrão pesadão sublinhado pela iluminação.

Para encerrar, um pout-pourri com Chega Mais, Pega Rapaz e Jardins da Babilônia.

Pensa que acabou?

Ainda tinha o momento Miss Simpatia, ou seja, o bis atendendo a pedidos. Saúde para todos. Foi quando Zélia Duncan subiu ao palco para cantar com Rita e, acompanhadas apenas por Roberto, levaram uma série de antigos sucessos da titia do rock, como Doce Vampiro e Lança Perfume. Já no finalzinho e sem Zélia a banda toda retorna incrementada pelo filhão Beto e a Ovelha Negra se despede de vez.

Fiquei com a sensação de que faltou algo. O público estava meio frio, mesmo com aqueles chatos que ficam o tempo todo gritando gracinhas ou pedindo músicas fora de hora. E redescobri que eu amo Rita Lee. E não é apenas porque sua música alegre e sacana foi trilha sonora da minha adolescência. Foi através dela que cheguei a compreender o Tropicalismo. E olha que desde que me entendo por gente havia Gil e Caetano em casa. Mas eles eram (e são). Rita me fez querer saber de onde vinha, o que era, por quê...

No meio do show comecei a viajar. Durante muito tempo, achei estranho quando se perguntava a alguém o que ele ouvia na infância e juventude. Depois compreendi. E ontem me caiu a ficha de que muitas das coisas que navegam no mais profundo de mim talvez não fossem iguais (mesmo que muita gente olhe e só veja Clark Kent) se eu não houvesse me formado ouvindo:

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