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17.10.01

Assinando embaixo I

Mentes simples e complexas
por Affonso Romano de Sant`anna
(O Globo)



Essa guerra no Afeganistão está servindo para aclarar que vivemos o embate entre mentes simples e mentes complexas.A mente
simples é retilínea, plana.

A mente complexa é curva, elíptica.

A mente simples acredita que somando dois com dois vai chegar ao quatro.

A mente complexa sabe que somando dois com três pode chegar a vários resultados, até mesmo, eventualmente, ao quatro.

A mente simples afirma que a linha reta é a menor distância entre dois pontos.

A mente complexa sabe que o universo é curvo e que, portanto, a curva pode também ser a menor distância entre dois pontos.

A mente simples acredita que o que não é branco é preto.

A mente complexa sabe que existe um espectro de cores e é com essa palheta que se chega ao arco-íris.

A mente simples diz furiosa: olho por olho, dente por dente.

A mente complexa pondera com Gandhi, que dizendo olho por olho acabaremos todos cegos e desdentados.

Esta guerra, portanto, tem seu lado pedagógico para quem quiser aprender alguma coisa.

Lembram-se de quando dividíamos o mundo em esquerda e direita?

Era um topológico equívoco. Só porque durante a Revolução Francesa, na Assembléia Nacional, os que queriam mudanças
sentavam-se à esquerda e os que queriam conservar as coisas estavam à direita, passamos todos a pensar topicamente.

Mas logo, logo o sangue que escorria dos cadafalsos nos mostraram que ele fluía da direita, fluía da esquerda, fluía do
centro.

Hitler não era de direita nem Stalin de esquerda.

Hitler e Stalin eram mentes perversamente simples.

Isto que estamos assistindo em torno do Afeganistão não é um conflito entre o mundo islâmico e o mundo cristão.

É um conflito entre a mente simples e a mente complexa.

A mente simples não vê matizes.

É o bem contra o mal, o certo contra o errado, o Ocidente versus Oriente.

Por isto é possível detectar entre os ocidentais os que têm mentes simples e entre os orientais os que têm mentes complexas.

Por isto é possível, até mesmo entre aqueles que dizem que estão à esquerda e à direita, perceber os que têm mentes simples e os
que têm mentes complexas.

Vejo uma série de coisas expressas por escritores nesses dias. Espera-se que o artista e o intelectual estejam habilitados a lidar
com o simples e o complexo. Nem sempre. Se há intelectuais que estão tentando ver as nuances do conflito, há aqueles como
Oriana Fallaci e Salman Rushdie que ostentam uma retilínea reação verbal.

O terrorista tem uma mente terrivelmente simples.

O militarista, não necessariamente o militar, tem uma mente armadamente simples.

O pacifista, até o pacifista, pode ter uma mente desarmadamente simples.

A arte não é uma coisa simples, embora alguns a simplifiquem em receitas, objetos de consumo e marketing.
Bruneleschi e Alberti, que descobriram a perspectiva no Renascimento, não tinham uma mente simples. Goya não tinha
uma mente simples. Clarice não tinha uma mente simples. Nem Guimarães Rosa. Bach era simplesmente complexo.

A mente complexa é a que está sempre aberta para novas dimensões. Newton percebeu dimensões novas no universo.
Einstein agregou a quarta dimensão. E agora Stephen Hawking nos anuncia que há pelo menos 21 dimensões ou realidades
diferentes.

Olhemos a biologia: o ovo não é quadrado. O coração não é retangular. O DNA são espirais que se procuram a si mesmas num
interminável balé de curvas.

Olhemos as galáxias. E os ventos. E os vulcões. E as tempestades. Não são simples, não marcham em linha reta.

O amor, ah! o amor, não é, nunca foi uma coisa simples.

Grande noite!

A idéia era homenagear o patriarca César Faria e o que se viu foi um desfile de talento de três gerações mais convidados especialíssimos apresentados pela simpatia de Sérgio Cabral (o pai, evidentemente). Entre sambas e choros, foram relembrados Jacob do Bandolim e Pixinguinha e “causos” deliciosos saiam a toda hora da boca de Sérgio entre um e outro gole de cerveja.

