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6.3.02

Eu estava muito abalada com a morte do meu pai e com a gavidez problemática da minha irmã mais nova. Ficava remoendo muitas questões. Um amigo perdeu o pai mais ou menos na mesma época e discutíamos sobre o toque do anjo da morte e a reviravolta que ele causa em nosso sistema de valores. A verdade é que comecei a me preocupar com coisas para as quais jamais tinha dado atenção.

Uma conhecida me disse que eu só me preocupava com isso porque estava deprimida. Fico com os dois pés atrás quando usam a palavra depressão para designar tristeza. De qualquer forma, ela estava certa ou simplemente consegui digerir e resolver o que agitava minha cabeça naquele tempo. Passou junto com a dor lancinante, que virou doce saudade e cicatriz, e se transformou em um novo código de postura mais elaborado. Mas quando ela me disse aquelas coisas reagi com veemência. Não estava pronta para ouvir. De qualquer modo, suas palavras ficaram registradas e hoje reflito sobre elas.

Observo algumas pessoas enumerando desgraças como se vivêssemos o final dos tempos. Sou daquelas que acreditam que nada é muito pior do que sempre foi. Mudaram a velocidade com que a informação nos chega e quantidade de dados que temos que processar diariamente. Sem mencionar que boas notícias definitivamente não rendem manchetes e não geram tantas discussões acaloradas.

Penso que se hoje, por exemplo, direito civis são violados é porque eles existem e há quem reclame e há como fazê-lo publicamente, quando há um segundo histórico eles eram apenas uma utopia.

Minha amiga Gaby diz que o mundo é uma rosquinha: alguns preferem saborear sua deliciosa massa, outros preferem lamentar o furo no meio.

Não sou tola para ignorar o enorme volume de miséria e desgraça que aborrota meus olhos e ouvidos, mas creio numa constante - embora lenta - evolução. Mexo meus pauzinhos quando está ao meu alcance, procuro tirar alguma lição de tudo e não perco o foco nas maravilhas que desabrocham sob minhas imaginárias barbas todo (definitivamente santo) dia.

Aos arautos do apocalipse só tenho a dizer que vai passar.

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