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19.10.05

O meu voto
(Antonia Leite Barbosa)



(...) O Brasil já tem armas demais. Somos o país com o maior número de pessoas mortas por arma de fogo no mundo. Vou votar por princípio. Não gosto de armas. Armas foram feitas para matar. O outro lado deste referendo tem munição o bastante para tentar derrubar os argumentos que reuni aqui e justificar a comercialização de armas. Cabe a você ser consciente e tomar a decisão na qual acredita. Vou defender minhas opiniões de forma aberta, de quem já teve uma arma apontada para si, e contar um episódio que aconteceu dentro da minha própria casa. Cada um tem sua história, mas o objetivo de diminuir a violência é comum a todos.

Famílias que guardam armas em casa podem ser vítimas de acidentes trágicos. Meu pai foi colecionador e guardava algumas armas de fogo em casa. Há alguns anos, no meio de um feriado, sofremos um assalto. Quando os bandidos encontraram os revólveres, ficaram transtornados, com medo que meu pai tivesse outros escondidos, ou fosse um policial que já tinha marcado bem a cara deles. A simples existência delas naquele momento quase matou minha família. Nem preciso dizer que saíram de lá mais equipados.

É verdade que as campanhas estão induzindo o voto do cidadão. É verdade que podem tirar nosso direito primitivo de defesa. É verdade que o poder público não está equipado para nos dar a segurança de que precisamos. É verdade que a proibição do comércio de armas de fogo e munição, isoladamente, não é capaz de solucionar o problema da criminalidade. Tirar armas de circulação é apenas um avanço nesta direção. Mas também é verdade que as armas de fogo matam mais do que doenças respiratórias, cardiovasculares, câncer, Aids e acidentes de trânsito. Além dos riscos para as crianças, armas em casa oferecem mais riscos também para as mulheres: 44% dos homicídios contra elas são realizados com armas de fogo sendo que 2/3 da violência contra a mulher têm como autor o marido ou companheiro. Quase metade dos presos por porte ilegal são jovens.

O custo desta violência para os cofres públicos é alto. Das armas usadas em crimes, nos últimos seis anos, 61% pertenciam a civis e foram desviadas para o crime. A arma legal alimenta os bandidos. Bandidos não compram armas em lojas, mas são as armas compradas em lojas que vão parar nas mãos dos criminosos. A redução da oferta no comércio legal vai levar a um aumento dos preços no mercado ilegal, tornando mais difícil a aquisição. Precisamos fechar a torneira. A chance de morrer numa reação armada a roubo é 180 vezes maior de que morrer quando não há reação. Crimes passionais são as primeiras motivações para os homicídios entre pessoas que se conhecem.

As armas que mais matam no Brasil não são as pesadas do tráfico de drogas, mas as armas curtas e nacionais, responsáveis por 80% dos homicídios no país. Instituições e movimentos importantes como a ABI, a OAB e o MST também participam das mobilizações pelo SIM. Dizer SIM no referendo é dizer SIM à vida. É construir uma cultura da paz.

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