Paulinho da Viola desfilou sua elegância de sempre e, como não poderia deixar de ser, no final o povo cantou junto Um Rio Que Passou em Minha Vida. O público lotou o Sesc Copacabana e participou ativamente do espetáculo que parecia um encontro musical na sala de visitas de alguém. Vaiaram quem esqueceu o celular ligado, fizeram perguntas ao jornalista que é um arquivo vivo da música brasileira, ovacionaram com vontade. Teve até quem cometesse a maior das heresias, pedindo que Paulinho homenageasse o Império Serrano.

O neto de “seu” César, João, segundo as certeiras palavras de Cabral, é de linhagem duplamente nobre: de um lado os Faria, de outro os Rabello (Paulinho é casado com a irmã de Rafael).

Outro objetivo do show era reviver uma famosa noite do Época de Ouro, no Teatro Lagoa, em 1974, considerada um marco do renascimento do choro. O espetáculo chamava-se Sarau, mesmo nome do primeiro grupo a se apresentar na noite de ontem. E, claro, o Época de Ouro se fez presente, com Bruno Rian (filho de Déo, que integrava o grupo naquele ano) substituindo Ronaldo do Bandolim.

Esses shows no Sesc têm sido maravilhosos. A qualidade musical é de primeiríssima, os convidados são a elite da elite e o espaço é calorosamente pequeno, permitindo à platéia sentir-se no palco. Dá para ouvir os músicos conversando entre os números e combinando surpresinhas.

E na próxima terça tem mais...

Melhor que isso só a companhia de uma amigo que veio de longe para, mais uma vez, aproveitar é deleitar-se com a cultura brasileira. Carne seca com farofa, feijão amigo e chope testemunharam uma conversa animada sobre música, cinema, trabalho, mercado e até uma triste visão interna do pesadelo.



Herbert


Porque também é preciso louvar os presentes da vida.

Mas, mas, mas...

... se não é contagioso, como é que um pai infectado por uma carta recebida no escritório passou antraz para o filho bebê em casa?

Não precisa explicar. Eu só queria entender.

16.10.01


Lettíssima comenta sobre seu espanto ao ver um jovem levantar-se para ceder lugar a uma senhora no metrô. Já acho que é uma atitude relativamente comum. Principalmente nos ônibus, onde impera a boa e velha educação suburbana. (Alguém ainda pede a bênção aos mais velhos da família?) Mas vou contar de dois episódios relacionados.

Minha irmã viu um velhinho em pé e resolveu ceder lugar. O homem ficou furioso e não se conformou porquye ela estava chamando ele de velho. Quase bateu nela, que teve que pedir desculpas. hahaha

Outro dia no metrô, entraram duas senhoras, nem tão velhas assim e estavam se aproximando de onde eu estava sentada. Instintivamente, já ia segurando o pimpolho que estava sentado do meu lado para liberar pelo menos um dos assentos, quando uma delas começou a gritar que ele tinha que se levantar porque não tinha o direito de estar ali. Aí não, bicho! Há lugar reservado para idosos no transporte e não estávamos neles. Meu filho pagou passagem como duvido que ela tenha feito. Ele ia levantar, mas não tem que... Infelizmente, bons modos e respeito ao próximo não tem a ver com idade. E eu gosto muito de obrigada, com licença e por favor para abrir espaço para este tipo de coisa estúpida.

O texto sobre o Lins saiu com um erro tenebroso: aparece um "a" onde era "há". Por favor, sejam generosos e leiam como se estivesse correto.

Gaby avisa sobre o Dia de Fazer a Diferença e me lembrei que dia 21 começa a campanha Natal sem Fome.



11.10.01

Demorou, mas finalmente chegou a resposta tão aguardada vinda da minha guru filosófica. E veio derramando cultura e generosidade. Com vocês, a Sub Rosa e seus comentários sobre a Alegoria da Caverna:

