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17.4.04

RESILIÊNCIA


"O problema não é o problema.
O problema é sua atitude com relação ao problema."

(Kelly Young)

Na Física, "resiliência" refere-se a uma força de recuperação (por exemplo: a capacidade que tem uma barra submetida a forças de distensão até seu limite elástico de voltar ao seu original quando essas forças deixam de atuar sobre ela).

Tomado emprestado pela saúde mental, o termo "resiliência" define a capacidade que o indivíduo tem de ser imune, se recuperar psicologicamente e sair bem na vida, quando submetido à violência de outros seres humanos ou das catástrofes da natureza. Enquanto a maioria dos indivíduos se torna vítima, adquirindo transtornos do desenvolvimento ou psicológicos na infância, de conduta na adolescência e juventude, e psiquiátricos na vida adulta, outros são resilientes e saem bem na vida.

As ciências humanas, desde o final do século 19, enfocavam os estados patológicos do indivíduo submetido às várias formas de violência. Estudos e pesquisas se concentravam na descrição das doenças, para descobrir causas ou fatores que explicassem as condições biológicas ou mentais negativas no ser humano atingido por violência. Verificou-se que a maioria das pessoas se torna vítima, adquirindo transtornos do desenvolvimento ou psicológicos na infância, de conduta na adolescência e juventude, e psiquiátricos na vida adulta.

Entretanto, muitas questões ficaram sem resposta: como pôde o ser humano se recuperar de guerras devastadoras, genocídios, holocaustos, epidemias e grandes perdas oriundas dos desastres naturais?

Observações sistemáticas mostraram que o resultado positivo na sobrevivência foi obtido por muitos que tiveram imunidade e proteção frente aquelas situações. Assim, no final do século 20, a Psiquiatria e a Psicologia já enfatizavam essa positividade na manutenção da saúde mental e à "resiliência".

Embora a resiliência pode ser parcialmente inata, conhecer os fatores de risco, de sua intensidade e duração, e dos fatores de proteção de um indivíduo, nos possibilitará desenvolver resiliência em crianças, proporcionando-lhes a oportunidade de não responderem à violência com os transtornos previsíveis.

Resiliência reduz riscos de doenças e melhora a qualidade de vida

O estresse é uma realidade observada hoje nas mais diferentes áreas e setores. Como manter a qualidade de vida e o equilíbrio emocional?

A resposta é simples: treinando a capacidade de cada indivíduo de desenvolver a resiliência. O termo vem da física e significa a capacidade humana de superar tudo, tirando proveito dos sofrimentos, inerentes às dificuldades. O resiliente é aquele que recupera-se e molda-se a cada "deformação" (obstáculo) situacional.

O equilíbrio humano é semelhante à estrutura de um prédio, se a pressão for superior à resistência, aparecerão rachaduras (doenças e lesões, por exemplo). Dentre as mais diferentes doenças psicossomáticas que se manifestam no indivíduo que não possui resiliência, estão não apenas o estresse, mas doenças graves como a gastrite até a síndrome do pânico, incluindo ainda problemas como vaginites, doenças intestinais, hipertensão arterial, entre outros males.

Durante o ciclo de vida normal, é necessário ao indivíduo desenvolver a resiliência para conseguir ultrapassar as passagens com "ganhos", nas diferentes fases: infância, adolescência, juventude, fase adulta e velhice, incluindo mudanças como de solteiro para casado.

O indivíduo que possui resiliência desenvolve a capacidade de recuperar-se e moldar-se novamente a cada obstáculo, a cada desafio. Se transportarmos o raciocínio para o dia-a-dia, poderemos observar que, quanto mais resiliente for o indivíduo, haverá menos doenças e perdas e mais desenvolvimento pessoal será alcançado.

Um indivíduo submetido a situações de estresse e que sabe vencer sem lesões severas (rachaduras) é um resiliente. Já quem não possui resiliência é o chamado "homem de vidro", que se "quebra" ao ser submetido às pressões e situações estressantes. A idéia de resiliência pode ser comparada às modificações da forma de uma bexiga parcialmente inflada, se comprimida, adquirindo as formas mais diversas e retornando ao estado inicial, após pressões exercidas sobre a mesma.

A resiliência consiste em equilíbrio entre a tensão e a habilidade de lutar, além do aprendizado obtido com obstáculos (sofrimentos). Traduzindo em outras palavras, é atingir outro nível de consciência. O indivíduo que não possui ou não desenvolve a resiliência, pode sofrer severas conseqüências, que vão da queda de produtividade ao desenvolvimento das mais diferentes doenças psicossomáticas.

Dicas para aumentar a capacidade de resiliência:

* Mentalizar seu projeto de vida, mesmo que não possa ser colocado em prática imediatamente. Sonhar com seu projeto é confortante e reduz a ansiedade.
* Aprender e adotar métodos práticos de relaxamento e meditação.
* Praticar esporte para aumentar o ânimo e a disposição. Os exercícios aumentam endorfinas e testosterona que, conseqüentemente, proporcionam sensação de bem-estar.
* Procurar manter o lar em harmonia, pois este é o "ponto de apoio para recuperar-se".
* Aproveitar parte do tempo para ampliar os conhecimentos, pois isso aumenta a autoconfiança.
* Transformar-se em um otimista incurável, visualizando sempre um futuro bom.
* Assumir riscos (ter coragem).
* Tornar-se um "sobrevivente" repleto de recursos.
* Apurar o senso de humor (desarmar os pessimistas).
* Separar bem quem você é e o que faz.
* Usar a criatividade para quebrar a rotina.
* Examinar e reflitir sobre a sua relação com o dinheiro.
* Permitir-se sentir dor, recuar e, às vezes, enfraquecer, para em seguida retornar ao estado original.




