
Numa dessas vezes, um homem caiu numa escada e, com os espasmos, batia fortemente a cabeça na quina de um dos degraus. Para ajudá-lo tive que engolir minha fobia, despertada com toda fúria pelo sangue que escorria de sua boca e de sua testa, já que ninguém mais se prontificou a fazê-lo. Os policiais que passavam e a quem pedi socorro deram de ombro e disseram trata-se de um bêbado conhecido na vizinhança. Mais medo que de sangue, só da polícia... Só sosseguei quando a ambulância dos bombeiros, que chamei de um orelhão próximo, finalmente chegou.
Hoje, por volta de meio-dia, filho pela mão a caminho da escola, outro homem caiu diante de mim numa das pistas da Avenida Maracanã. Mesmo quem não conhece pode imaginar a intensidade e a velocidade do tráfego na hora do almoço em uma via que detém o título de avenida. Deixei o moleque na calçada com instruções de não sair dali e lá fui eu sinalizar para os carros desviarem. O sol quente, um antigo problema de saúde e o susto faziam minha cabeça girar. Agarrei pelo uniforme um gari que passava e o intimei a me ajudar a retirar o homem do asfalto. Uma pequena multidão reuniu-se, o homem já estava em segurança recostado no muro, aparentemente sem maiores ferimentos, minhas pernas paravam de formigar: segui meu caminho tentando explicar ao meu filho o que era epilepsia e aquela outra doença, a mais grave, que faz com que as pessoas virem o rosto em outra direção e finjam que nada acontece.
Acho que o Pikachu fica mesmo bambo depois de descarregar suas baterias...
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