“O que acontece é que recebemos a grande maioria dos textos antigos através das traduções árabes de Avicena e Averróes principalmente. Só há um detalhe precioso: todos os helenistas (que se dedicaram a estudar a cultura grega (Atenas e Esparta) propriamente dita, e quando essas duas potências perderam a hegemonia para Filipe e Alexandre da Macedônia... que estenderam seus domínios para toda a Ásia e a isso se denomina processo de Helenização (A Grécia era conhecida como HELADE)) voltaram seu foco, para a *LINGUAGEM* e a linguagem grega cria conceitos apenas existentes no ocidente europeizado. Voltam-se para os pré-socráticos. Por exemplo a Maria Helena é uma helenista brilhante. Deve ter uns setenta e seis, mas é lúcida como um deus. Isso não mede o grau de *modernização* ou conservadorismo. Ela não é a melhor tradutora. Ela tem visões, angulações e estudos magníficos sobre a cultura e a civilização da polis grega. Mas até ela lhe dirá que jamais se saberá o que significa realmente arké, hypokeimenon... O brilhantismo de um tradutor não se encerra na *correção*, mas na capacidade de apreender a essência de um conceito. A propósito disso, Leminski tem um escrito que gostaria de postar na ÁRTEMIS, sobre como é quase impossível as línguas antigas serem vistas através de uma lógica universal, ou um universo fechado de significações. Por exemplo: jihad, karma, filosofia, axé, xodá, jazz, forma, natureza aí temos conceitos que são praticamente intraduzíveis... Não são palavras, Sissi... São conceitos, abstrações. O conceito sânscrito-hindu de *KARMA* por exemplo , é usado para pensar o mundo. Tal como temos conceitos puramente ocidentais quase ininteligíveis para nós mesmos. Há línguas como o hebraico, em que uma forma verbal representa ao mesmo tempo pretérito e futuro... Ou a palavra hebraica *dabar* que designa coisa e palavra ao mesmo tempo... E línguas como o chinês que, igualzinho ao nosso tupi, não possuem o verbo *SER*!!! Bem, é só para dizer que essa querelas das traduções é preciso ter cuidado para não cair no poço das discussões sem fundo, no bizantinismo ou nos *donos* do melhor isso, do melhor aquilo. Claro que devemos nos afastar o mais que pudermos dos manuais de vulgarização. Eles são ótimos como porta entreaberta, mas como passagem de entrada não.”

E tem mais!

“O sol que ilumina é também o mesmo que produz sombras.”

Só para lembrar, eu perguntei:

Você está me perguntando se a luz e toda a realidade que ela mostra seriam uma não sombra e uma não caverna?

E eu babo com a resposta:

“Não, de modo algum, o que quero dizer é que dependendo do tempo ou melhor, do apego a que as pessoas têm às suas certezas, suas crenças, suas opiniões, é temerário e muito duvidoso, que por si só, ela se desprenda da comodidade do que sempre julgou verdadeiro.
Mas se por acaso, ela se dispuser a reconhecer que o sol das idéias é que ilumina as coisas - o real (que vem do latim res, coisa); que a caverna (chamei de domicilio carcerário, porque Platão é claro: quem está na caverna está *AMARRADO* e só pode olhar numa direção, lembra?) é o mundo que deve ser abandonado pois é *projeção de luz * e não *a luz*, então - vamos ter que considerar que pra quem sai da escuridão compare com o cinema, a luz causa dor em sua visão, não é? Metáfora para o processo do conhecimento que é sempre doloroso.
E doloroso de várias formas... até porque quem busca esse saber é temido, ridicularizado, escarnecido, e ... muitas vezes violentamente neutralizado...

CC: Se estaríamos definindo o real pelo metro do já conhecido?

Meg: Não era minha intenção, mas você criou uma hipótese perfeitamente válida e absolutamente valiosa do ponto de vista dialético.

CC: E que isto não seria uma verdadeira revelação mas apenas um jogo de positivo e negativo? E que ainda haveria algo além? É isso? Se for isso, vou te contar que estou usando as linhas filosóficas que vou colocar no próximo post para brincar com várias possibilidades.
Repito: o número e qualidade das respostas é proporcional à quantidade de abordagens escolhidas.

Meg: São atitudes como essa que através dos tempo têm enriquecido a relação: aluno X professor, mestre X discípulo, no grego erastés e erasta (*ela colocou as duas palavras em grafia grega, mas infelizmente não consegui reproduzí-la aqui*)
Ou guia como você diz...(e que foi o que Dante Alighieri fez ao escolher Virgílio, na Divina Comédia -outra metáfora da caverna)
A unica coisa que lamento é que vc tenha procurado um livro de Filosofia da Educação.

Obrigada, querida! Está sendo ótimo aprender com você.


