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18.1.02





Já reparou como às vezes a gente passa de carro pela orla ou pela lagoa e, preocupado com horários e compromissos, esquece de observar aquela maravilha toda? E não dá um nó na garganta quando um dia a gente resolve prestar atenção e se culpa por tantos dias ignorando tanta beleza?

Pois é assim que me sinto em relação ao Luiz Melodia. Tenho poucos de seus discos, raramente vou aos seus shows, mas quando encontro com ele, fico em tal estado de êxtase que não paro de me questionar porque não sou mais assídua.

Ontem fomos ao show dele. E foi meio no susto, marcado de última hora, convite quase não aceito por conta de outro apontamento (felizmente desmarcado).

Gosto do Rival. Não importa onde você esteja, tem sempre uma boa visão do artista que se apresenta. Ainda assim foi um achado o garçom que nos atendeu, levando-nos a melhor mesa disponível no momento e iluminando ainda mais nossa noite com graça e simpatia.

Mas estávamos ali para ver o negro gato do morro de São Carlos e, creio que posso falar por toda a platéia, a abertura com um famoso “quem?” era dispensável e desagradou. Faltou uma boa escolha de repertório, faltou voz, faltou carisma. E valorizou ainda mais o real motivo de nossa presença por lá.

Porque nosso homem é um deslumbre só. Apresentou as músicas de seu novo disco sem a concessão fácil aos sucessos para ganhar a galera. Ele não precisa disso. Nada de Negro Gato, Estácio Holly Estácio ou Magrelinha. Ele cativa passeando com destreza por diversos ritmos. Brincou de árabe com direito aqueles malabarismos sonoros com a língua, mostrou um arranjo reggae para um velho samba-canção. De vez em quando aparecia um sotaque funk, outras vezes o rap era explícito. A banda transitou com desenvoltura por todos estes caminhos, ora jazzy, ora como big band.

Comentávamos na saída que é muito diferente freqüentar esse tipo de apresentação em dia de semana. Outro público, outro astral. As pessoas estão mais preocupadas em ouvir a música, do que em cantar junto; estão mais interessadas no espetáculo do que contando os minutos para que acabe logo e chegue de uma vez a hora do maior atrativo da noitada: o motel. Pouco se ouviu daquela praga que são os gritos prentensamente graciosos. Mas tive que concordar com a moça que não se conteve e exclamou alto:

- Muito bom!

Ao que Melodia respondeu com um simpático e quase comovido:

- Valeu, gata!

Creio que muito do encanto deste moço vem do fato de misturar um tipo de música que chega fácil ao coração com aquela outra relacionada ao gosto adquirido. E se fosse falar de sua voz gostosa ou do jeito maneiroso como ele dança, teria que abrir diversos e imensos parágrafos. Afinal elegância, charme e talento não são coisas que eu consiga descrever com poucas palavras.

Saí de lá com a certeza de que o país que tem essa bonita criatura deveria ser proibida de se auto-referenciar como miserável.

E a pergunta gira na minha cabeça: por que tem muito menos Luiz Melodia na minha vida do que deveria?


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