Resiliência - Resiliência
(Tom Coelho)

Hoje, a tristeza me visitou. Tocou a campainha, subiu as escadas, bateu à porta e entrou. Não ofereci resistência. Houve um tempo em que eu fazia o impossível para evitá-la adentrar os meus domínios. E quando isso acontecia, discutíamos demoradamente. Era uma experiência desgastante. Aprendi que o melhor a fazer é deixá-la seguir seu curso. Agora, sequer dialogamos. Ela entra, senta-se na sala de estar, sirvo-lhe uma bebida qualquer, apresento-lhe a televisão e a esqueço! Quando me dou por conta, o recinto está vazio. Ela partiu, sem arroubos e sem deixar rastros. Cumpriu sua missão sem afetar minha vida.

Hoje, a doença também me visitou. Mas esta tem outros métodos. E outros propósitos. Chegou sem pedir licença, invadindo o ambiente. Instalou-se em minha garganta e foi ter com minhas amígdalas. A prescrição é sempre a mesma: amoxicilina e paracetamol. Faço uso destes medicamentos e sinto-me absolutamente prostrado. Acho que é por isso que os chamam de antibióticos. Porque são contra a vida. Não apenas a vida de bactérias e vírus, mas toda e qualquer vida...

Hoje, problemas do passado também me visitaram. Não vieram pelo telefone porque palavras pronunciadas ativam as emoções apenas no momento e depois perdem-se, difusas, levadas pela brisa. Vieram pelo correio, impressos em papel e letras de baixa qualidade, anunciando sua perenidade, sua condição de fantasmas eternos até que sejam exorcizados.

Diante deste quadro, não há como deixar de sentir-se apequenado nestes momentos. O mundo ao redor parece conspirar contra o bem, a estabilidade e o equilíbrio que tanto se persegue. O desânimo comparece estampado em ombros arqueados e olhos sem brilho, que pedem para derramar lágrimas de alívio. Então, choro. E o faço porque Maurice Druon ensinou-me, através de seu inocente Tistu, que se você não chora, as lágrimas endurecem no peito e o coração fica duro.

Limão e Limonada

As Ciências Humanas estão sempre tomando emprestado das Exatas, termos e conceitos. A última novidade vem da Física e atende pelo nome de resiliência. Significa resistência ao choque ou a propriedade pela qual a energia potencial armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão incidente sobre o mesmo.

Em Humanas, a resiliência passou a designar a capacidade de se resistir flexivelmente à adversidade, utilizando-a para o desenvolvimento pessoal, profissional e social. Traduzindo isso através de um dito popular, é fazer de cada limão, ou seja, de cada contrariedade que a vida nos apresenta, uma limonada, saborosa, refrescante e agradável.

Aprendi que não adianta brigar com problemas. É preciso enfrentá-los para não ser destruído por eles, resolvendo-os. E rapidamente, de maneira certa ou errada. Problemas são como bebês, só crescem se forem alimentados. Muitos deles resolvem-se por si mesmos. Mas quando você os soluciona de forma inadequada eles voltam, dão-lhe uma rasteira e, aí sim, você os anula corretamente. A felicidade, pontuou Michael Jansen, não é a ausência de problemas. A ausência de problemas é o tédio. A felicidade são grandes problemas bem administrados.

Aprendi a combater as doenças. As do corpo e as da mente. Percebê-las, identificá-las, respeitá-las e aniquilá-las. Muitas decorrem não do que nos falta, mas do mal uso que fazemos do que temos. E a velocidade é tudo neste combate. Agir rápido é a palavra de ordem. Melhor do que ser preventivo é ser preditivo.

Aprendi a aceitar a tristeza. Não o ano todo, mas apenas um dia, à luz dos ensinamentos de Victor Hugo. O poeta dizia que "tristeza não tem fim, felicidade, sim". Porém, discordo. Penso que os dois são finitos. E cíclicos. O segredo é contemplar as pequenas alegrias ao invés de aguardar a grande felicidade. Uma alegria destrói 100 tristezas...

Modismo ou não, tornei-me resiliente. A palavra em si pode cair no ostracismo, mas terá servido para ilustrar minha atitude cultivada ao longo dos anos diante das dificuldades, impostas ou auto-impostas, que enfrentei pelo caminho, transformando desânimo em persistência, descrédito em esperança, obstáculos em oportunidades, tristeza em alegria.

Nós apreciamos o calor porque já sentimos o frio. Apreciamos a luz porque já estivemos no escuro. Apreciamos a saúde porque já fomos enfermos. Podemos, pois, experimentar a felicidade porque já conhecemos a tristeza.

Olhe para o céu, agora! Se é dia, o Sol brilha e aquece. Se é noite, a Lua ilumina e abraça. E assim será novamente amanhã. E assim é feita a Vida.




fontes:
1 - esta apresentação do assunto, com adaptações;
2 - texto do Dr. Alberto D'Auria aqui , com adaptações; e
3 - texto de Tom Coelho aqui

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