Com raras e louváveis exceções, se você perguntar a um morador de um bairro periférico onde ele mora, ele vai responder que mora no bairro núcleo da vizinhança. Assim, moradores do Engenho de Dentro, por exemplo, geralmente afirmam ter ser lar no Méier, algum milagre geográfico transforma Jacarepaguá em Barra da Tijuca e, se depender dos habitantes de Senador Camará esta localidade não existe, apenas seu vizinho Bangu.

Talvez isso se deva à estratégia montada pelas imobiliárias que tentam valorizar os imóveis que vendem ou alugam incluindo-os em um bairro adjacente mais bem cotados.

É verdade que existem espalhados pela cidade alguns pontos que eu chamo de limbo. Eu mesma já morei em um deles. É aquele lugarzinho que ninguém sabe afirmar ao certo a que bairro pertence. Meu antigo apartamento ficava ali na descida da Estrada Grajaú-Jacarepaguá, próximo ao antigo zoológico (para o qual, visando fortalecer a receita, o Barão de Drummont inventou o jogo do bicho). Lá eu recebia correspondência para o Grajaú, para Vila Isabel e para Engenho Novo. Era exatamente na convergência desses três bairros.

Lins é um desses bairros que teimam em ser outra coisa. Ele quer ser Méier. E, depois da inauguração da Linha Amarela, a área gosta de ser carinhosamente chamada de Baixo Barra.

Gosto da poesia dos subúrbios, mesmo maculada pela guerra nos morros próximos e pela ausência crescente de árvores. No Lins as ruas são ladeadas majoritariamente por casas romanticamente antigas. As que sobreviveram ao gosto duvidoso do revestimento de azulejos, transportam a gente para um tempo não muito distante de sossego e camaradagem.

Por lá os termômetros de rua marcavam hoje 37ºC. E pensar que a apenas dois dias eles não passavam de vinte... Levo minhas sandálias rasteiras para passear por estas calçadas, ignorando o sol estorricante e adiando quase indefinidamente para a próxima quadra a entrada em um transporte que me traria para casa. Observar as crianças indo e vindo da escola, as donas de casa puxando seus carrinhos de compras, os homens conversando na porta dos botequins, os velhos de olhos vagos... De repente, ao dobrar uma esquina, o caos da Dias da Cruz. Misturar-se à multidão, ver o colorido das lojas populares inundando o passeio, observar os rostos de quem corre ou de quem, por hábito, busca a rua nestas horas tediosas do início da tarde...

Há um enorme supermercado em torno do qual um pequeno aglomerado de pessoas pulula. Tem gente que vai ao supermercado todo dia. No meu dicionário isso é uma das definições para solidão. É um povo que se move lentamente no tempo. E é fácil identificá-los, observa a banca de alho. Algum dia, lá na década de 80, o alho esteve muito caro. Uma carestia relativa, mas presente. Era comum descascar-se alho antes de pagar para evitar acrescentar o peso da casca ao preço final. Faz tempo esta realidade mudou, mas ainda é comum ver aquelas caras e mãos enrugadas concentradas na demorada, árdua e mal-cheirosa tarefa de economizar algumas unidades de centavos. Deve ser triste ter tempo demais no dia e tempo de menos na vida...

Tempo... Preciso correr agora... Estou atrasada...

Houve uma metamorfose nos motoristas de táxi depois que ar condicionado nos carros tornou-se uma coisa ordinária. Estão, por via de regra, mais amáveis. Globo e Tupi AM são praticamente uma lembrança distante. Quase sempre o dial pára na MPB FM, na Nova Brasil FM ou na JB. Talvez também porque tenha mudado o perfil destes profissionais. Foi-se o tempo dos semi-alfabetizados e chegaram os ex-funcionários de bancos ou outras grandes empresas que não conseguem recolocação em suas próprias áreas. Ainda é possível encontrar velhos motoritas com assentos de bolinha de madeira e toalhinha encardida no ombro, mas eles vão escasseando como as casas de subúrbio e os moradores típicos do Lins.



