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21.8.02

E por falar em Yuca (2)...
(Este é outro daqueles posts engasgados)

Já vi essa palavra escrita de diversas formas e nunca sei se estão se referido à mesma coisa. Iúca, Yuca, Yucca... Sei lá... Depois do inhame, do aipim, do Marcelo, agora aparece a árvore.

A história abaixo ilustra bem uma idéia que eu alinhavava há tempos. E às vezes é mesmo assim, a gente tem uma idéia martelando na cabeça e de repente lê em algum lugar toda a teoria prontinha.



PRINCÍPIO DA IÚCA

(...)Mas, em primeiro lugar, gostaria de contar uma pequena história que me fez perceber a importância de se poder dar nome às coisas, já que a nomeação desses princípios é a chave para controlá-los.

Há muitos anos recebi um livro de identificação de árvores como presente de Natal. Estava na casa de meus pais e depois que todos os presentes haviam sido abertos decidi sair e identificar as árvores da vizinhança. Antes de sair, li uma parte do livro. A primeira árvore do livro era a iúca, pois, para identificá-la, só eram necessárias duas pistas. Ora, a iúca tem uma aparência realmente estranha. Olhei para a foto e pensei: "Mas este tipo de árvore não existe no norte da Califórnia. Ela é diferente. Eu saberia se já tivesse visto uma árvore assim e nunca vi uma antes." Peguei meu livro e saí. Meus pais viviam em um condomínio fechado de seis casas. Dessas seis, quatro tinham iúcas em seus jardins. Vivi naquela casa durante 13 anos e nunca havia visto aquelas árvores. Caminhei pelo quarteirão e imaginei que na época em que os proprietários estavam fazendo os jardins de suas casas, deve ter havido alguma liquidação: pelo menos 80% das casas tinham iúcas. E eu nunca havia visto uma antes! Quando me conscientizei da existência da árvore, quando pude classificá-la, passei a vê-la em todos os lugares. Esse é o x da questão; é onde eu queria chegar: o fato de podermos dar nome a algo significa que estamos conscientes deste algo... temos poder sobre ele... nós o possuímos e estamos no comando.


(Design para quem não é designer - Robin Williams - Callis Editora)


A mesma linha de raciocínio sobre só conseguir enxergar apropriadamente depois de dominar o conhecimento aparece no CD-ROM da Ruth Rocha chamado O Menino que aprendeu a ver sobre um garoto em fase de alfabetização. E a possibilidade de apenas conseguir dominar um conceito ao nomeá-lo está em 1984 de George Orwell (deve haver alguma explicação psicológica importantíssima para o fato de eu citar tanto esse livro). E mais, se não me engano, foi com a Meg que discutia sobre o porquê da frase de Caetano na música Língua (olha a Elza Soares aí novamente) "está provado que só é possível filosofar em alemão". E posso ficar aqui fazendo associações infinitas, passando novamente pela Alegoria da Caverna de Platão.

Para ilustrar, conto que logo depois de ler esse texto e ainda rumiando essas idéias que não devem ser nem um pouco originais, vi no Fantástico uma suposta matéria jornalística que na verdade era um anúncio sobre uma peça de teatro do Jô Soares. Ele falava sobre Jane Eyre. O nome era novo para mim, mas por algum motivo, ficou ali na memória volátil. Recebo, via e-mail, uma palavra em inglês por dia. Pois naquela segunda-feira, dia em que normalmente leio a correspondência que chega no final de semana, ali estava:


The Word of the Day for August 10 is:

ambrosia \am-BROH-zhuh or am-BROH-zhee-uh\ (noun)
*1 a : the food of the Greek and Roman gods b : the ointment or perfume of the gods
2 : something extremely pleasing to taste or smell
3 : a dessert made of oranges and shredded coconut

Example sentence:
"We feasted that evening as on nectar and ambrosia; and not the least delight of the entertainment was the smile of gratification with which our hostess regarded us . . ."
(Charlotte Bronte, _Jane Eyre_)




Claro que num post do Mothern na mesma semana as meninas também falaram de Jane Eyre.

Isso talvez não tenha a ver com o que está no ar, no inconsciente coletivo e é captado e moldado pelas "antenas" dos artistas de verdade. Talvez não tenha a ver também com afinidades entre pessoas que se querem bem. Mas de alguma forma achei que se encaixa aqui a tradução de uma idéia que me ronda há tempos sobre a questão do cigarro e da alimentação dos norte-americanos que vi traduzida perfeitamente no blog da Eliane sem que eu jamais tenha conversado com ela sobre isso.

E depois de tudo surgiu uma nova indagação: a gente só vê a resposta que sempre esteve ali quando retira mais um véu da frente dos olhos ou apenas recebe a resposta quando enfim consegue formular a pergunta?

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