10.10.01

TODA FORMA DE PODER
(Engenheiros do Hawaii)

Eu presto atenção no que eles dizem
Mas eles não dizem nada
Bush e Bin Laden(1) tiram sarro de você
Que não faz nada
Começo a achar normal que algum boçal
Atire bombas na embaixada
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Toda forma de poder
É uma forma de morrer por nada
Toda forma de conduta
Se transforma numa luta armada
A história se repete
Mas a força deixa a estória mal contada
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
O fascismo é fascinante
Deixa a gente ignorante e fascinada
É tão fácil ir adiante
E esquecer que a coisa toda tá errada

(1) A letra original diz Fidel e Pinochet
Fotos dos acontecimentos do último mês retiradas do Terra


9.10.01


Hoje ele completaria 61 anos. O que ele, que nasceu na Inglaterra e escolheu os EUA para viver, diria de tudo isso?


pazamor


Amigo,
gostar a mim parece
gostar assim
como uma prece
silenciosa.
Sim, lendo ociosa
o cio nos olhos,
o cheiro no corpo,
o cinismo nos lábios.
Libido,
li brincando.
Longe, cá no fim do mundo,
me dou e nada mudou.
Mudo, um sorriso.
Só riso.
Um só.
Um sonho,
um sopro...

(1986)

8.10.01


Hoje ás 19:30, na Estação Botafogo 1, tem o documentário Timor Lorosae – O massacre que o mundo não viu de Lucélia Santos. O filme ilustra a inacreditável tragédia da ex-possessão portuguesa, um massacre (centenas de milhares de mortos) promovido pelos indonésios comparável ao Holocausto que levanta algumas questões interessantes e bastante atuais.

1 – Por que será que o mundo demorou tanto (25 anos) a se indignar com o que acontecia em Timor Leste?

2 – Por que Milosevic é julgado em Haia e Timor foi tratado como uma questão interna da Indonésia?

Parece bastante com “aquele” assunto, não é mesmo?

Fiquei olhando as imagens dos ataques dos aliados na TV e imaginando que nunca veremos a sofrimento estampado no rosto dos civis afegãos atingidos, que jamais assistiremos entrevistas com suas viúvas e órfãos, com seus amigos, que nenhum astro ou estrela cederá seu cachê para eles, que ninguém entrará em cadeia mundial para pedir doações para as famílias daqueles que arriscam a vida para salvar os inocentes.

Todo meu apoio a estas iniciativas que humanizam números e tentam minorar um sofrimento sem medidas. Só penso: por que elas são unilaterais? Por que a desgraça caucasiana e rica é pungente, real e personalizada e a miserável é verde e indefinida, com pipocos brilhantes e sem cara? E chego a infeliz e pouco original conclusão de que todos somos iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.

Ainda bem que reservo esta palavra para poucas ocasiões: ódio. Odeio bin Laden por ter jogado o mundo nessa lama, por ter acendido o pior lado daqueles que agora se igualam a ele. Lamento tremendamente que o ocidente tenha mordido a isca. Infelizmente o demônio encarnado sabe o que faz e apontou seus canhões para aqueles que passaram quase todas as décadas do último século em alguma sorte de guerra. E se o que se quer é uma briga, há que se provocar um inimigo belicoso. Um analista reproduziu na televisão uma impressão que eu tinha: qualquer que seja o resultado dessa empreitada (a menos que prevaleça uma racionalidade da qual já quase desacredito e ele, capturado e julgado, seja condenado a prisão perpétua), a besta sairá vitoriosa. Se for preso, julgado e executado, ele será um mártir. Se for morto em combate, ele é o mártir. Se não for capturado, ele vira herói.


7.10.01

Eu me recuso a dizer mais do que "até o próximo encontro". É uma meleca... Este povo chega na nossa vida, enche o coração da gente de carinho e depois resolve ir morar do outro lado do Atlântico. Pode? O que é que eu faço? Torço para que tudo dê muito certo, porque aquela cidade é o má-xi-mo, o amor é lindo, você e ele são tudo de bom e merecem idem. E não consigo imaginar nada mais romântico do que largar tudo e ir com o amor da sua vida para .
Ontem, no tradicionalíssimo Nova Capela, depois de um magnífico cabrito com brócolis e muito alho e alguns chopes, ouvi:

"A empregada estava tendo uma crise brava de vômito e diarréia, verdinha, verdinha, molinha, molinha, depois de comer uma coxinha de galinha atrás da Central do Brasil. A gente estava se arrumando para levar a pobre para um hospital público.

Minha mãe disse:
_ Fica assim não. Podia ser pior.

Aí eu perguntei perguntei:
_ Como, mãe, como podia ser pior?

Minha mãe pensou um pouco e respondeu:
_ Ela podia ser a galinha."

5.10.01


Carinho é bom e eu gosto.

Obrigada, Violinha. Mas acerta aí na sua frase: ainda não conheço, ainda não sou amiga. Hoje é o marco zero da nossa amizade.

Um grande beijo para você.
Gostei da história que a Stella me contou:

Você me lembrou de uma história q aconteceu com minha irmã há uns 10 anos.

Certo dia, ela pediu às filhas Aninha, de 4 anos, e Clara, de 2, que juntassem os brinquedos que não gostavam mais, para serem doados. Aninha olhou bem nos olhos da mãe e disse: "Mãe, vamos dar Clara para os pobres"?

Não sei se era medo que a irmã mais nova (brinquedo vivo) fosse embora ou era o desejo de se livrar dela, mesmo...


hehehe Só os primogênitos sabem que sentimento é esse. O moleque aqui em casa passou um tempo insistindo para que eu e o pai déssemos um irmãozinho para ele. Quando viajamos, ele ficou na casa da minha mãe, que divide o quintal com minha irmã, meu cunhado e meu sobrinho. Na volta ele me confidenciou que havia desistido de ter um irmão: "Só com esse tempo com meu primo eu vi que criança pequena é muito chata." Fecha a fábrica e o pano.




4.10.01


Brincar faz parte do processo de desenvolvimento infantil.

Infelizmente, nem todas as crianças têm acesso aos brinquedos que temos oportunidade de prover aos nossos filhos. Já ouvi muita gente falando que não sabe o que fazer com brinquedos que lotam os quartos da classe média e com os quais nossas crianças não brincam mais, por isso resolvi divulgar uma iniciativa interessante.

Os laboratórios Bronstein (não, não tenho nenhum vínculo com eles), aqui do Rio, estão recebendo desde o dia 25 até o dia 6 de outubro brinquedos usados que serão distribuídos para crianças carentes. Eles podem ser depositados em qualquer das filiais abaixo. No dia 6/10 das 10:00 às 12:00 haverá uma recreação especial, comemorando o fim da Campanha Brinquedo Velho, Sorriso Novo.

Barra
Av. das Américas, 500 bl. 2/212
Av. Ayrton Senna 2150, bl. B/219

Bangu
Av. Cônego de Vasconcelos 523/lj. A

Bonsucesso
R. Cardoso de Morais 61/303

Botafogo (Matriz)
R. Marquês de Olinda 12

Cachambi
Rua Cachambi 337/Lj. A

Campo Grande
R. Augusto Vasconcelos, 177/lj. 105

Catete
Largo do Machado 54

Centro
Av. Rio Branco 257 sobreloja
R. do Ouvidor 161/505

Copacabana
Av. N. S. de Copacabana 1072/sobreloja
R. Barata Ribeiro 13 lj. B

Caxias
R. Pref. José Carlos Lacerda 1256/601

Icaraí
R. Cel. Moreira César 229/1015

Ilha
Estrada do Galeão 2751/lj. B

Ipanema
R. Garcia D’Avila 64/302

Leblon
R. Ataulfo de Paiva 566/204

Madureira
R. Carolina Machado 530/403

Méier
R. Dias da Cruz 215/sobreloja

Niterói
R. Dr. Borman 23/lj. 2

Penha
Av. Brás de Pina 688

Taquara
Av. Nelson Cardoso 1149/ sobrelojas 202 2 203

Teresópolis
Av. Lúcio Meira 670/506

Tijuca
R. Bom Pastor 295
Pç Saens Peña 45/320 e 326

Vila Isabel
R. Barão de São Francisco, 373/lj. J


BIBLIOTECAS CRESCEM NOS QUINTAIS DO RIO

O pedreiro Evandro dos Santos fez da garagem de sua casa, na Vila da Penha, uma biblioteca comunitária. Segundo ele, “não existem analfabetos, apenas intelectos não-lapidados.” Por lá encontra-se Proust, Ken Foller, Monteiro Lobato, As minas de Rei Salomão de R. Haggar na tradução de Eça de Queiroz, Agatha Christie e um livro de culinária em japonês além de outros 19 mil volumes que compõem seu acervo. A biblioteca abre na hora em que o leitor chega e fecha quando o último vai embora. Não há burocracia para consultar ou emprestar as obras. É tudo de graça, até as feijoadas e saraus literários promovidos pelo sergipano. A biblioteca foi batizada com o nome do poeta conterrâneo do visionário: Tobias Barreto de Menezes.

Evandro veio semi-alfabetizado para o Rio aos 18 anos. Foi um pastor de uma congregação batista quem terminou o trabalho usando a bíblia como cartilha. “O livro é vida. Sem ler, a gente vira robô” – diz aquele que chegou a ter uma coleção com 300 livretos de cordel antes mesmo de conseguir decifrar o que estava escrito ali. Ele ainda cita o faraó Ramsés II: “A biblioteca é o remédio do espírito”.

Em 1998, foi fazer uma obra numa loja e deparou-se com cercade50 livros que iriam para o lixo. Entre eles, havia a História do Brasil de Pedro Calmon e a coleção completa de Euclydes da Cunha. Evandro levou tudo para a casa. “As bibliotecas são túmulos. Não se pode falar. É uma burocracia danada para pegar um livro: tem que ter cadastro, foto, dinheiro”, enumera.

Começou a pedir doações em tudo quanto era canto. Milhares de livros foram buscados de ônibus, atravessando a cidade, pelo incansável Evandro. Dificuldade zero = sucesso instantâneo. Para idosos, gestantes e até preguiçosos Evandro pega um ônibus e leva a obra solicitada.

Entre as obras há raridades: um compêndio de medicina editado em 1900, uma Bíblia em latim de 1852 e talvez a única edição conhecida da História dos Mártires Evangélicos, de 1817.

Evandro agora sonha em construir uma sede para a biblioteca ou comprar um carro para pegar mais livros. Tem também o projeto de criar ali um centro de alfabetização de adultos, uma escola de línguas, uma oficina literária...


Vamos colaborar?

Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Menezes
Rua Engenheiro Augusto Bernachi, 130
Largo do Bicão - Vila da Penha
Rio de Janeiro – RJ
CEP 21235-720
Tel.: (21) 2481-5336


(Baseado em artigo publicado em 3/10/2001 no JB)

OUTRAS INICIATIVAS

Uma rede de bibliotecas comunitárias, sem apoio da iniciativa privada, governos ou organizações não-governamentais, está crescendo nos subúrbios do Rio e na Baixada.

O professor Marcelo Sanuto inspirou-se no exemplo do pedreiro Evandro para abrir em 1999, uma biblioteca numa área de 50 metros quadrados nos fundos de sua casa, no centro de Duque de Caxias. O acervo conta hoje com 10 mil volumes. A biblioteca está aberta em horário alternativo, das 18 às 21 horas.

Biblioteca Comunitária Paulo Freire
Tel.: (21) 2771-2502


O pastor Nivaldino Bastos montou sua versão na Igreja Batista do Irajá. Ela funciona desde maio com duas salas com livros didáticos e uma de enciclopédias. São 9 mil exemplares.

Biblioteca Comunitária Lima Barreto
(21)2471-5289


O corretor Flávio Rezende quer tirar a garotada da rua e mostrar Monteiro Lobato para eles. No porão de sua casa já se acumulam 2 mil livros que estarão disponíveis quando for inaugurada em Neves, distrito de São Gonçalo a:

Biblioteca Comunitária Machado de Assis
(faltam as estantes para dispor os livros)
Tel.: (21) 3707-1485


Há mais uma destas bibliotecas em Caxias, outra em Belford Roxo, uma em São João de Meriti e em Valença, na região sul do estado.

(baseado em artigo de 4/10/2001 do JB)

3.10.01

Mais recados:

Para Meg: Já entrei em contato com o reblogger para verificar se exite limite para o tamanho do post. Assim que tiver uma resposta, falo com você.

Recadinhos:

Para Jesse, que me pergunta se sou escritora: Acho que sou ainda escrevinhadora. Vivo cultivando o hábito de escrever, que me dá um prazer danado. De vez em quando alguém se interessa, gosta... Quem sabe um dia, né? :-)

Para Fer e Lettíssima: Valeu o toque!
1 - Metafísica idealista: A realidade suprema é de natureza mais espiritual do que física, mais mental do que material. “O que não pode ser pensado não pode ser real” (Parmênides). “O mundo é minha idéia” (Schopenhauer). O idealista não nega a existência do mundo à nossa volta, mas mesmo sendo essa coisas reais, elas não o são de forma derradeira. Para o idealista cristão, a realidade suprema é o Deus da Trindade. Platão considerou o espírito do homem uma “alma” que emana de um empíreo de “idéias” perfeitas e externas.Berkley assume a posição cristã ortodoxa de que a alma é imortal, tendo sido criada por Deus para desfrutar a vida eterna com Ele, após suas provações na Terra. Para Kant, o homem é livre (é um espírito) e determinado ( ser físico, sujeito à lei natural). O idealista hegeliano considera o homem uma parte vital do Absoluto (centelha do Espírito Eterno em que será reabsorvido na morte).

[O “EC”, nesse caso, preside ao nascimento de idéias, tratadas como possibilidades intrínsecas que necessitam ser desenvolvidas dentro do “encarcerado”. O conhecimento é mais “espremido” para fora do que “despejado”. É primordialmente a matéria aprovada aquela que deve ser “espremida” e não, usualmente, a que um estudante escolhe por si mesmo.]

2 – Metafísica realista: A matéria é a realidade suprema, não é simplesmente uma idéia na mente de indivíduos observadores ou mesmo na mente de um Observador Eterno. Ela existe em si e por si mesma, independente de nossas mentes.

2.1 – Realismo Racional: O mundo material é real e existe fora da mente daqueles que o observam.

2.1.1- Realismo Clássico: Aristóteles [O “EC” habilita o equilíbrio intelectual e não o ajuste ao ambiente físico e social. A espontaneidade e a criatividade são apreciadas]

2.1.2- Religioso ou Tomismo (Aristóteles visto pela lente de São Tomás de Aquino): Tanto a matéria como o espírito foram criados por Deus, que construiu um universo ordenado e racional a partir de Sua sabedoria e bondade supremas. Embora não seja exatamente mais real do que a matéria, o espírito é, contudo, mais importante. O homem é uma fusão do material com o espiritual, corpo e alma formando uma só natureza. Somos livres e responsáveis por nossas ações; mas também somos imortais, tendo sido colocados na Terra para amar e honrar nosso Criador, e assim merecermos a felicidade eterna. [ O “EC” deve levar à natureza como obra saída da mão de Deus, já que a ordem e a harmonia do universo são o fruto da criação divina]

2.2- Realismo Natural e Científico: Cético e experimental. Não há um domínio espiritual ou sua existência não pode ser provada. O homem é um organismo biológico dotado de um sistema nervoso altamente desenvolvido e uma disposição inerentemente social. Aquilo que chamamos “pensamento” consiste, realmente, numa função altamente complexa do organismo que o relaciona com seu meio ambiente, semelhante a outras funções orgânicas. Não há livre arbítrio. O indivíduo está determinado pelo impacto do meio físico e social sobre sua estrutura genética.

[Para a concepção realista, o “EC” deve então transmitir um núcleo central de matérias que familiarize o "cativo" com o mundo à sua volta]

3 – Metafísica Pragmática: Só podemos conhecer aquilo que nossos sentidos experimentam. Aborda a realidade da transformação, a natureza essencialmente social e biológica do homem, a relatividade dos valores e o uso da inteligência crítica. O mundo não é dependente nem independente da idéia que o homem faz dele. A realidade equivale à “interação” do ser humano com seu meio ambiente – é a soma total do que “experimentamos”. O mundo só é significativo na medida em que o homem lhe atribui significado. Se o universo possui alguma finalidade mais profunda, ela está oculta do homem; e o que o homem não pode experimentar não pode ser real para ele. A mudança é a essência da realidade e devemos estar sempre preparados para alterar o modo como fazemos as coisas. A realidade é criada pela interação de uma pessoa com seu meio ambiente. A natureza humana é fundamentalmente plástica e variável. O ser humano é um organismo vivo, continuamente empenhado em reconstruir e interpretar suas próprias experiências. [O “EC” é fim e meio, visando melhorar e aperfeiçoar o “prisioneiro” e é o método para fazer isso. Não deve geralmente opor-se aos interesses do “prisioneiro”, mas deve ser uma decorrência natural desses interesses. A função do “EC” é vida e não uma preparação para ela.]

(Resumo do primeiro capítulo do livro Introdução à Filosofia da Educação de George F. Kneller)